Chouriço

Por mais vezes já, remexendo nas palavras, acho um lugar de gênese, berço, ou arcaísmo vivo que explica.
Ocorre nas montanhas, em diversos lugares, acontece nas serras das Astúrias com Galiza, na zona da cultura galega em transição, vaqueira e tsacianiega, e é por essas terras em Sisterna, (concelho das Íbias), que o chouriço tem o nome de lhourizu, onde o som do ele-agá /ʎ/ é feito doutro jeito /ɖ/.
Estas pessoas falan-nos do /ɖow.'ɾi.θo/.

Do que se fala?
Há algo mais.
Há um jeito de forças polares atuantes, que no tonal da realidade, nos campos mais exteriores manifesta-se na separação, no enfrontamento, por exemplo dentro da própria individualidade, ou na briga de uns povos com outros, ou o confronto de uns estados mentais comuns, por vezes injetados, manipulados, contra outros estados mentais do mesmo jeito absorvidos, focados num centro emissor ao qual entregam as suas energias, estados mentais focados, agrupados em diferentes centros, limitados.
Nestes choques de estados (mentais) há um fluxo de forças, na que um núcleo cultural, econômico, religioso..., um centro de poder X chega até a raia, onde bate com as ondas de outro núcleo de poder Y.
Em esquema:



Polo que for...
Assim estamos construindo o mundo.
Mas esses muros devem cair.
A realidade são camadas, estratos sobre estratos.
Uma grande cebola é o real, de matos e bosques superpostos, enguedelhados.
Na ideia da radicalidade, do Eburos que fura o mato, do Varaha que fuça buscando o que se conserva, o que deve ser conservado, a raiz nutrícia que sustenta e sustém:
São arrincadas chotas de esterco, que irão fertilizar, e no profundo, a alfaia simples que foi no seu tempo, vira talismã.
E os pontos, linhas, raias de choque entre os núcleos X e Y deitam o seu fruto antigo, como vasilhas com sementes velhas que podem voltar a germolar.
Pois na camada velha e profunda, nos primórdios dos núcleos x e y, minúsculos na altura, quando o acúmulo de poder não era obrigado quando outros polos não eram subditados, quando Mercúrio era um deusezinho amigo dos lares,  antes de que começasse a abrir e guardar para si as mensagens, quando era Lugh quem abria os caminhos, para que a energia não se estancasse, quando o fluir reinava....

A tal chamada chê vaquera, esse fonema velho, está em relação com os étimos latinos, ou célticos que levam estas consoantes:
l, ll, cl, pl, fl.
O lhouriço, seria pois o que os latinos chamaram de *lauritio, algo que tem a ver com a cor loura do chouriço, com o loureiro, o louro, e que é de cor loura?
E tal seria?
Não existindo a pimenta, a carne era adubada com loureiro fundamentalmente?
A lembrar que lhouriço antes da hegemonização do foco de poder espanhol, (falo do espanhol pois é na zona de influência deste estado (mental) que isto ocorre), poderia ter todas estas realizações fonéticas:
/ɖow.'ɾi.θo/
/ɖʐow.'ɾi.θo/
/ʈʂow.'ɾi.θo/
/t'sow.'ɾi.θo/

Então como se explica que chouriço exista no galego-português, e não seja chamado *louriço ou *loiriço?
E no espanhol onde está o *lauricio?
Poderíamos buscar outros étimos, do tipo llaur-, claur-, plaur-, flour- no céltico ou no latino.
Poderia ser a flamma latina que estiver por cá?

Outra palavra que pode ajudar a buscar a etimologia é choura, enchido de bofes, com a variante choula, e chourela: chouriço de cabaça.
Chouriço é remetido a um étimo sorex, soricem do latim.
Também choulã, / t͡ʃou.'laŋ / e / t͡ʃou.'la / que é um enchido de bofes.

Outra palavra é chourelo, de Trás-os-Montes, uma morcela de sangue e mel.
A destacar o choilão, outro nome para o enchido de bofes,  /t͡ʃoi.'laŋ/, onde aparece o par -oi-, no canto de -ou-, como noutras palavras galego-portuguesas,  (loiro / louro), e onde o intercâmbio -r- / -l-, o rotacismo está.

