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Caminho e continuidades


Vai de ida ou vem de volta?
Sobre a etimologia de caminho e mais: De como o velho caminho da Galiza, foi um caminho de dispersão, na época post-glaciar, e de como isso previveu até os tempos de hoje, coberto por lendas reformadas. Sobre enterramentos e mortos, sobre o antigo costume de enterrar na beira dos caminhos e de se ir enterrar à terra de onde se vem, onde se nasceu, ou de onde saiu a família.

http://es.wikiloc.com/wikiloc/imgServer.do?id=2188122

Admitida está esta rota: que o camminus latino, foi uma palavra que Roma apanhou do gaulês; no latim, as formas mais frequentes eram via e callis.
Assim o nosso caminho, o camim (1) do galego oriental, el camí catalã, el camino espanhol, el camín astur, le chemin francês ....., teorizam vir do latim.
E por que não do gaulês?, ou do falar pré-latino que fosse?
Ou polo quê, não era já quase assim que nesta parte os caminhos se chamavam?
Já é que temos no galego cambeiro como senda tortuosa....

Nos célticos falares:
Córnico: cam, (passo)
             camem(caminho)
Bretão: kamm, (passo)
Gaélico escocês: cam, (passo); ceun (carreiro).
Irlandês: ceim, (passo).

Esta rama céltica do passo do caminhar, está aparentada com o proto-germânico *kwemaną (inglês to come, vir, regressar).
Recorrendo pois ao latim: camminus, tem duas partes camma / cammus inus.
Com -inus em função adjectival e não diminutiva, (como em: peregrinusmarinus).
Estariam desde o céltico a falar do "pernino", do "pernado", do pateado? (*)

E a cambadela?
(Do céltico, corunho?)
A fala gremial dos marinheiros da Crunha, e agora gíria urbana, conserva as palavras: gamba, (perna), gambear (caminhar, correr), e "ir a gambim", (ir a pé).
Estamos então, diante dum fóssil celta na fala marinheira, ou de um empréstimo italiano?
Seja como for, o italiano gamba, tem como cognatos: as formas asturianas cama e gamba (2), o catalão cama e gamba, o espanhol camba e cama, já pouco usados, o ocitano camba, o francês jambe, e no nosso falar: gâmbia e gamba.
As etimologias espanholas e portuguesas remetem ao italiano como origem, ou ao latim tardio!
Latim tardio que,  de onde foi que inventou ou sacou chamar-lhe à perna camma?
Mas a etimologia não quer responsabilidades?, e nega a sua origem céltica?
Para mim gamba é da mesma raiz que os anteditos "cam(3).
Alicerçada na raiz sânscrita: गम (gama) "caminho". Radical lexema do verbo ir ou vir,  गन्ति (ganti), e de moitas palavras relacionadas com o movimento, गम्य (gamya, caminhável), गमयति (gamayati, visitar)....

Se a palavra caminho existe e perdurara nesta alargada zona, foi por difusão latina, ou por que já existia nos falares dos povos que Roma conquistou?

Se o nome de algo sobrevive logo de um processo de imperialismo linguístico, por que é?

Digamos pois, que a importância dos caminhos, e a existência de principais caminhos foi prévia à chegada de Roma, e à construção de novas vias polas que expandir e comunicar o seu império.

Talvez um dos caminhos mais velhos e trilhados da Galiza antiga seja o atual caminho de Compostela.
Como no escrito anterior se fala, ao pé do tal caminho havia túmulos, que marcavam as distâncias, ou talvez lugares tumulares, a cada légua.
Estamos a falar duma cultura que enterra às suas gentes em medorras, mámoas,  laguas ou leguas, (leũas), ao pé de caminhos, que alguns discorrem polas serras. Cultura que semelha ter um respeito e conhecimento alto ecológico para a adequada distribuição dos usos e dos lugares do terreno. Cultura já em plenitude de força no 4.000 antes de Cristo, e talvez com alguns milênios atrás dela. Que não foi efêmera, que continuou até os tempos da invasão da Roma, e que no seu desenvolvimento, anterior à ocupação romana, originou a chamada cultura celta.

Os estudos genéticos, determinam a possibilidade de que no período glacial houvesse um núcleo humano que estava assentado na costa atlântica da península, e que na finalização do mesmo, (fim determinado por um clima especialmente temperado, ou mesmo cálido, o chamado período atlântico), este grupo humano colonizasse o norte, conforme o clima o ia permitindo.

