Cheiro é uma palavra de etimologia divulgada como derivado regressivo de cheirar.
Cheirar é um verbo de etimologia divulgada como evolução do latim flagrare, forma posterior a latina clássica fragrare.
Cheiro nasceria, segundo esta linha etimológica da sequencia: fragrare, flagrare, *flarare, *charare, cheirar.
Então poderia ser lançada outra hipótese para a etimologia de cheiro e cheirar, que viria de um celto-latino: *flao, raiz do verbo flō, flāre, flāvī, flātum ", soprar o vento; assoprar, respirar". Confronte-se com o gaélico escocês fàile "ar, atmosfera; cheiro, recendo, odor".
O que ligaria etimologicamente o cheiro com o ar, com o vento.
O gaélico escocês tem uma volta, porque fàile "ar, atmosfera; cheiro, recendo, odor", dizem estar aparentado, ser derivado de àile "ar, atmosfera, cheiro, recendo, odor, vento, brisa, força do vento".
Este par gaélico escocês àile fàile ajuda a perceber a relação entre ar e cheiro, e dá uma ração aos órfãos greco-latinos ᾱ̓ήρ (āḗr) e aer.
Então, possivelmente não tudo venha do latim. E na Europa talvez estivessem sendo faladas palavras de base em *flao / *phlao para dizer odor, cheiro quando Roma começa a sua invasão.
Assim poderia ser suposta uma foma como *fla(o)arius *fla(o)aria (confronte-se com occitano flaira "recendo, cheiro, fragrância") raiz que daria o substantivo e do substantivo teria nascido o verbo de cheiro + -ar., à inversa de como a etimologia mais divulgada propõe (cheiro como deverbal de cheirar).
Mas então se o cheiro é um adjetival que se substantiva, que significado teria a raiz *flao?
O francês fleurer pode dar uma dica pola sua proximidade a fleur.
Fleurer significa "exalar um odor; cheirar, sentir o cheiro; soprar, borrifar" (volta a ser presente a relação entre cheiro e vento).
Isto ajuda a perceber o porquê dos significados em galego de palavras da raiz arcaica chor "flor" como relativamente próximos a cheiro:
Churume, chora, churumar, churuma, charuma, cherúmia, chirima, chirúmia, chirima, chorida, chorima, chourima, churima, chusmigo, churuco.
Por exemplo churume é "cheiro, fragrância".
Mas churumar é "florescerem os tojos e as giestas; perfumar, aromatizar; sazoar a comida com temperos".
Então poderia ser que a flor chor, flos *flao tivesse a ver com a raiz céltica (Matasović) para as flores *blātus (antigo bretão: bloddu, córnico antigo: blodon, galês medieval: blaud, gaélico antigo bláth, gaulês: blātunā).
A meu ver, e podo estar errado, a raiz seria mais aproximada a *blaotus, que nas falas peninsulares teria presença nas palavras como broto, brote, brocho.
Assim atendendo à lei de lenição/fortição *flao e *blao(tus) estariam nascidas da mesma raiz.
O que levaria a pensar que o conceito-palavra de cheiro teria nascido do conceito-palavra de chor.
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