Iccona


Foto tirada do especializado blogue "Galicia Pueblo a Pueblo".
https://galiciapuebloapueblo.blogspot.com/2017/12/iglesia-de-santa-maria-cambre.html?fbclid=IwAR17yPuJ7CnpFBeoi71n1sWsC61O4yEJ2FoKhH92Jwx4KJqLSUajJq219xU



Iccona é divindade céltica da fertilidade, por vezes representada com cornucópia, protetora dos equídeos.
Iccona, também dita Epona, tem a mesma origem etimológica que o equa latino. Como outras divindades, o seu nome semelha tabuado, e é chamada por um seu alcume ou epíteto.
No nosso âmbito é de destacar a sua menção no Cabeço das Fráguas:

OILAM. TREBOPALA.
INDI. PORCOM. LAE(uel B)BO.
OMAIAM. ICCONA. LOIM/INNA. OILAM. VSSEAM.
TREBARVNE. INDI. TAVROM./ IFADEM [...?]
REVE. TRE [...]

Iccona / Epona também é divindade no mundo germano e romano. No caso da Roma talvez pola sua frequente "apropriação" das divindades dos povos conquistados?

A ritualidade, religiosidade que envolve a eucaristia da égua no mundo indo-europeu apresenta uma continuidade desde o Atlântico até a Índia.
Na Índia o cavalo branco aparece associado a dividades como Brahma.
Um dos rituais no que se via envolto o cavalo era o ashvamedha, no que um cavalo branco era ceivado no território do reino, guardado por soldados, ao cabo de um ano, se o animal não tinha sido morto ou capturado por reis inimigos, era sacrificado numa cerimônia de reafirmação do rei governante.

No mundo germânico:
Até o ano mil era realizado em Upsala, e noutras zonas da Escandinávia um rito no que cavalos eram sacrificados num recinto religioso formado por um bosque sagrado, um lugar tumular de enterramento e um templo; na cerimônia era bebido o seu sangue.

Na Roma no festival Ocober Equus realizavam-se umas corridas de carros tirados por cavalos, do carro ganhador era sacrificado o cavalo da direita, depois o rito obrigava a decapitação, o corte da cauda, a utilização do seu sangue; muito bem documentado nos textos históricos da altura.

Já no mundo céltico.
Rihannon como divindade feminina e equina chega até o medievo no País de Gales.
Na Irlanda a deusa Macha aparece associada à divindade tríplice feminina. Uma lenda relata como em figura humana ganha, correndo-lhe a pé e prenhe, ao carro do rei tirado por cavalo; chegada à meta pare dous gêmeos, uma nena e um neno. Esta lenda tem relevância, pois no mundo indo-europeu o par gêmeo divino, em diversas lendas, em diferentes lugares, nasce de uma égua.
(O parto gemelar nas éguas é raríssimo, as mais das vezes não chegam a termo, aborta a égua antes, ou de chegar ao parto, a dificuldade em saírem ambas crias é tal que a égua morre).
No século XII Giraldus Cambrensis relata a entronização de um rei na Irlanda onde uma égua branca tem um papel principal ao assumir o princípio da Natrureza, Nai Terra, em si. O rei copula com a Natureza no corpo da égua, numa ideia de busca da harmonia e prosperidade para o seu território. A égua como corpo divino, nai primordial, é depois sacrificada e cozinhada num grande caldeiro, no que o mesmo rei se banha; a sua carne cozida é repartida entre o povo.

Então na Galiza aparece um tímpano que semelha anterior ao catolicismo, no subsolo de uma igreja românica, sediada no que pudo ser o curro pecuário da continuidade neolítica-medieval.
O tímpano, aos meus olhos, representa uma égua com duas figuras humanas pares em espelho, ao meu ver, os Gêmeos Divinos. Égua com a fita polo lombo, o dorsuale, o atributo do sacrifício místico e real, do sacro.
Tímpano que ligaria e explicaria em pedra o passado religioso anterior ao catolicismo e também que ajuda a percebermos as bases do mesmo catolicismo, não como uma religião nova ou que se apropria do antigo, mas como uma continuidade do antigo, uma reinvenção, neste caso de elementos célticos.