Distribuição atual do carvalho, (Quercus robur).
Quando se consultam alguns manuais de flora, por exemplo, da distribuição do Quercus robur, do carvalho, faz-se uma ideia da sua origem europeia, e a colonização da cornija cantábrica e faixa atlântica desde a "fecunda" Europa até a esquina da Galiza.
Como se o território da Galiza atual tivesse sido um ermo, durante a glaciação.
Do centro à periferia?
Conceição colonizadora errada.
Isto..., não tem nome, mas a sociologia consegue explicar?
Há um processo de inferiorização que sofre um povo dominado, o que obriga a um reducionismo do pensamento, no que tudo é metido "a machado" no mesmo esquema.
Esquema que é sermos "de províncias".

O mapa da dispersão "centrífuga" do Quercus robur não concorda com a ideia de que: conforme a temperatura de Gaia foi sendo mais cálida, acabando-se o glaciarismo, e entrando no período atlântico, o carvalho foi expandindo-se para norte, nas zonas onde a relação humidade temperatura permitiu.
Mas sim concorda com o pensamento alienante que o colonizado e a colonizada aplicam ao seu.

Salientar que os estudos sobre diversidade genética do carvalho, Q. robur, mostram que é grande na Galiza, (análises em Sobrado dos Monges). Ergo: Se num lugar a variabilidade genética é alta, pode ser indicativo de que a espécie estudada leva mais tempo ali assentada do que noutros lugares, onde há uma heterogeneidade genética menor.

Linhas de dispersão do carvalho, no período post-glaciação.


Agora apresento uma série de mapas sequenciais que dão ideia das zonas de vegetação destes últimos períodos climáticos , tirados do endereço:
http://www.esd.ornl.gov/projects/qen/nercEUROPE.html


