© Copyright. Direitos autoriais.

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Læũa, Murujosa e Mântaras; regos viários?




A controvérsia nasce por haver três Lagoas (Legoas, Leguas, ou Leũas), de Castilha, de Tablas, e o Chão da Legua em Hospital da Condessa que estão a uma légua umas das outras, no Zebreiro, no caminho antergo.
Outra Lagoa, Lagua (de Rebolinhos), no concelho de Triacastela está a duas léguas do Chão da Legua de Hospital.
Sendo assim, os nomes poderiam ter sido: *Légua de Castilha, *Légua de Tablas e *Légua de Rebolinhos, mas não são.
A transferência da tonicidade de légua (lé-gu-a) a legua / lagoa (le-gú-a / la-gú-a) tem difícil explicadoiro.
Nestes escritos também é falado do tema:
Continuitas.
Caminho e continuidades.




Estas Leguas, têm uma fonação moi variável, e talvez a verdadeira forma, ou antiga, esteja a se diluir na Laguna, espanholizada Laguna de Castilla, e na Lagoa, hipergaleguizada ou encartada na norma.

A variabilidade da pronúncia que ouvim para elas, sobretudo para a Laguna de Castilha e para a Lagoa de Tablas, trato de a pôr aqui:

Lækhũa ou læghũa, com uma primeira vogal que é intermédia entre o /a/, e o /e/, um /ɛ/ super super aberto, com gheada suave e nasalidade no ũ.
Por vezes sem gheada Lægũa.
Ou como Læũa.

A variada realização desta læũa /lɛ.'ũ.a/ , que cuido primária, é semelhante, ainda que não igual, à também variada pronúncia de ningũa, (nenhuma), polas partes orientais do pais:
A variação do /i/ do fonema primeiro /niŋ-/, corre o abano de sons até /neŋ-/.
No segundo fonema:
Com a vogal forte nasal: nim-hũa.
Com transferência consonântica da nasalidade: ningũa com maior ou menor força do /ɣ/ que pode ser em leve gheada: ninkhũa, ou mesmo ninhũa (/ɲ/).
https://www.theworldisahandkerchief.com/diario/2015/2/6/dia-13-samos-palas-de-rei

Os fitos, marcos, na Galiza medieval e na atual, estavam e estão indicados às vezes por mámoas, que as mámoas marcam territórios. Em textos de deslindes escritos em latim referem-se a estes marcos como "lacunas" e "lacos", o que levou a pensar que essa era a denominação das mámoas violadas, ficando nos lugares covas, que nos textos medievais são chamadas de lacuna; "lacos anticos et mamolas"
Daí que apareçam topônimos com o nome de Lagoa e Lago, em lugares onde não há um lago, mas sim houvo uma lacuna.

Isto tem outra visão, pois o lacunarius é o nome para o enterrador no latim tardio, o que confunde ainda mais: Se as tais lacunae eram covas, fossas: eram túmulos violados ou eram simplesmente tumbas?, uma tumba qualquer..., do mesmo jeito que uma tumba atual é chamada de cova, e pode sobressair.

Confronte-se com lagoada "golpe da enxada".

Então vem a ideia de ser lacuna: marca; não de marca pétrea ou fito, e sim de cova?, como as covas cavadas nos montes para definir claramente onde testa uma propriedade com outra, mesmo regos cavados, covas, que podem delimitar uma paróquia com outra?
Creio que muitas das Lagoas e Lagos da Galiza, nos que não há água estancada por nenhures podem achar aí a sua raiz etimológica.



Constantino García González (1985): Glosario de voces galegas de hoxe, Universidade de Santiago, Verba, anexo 27
lago m.

1. (Sco.) lago;
2. (Dum. Com. Gun.) acequia que lleva el agua del río hasta el prado.


É o enterrador lacunarius, o que evoluciona a lagoeiro / legoeiro, o responsável de tapar os fuchancos, buracos dos caminhos.
Se partimos do latim lacuna, a caída do ene intervocálico, a conservação da nasalação medieval, e a  transformação do c  para g explica a forma lagũa, que derivaria em lagoa, legua, e  leũa.

Todo isto leva a supor que nessa cultura antiga os mortos eram enterrados ao pé dos caminhos?

Há no galego palavras próximas que falam disto e que nos ajudam a ir ao profundo(1), onde o legoeiro, lagoeiro, legüeiro, cuidava do caminho, da su marcação com legoárias, e com o seu instrumento o lagão, legão ou ligão, tapava as lacunas, ou buracos, ou marcava a LÆ-HŨ-A cavando.
Vemos que no profundo a marcação do caminho com LÆ-HŨ-AS, léguas, ligava e liga, pois baixo a tona do real, e na superfície o caminho fai liga.