Pormenor do tímpano da igreja de Santa Maria de Cambre, onde deveria estar um anho, mas a figura não acaba de ter as formas plenas de anho.


Mari Lwyd
















Iccona
Epona
Equa em latim
Epos em gaulês
𐀂𐀦(i-qo) grego micénico; grego clássico ἴκκος (íkkos) / ῐ̔́ππος (híppos)
ᚓᚊᚐᚄ (eqas) no primitivo gaélico pronunciado mui semelhante como no galego de gheada égua /exʷah/; de um protocéltico *ekʷos.

Poderia ser pensada uma variação  p / q (tipo celta-p, celta-q)?
Onde o primeiro elemento silábico /e/ ou /i/ tivesse uma função léxica de prefixo modificador do lexema /kwa/ /ka/ /pa/

No latim o prefixo i- / in- além do negativo também é o inclusivo "com".
Mas este prefixo é tónico, portanto possível marcador forte do significado, talvez lexema?
Lexema do movimento do ir?
A confrontar égua com iguada "cabra de um ano".
No asturiano iguada tem variantes: eguada / iguá / igüeda / iguöda / igüera / ougada / engueda "cabra que pariu por primeira vez" e iguáu, igüeru "cabrão novo".
No asturiano o verbo iguar semelha raro pois não há queda do ele intervocálico nesta língua, sim no galego-português medieval e galego atual iguar: igualar, arranjar, juntar.
Iguar no asturiano:
Arranjar, compor, ordenar, restaurar, enfeitar, preparar
Achaiar, nivelar, igualar, ajustar
Construir, fazer
Unir vontades
Igualar, juntar.
Esquecer, perdoar
Cambiar de postura las vacas
Correger uma escordadura, uma entorse, ou fractura.

Haveria qu epôr aqui a palavra iguaricu / guaricu "vaqueiro, pastor de vacas".

É pensado que a cabra recebe o nome de iguada por estar aequata, está igualada em tamanho com o resto das cabras adultas. Outra etimologia associa iguada como latim  haedus "cabrito".
Ora a tanta varição de iguada no asturiano abre as suspeitas de que tenha sido outra a sua origem, pois um particípio de iguar seria rara tanta a sua variação.

Levam a pensar que tanto o nome para o equídeo como para o caprino poderia ser um adjetivo que substantivou, numa ideia de palavra tabu, tão frequente no mundo indo-europeu para dar nome aos animais "sacrificiais" ou depois de tanta esculca, à maioria dos animais. O que leva a pensar numa relação direta da égua e iguada com o igual aequus versus equus, de uma raiz comum.
Sendo pois animais do povo, e animais dos iguais. Assim, tanto equus como aequus com o grego ἔοικα (éoika) "ser semelhante", são dous conceitos silabares unidos: ae-quum:
*ei- + *kʷos "eis quem".
Na Estremadura espanhola: igua!  (ígua) é voz para lhe afalar à égua.
Animais que são os nossos semelhantes, ou seja povo, manada produtora, terceira camada, animais sacrificiais, divinos, de nome tabuado que são chamados por um vocativo, uma interjeição de chamada como um: ei tu!, neste caso o mesmo tu é tabuado, eis quem (você é)!
Isto ligaria a Epona / Iccona com o ícone, do grego  εἰκών (eikṓn) "figura, imagem, ícone, similitude, arquétipo".
Outra ideia é que o fonema inicial i-  seja negação i-, indicando uma não-vaca:
Micénico: 𐀂𐀦(i-qo)
Proto-céltico: *ekʷos. 
Onde o lexema *kʷos (linha p /linha q) derivaria em: *kos/ *gʷos por um lado e *pʷos:
Lituano: pēkus,
Língua laz (caucasiana)  ფუჯი (puǯi), puci, ფუჯი (puǯi)
Língua suana (cartevélica) ფუ̈რ (pür)
Onde a raiz proto-urálica para estas palavras é considerada *pouskka abrindo uma relação nostrática.
Confronte-se no galego pucha, bucha (*pow) por um lado, e por outro o sinónimo pleno cucha (*kow).













Cabeça de equídeo na parede da construção anexa à igreja de São Mamede de Abalo (Catoira)


















































Mare
"égua" e madre, e Maria.
*marhijō
Martinho deriva de Marte, e Marte de Maris.


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