Valham-me os Santos!
Pubela é palavra de Trás-os-Montes para denominar o que os franceses chamam de poubelle.
E talvez sim, com muita probabilidade a palavra tenha vido da França.
Ainda assim, quero peneirar a tal poubelle francessa.
Do mesmo jeito que lixo na nossa fala remete a um tempo no que não havia o que hoje é considerado lixo, e o tal lixo era uma cinza, um arujo, um resto miúdo vegetal...
Atenda-se a que lixo na sua etimologia, (para aquelas pessoas que não morárom na Galiza pré-industrial, na que o lixo como o conteúdo do saco de lixo ou do cubão, contentor, de lixo era inexistente), na sua etimologia latina lix, līcis, cinzas, cinzas que eram usadas para o lavado e branqueio da roupa, para fazer lixivia, para retirar delas a água da lixívia...
Poubelle vem também da mesma origem.
Com palavras galegas como:
Puvim: restos de malhar o cereal, palha miúda. Infrutescência do dente-de-leão e outras plantas semelhantes.
Puvisa: muchica, moxena
Povisa: flor do choupo, muchica, faísca
Pivisa: pavesa apagada, cinza de pavesa.
Puvija: pó da palha trilhada.
Puvijo: pavesa apagada, cinza de pavesa.
Pubela: gharuma, arume, folhas de pinheiro, pavão do milho
Puvijada: Quantidade de esterco, cinzas ou terra, deitada sobre um terreo de lavor. O mesmo que pavujada.
Povear: soltar pó, deitar po sobre algo
Apovilhar: deitar pó a madeira por mor da traça.
Povilha: couça, traça, (de onde o espanhol polilla seria cognato).
Há um grupo de palavras que vão dar à neve: espuvisar, espevisar, puvisar, pulvorinhar ...
Espevisar está ao lado de pevide, pevide que é também a ponta do pavio das velas, com a palavra espevitar, espevitar que é avivar, espertar o lume, peveteiro, peviteiro que é o lugar onde resta o lume, as brasas.
Pibita: mato arredondado de tojo.
Pibita abre o passo ao pube, com a palavra do corunho pivita, que é rapariga nova, piba: mulher, e pibom: mulher atractiva, ou mesmo transsexual. Com o lunfardo pibe, e o transmontanismo pivete.
Puvim |
Atenda-se ao corunho, que ainda que fala marginal, conserva muito da raiz etimológica, nessa fala uma "pava" é uma ponta de cigarro já encendido, é a mesma cabicha.
O radival puv-: puvim, puvisa, com variações, estão arredor da mesma ideia.
Talvez cognatos do espanhol polvo, pó, atenda-se à série de trasmontanismos: polvarinho, polvear, polvoreira, polvorelho, polvorinho. Palavras que falam de conceitos no que há pó.
Tendo no latim pulvis, raiz, ao lado de polluo, polvo
Paralelamente à poubelle, no espanhol da Galiza ouve-se "cubo del polvo", que vem sendo a pubela trasmontana, o cubo do lixo.
Estamos numa raiz pav-/ polv- / pulv- / puv-: que tem a ver com cinças, com miudalhas, com o que era o lixo na Galiza, e em muita parte do planeta o passado século.
Onde estamos?
As falas das Astúrias indicam-nos melhor por onde é que este radical puv- / pub- / puf- anda.
Apobinar / apubinar: queimar, apuntalar, estar excessivamente cheio.
Aqui está o significado que se andava a buscar o que desse a ideia clara de lume.
Pobos: (do grupo de palavras podu, poo, puu, pu) estilhaços pequenos, restos de picar lenha.
Pobo é nome do choupo-branco (Populus alba) polo Berço, de um tal populus latino, nasce o pobo árvore, mas o populus traz em si uma raiz que permanece no pobo.
São as árvores ditas de populus asque soltam muita povisa/pobisa, muita penugem como algodão, como o puvim...
Então na construção dum povo, do mesmo jeito que no céltico o radical bre / briga significa lume, a palavra povo, (populo seria um diminutivo ou derivativo do inicial pop- pob- pov- pof-) acaba remetendo a lume.
Como o lar sendo a origem da povoação, ou do mesmo jeito que burgo tem a ver com burgar, com o lume.
Também aparece a relação entre o populus, choupo e o *povo, polvo, lume-fume-cinzas, pois as flores dos choupos são algodões que voam, que puviam.
Aqui está a palavra inglesa puff "sopro", que alicerça a origem onomatopeica etimológica de toda esta série de palavras de lume e poeira, origem facilmente reconhecida para quem prenda lume soprando...
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