Assim e todo, se remexemos mais:
A palavra légua procede, dizem de um celto-latino leuga, leuca, utilizada polos romanos no latim tardio, foi adoção de uma medida de distância, já estabelecida na Gália, pois os romanos contavam não em leucae e sim em mille passus; enquanto, no território céltico, a medida não é de distância fixa, senão distância relativa, de tempo também relativo(?).
Se Roma mantém a medida gala, seria porque os caminhos já estavam traçados e dimensionados com leucae?

No francês légua é lieue.
Léice, léaga, leuc, léguas irlandesas.
Lue, no normando
Lliue, em Guernesei
Liue, em Jersei
Lev no bretão
Ljöö no estoniano
Lèga no ocitano
Liga lądowa no polaco
Legoa no basco.


Lemos como avondam as formas da légua sem consoante na sílaba intermédia.
A etimologia francesa faz uma volta, explica a sua lieue, (légua), a partir das leuca, leuga latinas, e reconhecem ser de uma palavra gala passada para o latim.
(Isto é: para chegarem a Paris vão pola volta, por Roma, galegas e galegos sabemos disto).
Essa palavra céltica raiz está perdida?
Os franceses pronunciam lieue como /ljø/.
A realização fonética de llegua, (légua) em catalão pode interessar:
ʎéɣwə
ʎéɣwa
ʎéwa
ʎéwɣə
ʎéɣo
ʎéɣu.

Então a questão: na sequência fonética de leuca latina: le-u-ca, aparece uma consoante que estava ou não no galo?, ou logo foram as línguas célticas que a perderam ao readotá-la do latim?

Foi pois a légua pmáartir duma forma céltica que o latim apanha e grafa como leuga, um som que seria o atual LÆ-HŨ-A?

A marca galega pode estar, está no ũ nasalizado, ou semi-consonântico, em gheada leve, que era impronunciável para latinos, e foi adaptado, e grafado também como lhes foi possível, como na atualidade mesma creio que ocorre.
E de feito ocorre, apenas a gente de idade, ou a enxebre do lado leonês, conserva a pronúncia de /lɛ.'hũ.a/, os mais espanholizados, ou os interferidos polo galego padrão (ausente no lado sob governo leonês), são os que "hesitam" na fonação de tão "complicados" sons juntos.
É pois para mim, ao meu ouvir, que estas mal grafadas, hoje em dia: Laguna de Castilla, Lagoa de Tablas, tivessem sido o que ainda na atualidade são: autênticas LÆ-HŨ-AS, leũas, leguas, que ainda hoje alguns falantes pronunciam.

A galega forma dialetal, léugua?, ou poderia ser leugua derivada da padronizada légua?
Mais direito: a sentida como dialetalismo, a léugua, pode ser filha das formas originais celto-latinas: leuga?, ou mesmo da forma céltica originária perdida, hipotética *lehũa?

Então, o caminho que sai polo vale do cálice adiante, ou polo vale da calhe, pola Veiga do Valcarce, tem a sua primeira leũa, caminho de Castilha, na atual Laguna de Castilha, e desde o Zebreiro cara Compostela, pára a primeira leũa na Lagoa de Tablas.

Mais leghuas:
Castro de Coedo da Legua: 
http://patrimoniogalego.net/index.php/31861/2013/01/castro-de-coedo-da-legua/


Legua, (Freguesia de Santo André das Nogais), no antigo caminho que vai polos cumes.



Legua, (Íbias)
(1)Leg-ũa, com a raiz proto-indo-europeia *ǝ)lak-, *lēk- (ligar  e leito) e a partícula -ũa?, ou  do céltico lía/léig, (pedra)?
Pedra, liga, leito?
O leito de pedra que liga?
A ligação entre leito e pedra?

Leg-ũa: Uma pernada, uma caminhada, primeira canelada.
É a légua a medida duma hora de caminho, que em muitos manuais do trekking de hoje, recomendam fazer o descanso, a sentada.
Na leũa o Setanta senta e assenta a união.
A læũa, marca o caminho.
Law, a lei no inglês e o lago, laco:

From Middle English lawe, laȝe, from Old English lagu ‎(law), from Old Norse *lagu, an early plural form of lag, lǫg ‎(layer, stratum, a laying in order, measure, stroke, law, literally something laid down or fixed), from Proto-Germanic *lagą ‎(that which is laid down), from Proto-Indo-European *legʰ- ‎(to lie). Cognate with Icelandic lög ‎(things laid down, law), Swedish lag ‎(law), Danish lov ‎(law). Replaced Old English ǣ and ġesetnes. More at lay.



