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Ao socairo das queiroas



Dicionariado está socairo com maior detalhe para apenas os navios que pairam ao abrigo de umha montanha que mira para o Sul.
Estar ao socairo é estar ao abrigo do vento, dumha maneira geral, para as gentes da minha família e da zona de onde é; com sinônimos como ponher-se ao repairo, para o mesmo feito, abrigar-se do vento.

Sobre socairo, há uma ideia que a palavra veu do gaélico para o galego.
Pois socair no gaélico tem os significados de apaziguado, calmo; adjectiva um porto, adjetiva um cavalo manso, doado de montar e guiar, um barco marinheiro, que navega bem.

Mas talvez seja ao revés, que das falas marinheiras galegas chegasse alô à Irlanda?
Pois socairo tem uma origem em so-cairo, sob o cairo.

No caso da definiçom mais restrita, (baixo a proteçom da aba dumha montanha que mira ao sul...), há que ter em conta, para entender o que significa socairo, o termo marinheiro cairo.
Cairo: vento caloroso que vem da terra para o mar; calor que cai a prumo.
Confronte-se com queira: calor que se percebe a boa distância dum lume.

Ponher-se ao sob-cairo, é pairar numa zona da costa onde este vento ou brisa quente, aparece, e contra-arresta outras dominantes.
É algo que navegando bem se nota, sobretudo se a montanha é pedregosa, pois é tal qual um "radiador" nos dias de Sol.

O radical cair-/ queir-, do socairo e da queira,  está no galego velho como resto duma fala perdida? Na ideia de calor, estas palavras "velhas" do galego confirmam-no:

Cairo: calor que cai a prumo.
Cairento: frioleiro

Queira: calor percebido a distância, calor irradiado.
Queira: corrente de ar provocada polo lume.
Queira: nome genérico para o volume de combustível, mato, que arde na lareira, lenha amontoada na lareira destinada a arder.
Queirinar-se: queimar-se as plantas polo muito Sol ou geada.
Queirenta: aquela pessoa que está sempre ao pé do lume, detrás do lume na lareira.
Aqueirar: agostar-se os frutos pola calor.
Esgairar: passar uma prenda, um objecto polo lume, pola chama, para lhe tirar a umidade.
Enqueirar: passar polo lume, endurecer ao lume um pau, chamuscar.
Esqueiroar: queimar, chamuscar, abrasar.
Engueirar: chamuscar.
Esquiro: tempo mui seco, tempo cálido
Esgueira, esgueiro: para qualificar o tempo seco, a planta que resiste o tempo seco.
Esgueirada, esgueirado: seco, carente de suco, sem verdor, sem louçania.
Escairada, escairado: seco, falando das plantas ou das pessoas.
Queirota: espécie de urze.
Gueirota: espécie de urze.
Cairoa: queiró.
Cheiroga: urze rastreira, o mesmo que queiró.
Socárrio e socário: felugem
Cárrio: casca verde e depois negra da noz que contem muito pigmento




Há que ver que este radical cair-/ queir-, dá o nome das queirós, plantas combustíveis rápidas, as melhores para prender lume co "isqueiro / esqueiro" (corno onde se guardava a isca ou esca).

Mato de ericáceas variadas: as queiroas.
Com todas e tantas as suas variantes: queiró, queiroga, queiruga, quiroga, quiró, cairueta, caureta, cairuetu, cauriota, gueirueta, gueiruota, guirueta, queirueta, queirota, gueirota..
Quiruela, quiruga, quiruguina, som nomes na Seabra, (Samora) para as queirós.
No espanhol os nomes para esta planta mais próximos som: queiriño, querihuela, quirihuela, quiroga, quirola, quírola.

Abre-se a possibilidade de que muitos topônimos que levam este radical, cair- / queir-, como a vila de Quiroga, a praia de Queiruga, o Lugar de Queiroso em Neminha, ou a paróquia de Queiroãs, entre outros....., sejam simples epítetos que significam lugares assolhados, quentes ou abrigosos, como numha olhada rápida a um mapa, ou por termos estado neles, podemos ver que estám orientados para o Sul.
Nom nego que podam ser entendidos como lugares onde medram as queirogas, mas...

Umha possível etimologia deste radical queir-, cair-, do calor, estaria no latim calere, calescere, (quentar), ou em calorica?
Calorica,  caorica, caioriga ....?
Raiz latina ou ramo irmám latino?

Queimar, semelha provir do latim cremare, com raiz proto-indo-europeia *krem-, derivada de *ker- .Para solucionar esta pequena distância entre cremar e queimar, pensa-se que queimar deveu derivar dumha forma intermédia, suposta *kaimar, do latim hispânico...., e por que nom do céltico?

Inclusive no grego este radical quei- / cai-  está em  καῦμα, (queima), c'o verbo καίω, (queimar), todos eles dum proto-indo-europeu comum suposto: *keh₂u-.
Estamos diante do radical cai- / quei-  (cair-, queir-, quir-) velho, com vida também no grego para o lume.

Pyros afrente quiros?
Assim no céltico galego, celta-q, teríamos *kiros para o lume, com o que a raiz quir-/queir-/ ficaria explicada e definida.

Radical de calor que estudos atribuem a um proto-céltico *kwer- com descendentes mais ou menos alicerçados no galês pryf , (quente), e no gaélico irlandês cruim, (quente).

Nas línguas gemánicas *firos, fire.
Nos outros falares gregos e latinos está pyros para o lume.
Todos eles de um proto-indo-europeu *péh₂ur.

No inglês as plantas, arbustos, do gênero Erica, as urzes, uzes ou queirós, tenhem o nome de heathers, c'umha grande proximidade a heater.
O mesmo conceito que o radical queir- semelha ter no proto-galego, está em heathers, como as aquecedoras.

