© Copyright. Direitos autoriais.

© Copyright. Direitos autoriais

O galego, desconfiado ou reticente ... ?


Atendam galegos da Espanha à palavra RETICÊNCIA.
RETICÊNCIA.
 Vejam a plurivalência da palavra nos latineiros mais fortes da Ibéria.

Catalám: Reticència: Acció de callar una cosa, però deixant-la entendre; figura retòrica que consisteix a deixar incompleta una frase però deixant entendre allò que no es diu.

Português: Reticência: 1.Omissão propositada de uma cousa que se devia ou podia dizer 2.Suspensão voluntária de frase, que não se completa, mas que deixa transparecer o que se omitiu.

Espanhol: Reticencia: 1. f. Efecto de no decir sino en parte, o de dar a entender claramente, y de ordinario con malicia, que se oculta o se calla algo que debiera o pudiera decirse. 2. f. Reserva, desconfianza. 3. f. Ret. Figura que consiste en dejar incompleta una frase o no acabar de aclarar una especie, dando, sin embargo, a entender el sentido de lo que no se dice, y a veces más de lo que se calla.

Galego, do dicionário da Real Academia Galega: Reticencia 1. Omisión intencionada de algo que debía ou podía dicirse e que non se dixo, ou que non se di claramente. Os seus etcéteras, non eran máis ca reticencias. 2. Actitude prudente e discreta adoptada con respecto a algo. Amosaba certa reticencia para acepta-lo posto. SIN. reserva.CF. desconfianza, receo.

Reticències catalás: Omisons para facilitar o entendimento.
Reticências portuguesas: Omisions intencionadas, nom por descoido. Omisions que por serem omisions, indicam, transparentam o que se quer dizer.
Reticencias espanholas: omisions maliciosas, para dar a entender mais do que se diz, mais do que se cala. DESCONFIANÇAS.
Reticencias galegas: Omisions, no mesmo sentido que no catalám, português, e espanhol, as cousas que nom se dim, e ao calá-las ... dam a entender com mais força e penetraçom a mensage. E outra acepçom mais, que nom tem o catalám, nem o português e que si tem o espanhol? " 2. Actitude prudente e discreta adoptada con respecto a algo." Na história dos dicionários galegos, aparece a palavra reticência no do Senhor Eladio Rodríguez González dos anos 1.958-1.961, creio que por primeira vez.
Vejam:

RETICENCIA s. f.
Reticencia, omisión voluntaria de aquello que se debiera decir.
________
Figura retórica, que consiste en dejar incompleta una frase que no se dice, y a veces se dice más de lo que se calla.
(carregue no texto para ir à página orige deste dicionário)

Neste dicionário, a acepçom segunda, a aptitude prudente, reserva, desconfiança, nom asoma.
Isto é dos anos 1.958-1.961.
Reticência alargou o seu campo semântico no galego anos depois. Alargou ou alargárom-lho, quem sabe ... No espanhol e no dicionário galego, acrescenta-se umha acepçom mais e diferente da omisiom voluntária carregada se significado, ou da figura retórica com esse mesmo valor, "que che vou dizer que nom saibas ..."

 Vou colar os dous pontos 2, do espanhol e do galego da RAG, um a carom do outro, para melhor ver este segundo sentido da palavra reticência e o que envolve e desenvolve que o galego e o castelhano confluam neste termo:
Espanhol: 2. f. Reserva, desconfianza.
Galego: 2. Actitude prudente e discreta adoptada con respecto a algo. Sinónimos reserva, desconfianza, receo.
Despois o dicionário galego acrescenta uns sinônimos por se nom está claro que ambas línguas compartem a mesma ideia reticente ... , reserva, desconfiança e receo.
A reticência é um calar, nisto as línguas irmás coincidem: Um calar que fala.

Vejamos com mais detalhe como a "actitude prudente e discreta" e a "omisión voluntaria de aquello que se debería decir" arrola polo monte abaixo de significados e fai-se sinônima de: reserva, desconfiança e receio, no dicionário galego da RAG e nos galegos como sociedade.
Vejamos como a reticência, redefinida desde o neo-galego, perde o cerne. A reticência em gebre, a reticência da discreçom, o silêncio da discreçom serve para discernir, discernir é tratar de chegar ao cerne, cavilar, empregar o siso.
A reticência em gebre, a reticência da prudência, vale para o juízo, a ponderaçom, e a sensatez.
Como casamos esta família de palavras: discernir, chegar ao cerne, cavilar, empregar o siso, juízo, ponderaçom, sensatez, com esta outra: reserva, desconfiança, receio?
Como esta actitude prudente e discreta é definida desde fóra de nós com palavras como recelo, terquedaz, desconfianza, resistencia, reserva?
(Grandes estereótipos às vezes empregados com actitude ofensiva ou desprezativa).
E como os galegos assumimos o alcunhado desde fora como próprio, e inclusive nos orgulhamos do "insulto"?
Malícia entra na definiçom da reticência à espanhola e orienta-os muito numha direçom aos falantes de castelhano.
A reticencia no espanhol além de ser umha porta fechada sem chave, que te convida a mirar polo buraco (com malícia) ..., é umha porta fechada a "cal y canto": É um calar por reserva, um calar preventivo, cauteloso que foge da significaçom, do posicionamento, que deixa o diálogo falto de entendimento, nem sobe nem baixa, que deixa ao outro interlocutor falto de agarres, referências, para intercambiar informaçons. Tenhem silêncios e pausas ...,estas reticências nom som definidas desde o idioma dos habitantes da reserva, em sensu strictu galego em gebre: cheias e avondosas, florescentes de sensaçons e significados, de momentos meditativos. Som calares definidos desde o outro lado da aramiada, desde o que meteu a essas pessoas dentro da reserva.
A incomprensom vai apenas numha direçom. O dominador nom entende nada, nada, nadinha, de nada dos silêncios do dominado, nom só pola barreira cultural, mas também pola falta de interesse do que detenta o poder polos que sofrem o seu poder como súbditos. E define o que manda aos mandados:
Los gallegos son reticentes.