Léboa: sulco,; leivoa: terrão que levanta o arado
Legoa: terra que o arado abre e põe para o lado; suco.
Aparentada com o latim glebula.
* Rivas Quintas, E. (2015). ''Dicionario etimolóxico da lingua galega.'' Tórculo Comunicación Gráfica S.A. Santiago de Compostela.
Legues: polainas, da raiz protoindo-europeia *lek "perna".
Eligio Rivas Quintas (1978): Frampas, contribución al diccionario gallego, CEME, Salamanca
Legoa:
"Tierra que el arado echa a los lados del surco; el surco mismo.
No osseto (língua caucásica) лӕгӕт (lægæt) "cova, caverna".
Ambivalência?
Buraco e proeminência?
Como ambivalente "valo" também buraco em rego e valado lombo de terra.
Do mesmo modo que no galês?
Onde existe uma relação entre as tumbas e as léguas, onde a palavra llech conserva a gênese e deriva de significados: laje, laje de tumba, esconderijo, corcunda, légua.
No mundo romano a via ia de meta em meta (de medorra a medorra), no céltico, o caminho de mámoa a mámoa ou de légua a légua ou de lagoa a lagoa, ou de legúa a legúa?

Confronte-se com alacarar,, laquiços, eslaquiçar, laquear, laqueiras, eslacoar, eslacaçar, eslacumar (lak-), por exemplo a palavra sulaco é o corte diferençado dado na orelha de cabras e ovelhas para saber a sua propriedade dentro do rebanho comum.
No grego antigo λάκκος.
Do arado e do arar uma palavra que alicerça o que aqui vai saindo é vira-leubas, que sao umas tábuas que dispostas fixas nas orelheiras servem para dar-lhe a volta à terra levantada do suco.
Oude leuba (no português padr
ão leiva, o suco do arado, algo a ver com eiva "fissura"?) aparenta ter relaçao com leũa, ainda mais se ponhemos aqui as palavras comentadas acima léboa e légoa (terra que levanta e abre o arado, o sulco mesmo).
O que quero dizer é que laco, lacuna, e os topónimos poderiam ter um étimo anterior ao que lagoa (entendida lagoa como grande poça de água), um étimo céltico, ou indo-europeu, ou chame-se-lhe x, que antes do que ver com água, poça ou poço de água, tem a ver com "talhada" na terra, com rego, por isso a sardinhas são laqueadas.
Laquear abrir a sardinha e sacar-lhe a magha, as tripas, o mesmo que lanhar.
Quer dizer que as mámoas violadas poderia segundo a ideia "latina" serem chamadas de lacunas, ou lacos polo tal cone de violação.
Ou que os lacos e lacunas façam referencia não à mámoa e sim ao rego que na maioria das paisagens tumulares está.
(Vejam o vídeo de acima).



(http://www.wales.ac.uk/resources/documents/research/odonnell.pdf)

Ao lado das mámoas costuma haver regos que são leguas e lagos?

Legoa recolhida por Eligio Rivas Quintas (1978), Frampas, contribución al diccionario gallego, CEME, Salamanca)
"Tierra que el arado echa a los lados del surco; el surco mismo."
Legoa que significa o tudo feito polo arado, a lomba e a cova.
Quer dizer que a paisagem ancestral tumular está composta de uma mámoa (violada ou não) e um rego ou regos que tem de nome legoa?
Semelha que sim.
A lacuna latina é cognata da *lecua "céltica" mas divergiram no significado? (Confronte-se com o galês llech (1).

Neste dicionário de tocariano-B, poderia estar aqui um parente do laco, rego (do mesmo jeito que vala v e valo ʌ:
lyake* (n.) ‘± hurdle, fence’ (?)
[//-, -, lyakeṃ] [se]salyu lyakeṃ yops=āttsāna wa[r]ś[aiṃne] ‘leaping the hurdles, he entered the thicketed plains’ (338a1), /// lo - - ntse lyakeṃ w ̇ - k ̇k ̇ññ ̇ | [if lyakeṃ is not a 3rd pl. of lyäk-, q.v.] (516b2). ∎Meaning doubtful, etymology unknown.

leke* (n.) ‘bed, resting place’
[//-, -, lekeṃ] lekenne r=eṅwaññ/// ‘as if in the beds of men’ [?] (119a1), leke asā[n] = BHS śayanāsanam
(U-24a3). ∎TchA lak ‘bottom (of a river)’ (attested once in the perlative lakā at A-15a6) and B leke reflect PTch *leke from PIE *lógho- (m.) [: Greek lókhos ‘ambush; place for lying in wait,’ Old Norse lag ‘layer, place,’ Serbo-Croatian lõg ‘lair, den; riverbed,’ Russian log ‘ravine,’ etc. (P:658-9; MA:57, 352)] (Lidén, 1916:36-7, VW:254, Winter, 1983:324-5)

Já no sânscrito a relação também poderia estar com a palavra लक्ष (lakṣa) "marca, signo, sinal".


