Nudra



Um nome raro para a lontra é o de nudra.
também ludra, alôndrega, lôndriga, lôndria, lontre, núria...
Do latim lutra dizem derivar lontra /londra...
Noutros idiomas europeus a Lutra lutra tem estes nomes a ressaltar:
Albanês: lundërz
Asturiano: llóndriga
Catalão: llúdriga
Italiano: lontra

Antigo irlandês: doburchú
Bretão: dourgi

Lituano: udra
Língua letã: ūdrs
Checo: vydra
Russo: вы́дра (výdra)

Sueco: utter
Inglês: otter

Ocitano: loira


Se atendemos à palavra ludra, pode dar uma ideia da origem da palavra que:
Ludra é nome da sujidade, da imundice, mesmo das defecações, do fango, lodo ou lama, com as variantes ludre e ludro; lúdria e lurde "sujidade da lã".
No galês |llwtra "lodo" e no gaélico escocês ludair "enlamar-se, rolar ou revolcar-se no lodo"
Ludra também é um pegamasso, aqui há que considerar grude como parente.
E ludra é a churda, a gordura da lã, que do mesmo jeito que chouriço / lhouriço, leva a pensar num étimo comum que modificou a consoante inicial, seguindo as leis da mutação do céltico.
Na metátese de ludre temos lurde, e o lugar santuário de Lourdes.
É por isto que no occitano a lontra é dita de loira?, leia-se neste link; a gênese do nome do rio Loira.

Assim a podridão, a putrefação, o podre está ao lado da lódrega, da ludra, do lordo, lodo, lorda.

A nudra sob as mutações do gaélico atual poderia ser explicada a partir de uma forma tal como zudre, *dudre, *gudra (grude), *fudre (fodriqueiro, fudre, futrica, futrar, futres):

/d̪ˠ/ → /n̪ˠ/
/dʲ/ → /nʲ/
/ɡ/ → /ŋ/
/ɟ/ → /ɲ/

O que levaria a uma hipotética *dʒũtra em mutação de consoante inicial.
Estaríamos na chê vaqueira, que seria realizada *nhũdra / *lhũtra, como passo intermédio antes de cair em lontra, lutra, nudra, nutria.



Le moyen-breton connaissait les mutations nasalisantes comme le gallois. Cependant, elles sont devenues extrêmement rares en breton moderne, au point d'avoir quasiment disparu.

Il reste la notable et exceptionnelle mutation de dor (« porte ») en an nor (« la porte »), la seule à être écrite, selon les normes du moins. Mais localement, d'autres mots vont voir la consonne d se nasaliser après l'article : den (« personne ») dans an nen (« on »). Ceci est dû au fait que la nasalisation de d était l'une des plus fréquentes en moyen-breton.

Esta hipótese põe em relação o nome do rio Doiro com o nome do rio Loira.
Loira que é suposto derivar do nome latino Liger ou Ligeris e que contra diz esta hipótese, a não ser que Liger latino fosse uma transliteração da fala gala "loire", com pronuncia do erre à francesa atual (rheada).
A lembrar doiro que no galego dá nome a uma corrente de águas pluviais intensas.

No bretão a lontra tem de nome dourgi, (confronte-se com loira no occitano, na ideia de mutação d-l).
No gaélico irlandês doburchú, formado por dobur e , cão de água.
Esta raiz dobur, no gaélico irlandês não perdeu de todo a ideia de sujidade pois dobhar é também adjetivo com significação de escuro, sombrio, sujo.
Esta raiz céltica para a auga (suja?): *dʰubrós, está no nome do rio Dubra na Galiza.
À par deste "cão de água" *dʰubrós-*kū temos no galego o nome do lubricão que é nome do porco-teixo.
Onde *dʰubrós seria realizado *lubrós, *lubri em genitivo, e nomeia a porcaria, (atenda-se ao lúbrico, como porco) e *kū é o cão.
No asturiano de Somieu, ḷḷurbizu "desajeitado, desasseado, de mau aspeto", esḷḷurbizau "desgrenhado".
Aqui entrariam as palavras lúrpio e lúrpia?

Assim o porco-teixo é o "cão da sujidade", ou "cão-sujo" na "tradução céltica" de lubri-cão.
Confronte-se com lubre, o escuro(?) bosque sagrado.
Aqui estão as palavras dubieira e duba. Duvieira é a torrente, e duba o muro de terra (na frequente relação tipo vala / valo).

A outra palavra para auga nas falas célticas é uisce, (whisky) que provém de um protocéltico *udenskyos que por sua vez procede de uma forma intermédia udén- do proto-indo-europeu *wódr̥.
Aqui vêm-se duas camadas culturais.

Ludre é a porcaria, as augas sujas, com as formas, zudre, zoldra, sudre, xudre, podre, churda, gudre, ....dá para falar da forma udre:
Udre, porcaria, detrito.
A falar de sudre que é suor fétido. Sudre que dá a clave da origem etimológica de suor, nesta raiz de augas sujas.
Poderia ser construída a mutação da palavra com esta série, que remeteria à hipotética forma falada anteriormente de *dʒũtra.