Então há umha série de palavras no galego, do campo semântico do lume, c'um radical quir-/queir-/cair- que entroncam mais c'o proto-céltico, c'o proto-indo-europeu, do que c'o latim?
Há umha palavra socairo, galega marinheira cento por cento, que se incrustou no gaélico?

Si, há bem indícios que si.



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A pequena aproximaçom que acho no gaélico co'as queirós é:
CAIRCHE, CAIRCE: língua de lume.
GAIRTHE: quente, radiante.
CRÁEBACH: ramoso?
CRÁEB: ramo, ponla?

Já mais evidente no galês caerug "grinalda ou coroa de urze".

Dos nomes em gaélico para estas plantas salientar umha possível semelhança: "léiccis cráobha" são as raminhas para o leito, onde craobh é nome para ramos e galhos finos. Dizer que as queirós foram usadas para estrar os leitos das pessoas.


O nome da cama ancestral tem a ver, por vezes, com o vegetal usado como leito.

No sânscrito बर्हिस् (barhis) /bɐɾ.ɦís̪/ cama, acocho feito com um tipo de erva poácea, e entre outros significados dá nome também ao lume.
Outra vez  o cereal-erva, palha, tem relação com o lume como foi explicado acima, e com o acocho, leito.

Desmostachya bipinnata, erva usada para fazer o leito बर्हिस् (barhis), o Buda fijo o seu assento de meditação coa palha desta erva.

Um dos nomes do berço em galego é briço ou briça, no asturiano brizu, ou o catre feito como um caniço: em asturiano blezu.
Poderia então haver uma relação entre por exemplo a erva briza, ou o vegetal brizo, ou mesmo o breço com o berço.
Assim no castelhano berceo dá nome à Stipa gigantea.

Berceo nome castelhano do baracejo, garacejo ou estipa (Stipa gigantea)


A confrontar com a raiz proto-indo-europeia buscada para a bed / Bett inglesa e germânica:
*bʰh₁-tó-s (“cálido, quente”), de: *bʰeh₁- (“quecer”) +‎ *-tós.

Como o nome da planta indica baracejo / garacejo, há uma alternância b/g que nos remete ao celta p, e celta q.
Segundo isto no proto-indo-europeu haveria uma forma *bʰeh  para "quecer".
Como foi explicado acima a raiz para as queiroas de um proto-céltico *kwer e um  proto-indo-europeu *keh₂u- junto com *péh₂ur para piros, levaria a uma simplicidade de celta-p/celta-q: 
per-/ker- para o vegetal usado para aquecimento, lume ou leito.

A hipótese vegetal do berço estaria baseada em que o asturiano dá uma dica, el blezu é um catre feito de ramos trançados a jeito de caniço / cainço, não para bebés.
Então o primeiro acocho, da raiz brz, não obrigatoriamente teria que ser um berço de bebé, podendo ser uma cama.
E como é observado noutras palavras, a camada cultural primitiva costuma ficar em fóssil a dar nome às cousas de crianças.
São estas duas premissas que tratam de alicerçar a hipótese do berço, além das tantas relações esboçadas acima, que se encontram entre o berço, e os vegetais em uso como cocho primitivo.
Assim a barça, nome da coberta de palha ou vime que "tinham" as garrafas, ou da palha posta entre a louça para o seu transporte, poderiam ter a ver com berço "cama" e barda "sebe, separação".
Aqui compre voltar a pôr o sânscrito बर्हिस् /bɐɾ.ɦís̪/ acocho feito com um tipo de erva poácea.
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No grego a relaçom entre o nome do fogo e uma planta também acontece, onde: πῦρ, (pyr) é lume, e πῡρός, (pyros) é trigo.
Esta pira referida ao lume, tem a origem em pura, na pureza, entendendo-se que o lume purifica.
Na busca de kira / quira, (por isso do intercâmbio de p/q, de piros e quiros), como parente do lume, acho: किरण , (Kirana) no sânscrito como nome próprio, e com o significado de raio, brilho, sol.
No persa, Kirana, o nome próprio muda em کوروش,( Kūrosh) e no grego como Κύρος (Kýros), com κύριος (kýrios) que significa senhor.
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Assim o catalão e espanhol socarrar "queimar superficialmente" poderiam estar nesta mesma linha etimológica do socairo.
O asturiano socarrina dita no mesmo: sufoco, calor extremo.

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Acrescentar mato teirogo nome das queiroas no Barroso (Pitões das Junias, comunicação que me deu Vitor Garabana).
Que relaciona queir- com teir- com dureça. Confronte-se com a teiruga a teiró do arado.
Hitita teripp- ‘arado’.

Então entenderiamos que no primário fogo, é usada uma lenha dura contra  a que se esfrega um pau, esta primeira madeira seria de queiroa, definida desde a sua qualidade de calor.




Basko:
Sukar: febre.


Lakota:
čhethí /t͡ʃe.'ti/ "fazer lume".



A palavra cairo para definir o dente canino, tem outra origem, da que dá a clave o trasmontanismo cãiro, ao dizer co'a nasalidade que provém possivelmente de cão + eiro, caneiro.
Este colmilho, cãiro, tem as variantes e a diversificação na linguagem de:
Queiro, no carro pequena caravilha pola parte de abaixo do chedeiro, que serve para passar a corda, o adival, e apertar, arrochar a carga.
Queiro, dente do siso, moa do juízo.




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Esta triada protoindo-europeia (f-q-p) poderia estar no galego futre, (podre),
no gaélico irlandês grot (podre), e no latim puter (podre).

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