Depois de ver toda esta série de mapas, creio que fica algo mais claro como, nesse tempo pudo ter acontecido a colonização do carvalho pola Europa adiante. Entendo que os mapas do vídeo tem pequenos erros, já que: Polos fieitos, (o feto Culcita macrocarpa), polas pteridophyta relictas que ainda crescem na faixa atlântica, do Cantábrico até a Andaluzia , sabemos que elas resistiram a glaciação, pois depois do período glaciar não puderam ter chegado até aqui, nem re-colonizado o bosque atlântico. Fentos, fetos que dão a marca de que o clima nesta esquina atlântica foi relativamente favorável durante a última glaciação. E as pessoas? Seguiriam as pessoas o degelo? Seguiriam as pessoas o carvalho? (4) Então, há um correr da vegetação do sul a norte, e claramente: desde a faixa atlântica sul-oeste da Europa, a dispersão vai pela França atual arriba; que também recebe fluxos da península itálica e em menor grau do Peloponeso. Há uma cultura megalítica na faixa atlântica ibérica, que se estende conforme o bosque caducifólio atlântico vai avançando norte num tempo que começou 10.000 atrás? Hipótese: Durante o tempo de glaciação uma população humana viveu na zona sul-oeste europeia, na costa atlântica da península ibérica. Nesta zona desenvolveu uma cultura megalítica, com enterramentos familiares, de clã, ou de tribo. A cultura megalítica vai aparecendo em mais lugares conforme o clima vai sendo mais suave, e os grupos humanos da dita cultura megalítica ocupam novas áreas.
Megalitismo
A tribo que se dispersa, segue conservando a tumba inicialmente na zona de onde saiu. Há uma conceição de que se pertence à terra nai, à terra de origem, e que nela se deseja ser enterrado. Criam-se caminhos de mortos e de vivos, que correm desde a zona do novo assentamento, até o antigo túmulo colectivo da ocupação matriz da que saiu o novo núcleo. Caminhos de mortos relativamente atuais; por exemplo o Caminho dos Mortos em Merufe, (Monçom). Por este caminho, em carros de bois, eram levados os finados e as finadas à igreja paroquial, desde as aldeias distantes: Arado, Bouças, Estrica, Cernadas... Mais caminhos dos mortos: Caminho dos Mortos que vai desde São Gião do Trevo atual Carinho, até a freguesia de Régua (Cedeira),  Trevo está a vinte e poucos quilômetros de estrada da sua freguesia. Caminho dos Mortos de Donom até o Hio... Caminho dos Mortos na freguesia de Santa Baia do Castro, desde Castro do Cabo a Bugarim. Camín de los muertos nas Astúrias: na freguesia de Nueva (Llanes), baixavam as pessoas mortas, das aldeias de Acebal e Los Carriles. Com o nome de corpse roads, este costume perdurou nas Ilhas Britânicas. Estes caminhos dos mortos, impregnam fortemente a cultura galega, com o conhecido caminho de Santo André de Teixido, que vai de morto quem não foi de vivo. Caminho que tem cúmulos de pedras, milhadoiros; talvez a forma anterior à mámoa como primitivo túmulo? Caminhos dos mortos que andam as hostes antigas, a estantiga, acompanhando o regresso do morto ou da morta à tumba dos seus ancestrais. O grande caminho de mortos num sentido literal foi e é,o atual caminho de Santiago. Fora já de que o Camim de São Tiago é um caminho que corre até Fisterra, ao por-do-Sol, até a morte da Luz.... O caminho também é, foi, um caminho de volta, que légua trás légua, traze para o seu lugar de nascimento, o morto, a morta. O povo megalítico, o povo celta, os galos da Gália, caminhavam a sua rota de último regresso, retornando à mámoa do clã, que os gerara. Tumba do clã!, pois logo!,  à qual retorna o São Tiago morto. Tumba das primigênias, que está santificada na Quintana dos Mortos, na mesma catedral de Compostela. Mesmo prosseguem, algo mais ao oeste o seu percurso, aprofundando nas suas raízes, chegando ao *dombo, á terra das tumbas, à Dumbria.
http://www.marcel.ca/0/pelerinage.asp
Algumas almas dos mortos e das mortas, continuam o seu andar oeste, polo Atlântico, pois, a sua terra de origem está no além, no assolagado, de onde saíram as suas e os seus.
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1) A hipótese é que caminho pudo ter um étimo comum coas demais línguas que o compartem, semelhante a *kammĩ. Talvez fosse camim a forma proto-galega, e por hipercorreção gerou-se caminho, do mesmo jeito que está a acontecer na atualidade com falantes orientais que ruim convertem-no em ruínho? 2) Fazer ver que no asturiano as palavras cama e gamba são usadas para as pernas dos animais, o que leva a pensar que pertencem a um substrato anterior, e não a um neologismo italiano de entrada posterior à latina. Normalmente os neologismos ou os empréstimos chegam para conceitos novos ou para palavras de maior rango, e as palavras velhas, as do substrato linguístico anterior, ficam para o que hierarquicamente é considerado inferior. Assim as pessoas tem pernas e os animais gambas (patas). Do mesmo jeito no galego trasmontano gambiarras são as pernas longas ou compridas que também são chamadas de gâmbias. 3) Confronte-se a variação da consoante inicial em "camba", com lenição: gamba e jamba (jamba talvez com esta sequência: pernada de árvore, tronco que faz de jamba, jamba de pedra...). Dizer que o lexema cam-, (de caminho), é diferente ao camb-, (da camba, da curvatura) este último também do céltico com fonema vocálico /u/ > /a/, (cwm, galês: vale). 4) Mapa do halogrupo feminio H:
(da celtiberia.net, http://www.celtiberia.net/verimg.asp?id=823)
Mapa do halogrupo masculino R1b:

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(*) Sobre a palavra camminus: Também do mesmo jeito que na confluência de línguas, a língua B para persistir dentro da língua A passa a nomear aquilo de inferior hierarquia, mesmo a admitir um sufixo que "abrande" a sua força, a existir como diminutivo... O original *cammo, (céltico galaico *cambo) passou a camm-inus? Este hipotético nome de *cambo para o caminho, pudo persistir até o medievo, tempo no que em Compostela, origem do caminho, existia uma ordem, confraria de cavaleiros de nome Cambeadores. Mas que era que faziam: eram cambiadores ou caminhadores? Se eram cavaleiros que tinham por obriga guardar a vida dos caminhantes, dos peregrinos, ou cambiar, trocar dinheiros? Pois são as cambas, as rodas de carro, as que limitam e marcam o caminho coas rodeiras.
http://www.tecnoloxia.com/carro/lnea_combativa.html
Então juntamos o caminho com o câmbio e com o cambo, (o torto)? A analisar: escamalhar: perder o caminho e traspoleirar com o mesmo significado

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