Palavras estas: choura, choulã, chourelo e choilão, junto com chouriço, que levam a pensar numa raiz  chour- / choul-.
Por exemplo:  o choilão e a choulã, levam a *choulana / *choilano, algo que provém duma raiz que estaria entre estas: *choula, *choulo, *choilo, *choila, *choura, *chouro, *choira, ou *choiro.
*Chouro que é de um hipotético *llouro, (lloru
/λo’ru/, em Los Carriles, Concelho de Llanes, é o louro ou loureiro), confronte-se com o lloureru, asturiano padrão, o nome do Laurus nobilis, e com um dialetalismo dele no concelho de Valdés: chourieiro.





L.lourizu, remeteria a um derivado de l.louro é nome do loro, do tamoeiro feito de carvalho novo envolto e anoado sobre si.
Na preparação do loro, é "cozido", enqueirado no forno para poder dar-lhe firmeza e podê-lo retorcer bem.


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Para falar disto há que misturar os conhecimentos em palavras tirados da cultura galega e da asturiana. Esta cozedura que fai do carvalho um loro /lôro/ nas Astúrias fai um llouriu. No latim a palavra de origem é loreus "correia".
No galego há os verbos lourar, lourear, alourear, alourar, delourar e delourear que tem à ver com "chamuscar", madurar ou secar ao sol, pôr louro, orear (que na Galiza é ourear).
Então a etimologia para o loro do jugo é que está "lourado"? ou deriva de loreus?, foi antes loreus ou loro?, o loro não é de loureiro, ou talvez tenha sido. Mas o nome de loureiro como planta semelha não ser primário, o loureiro é assim chamado pola cor loura, cor loura que é primária e que nasce da mesma raiz que o ouro, e tem a ver com a diversidade de "cores novas" que no lume aparecem diferentes da natureza geral, é por isso que o adjetivo loura, ao igual que roxa, tem tantas gamas de cor que podem ser assim chamadas, ambas as cores relacionadas com o lume, com o forno.
Loura: entre dourada e castanha
Loura: entre castanha escura e vermelha
Loura: entre castanha escura e negra

A língua latina deriva laurus de δάφνη (daphne). A cadeia etimológica pouco clara.
No francês antigo o loureiro foi lor.
Atenda-se que outro dos significados de loura: "água loura" , é a água toldada, turva, lodosa. Aqui tem a ver com o rio Lor, que neste enlaço é escrito.

O que leva a pensar que a etimologia greco-latina para o loureiro é errada. O laudus é feito com o laurus, e também o lorus é feito com laurus?
Leva a penar no "ouro" ou no processo da minaria do ouro. Rio Louro?, Louro de Muros?

O loro do jugo, tem etimologia latina, ou cognato latino em lorus lorum, que para o latim é derivado de vlorum e vlārom.... nomes para correia.

No galego lorear é combar a madeira, empenar-se uma tábua pola calor ou ao se secar logo de ser feita por estar a madeira da que saiu ainda "verde".
Na coerência o loro, tamoeiro, lorea-se no forno, retorce-se no forno.
Quer dizer que o loro e lorear nascem juntos na ideia de torcer com calor, do mesmo jeito que lourear.

Outra possibilidade é que lhouriço seja douriço, dourado.
Do mesmo jeito que deixar e leixar pode ser que tenham nascido da mesma palavra. O que faria irmãos os rios Deça e Leça, o Louro e o Douro.
Na cousa da mutação da consoante inicial os rios seriam Deça, Leça
(assentamento these?)
Que implicaria?
Que o étimo para ouro tenha sido uma palavra sob as leis de mutação da consoante inicial:
De uma séria tal que: tauro, dauro, lhauro, lauro, zauro, jauro, rauro, hauro, auro.

Confronte-se cadrar, /quadrar e calhar cal.lar:
0001 A tía Capicheira (6:15). Basilisa González Menéndez, 90 años. Ibias-Astierna (1992):
http://redmeda.com/web/?page_id=4329



Na linha céltica: claeardeb no galês significa calor, tepidez, mesmo frescura
Claeardeb que é formado sobre a raíz claear.
No gaélico láth é a calor do cio.

Lugh, Lugo, Lughp, o luro louro?
loiro?

Couriço "de coiros": chouriço?

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