É por isso que acompanhei o escrito de um vídeo, onde é evidente a mámoa, e é evidente o "rego", a paisagem completa: a mámoa e a legoa, ou rego, que aparece por exemplo em Dombate, e em mais mámoas que vim polo país adiante, rego, legoa que passa desapercebida pois é considerada "corredoira" erodida nalguns casos, ou ignorada, por exemplo quando em Dombate estivem não davam uma explicação credível à sua função, diziam que era para levar água. (Levar água num lugar elevado, sem ribeiros próximos?).
Se as aivecas do arado são chamadas laqueiras não é por casualidade.
Também não é casualidade que no antigo as mámoas marcassem itinerários e limites, caminhos polos limites de territórios, territórios que eram marcados com marco de mámoa, "simbolicamente" e não.
Sendo também arados polo rei da croa, no seu perímetro, fazendo "lacos" coas laqueiras do arado que criavam uma legoa, um rego profundo pola milenar cultura que estivo assentada sobre o mesmo território repetindo as práticas continuamente, quase até a atualidade, onde ainda os avôs do mesmo jeito delimitaram propriedades rústicas, cavadas de marco a marco, fazendo uma valeta chamada "cova".
Apenas é apontar a possibilidade da origem céltica, e de que o topônimo Lagoa, Lagua, Legua e variantes antes de ter a ver com o cone de violação de uma mámoa, tenham a ver com a legoa, com o rego que costuma desenhar a paisagem tumular, e na possibilidade de marcação de uma légua de caminho andado.
Lagoa em Santa Cruz de Riba-d'Ulha (Vedra). É possível observar um grande rego que cai pola aba abaixo até o rio. Sobre esse rego está aldeia da Lagoa. Esse rego tem continuidade para o leste em forma de caminho fundo e passa por outro bairro da aldeia da Lagoa, chegando até Tomonde.

MÂNTARAS:
Aqui um bom artigo sobre a zona, no blogue "Capítulo cero", que ajuda a perceber o cenário que será tratado de explicar.

A paisagem tumular de mámoas e regos podemo-la ver ou intuir em Mântaras, no grande campo de mámoas na freguesia do mesmo nome Mântaras e no seu limite com Ambroa e Vigo,  entre os concelhos de Irijoa e Paderne.
Mântaras é das palavras com sufixo átono -ara, que foi tratado neste escrito, com ideia de serem genitivos plurais.
O que leva a pensar que Mântaras é o lugar das mantas ou dos mantos.
O latim mantum dizem provir do gaulês *mantos *mantalos que significaria "caminho pisado, caminho trilhado". Confronte-se com o desaparecido idioma cúmbrico mathru e com o bretão matra "pisar, pisar a terra."
Mas por outra parte manto na fala agrária dá ainda outra dica mais para percebermos o cenário antigo, manta é:
Em Trás-os-Montes: "cada uma das camadas paralelas que os cavadores vão formando ao sulcar (fazer sulcos, fazer regos) a terra".
Recolhido este conceito de manta também na infopédia como:
Rego para plantação de bacelo
Faixa de terra entre dois sulcos paralelos

Nas falas célticas mant-, associa-se a caminho, assim é tida por origem o verbo  *mantalon, dos verbos das falas célticas atuais com o significado de ir, no bretão: monet e mont, no córnico: mos e mones, e no galês mynd e myned.
Este fio etimológico de mantalon é usado para explica o topônimo de Mantova Mântua, sob a ideia de que mantalon poderia significar "caminho pisado, caminho trilhado".Também mantr- é referenciado a pisotear.
E manto- com mandíbula.

Quer dizer que no mundo antigo o rego era o caminho?
*Mántalon não é mais que uma grande manta, um grande rego?

Outro lugar também chamado Mântares / Mântaras está em Tápia das Astúrias, e o cenário, o espaço, repete toponimicamente o mesmo, se em Mântaras de Irijoa há uma capela a São Antão, em Mânteres de Tápia perto há uma igreja a São António, o santo próprio das antas.



Mântares
Próximo a Mânteres há a aldeia de Lhaguas / Laguas, topónimo que aqui é tratado de decifrar.
Assim Mântaras ou Mânteres semelha o lugar das mantas, dos regos, ou o lugar dos trilhos.

Mantas entalhadas é um microtopónimo em Serres (Muros) que faria referência a caminhos fundos?

Convido a visualizar novamente o vídeo do início. Onde são vistas as "mantas".









Outro topónimo que semelha andar perto de Mântaras é Pântaras na freguesia da Alhonca (Fonsagrada).
Pântaras está no caminho mais direito entre Grandas de Salime e a Fonsagrada, caminho de serra, caminho cimeiro em treitos, via que também passa polo castro de Chão São Martim, agora mesmo não é o caminho traçado para os peregrinos, mas na suspeita que em tempos passados sim tenha sido via principal, caminho primitivo, por ser mais curta em distância.



