Choia.

Choia et l'ethymologie:


Pyrrhocorax pyrrhocorax, choia, (gralha-de-bico-vermelho no padrão lisboeta)

Choia, dizem provir do francês choe.
E virá, não digo que não.
Ainda assim:

Outras formas no galego para a Pyrrhocorax pyrrhocorax são choio, chorva e choinha; no asturiano chouva, chova e choya; no espanhol chova e choya.
Já noutros idiomas europeus, há estas palavras próximas para aves, nalguns casos córvidas, mas não todas elas: no francês choe; no occitano: chòt e choc; (ponho-as por significarem o mesmo que a tida por raiz etimológica choe, significado delas que será tratado depois); no sueco kaja; no alemão antigo kāwa; holandês kauw; no noruego: kaie; no bretão kavan (na mutação: c'havan); no gaulês cuan; ; no inglês médio choe; no irlandês antigo caóc, (mutação: chaóc), no gaélico atual de irlanda cág (mutação chág); no manquês: caaig; no inglês chough.
No galês um dos nomes é brân goesgoch, também cogfran e coegfran e chogfran. No galês -fran nestas palavras é uma lenição de brân, brân que significa corvo, corvídea em geral.
No galês seria o corvo-coeg, ou coeg-corvo. Coeg-, cog- e chog-, que  fazem pensar  na mesma raiz que o gaélico cág, antigo caóc (mutação chaóc).
Origem?

Choe no francês, ou no francês antigo choue, (no occitano chòt e choc) dão nome ao que chamam chouette, que nada tem a ver com uma choia, nem córvida. Chouette e choe nomeam uma ave-laiona, ou um moucho, uma ave de rapina noturna sem orelhas, e alarga o seu significado a qualquer ave de rapina.

Agora, ora:
Este nome no antigo irlandês: cáoc refere-se à mesma Pyrrhocorax pyrrhocorax, à choia.
Irlandês moderno: cág.
Irlandês antigo: caóc, algo assim pronunciado semelhante a /kaiok/, e na sua mutação, lenição: cháoc, pronunciado algo semelhante a /xaiok/ (como o ghaio, Garrulus glandarius, corvídea também; e sem gheada: gaio, a pegha-rebordã, ou pega-marça...)

Outra:
No córnico está cogha, palavra da família céltica das corvídeas: cogha / chogha que dá nome ao Corvus monedula.


Corvus monedula, corvo-cereijeiro, gralha-cereijeira, gralha-pequena, gralha-de-nuca-cinzenta
Dum moucho a um corvo ou a uma choia há um cacho de caralho!!, e perdoem a expressão quem não sejam da minha órbita cultural galega, e achem exagero obsceno o que é comum dizer por aqui.


Mapa da distribuição da choia "Pyrrhocorax pyrrhocorax" no occidente, choia à que os franceses chamam de crave, (e não choe), e que na França, apenas ocupa as zonas de fala histórica provençal e bretã.

Para ouvir as onomatopeias que foram dar talvez estes nomes:
http://www.xeno-canto.org/72843

http://www.xeno-canto.org/135821


O cavão
A hipótese etimológica mais difundida relacionou as choias com a palavra céltica *kuwannos "coruja"; *kuwannos que teria o seu par no latim tardio cavannus "da cavana"também dando nome a uma ave noturna, depredatória, à ave-laiona (Strix aluco). 
*Kuwannos palavra céltica que teria dado o atual bretão kaouenn "ave-laiona", o córnico cowan, galês medieval cuan.
Já as formas das línguas dentro do território francês atual, derivariam do gaulês latinizado ou da palavra latina suspeitosa de ser empréstimo galo: cavannus: antigo francês chavan, atual chat-huant; com formas nos seus dialectos como: chahon, chohon, chéhon, choin; ou já anteriormente no francês medieval: choe, choue, chave.
Palavras todas para aves da noite.




Estas formas do francês arcaico 
choe, choue, nomes de ave noturna depredatória, teriam sido pola sua proximidade fonética, as que teriam levado a pensar que a córvida choia deriva do mesmo tronco, do proto-céltico *kuwannos, ao não serem analisadas as outras formas, sobretudo chorva, que diretamente já relaciona a choia com o corvo e coloca-a na sua árvore familiar.