O galego assi definido, muitas vezes em titulares de jornais galegos, alarga muito mais o significado que envolve a reticente: "resistente".
O da reserva, ainda dentro da reserva, é insultado como mula recelosa por compatriotas que se crêem na pele do colonizador, que nom se crêem galegos, ou que crêem ser melhores que os galegos próprios ao aculturar-se da sua raiz, e mesmo assi perder o entendimento da fala e da nom-fala expressiva (a reticência): Te puede dar una coz, sus silencios son incomprensibles, sus actitudes de resistencia hacia la integración y mejor vida fuera de la esquina marginal, no las entiendo.
A besta galega, que nom é mula, nom quere andar ao passo do castelhano, e o senhor do castelo, que nom do castro, nom entende o porquê.
Ele, o amo, dá-lhe de comer, peitea-a ... mas no fundo como nom lhe vê valor nenhum trata de cruzá-la cos seus garanhons hispánicos, ou árabes ...

Isto foi verdade no Berzo, e está cheio de simbolismo:

O conto das bestas do monte berciano.

Num monte do Bérzio, andavam cavaletes, galegos ou asturcons. Os que coidavam neles, cuidavam que eram ruins e querendo melhorar a raça trougêrom um grande garanhom espanhol, fodechom bom, que as deixou prenhes a todas no primeiro golpe.

Os tristes garanhons do monte, fôrom vendidos de feira em feira, daqui para alô mormosos e morrinhosos das suas uzes altas, e carqueixas visionárias.

Quem sabe deles?

Aos doze meses do feito, as éguas começárom a parir, mas a cria era tam enorme, que nom davam. Morriam rebentadas dos esforços, dos pressos (*) impossíveis.

Decidírom entom, vendo o que se aproximava, mandá-las ao matadoiro. Todas. Todas.

Éguas prenhes, chegadinhas, abertas em canal, cos seus fetos poldrinhos ali, que caiam no frio e molhado chao, tratando de colher a vida que escapava, como os peixes pescados álvidos.

E assi seguem medrando no Bierzo as uzes altas sem que ninguém as aproveite, roia e paça.

O da reserva vai compreendendo quase tudo, quase, quase tudo o que o dominador fala, às mais das vezes se le va la vida en ello.
A reticencia, no seu aspecto de reserva, é a que mostra o indígena, no seu campo de concentraçom vasto ou nom, mas campo de concentraçom mental ou físico. Na sua reserva, a pessoa subjugada, vencida, fala com reservas, ainda estando no que dizem que é o seu território, mas ele, ela, os reservades consciente ou inconscientemente sabem que ... dentro ou fora da reserva, nom som donos, donos no senso latino de dominus, nom dominam, pois estám dominados. Ou distorcidamente, sentem-se dominados!!
Querem sentir-se dominados, ainda que tenham a porta aberta, ainda que nom haja arames, nem fronteiras: - Uns porque necessitam o argumento da dominaçom, do pobre de mim, para nom assumir a responsabilidade plena da sua vida e seguir vivendo na comodidade do esmoleiro: "Oxalá vinhera outro Prestige."
- Outros porque necessitam um motivo inventado, umha causa para loitar, para descarregar a sua violência interior devida a outras raízes, às mais das vezes provenientes do Karma familiar; botar fora de si mesmos essa energia, pois se nom o fam chegariam a autoflagelar-se, mutilar-se: "Esses todos som uns cabrons".
- E outros ..., (deixemos as reticências).

No espanhol é um calar por desconfianza, por falta de confiança, do mesmo jeito que o anterior é um calar opaco, e sem impulso.
O que desconfía nom tem seguridade em si mesmo (isto nom o invento, vem no dicicionario da RAE: confianza: seguridad que alguien tiene en sí mismo. Ergo: Des-confianza: falta de seguridad em si mismo). Ao nom estar seguro de si, menos estará seguro dos outros; nom tem ânimo valor, vigor. Por isso desconfia à castelhana e mura-se detrás dum castelo alto no outeiro.
No galego RAG a deriva na que cai a reticência ainda vai mais alô: a reticência é um calar por receio / receo, por incerteza, por medo!!!, pola possibilidade de nos vir um dano, umha labaçada.
Como tal, é um calar preventivo, polo que poida passar se opinarmos.
Dando-lhe umha volta mais, o receio galego confonde-se co recelo castelhano, muito se confundem as palavras homônimas ou quase homônimas, as da traduçom a machado.
O calar receloso espanhol, nom é o calar do receio, medoso, galego; o calar receloso é o calar para esculcar, espreitar, para mirar debaixo da mesa camilha; e o silêncio incisivo e inquisitorial.O calar receloso é um calar encobridoiro. A recela, o macho recela ou o caballo recela, é o cavalo destinado a incitar às éguas. Incitar, mover a manada de éguas sem garanhom, que seguem a um macho manso e submisso normalmente empregado para conduzir a eguada e a poldrada. É um macho que se emprega para detectar o cio, o quente das fêmeas, mas que nom as emprenha. Às vezes é um macho capado, nos dous sentidos sem colhons e sem caput, cabeça, para facilitar a mansidão a mansedume.
Bem, o que queira ver, ler, que veja.

- Los gallegos sois reticentes?- Perguntou-me. - ... - Respondim.



(*)Presso, é um dialectalismo da família de pressom, refere-se aos esforços do parto: "Vai parir que já tem pressos", isto é: a fêmea tem contraçons.

Sem comentários:

Enviar um comentário