Como é isso de Mântaras e Pântaras?, como se explicaria o passo do pê a eme ou ao invés, de eme a pê?
Nas falas célticas existe o fenômeno da mutação da consoante inicial, no caso do m e p no bretão, ocorre assim:

Exemplo de mutações no bretão, (http://bretonsdegrenoble.free.fr/cours/yezhadur.htm)
Neste caso hipotético das mutações seria de esperar algum topónimo como Bântaras ou Vântaras...
Mântaras, Pântaras tenhem lexemas raízes mant- e pant-, seria de aguardar um lexema bant- com um significado próximo a caminho ou rego?
O sânscrito dá uma mão para alicerçar esta hipótese, com a palavra

पण्ठन् (paṇṭhan) "caminho, senda".

Caberia a possibilidade de que o lexema fant- estivesse por aqui? Confronte-se com a suposta ideia que subjaze na palavra fento / fanto(?) (fieito, feto) explicada neste outro escrito.

Assim, nas línguas célticas:

Bant (bretão): posição de tiro. (?)
Pant: encosta, declive.
Pante: reunião local.
Panteer / Vanter: fanfarrão, presunçoso.
Vantañ: vangloriar-se, presumir, alardear.

Bant (galês): lugar elevado, altura.
Bant é também mutação das palavras pant e mant.
Os significados de pant: buraco, depressão, vale, entalhadura.
E de mant: lábio, boca, mandíbula, peteiro, bico de ave, pico; margem, beira; salientar aqui a palavra galega manda para a boca de esvaziado de uma represa.
Outro dos significados galeses de bant  recolhido em dicionário é o de capacete.
Fant é mutação de bant e de mant.

Nas línguas germânicas há bant, com os seguintes significados que poderiam quadrar com o lexema raiz que é suposto aqui:

Bant (címbrio): parede de uma edificação; objeto separador, divisor; medida de longitude equivalente a doze braças, (a medida em centímetros da braça címbria desconheço-a, supondo que serão como braças italianas, braccio, que estão entre 58 e 74 cm, um bant poderia equivaler a entre seis metros e médio e quase nove metros.

Bant (norueguês): é o particípio passado do verbo bane, com o significado de que foi pavimentado, referido a um caminho; palavra norueguêsa bane que além de pavimentar significa: morte por crime e trajetória, linha ferroviária, campo de esportes, pista de corrida, órbita.

Bant (alemão) : é forma verbal de bannen, com os ignificados de banir, ostracizar, excomungar, expulsar, ilegalizar, exorcizar um espírito, fascinar.


Interpretação hipotética:
Os limites dos territórios desde o neolítico até o ferro ficaram muito marcados e com poucas variações. Estes limites gerárom, fôrom fonte, de uma grande quantidade de palavras que indicam o como eles eram e o quê ali era feito, em esboço neste outro escrito.
Os limites maiores eram à vez caminhos, vias largas,e os menores carreiros e sendas.
Mant- / bant- / pant- originalmente talvez fosse um rego, um sulco e posteriormente diversificou o seu seu significado, especializando-se nuns lugares para lama, branha, pois as grandes covas limitantes estariam cheias de lama.
Estes sulcos iniciais servírom de caminhos, de trilhos daí que o lexema mat- com a ideia de caminho, *mantalo que transmitem os estudos do gaulês, por exemplo:
Etymological Dictionary Of Proto Celtic
Les Noms D'origine Gauloise, La Gaule Des Activités Économiques ( Jacques LACROIX)
seja secundária, daí, de caminho, trilho, a formar o verbo "ir" nas falas célticas, como foi visto acima, é um passo.
Manta e monte estão muito próximos, pode ser que inicialmente fossem a mesma palavra, especializando-se uma para as montanhas e montões e outra para o rego-caminho, mas como é visto manta conserva ainda o conceito de montão.
As mutações da consoante inicial diversificam o conceito inicial de sulco para dar nome ao que o sulco limitante significa.
Por exemplo levando a ver uma relação de mant- bant- com banda, conjunto de pessoas, o radical mant-, conserva a ideia de grupo, manta é um cardume, e no galego por exemplo "à manta" é um jeito de dizer em abundância, "gente à manta", já no antigo provençal mant significa um montão, e no atual occitano mant junto com o francês maint significam "muito".
Mant- poderia variar a mand-, assim manda também é um cardume de sardinhas, (como manta).
Manda no galego é um sulco de rega, é também uma faixa de semeadura, uma embelga, ainda que aqui pode estar a mão, o mandato, originando as palavras, ou interferindo.
Observe-se a proximidade entre mont(e)- e mant(a)-, não só fonética mesmo nos significados que aqui se fôrom desenvolvendo.
Assim como entre pântano e manta-velha, lugar branhento?
O volume de significados aqui esboçados e expostos de estes lexemas raízes podem levar a interpretar o que os limites das mámoas fôrom e que tipo de personagens as habitavam.
Uma fanfárria de fanfarrões em bandos, uma caste militar que percorria e defendia os limites e arrecadava impostos?
São os seus jeitos de agir no entrudo tradicional reminiscências de jeitos de vida antigos?, entrudo tradicional no que era, é tradição percorrer os caminhos das serras, e parar nas casas das aldeias que são percorridas para pedir alimentos.
Eles foram os limitadores, os das banda, os bandidos na sua original ideia, os latronos livres da pejoração do roubo, os da trincheira, os agentes dos caminhos?