Uma presença direta no galego do proto-céltico 
*kuwannos, seria o cavão, nome de mouchos e corujas e dos 
noitibós (Caprimulgus europaeus e Caprimulgus ruficollis), que não sendo estas últimas aves depredatórias do grupo dos mouchos, bufos e corujas, são sim aves noturnas que costumam carregar com os mesmos atributos de azar ou agoiro da morte.



*kuwannos poderia ter uma presença no galego com a palavra cáramo?, no catalão garamús, já no asturiano gárabu e cárabucarabiella, no espanhol cárabo, nomes todos do Stix aluco.
Ainda que seria interessante ver a possível relação de cáramo, carabielha, cárabu, com palavras do grupo da caramela / charamela e do garabulho:
Na cultura popular galega há um brinquedo que é feito com um carabujo ou carraboujo grande, a noz-de-galha, o bugalho, esvazia-se com muito cuidado polo buraquinho que deixou o verme que virou em papulo, em pequena vespa, dentro do bugalho; uma vez esvaziado assopra-se transversalmente a ele, como quando se assopra numa frauta de pã ou no gargalo de uma garrafa, o som produzido imita com muita fidelidade o canto do cáramo, do Strix aluco.
Assim cáramo, seria o lexema cara , mais o sufixo átono -mo, onde -mo poderia ser parelho à partícula galesa -ma, que indica lugar, estado ou ação; ou à sufixação átona -mo, superlativa ou relacional, também considerada no indo-europeu como nominal de verbo, semelhante à grega -μᾰ, ou palavras de sufixação -me / -mem / -mio.
Assim cáramo, seria do lugar do *carar, para a ação de *carar, do *carar?
*Carar que poderia ter a ver com *charar/charrar "parlotear, chalrar, fazer ruído com o canto a ave".

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Hipótese etimológica das córvidas:
Do mesmo jeito que às crianças apreendem os primeiros nomes do cão como babau, ou da vaca com mu...
Talvez o primeiro nome destas corvídeas tivo que ver algo com o som kagh, ou kargh, klog, kog, kogf, korgh...
Raízes onomatopeicas que deram os nomes célticos das aves, mesmo raiz da palavra corvo.
Salientar o nome galego de chorva, pois é chamativo que do mesmo jeito que nas falas célticas ocorre a mutação de c- para ch-, da consoante inicial, chorva semelha conter tal mutação.
Chorva que bem pudo ser *chogva, sem mutação *kogva.
*Kogv- / *chogv- que explicariam os nomes galegos asturianos e espanhóis, e talvez célticos, de esta ave.
Não negando a origem latina da palavra corvo, derivada de corvus, chama pois a atenção que mutasse para chorva.
Talvez houvesse um hipotético ancestral comum a corvus e a chorva, nas falas do tronco celto-latino.

À parte está a reflexão sobre o gaio, que pode ter uma influência de gaio como alegre, e de Caius latino...
Ainda que ao meu ver é a ave quem dá o nome á ledice, confronte-se com jay no inglês que também nomeia a mesma corvídea que aqui é dita gaio, ghaio.
Ghaio que tem muita proximidade fonética com o irlandês antigo chaóc, ainda que sejam escritos de diferente jeito, e com o já referido jay inglês.
Cháoc que é uma mutação de cáoc. Cáoc que teria a hipotética raiz imitativa do canto das corvídeas *kogv.
Cáoc antigo irlandês tem também além da forma atual cág, a palavra caróg que dá nome ao corvo carnaçal.






Ainda mais:
No grego κορώνη (korṓnē) dá nome ao corvo...
Mas também a qualquer cousa curvada.
No latim corona nomeia uma reste de flores, uma guirnalda, uma coroa de flores, e uma coroa.
Salientar o par inglês crow e crown, que do mesmo jeito que o par greco-latino κορώνη (korṓnē) e corona, nomeia o corvo e a coroa.

Bem, as rodas dos castros, ou mesmo qualquer forma circular de vegetação é dita de croa, que tem toda a evidência de ser derivada de coroa, com caída do ene intervocálico e síncopa do o (c'roa).

No gaélico há esta série de palavras:
Cró, chrao, crai, crū, crui, cruu, cruib, crú, craoithe, chraí, craí(the), que dão nome a um fechamento para gado, e entre outras cousas nomeiam também à propriedade hereditária, e o casco das bestas.
No gaélico medieval a palavra crú nomeou o corvo.