Urina, como água suja, pode estar por aqui.
Nas falas gremiais da Galiza (baralhete, fala dos arginas) a auga é dita: aureta, oreta, oureta, ureta, ura.
De procedência basca é tida a origem, nas suas formas ur e ura.
Que poderia dizer isto?
O nome da auga sob esta raiz auret-, ficou relegado para a urina, ou para a água suja.
Mesmo para águas enlodadas, sujas e porcas, águas de onde era tirado o ouro.
O orvalho estaria por aqui?

A lontra nas falas eslavas tem a raiz vydr-, do proto-báltico-eslavo *udros, que significa auga.
No galego esta raiz aparece na palavra: údremo (inchado, loução, viçoso, a falar de plantas e frutos) com a variante ídremo.
O intercâmbio de údremo a ídremo que ocorre no galego, é fóssil do passo do proto-indo-europeu udr- a hidr-.
Údremo, descompõe-se em udre e -mo, udre é auga e -mo é o superlativo céltico, assim údremo é o umidíssimo.
Údremo que também é nome do odre, utre, e que tem fudre ao lado.
Com o verbo latino udare que é molhar, humidecer.

Aqui a relação com os nomes germânicos da lontra, otter em inglês, aparece, na raíz proto-germânica *utraz, que vai outra vez na ideia de auga.
A auga em inglês water, provém da raiz germânica *watōr, por sua vez do proto-indo-europeu *wódr̥.
Tanto a raiz *utraz como a raiz *wódr̥, confluem em udre e gudre.
Quer dizer que seguindo as mutações da consoante inicial: gudre é realizado como ghudre (gheada) para finalmente ser hudre ou udre.
Este gudre como gordura suja untuosa da lã, tem a ver com gorda, apenas por metátese do erre. Quer dizer que o gordo inicial não foi a obesidade, foi a graxa.

Para ressaltar um dos nomes em gaélico escocês da lontra: cu-odhar, literalmente cão-pardo, cão-amarelado.
Odhar
tem esta pronúncia: /o.ər/ . Ideia desenvolta no escrito deste link onde a minaria e as augas toldadas deram tantas palavras.
Qual é a ideia que todo este barulho me transmite:
Houve uma primeira palavra para auga, que sob uma segunda camada cultural, ficou relegada a auga suja, como pexego é o melocotón de inferior qualidade no conflito de língua A e língua B.
*dʒũtra com o significado de água teria que levar ao lado um outro nome, na probabilidade que fosse algo semelhante às formas célticas estudadas anteriormente *dʒũtra-*kum.
Lôndriga explica-se desde o latim como um diminutivo de *lutra, *lutrica, mas bem poderia ser lutra-*ca, sendo *ca cadela?

Atenda-se à proximidade de *dʒũtra com truita.

Sobre zoldra, é para ter em conta a forma goldra, e mesmo toldo, (turvo, toldado), e partindo daqui: toleiro, como lugar de lama, mesmo o topônimo Toledo.
Choldra que é nome do caldo mal temperado, mal feito para a parte de Trás-os-Montes, também está nesta raiz.
Chafuldra? Atenda-se a -fuldra. chafurda?
Que significa o cha- inicial?, ou derivaria de chaf-, (chafar) e urda?

Outra porta é aberta com a palavra llwtra do galês que dá nome á lorda, ludro ou lodo, e que relaciona o lúteo com a lama e com a lutra. Llwtra tem ao seu lado rhutra (1) com o mesmo significado.

O topônimo Dodro? Poderia estar na mesma raiz, referindo-se à grande zona branhenta beira do rio Ulha, já ria, que em tempos talvez não muito recuados, foi um grande lodaçal.

Sobre a linha do celta-p: putre, há butre, voitre, aboitre..., no latim vultur, murtus, múrcia e múrcio.
Então é aqui que celta-p e celta-q ainda não se diferenciaram o suficiente?
putre / cutre?
Atenda-se a cotra como porcaria sujidade aderida na pele ou roupa.

As formas da lontra com ene inicial: nudra, núria, nutra, no espanhol nutria:
Dão a ideia de que o étimo suposto *hut(e)ra, era realizado com forma nasal ou lateral, assim dele saiu nutra e lutra.
Que tem a ver a lontra com a nutrição?
Se recuamos nas camadas anteriores culturais, estávamos com que a raiz de todo este embelenhamento da água, (as águas sujas, águas correntes, e lodos e lamas), chegamos a údremo, aqui está o útero, e o latim nutro, a nutrição inicial que antes do que um conceito abstrato adotado pela ciência moderna, tem a ver com amamentar, mas também com cultivar, (com regar?).
A auga como o nada?, ou nata e a natação, sairiam deste *hutre, nutre.
Leia-se que nado em galego é inundado, o que diz que ainda que não se conserva dicionariada: nadar é inundar: "o prado nada em auga" é percebido como uma metáfora.
Nata pudo ser na camada cultural anterior o nome mesmo do leite, para depois ficar apenas para a tona.
Confronte-se com nut em inglês.
Sendo pois a nada ou o nado o que sai coa auga do parto do útero.
Nessa cousa da hipotética realização do u de *uter de forma nasal ou lateral, comparem-se útero com ulterior e com o inglês under, e unto, como banha de porco.
Tem a ver a nora com esta ideia de água nutrícia que sai do radical nutr-?

