Bouça



A palavra bouça tem uma etimologia pouco clara.
Boza é a forma cognata no asturiano, e anda por perto a palavra touça, mas não é o mesmo, (ou sim?).

Bouça nesta terra que ando hoje, é um terreno choído grande, um lugar onde se podem deixar as vacas sem problema de que marchem, não é exatamente um prado, é um lugar no que medra erva e há carvalhos e mesmo mato de tojos gestas silveiras. Um lugar no que as vacas podem ficar fora, e se chove e venta muito abrigar-se entre o arvoredo e o mato.
Bouça também é um microtopónimo, e cada freguesia tem uma ou mais terras com o nome de Bouças, Bouçom, Boucela ...

Se entendemos que houvo lenição, bouça / vouça, proviria de pouça, ou pousa, cognata de poula.
Então sim, bouça aparenta com poula.
Confronte-se com a forma asturiana pola.

Interessa pois ressaltar que nos significados destas palavras está que são terras cercadas.
Depois alargaram a denominação a terreos que toponimicamente eram bouças, mas que por transformação histórica mudaram em monte desocupado?

Qual foi a mudança histórica que alargou o significado de bouças / bozas, poulas / polas?

Indicar também que pouça, pousa, é isto entre outras cousas:
Quinta, granja, lugar, propriamente a casa murada.
Aqui entra a dificuldade com Roma e o latim, pois uma pousa, uma terra cercada para descanso do gado e do pastor, ou do amo em lazer, anda ao lado de possuir.
Mas este possuir quebra com a palavra pousio, que nada tem a ver com a propriedade dum possuidor, e tem a ver com a cultura de barbeito de descanso.
Atenda-se à polissemia que aparece com o descanso.
Bouça, boiça, pouça pousa, pousio, é o descanso do amo, do pastor, do gado, e mesmo da terra.
Então o repouso é múltiplo neste tipo de terras.

Aqui pois está o cognato latino pausa?, ou a palavra latina etimologicamente mãe?
Pê latino inicial que muda em bê?
Ou, as bouças, poulas e pousas derivam da raiz proto-indo-europeia *pau-?
Raiz *pau- que está no repouso e na paz.

Bozek no bretão é satisfeito, não sei se isto terá a ver muito com a bouça e a pausa ou descanso, mas sim leva-me a pensar no basco bakea, paz....

"Sentir pacer no serán as vacas..."

A céltica aparece pola possibilidade de que bouça / vouça seja uma lenição de pousa? Uma laxidão da pausa é a bouça?

No gascão boçar significa tapar.
Boçar vt. (lat. pop. boscar) tapar ; tapoar ; barrar ; obturar ; boçar dar un boçon.

Boçar no português é amarar as boças de um navio.
Temos emboçar: que é ponher, por, o boço, além de aplicar argamassa e significados de atar, amarrar.

Um home falava-me dum tio seu que de dezasseis anos levaram-no para América, e nunca vira o mar, e tinha medo de subir ao barco, "tivérom-no que emboçar".
Perguntando soubem que essa pessoa não ia amarrado, senão tapado, coberta a vista.
Assim emboçam-se as vacas para ser subidas ao camião, e que não vendo, não tendo medo, seja mais doado o labor.
Esta ideia de boço ou emboço vai mais para alá do butilho, pois não é só para a boca.
Isto leva a perceber a bouça como uma tapada.

Mais occitano:
Boissa, bouicha, é nome para a assembleia vizinhal, para o conselho...
Reunião.





Barbeito é nome para terras que se deixam em descanso, tem-se que vem do latim vervactum, de vervagĕre.
Mas no galego barbeito também fala de tapumes e mesmo de quem tem barba.

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