Do guiço, ou de fazer o ó com um canuto....
Além dos garvetos, garavatos ou da garatuja?
Guiço tem muitos significados no galego:
- pau aguçado
- pau fino direito e sem galhas, vara
- estaca, pau
- garaveto
- conjunto de garavetos
- pequeno pau que atravessa o extremo do tamoeiro do jugo para segurar que não se abra
- coisa desprezível
- (arcaico) garfo simples, feito de um pauzinho em galho
- pau seco de urze usado para alumiar, tição aceso
- haste seca de abrótea, a mesma planta de abrótea (Asphodelus albus)
Guiço tem as formas parentes guinço e guincho:
Guinço:
- haste seca de abrótea, a mesma planta de abrótea (Asphodelus albus)
Guincho:
- rebento, germolo
- guiço, pau aguçado
- ponta, punção
- gancho
- utensílio de lavrança, apeiro, com duas ou três pontas
- guindaste
A ressaltar guincheiro:
- (Trás-os-Montes) galho de árvore
Guinçar é rasgar uma roupa ou quebrar um galho de árvore ou uma madeira.
"Esguinzar" palavra não recolhida no dicionário da RAE, do castelhano é luxar, escordar um artelho.
Assim guiçada no galego é a rachadura na roupa.
Todas estas palavras semelham levar a uma ideia de quebrar.
Se esquartejar, quartear, tem a ver com quarto, e transmitem a ideia de partir.
No latim quintus, também seria colhido para o conceito de quebrar, rachar, partir?
Confronte-se com quinta, quintã, quinteiro...
Já pola linha céltica há no galês a palavra gwŷdd, com o significado de árvores, (o seu singulativo a árvore: gwydden).
A guincha e as guinchas são ferramentas agrícolas, sachos com bicos...
Confronte-se a enzinha com o encinho.
Semelha haver uma relação?
Gwŷdd tem parentesco com o antigo bretão guid, bretão atual gwez, córnico gwyth, todas elas com o significado de árvores. Descendem de uma hipotética raiz proto-britônica: *gwɨð, por sua vez do proto-céltico *widus (confronte-se com vido, vidoeiro).
Se atendemos ao galego a raiz seria *windu ou *wĩdu / *wĩda.
Binças seria pois uma palavra esperada desta raiz. As binças são as aivecas, as gueifas do arado, a entender que as primeiras binças eram só labegas, ramalhos atados ao corpo do arado que alargavam o suco:
Talvez nesta raiz *wĩda, poderiam estar as pinças antigas apenas um galho partido dobrado?
Entendo que a ideia de partir em galhos ou mesmo o esguince espanhol (esguinçar) pode ser que tenham a ver com uma ideia de desarvorar, no que sim está a ideia de árvore, mas acaba generalizando para desarmar, desaparelhar.
O guiço arcaico utilizado como garfo para comer era isto: Y, e cinco em latim escreve-se V? Algo a ver?
Tendo em conta a palavra guinço?
Em grego antigo Π = 5
Em latim V = 5
Na numeração rúnica ∩ = 5
Os símbolos antigos de numeração indo-arábiga para o cinco:
É por isto que o cinco está longe do penta?
Fotografia cortesia de Javier Torres, é uma lápide da época sueva, (Século VI), achada na igreja de São João de Banhos de Bande, agora no museu da catedral de Ourense.
Nela e é possível observar nas gravura um símbolo numeral duas vezes em forma de guincho e não como foi comum em V na época anterior romana, e posteriormente no medievo até a atualidade.
"Recesset Alepius in nomene XP (Christi) annorum XVII X Kl(Kalendas) Novembris era DXLVII".
É esse símbolo um cinco?
५ é utilizado na cultura indo-arábiga para o cinco.
Esta letra grega é chamada de digama, e tem o valor numérico de seis, que é marcado com um símbolo semelhante a sigma ς
Esta antiga letra na Grécia simboliza o número noventa. O Ҁ é do grego arcaico e foi substituído por Ч no alfabeto cirílico com um valor de sessenta.
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A deixar aqui:
guiça, guiço
guinço
guicha, guicho
guincho
guincheiro, bicheiro
Guíssamo / Guísamo, guiço- + -mo, sufixo aumentativo átono ou dativo, indicando função, lugar ou estado. Seria a freguesia de Guíssamo a que tem guiços altos, ou o lugar para os guiços?
No hitita westara é o pastor, que está formado por wes- + -tara, wes na ideia de ver com atenção e tara como -tor, "veedor".
wesi é um prado.
Guísamo segundo isto seria que é lugar para prados.
wiso / weso seria vedação de paus, confronte-se com garda/ barda e guardare, regarder, fitos e fitar, luco e lucar.
Guísamo apresenta a formação de cousso:
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Guísamo (Bergondo) |
Guisamonde:
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Guisamonde de Morquintião / Morquintiám (Mugia) |
Topónimos aparentados ao lexema guis-, guiz- guiç-:
Guitião (-ám) de São Pedro de Froião (-ám) (Sária), grande cousso, a salientar os microtopónimos Siara (seio / feio), , Caritel, talvez na ideia de marca, em Caritel está a casa grande, na posição frequente dos coussos de ficar em um lado a igreja e no outro a casa da elite. Este topónimo podeira ser associado não à vaca *go, mas ao guiço, analisado no escrito |
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As corgas de Guitião (-ám), caminhos de saída do curro do Sabugueiro, analisado já no escrito "Sabuzedo". |
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Santa Maria de Cutião (-ám) Cessuras |
(Hitita wesiya é vestir, confronte-se com guisamento e viso, roupa também chamada combinação).
Guíçaro: intratável, brusco, rude repelente.
Guíçaro: Nome dado para as gentes da Suíça, é pensado ser derivado do antigo alemão Swîzzer.
A etimologia da Suíça vai dar à palavra proto-germânica *swīþan "queimar".
Então o guiço e *swīþan, o pau ou garaveto (em Y) e o queimar teriam uma mesma raiz, que no caso galego, devido ao alargamento de significados do lexema, daria-lhe uma grande antiguidade, no mundo germânico o lexema é mais restrito.
Guiço, a lembrar que entre outras cousas, tem estes significados que põem o proto-germânico *swīþan "queimar" em relação direta com ele :
- pau seco de urze usado para alumiar; tição aceso
- haste seca de abrótea usada para alumar, a mesma planta de abrótea (Asphodelus albus)
Assim em Lubião (-ám) na Samora: guiço "pedaço de pau seco, ou garaveto, para acender o lume".
A confrontar com esguíçaro ou guíjaro "alto e magro", se calhar por ser como um garabulho, como um guiço, onde o sufixo átono -aro poderia ser indicativo de genitivo plural , sendo esguíçaro: o dos (s)guiços, o das (s)guiças.
Assim o ghiço /'hi.θʊ/ como "pau-lume" diversificado, levaria-nos a uma ideia paleolítica *sghĩthu.
A confrontar com as línguas da América do norte da família
A lembrar um dos significados de guiço:
- estaca, pau
Esta hipótese aqui apresentada levaria a palavra guiço ao paleolítico glacial, quando existia a banquisa atlântica (21.000, 26.000 anos atrás).