Este escrito continua a análise da toponímia da freguesia de São Pedro da Redonda associada à estrutura em forma de cousso que no plano sombreado se mostra:
Começo polo beco oeste:
Este beco apresenta-se como é frequente nos vértices de captura como lugar religioso, com o nome de São Roque e Prado de Eumelia.
São Roque (um santo levado aos altares no século XVII) é um peregrino com bordão ou vara, que vai com um cão, a meu ver e podo estar errado, com o seu nome latino de Rochus, que o desliga de rocca?
Um ancestral pegureiro atrás de um rebanho? É coincidência a proximidade entre Rochus e arrocheiro?
Eumelia é uma das nove filhas de Callia, comumente chamada de Eufémia, nas crónicas galas como Dode, ou Doda.
Doda tem uma etimologia obscura, relacionada com o lugar na antiga Grécia de Δωδώνη (Dōdṓnē) que poderia ser interpretado como Δωδ- + -ώνη (Dōd- + -ṓnē) talvez como "filha de Doda, ou simplesmente de Doda". Δωδα atestado como nome grego feminino, dando nome a um local oracular, sendo sinónimo de Eufémia "bom augúrio"; nome que cobre Eumelia "melodiosa".
Isto leva a pensar que teria havido um lugar religioso oracular.
Cardalda, como alguns outros casos de topónimos tipo Cardanachama "Casa de dona Chama", Cardalda poderia ser uma forma de "Casa de Alda". Onde Alda, nome próprio, tem uma etimologia variada que nalguns casos vai dar a *h₂el- "medrar, nutrir".
Então a paisagem e interpretação toponímica, junto com a funcionalidade do beco do cousso, poderiam determinar um local religioso, onde o pegureiro (Roque, arrocheiro) é alimentado, e onde há um local oracular feminino.
Estivada: é um topónimo frequente que já foi analisado neste blogue, estivada pode ser um lugar de cultivo de cereal por roça, ou pode ser derivado de estiva no seu significado de sebe. Neste caso Estivada estaria a fazer uma das paredes do funil terminal de caça. Este nome de Estivada aparece também no bico do outro lado,
Prado do Defunto, no pensamento de poder haver ali uma mámoa ou um lugar de enterramento, como é frequente dar com estes lugares mortuórios nos becos dos coussos.
Prado do Cura, os terreos dos becos, entendo que pola continuidade religiosa, seguem a pertencer em muitos casos à Igreja.
Cruz de Quenge, a grande tapada, ou hipotético cousso, teria tido diferentes estruturações durante o seu funcionamento multimilenar, neste caso da Cruz de Quenge teria havido uma reforma que acurtaria o beco de caça.
Vai ser apresentada a toponímia do fundo de saco da estrutura em cousso:
Da toponímia apresentada apenas destaco As Antas, tão frequentemente transformado em Santas
O beco leste dificilmente é identificado, no seu hipotético lugar está o castro de Quenge.
Da toponímia do lugar destacar Cubelinhas como possível foxo de caça, quando o cousso foi variado na sua forma, em simetria com o apresentado acima como Cruz de Quenge:
Quenge, a toponímia mais divulgada propõe a sua origem numa *(uila) Calendii. Um possuidor de nome Calendius.
Lugar atestado como Queege no 1334.
Quenge, grafado à espanhola como Quenxe, está situado numa vaguada, pequeno vale relativamente fundo.
Chamativo é que na parte alta da caivanca, no nascimento do ribeiro que corre pola depressão, exista o microtopónimo: Caenlhe.
Este nome de uns terrenos como Caenlhe poderia estar a dar uma dica sobre a origem de Quenge?
Caenlhe ligaria com o variado grupo de palavras que levam em si a ideia de canal: caenlha, canlhe, canlhada, quenlha, quelha, quelho ....
Isto poderia levar a levantar a hipótese, a meu ver, e podo estar errado, que o par toponímico Quenge / Caenlhe poderia sediar na raiz protoindo-europeia proposta por Pokorny *kalni- "canal". (Confronte-se com as formas asturianas cuendia, cuenye...).
Estivada é um microtopónimo que se repete, que aparece também no outro beco.
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