Confronte-se a lontra com o seu nome germânico otter, de etimologia em *utraz, do protoindo-europeu *udrós, no sânscrito उद्र (udrá).
Aqui caberia pôr o gaélico odhrán "animal pardo", na linha dos epítetos genéricos de cor a dar nome a um animal tabuado, odur + -án literalmente "pardinho". Onde a adjetivação de pardo pode vir da auga terrosa neste escrito tratada.

Lorbé:


Neste mapa sombreado, topográfico podemos ver três regos excessivamente fundos para os regatinhos que por eles correm, na suposição de terem sido regos de mineração de um cone que acabaria no porto de Lorbé, um dos regos de mineração difuminado pola agricultura posterior sobre ele.
Lorbé poderia ter uma origem em sujidade das augas, pola tal minaria.
De um *dʰubrós, "escuro" e "auga"; com as formas que explicam e ajudam a perceber a génese como: dubeiria "torrenteira", e na variação d/l adluvio latim "enxurrada", lóvio "cova, sepultura", como o asturiano  ḷḷurbizu "desajeitado, dessasseado, de mau aspeto", esḷḷurbizau "desgrenhado", lôbrego "escuro", lubrinhar "choviscar" confrontado com barrufar, barruçar com o mesmo significado.
Que vão dar a augas escuras ou augas porcas.
Que tem em comum Lorbé de Dorneda (Oleiros) com Lorbés de Salvatierra de Esca (Aragão)?




Na Aquitânia:
Lurbe e Sent Cristau






PIE *dhub-ro- ‘deep’ (what is deep when viewed from above may be taken as high when viewed from below, cf. Latin mare altum or English high seas) a derivative of PIE *dheub- ‘deep’ [: Gothic diups and English deep, Illyrian dúbris ‘thálassa,’ Lithuanian dubùs ‘id.,’ daubà ‘ravine,’ duobė ‘pit, hole, cavity,’ dùbti ‘be hollow,’ Welsh dufn (< *dhubni-) ‘deep,’’ OCS dъbrь ‘abyss,’ dъno (< *dъbno-) ‘ground,’ Alb dēt ‘sea’ (< *dheuboto-)



Este é um mapa do rio Zobra, também grafado como Zovra, na freguesia de Zobra, correndo ao pé da aldeia de Zobra.
in villa que vocatur Zovra sub parrochia sante Marine de Zovra in terra de Decia
(Romaní,Oseira/3 (u) 1272-3-29).

https://es.wikiloc.com/rutas-senderismo/zobra-minas-e-carballeiras-lalin-6783971/photo-3794765

Zovra, hidrónimo, e zoura, substantivo comum, poderiam ter a ver com a raiz aqui estudada ou desenvolta: *dʰubrós.
Pode ser confrontado com zoura / zoira "diarreia" (e as suas variações foira, foura, esfoira...) com referência a esse primário *dhubros "águas sujas".
O rio Zovra poderia ter levado o nome por ser um rio toldado da minaria anterga. Minaria anterga que seria aprofundar o leito dos regatos que baixam dos altos.

Nascimento do rio de Sobra, que forma o Urdón na bacia do rio Deva.

A confrontar Zobra / Zovra  / Sobra com o rio Dobra nas Astúrias, já transparente como hidrónimo nascido de *dhubrós.

Zoura como evolução de *dʰubrós, ajudaria a perceber a relação de doiro ou douro como hidrónimos antes de relacionados com o ouro (d'ouro) relacionados com águas toldadas ou simplesmente "rio".
Assim o grupo de correntes pluviais ou toldadas e nomes de rios: doiro, idoiro e odoiro, doira, duira, duiro, seriam realizações de *dhubros / *dhuvros, como também seria zoura e zovra.
Seria possível aventurar que a palavra zurro / surro teria esta mesma raiz como origem

Grego τῠ́ρβη turba e a sua suposta evolução no conceito de turbidez terá a ver com *dʰubrós?












































Sobre a Santa Núria, recebe o nome do vall de Núria na Catalunha.
O nóme de Núria é visto relacionado com o basco norra, com o topônimo de Andorra. No vale de Núria houve um lago, por derretimento do antigo glaciar e a sua morena cegar o curso, o rio tinha aberto parcialmente o passo, mas seguia havendo lago. Nos anos do franquismo foi construído um encoro.



(1) No galês a pronúncia llwtra e a pronúncia rhutra, ambas palavras para falar da lama e lodo, pode ser de interesse:
/ / afrente / ɬ /
É aqui a cotra?, ou a cotra deriva de costra/crosta?


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