Mera
Estes limites feitos por sulcos têm diversos nomes, por exemplo o reparto das terras comunais ou baldios para o cultivo do centeio é dito merar.
Uma mera é uma parcela desse reparto do comunal.
Já aqui: merujo é quando se deixam os regos alagar os campos; com merujar "chuviscar", mera "nevoeiro", morujeira "chuvisca", marujar "molhar a brêtema", transmitem ideia de umidade.
Aqui há que mencionar a planta meruja (Stellaria media) com múltiplas variantes, maruja, merugem, miruja, moruja, muruja, murugens.

Meruja (Stellaria media)
Do mesmo jeito que na etimologia alargada de mântaras foi vista a sua relação com caminhos ou mesmo terreos branhentos...
Mer- / meruj- transmite uma ideia de também sulco de reparto e na possibilidade de sulco onde se acumula água.
Com uma proximidade a muro.

De facto esta ideia de fosso, sulco alagado, com os lexemas mar-, mer-, mir, mor- e mur-, relaciona o muro com o mar.
Confronte-se com o galês môr "mar, fundura", gaélico muir "mar", com o francês mer, com o latim mare.
A linha céltica apresenta bord "fronteira", com a leniç
ão mbord. Também brú, "margem de rio e beira em geral", com a forma mbrú.

A linha germânica parente da mera territorial e do merar divisório tem palavras como o inglês antigo mǣre "limite, marco, raia, fronteira".


Muinho da Mera, no rio da Gândara e ao pé do Castro do Batão (-ám). Ressalto "da Mera".
O moinho está na "mera" na hipótese do sentido antigo, na faixa do limite. A freguesia de Mezonzo ainda a dia de hoje apresenta duas territorialidades assim percebidas polos seus habitantes, a parte que se articula em volta do Campo da Feira e a da parte do Priorato, entendo que poderia ser atribuído a que ambas territorialidades correspondem à territorialidade antiga dos castros: o do Batão e um hipotético no Priorato.


Meruja e "Maruja" entre as freguesias de Borrifans (Cessuras) e Vascoi (Mesia).

Dando estas palavras (as galegas mera e merar e a inglesa antiga
mǣre)  uma relação clara com o maro e o marão.
Mǣre é também adjetivo com os significados de puro; famoso, renomado, ilustre.
Desta linha: o verbo latino mereo "ganhar a vida", que com esta raiz abre o caminho ao mercado e ao Mercúrio como o dos caminhos e a mais palavras.

Sabendo as regras de mutaç
ão do céltico de mera caberia esperar *vera, que acho será a nossa beira com o cognado ásturo-espanhol vera.
Vera que em asturiano segue tendo a ideia galega de mera como parcela de terra, no caso asturiano superfície de terreno agrícola a trabalhar numa jeira.
A etimologia espanhola relaciona vera com o celto-latino viria "anel de terreo".
Confronte-se que no concelho de Lugo polo Veral passa o rio Mera, (*meral = veral = beiral?).

Esta vera asturiana na família do borde do território antigo neolítico-ferro, dá a ideia de onde sai a vera latina, verdadeiro como "a justa, a reta, a real, a adequada". Do mesmo jeito que o rego e o rei estão no campo etimologico da regra e o reto.

Vera
a referencial, o marco da lei da verdade? Atenda-se a mera, merus merum no latim e a proximidade com vera.
E se continuamos polas mutações esperadas m-v-f, fera, ferus, ferum teria também que ver com este limite?

Este par vera / beira quase obrigaria a que mera tivesse uma variante meira, como assim é, abrindo portas a etimologias e também pondo aqui neste rego divisório a madre, a maria e a meira.

Confronte-se com marde, mardea, márdenha, madoiro, madriz e madrigo. plavras que também nomeam o rego.

