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Perdão
Pode ser uma grande perda.
Ainda que também uma grande doação, pois dizem vir, não de perder, e sim de doar, polo latim "per donare", (ação completa de dar).
É pois, o perdão, visto de dous jeitos, algo que se perde ou algo que se dá?
Ambos os jeitos tem em comum uma energia que se trasvasa, que passa de um lugar para outro, este fluxo é visto como uma perda ou é visto como uma doação absoluta.
Nesta ideia de perdoar como algo que é dado, o inglês utiliza forgive, (do mesmo modo que o latim per donare), for give.
Aprofunda, o inglês mais no conceito de perdão, ao alargar forgive o seu significado a esquecer.
Com efeito, o perdão implica um esquecimento total do dano.
No irlandês dilgud, de dol-luigi, com variantes como dílgaigid, di-luig, do verbo logaid, conceder, onde o prefixo di, vai na mesma ideia que o for inglês ou o per latino
Maithmech, também foi ou é perdoar em gaélico, onde maith é bom, bondade, e mech poderia ser um derivado de meit/met que vem sendo muito, grandioso, que não pode ser maior.
Maithiunás, no irlandês atual, do irlandês antigo maithemnas, de maithem + -as, onde maithem é perdão, construído sobre maith que é ser bondadoso com o sufixo -em, que o faz do verbo nome.
Pois então temos que o perdão é a meirande bondade.
Tudo isto leva a pensar que o perdão é recente pois é uma palavra que é nova, feita, refeita sobre o dar, apenas no irlandês achamos essa relação antiga, direita com a bondade.
Por exemplo a dificuldade do perdão manifestou-se algo no holandês, onde da mesma raiz que o inglês forgive, temos vergeven, que é perdoar e antigamente: danar com veneno, envenenar.
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No basco perdoar é barkatu, com a variante parkatu, que talvez venha a ser parente de parco ou do latim parcere (reservar, preservar), com o sânscrito कृश्यति, que vai na ideia de diminuir, adelgaçar, aforrar.
Outra cara do prisma do perdão, o dano que algumas vezes é devolvido em vingança, sobre o suposto causante, ou sobre outrem que apareça na vida, é preservado, diminuído. Recebemos algo que nos dói, e pode ser que o devolvamos, mas essa devolução é minorizada, ou preservada, parada, poupada, coutada de sair.
À par de perdoar temos excusar, que lhe dá mais concreção ao prisma conceitual do perdão, pois excusar, vem de ex-causar, (confronte-se com acusar, para ver melhor), aceitar que a causa é outra.
Na constelação causal, a responsabilidade última do dano perde-se.
No modelo paradigmático, até há pouco principal no mundo ocidental, a relação causa efeito é dual e lineal. Mas entra com vigor a ideia de que no acontecer atuam três forças, causa, efeito e terceira força, invisível no nosso plano, (Nam mioho rengue kyo), e que causa e efeito flutuam no mar do tempo-espaço até dar uma com a outra, ficando a responsabilidade partida em três, causa e efeito atraem-se como ímãs, na confluência com um terceiro fator invisível para os que habitamos neste lugar tetra-dimensional.
A concatenação causal que leva ao dano tem também o seu aquele na ideia de ex-causare.
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