Então, uma das possíveis interpretações dos petróglifos nos que parecem pegadas de cavalo, é que estão indicando a presença de uma croa, ou o poder de uma croa, ou "coronel", ou coron@, cron@, com o crunho da rainha ou rei, que é a marca do cavalo.
Também falar de por que o passeio da Ferradura de Compostela é uma ferradura, pola sua forma, mas a sua forma é a dum casco de cavalo, a duma croa, e como podemos ver na imagem seguinte, Compostela também está sob o desenho do seu território em croa e lugares:



Seguindo pola ferradura:
Ferradura que tem nome de crue no gaélico e que anteriormente deu nome ao casco do cavalo.
Aqui um exemplo da paróquia da freguesia de Santo André das Nogais, do Chão da Canda, (neste link fala-se algo mais das ferraduras e as demarcações).
Esta ferradura dos petróglifos talvez seja a primeira forma da posterior escrita romana epigráfica, na que aparece como um c em espelho: ɔ , para falar de um determinado castro.

http://www.lavozdegalicia.es/noticia/lugo/as-nogais/2015/03/11/patrimonio-analizara-petroglifo-hallado-santo-andre-as-nogais/0003_201503L11C8991.htm



Mesmo na atualidade o corvo (com o aberto /kɔ/) e o curvo, côrvo, o curvado (com o fechado /ko/) estão relacionados no nosso idioma como no grego, como no latim, e como no gaélico.
Existem as coincidências?
Perfuremos:
Como se fala no escrito que vai neste link, o território da Gallaecia e não só da Gallaecia, estava estruturado em assentamentos, lugares com "croas", unidades agrárias...
Talvez geridas por uma cabeça gestora. Unidades agrárias que perduraram até épocas recentes, nalgum caso ainda perduram.

Na simbologia das aves que impregnou a génese da cultura talvez desde o paleolítico até há pouco e ainda hoje. Estamos falando do corvo, das corvídeas.
A lembrar esta imagem:


E mais também est'outra:


No caldeirão vemos que o guerreiro que vai na dianteira, à frente sobre o cavalo leva uma ave simbólica sobre si.
Um corvo?
Quem era o corono?, aquele que agora é chamado de coronel. O chefiador do conjunto de homens das croas das coroas. O que tinha por símbolo o corvo?
Corvus corone ou Corvus corax?
É por isso que nas lendas da Cornualha, o rei Artur dizem não estar morto, que foi transformado num choio, a Cornish chough, na linha da tradição dos guerreiros mortos transfonados em córvidas.

Numa visão rápida do território galego antigo, aquelas unidades agrárias que tinham terras gandeiras semelham mais "ricas" com castros maiores, o gando deu este poder de chefatura e de coroação?
Mais sobre aves e chefaturas aqui.

Outra volta, nesta antiga estruturação do território aquelas terras menos aptas para a agricultura eram, são terras de pastoreio, também estruturadas em unidades de perímetro de meia légua e "croa" central, croa que é uma chousa.
Chousa que dizem do latim clausa, pechadura, cró, chrao no gaélico...

E sim, a maioria dos assentamentos das croas são em chãos naturais ou feitos polos milênios de uso continuado do território.
Mais surpreende novamente que a choia seja nome da córvidea e esteja tão perto de choer ou choir, como os pares mencionados crow/crown, corona/κορώνη (korṓnē), corvo/curvo, cró/crú.
Por não seguir explicando as similitudes entre o choir galego e choir / cor gaélico...

E aqui compre falar da corga: é o caminho do carro, que dizem apocopado de córrega...
Os primeiros caminhos perimetrais das unidades agrárias das croas, cró, eram corgas, corredoiroas, palavras todas com raiz lexema corr-, corg-, curr-, (curro).


É por isso que aqui está Cronos, o corvo que vai para Lugo.
Simbolicamente o corvo está por baixo da aiga.
Mas o corvo pode influenciar na aiga.








Èlve é nome da choia no occitano.
Èlve tem a hipótese etimológica que a relacionaria com helvus "amarelo escuro".
 A élve de Niza é Corvus monedula, a gralha
A etimologia proposta seria relacionar èlve coma raiz que nas línguas germânicas gerou elf em inglês e Alb em alemão, e ouva em galego.

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