Meira era uma antiga medida que em palavras do dicionarista Eladio Rodriguez "medida que figura en antiguas escrituras de Galicia y que sin duda correspondía al municipio lucense de Meira", relaciona com tal município, mas bem pode ser que como no asturiano vera é a superfície trabalhada numa jeira, meira igual tenha sido o mesmo.
Atenda-se ao sistema medieval das merindades, ainda que a etimologia mais frequente proposta para as merindades fai-nas deirvar de merino e este de uma forma latina majorinus, meirinho.
Isto faz que o topónimo Meira e os que levam o radical meir- poidam ser concebidos como que falam de uma unidade territorial ou um lugar de limite, ou de rego divissor?

Meira, jeira, vera, beira, leira (belga/veiga?)
São faixas de terreno.

Mera também está relacionada com meda, meta como marco territorial, confronte-se com as línguas eslavas meďa. Já na língua persa مرز /mæɾz/ "fronteira", confronte-se com margem.

Mera tem por par mero?

Mero (Polyprion americanus)



Mero (Epinephelus marginatus)



Mero (Labrus merula)

Quando concebemos o rego limitante neolítico estamos esquematicamente neste desenho em secção:
ʌʌ  ou ʌ..ʌ
Daí que o rego e o lábio estejam relacionados, atenda-se a que o arado é chamado nas Marinhas de labega, nas Astúrias de llabiegu, e talvez a lavra tenha a ver com o labre, palavra galega sinónima de lábio, beiço, com o latim labrus. À vez que a ideia de lábio está aqui, também a de boca e queixada, como foi falado anteriormente, aparecem próximas à ideia de rego.
Assim o Labrus merula tem este nome latino por ser labrus lábio. Já merula está no mome científico por ser o nome latino deste peixe ou de algum muito similar.
Confronte-se com meiró "carinho, afago", talvez o beijo da camada cultural anterior à chegada de Roma?
Para a etimologia clássica merula originaria o nome do mero, por uma queda do ele intervocálico *merua e por uma mudança de gênero mero.
Outra posibilidade é que merula tenha sido um diminutivo (-ulus, -ula, -ulum) de mero.
Também merula no latim é nome da melra, como foi esboçado nestoutro escrito, no qual o nome das aves merlo, pilro e belurico é posto em relação com o gaélico antigo bél "boca, lábio, entrada, abertura", com bélrae / bérla "linguagem, fala". Palavras que são consideradas derivadas de um proto-céltico *wewlos.
Outra palavra céltica que tem muitos visos de pertencer a este conjunto é a gaulesa belura, palavra recolhida em textos latinos, que para algumas gentes estudiosas poderia ter sido *berura.
Berura dá nome ao agrião ou berro (Nasturtium officinale).
Berula / *berura tem uma raiz beru- que é considerado significar nascente, fonte, manancial.
Parentes do gaulês berura está o berro?, sim sao tidos por parentes o bretão beler e o galês berwr; nomes todos do agrião.

Berro, *berura (Nasturtium officinale)

Berula meruja?
Semelham muito próximas, ervas de lugares húmidos e ambas as plantas comestíveis, a meruja (Stellaria) tem sido abandonado o seu consumo, e agora é considerada planta invasora doutras culturas.

Outra planta que leva o nome de morugem, meruge, marujinha é a Montia fontana; planta comestível que medra em ribeiros.
Os nomes espanhois da Montia fontana ajudam a ver por onde andamos?, regajo (com a raiz rego), boruja (como fortição de moruja),​ maruja, moruja, coruja, marusa.

Meruge, ensalada de sapo (Montia fontana)

Outra palavra para pôr aqui é morulla palavra do leonês da Maragataria para falar da Stellaria spp.

Murujás / Murujãs / Muruxás dá nome a umas terras na freguesia de Oins (Arçua) lindantes com Gonçar (O Pino)



Este mapa (recomendo ser ampliado) ajuda a ver como no limite aparecem a clara divisão, ainda valado na altura dos anos cinquenta da foto, com a raiz muruj-, também o rio com o nome de Mera, e o monte, talvez por estar no limite, com o nome de Beirám / Beirão.


Nestes dous planos podemos ver o rego limitante (defensivo) da Roda de Donide em Maceda (Melide), co nome de Muruja:

O rego da Muruja, O prado da Muruja, A boca da Muruja e o fundo da Muruja.

Acompanha a image do relevo para ver como a muruja, envolve o pé do castro polo seu lado noroeste, chegando a norte, dando uma impressão de ser antrópico o rego por essa parte.

Outra Muruja mais, na freguesia de Santa Eufémia de Piornedo (Castrelo do Val), aqui Muruja dá nome a uma valgada que semelha fazer muro:


Assim também no antedito rego entre os concelhos de Sobrado dos Monges e Toques, onde está o conjunto de mámoas e rego do Frono dos Mouros, o topónimo habitacional mais próximo é a Murujosa, a confrontar com Murugeses de Rodeiro (Oça dos Rios).
Veja-se no mapa toponímico como temos no caso de Murugeses de Rodeiro todo o conjunto da continuidade neolítica-idade do ferro de limites e caminhos polos bordes.

Outra Muruj-, Murugeses de Rodeiro (Oça dos Rios) e as Merelas de Fisteus (Cúrtis):


Murugeses / Morugeses (os do murujo os do morujo, os da muruja, os da mera / meruja?) na polivalência de: "muro", lugar de reparto de terras de merar, de meras, e de caminho enlamado ou rego divisório onde a água se acumula.

Eligio Rivas Quintas (1978): Frampas, contribución al diccionario gallego, CEME, Salamanca
maruxeiro moruxeirom
Terraplén, desnivel de tierra y piedra más o menos artificial (Casasoá). Los terraplenes que hay alrededor de A Medorra (castro) son maruxeirosmoruxeiros(FrampasI)


Também na sua contorna com evidentes restos toponímicos da cavada divisória e caminho como as Calçadas e como o Reguinho.
A analisar Sezelhe / Seselhe / Seixelhe, aldeia da contorna de Murujeses, Seselhe que talvez seria mais claro e evidente se for escrito
*Cesselhe, como genitivo de lugar de passo pechado, a observar os diferentes topónimos na Galiza com este radica cess-, Cessuras, Cessantes, Ponte-cesso...
Murugeses de Rodeiro descobre-se como um grande e antigo limite de rego entre territórios?
Atenda-se que as freguesias em limite são a Regueira e Rodeiro, Regueira é transparente; e Rodeiro?, (veja-se o escrito o ruler que anda de ruler), também é claro é o nome de uma antiga via, compare-se com Roade de Sobrado dos Monges, antiga via, ainda conservada como o caminho norte, ou o caminho primitivo de Compostela, no radical road- rod- (analisado no antedito escrito do ruler que anda de rule).
A sul de Murugeses, a pouco mais de quilómetro e meio, está a aldeia das Merelas, com o significativo mera.
Tanto Murugeses como as Merelas estão na relativa "meseta" alta que separa a zona marinhã ou ártabra, da zona da montanha, lugar cimeiro e de câmbio de vertente, polo que corre a estrada de Cúrtis a Monte Salgueiro.
Os diferentes Portos que aparecem na zona, Porto Moeiro, Porto Caínços, poderiam ter sido lugares de passagem transversal do muro-rego divisório. Também de salientar o topónimo
Brueiro talvez um pouco opaco, mas só lembrar o que é uma brueira: "abertura num muro para que entrem as águas". Isto o que me transmite é que haveria um grande valo, rego, mera, muro, um borde limitante que só poderia ser cruzado nestes lugares que toponimicamente sobreviviram.




Tratou-se de abrir aqui um espaço para os topónimos Mur-/ mor- e derivados muruj- coa ideia de "muro e rego antigo", assim como rego alagado, rio, ou mesmo de lugar alagado, boca, borde, beira do mar, mar.... Confronte-se com Mera (Oleiros) o rio Mero da ria do Burgo, e Morujo (Bergondo), com o aragonês e basco muga "fronteira"....


Morujo no rego viário que separa os antigos territórios dos castros de Ouzes e Bergondo?

É polo val do rio Mera que o caminho unia Compostela com Lugo, hoje treito, trecho, de uma variante do caminho norte, Rio Mera talvez tautológico, ou rio do caminho?, ou rio do rego?
Sendo a freguesia de nome o Veral, uma derivaçao de *meral?




Algumas palavras chaves:
Crích (gaélico): rego, "límite, fronteira, fim", confronte-se com crica, atual críoch.
Creek (inglês), creke (inglês médio), do antigo norueguês kriki.
Proto-eslavo "*krajь". Este proto-eslavo *krajь tem a ver com a família balto-finesa"raja". Igualando crica com raja.
Proto-céltico *krîka,da raiz krei, separar, como em criathar, como no galês crip "rabunhadura, rajadura, pequeno cômaro, pequeno outeiro", lituano kreikti "rua". aparentado com o lattim circus e grego κίρκος.

Lag (gaélico): buraco, poço.
No "An etymological dictionary of the Gaelic language by Macbain, Alexander, 1855-1907" relaciona lag com luggo, lug como "curvado". Talvez aqui a ideia das unidades agrárias territoriais nas que esta dividido o espaço no período neolítico.
Lled (galês) amplidão, largura, sulco
Rhych (galês) trincheira, vala, sulco, raia, ruga, fissura ou clivagem (entre nádegas, peitos), confronte-se com rei
Ambri (bretão) partes laterais do rego, confronte-se com Ambroa, ambrô, ambroa: longo, estendido, longitudinal.
Lábia (galego): também significa lousa.


(1) Llech no galês:
Légua.
Inflamação, inchaço.
Esconderijo.
Laje, pena.


Para investigar o microtopónimo de Carnoedo (Sada): Campo das Mantas.

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