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Androcentrismo, por chamá-lo dalgum jeito...

Indo ao profundo, ao suposto começo, se é que há começo:
Quando no princípio é dito que foi o som, ou o verbo....
Estamos obviando a dualidade e não expressando a sua correta forma?
Destacamos a sua parte yang?
O início, se houver, e há a cada momento, tem duas componentes: uma vibracional, o som, o verbo; e outra material, a partícula:
A dualidade matéria energia, ou dualidade corpúsculo onda.
Mas nas cogitações dominantes enunciadas em palavras, a partícula é obviada, nomeando o conjunto (partícula-onda), o par, apenas com o nome de uma das partes.
Daí que dizer que o começo foi vibração, leva a uma dificuldade. Pois, se no começo apenas existiu a vibração, (movimento): que foi o que vibrou?
A vibração, ela só, não cria a corda, não pode viajar em som até a orelha.
A vibração necessita de algo, particular, que vibre, e esse algo integrado dentro do começo, dentro do princípio, é de lei que seja enunciado.
A energia está em diferentes aparências, cada forma, definida em palavra, tem limites difusos.
Uma energia concretizada, no que percebemos como matéria ou sentida como luz ou som...

Desde o catolicismo e outras religiões monoteístas o princípio é explicado deste jeito, como apenas vibracional, o verbo.
Desenvolvendo o postulado de que o verbo, a vibração foi o começo, nascente do dogma, aparecem consequências tais como que o tal verbo é superior à matéria, ou mesmo que a finalidade da vida é regressar a esse estado vibratório inicial.
Apresenta-se pois a ideia de ir ao Pai, e consequentemente ao anteriormente dito, certa primacia da vibração sobre a matéria.
Assim é pensado que saímos da Máter e caminhamos para o Páter.
Pensamentos de diversas partes costumam qualificar de maior pureza a energia em alta vibração, (som e luz). Atenda-se à bagagem que leva em si a palavra iluminação....
Doutro jeito: o paraíso, para a religiosidade católica não está no momento presente, no aqui-agora, está num outro lugar, menos material e mais vibracional.
Esta âncora conceitual, do Yang como força única primária geradora, mesmo peja às adaptações religiosas que no ocidente se fazem das crenças orientais....
Esta forte crença, do caminho para o pai como via de salvação, leva a conceber e qualificar sem muita necessidade de razoamento o Yang de desejável e de perfeição.
Estamos diante de um tipo de pensamento religioso que anda pola idade psicológica evolutiva das crianças de cinco seis anos?
Este postulado desenvolve-se, e se o seguimos, podemos ver como alicerça, deforma e conforma em variados campos, a estrutura social na que moramos:
Até o ponto de levar à ideia de que o esterco (Yin), é inferior ao nitrato (Yang) quando plantamos patacas?

Mas como foi que isto se incrustou nas religiões?
Nomeadamente as três monoteístas que formatam o pensamento ocidental dum tempo para esta parte, nasceram ou se transformaram ao incluir esta ideia pré-concebida, a da re-ligação com o pai ou o intento de que cheguemos ao pai.

Café para todos:
É questionável que exista ligação alguma, ou  desligação nenhuma, com algo que não está neste plano e que nem se pode demonstrar a sua existência, o pai deus.
Mas, na humanidade e nos seus programas culturais é algo mui repetido: a suposição do divino, e todo o seu corpus que tanto conforma o modelo de sociedade.
A religião como sistema nasceu muito tardiamente.
Primariamente aconteceu uma espiritualidade individual, e ainda acontece.
Espiritualidade auxiliada por gentes com certas capacidades, que interatuam entre o indivíduo e o outro plano, re-ligando, ajudando.
A espiritualidade é íntima, nascida das experiências particulares de cada pessoa, e por vezes dificilmente compartida.

A xamã, o xamã, a meiga, a druida.... ajudam na viagem interior mas não se implicam no processo.
A atividade dos sacerdotes dos monoteísmos ocidentais atua de diferente jeito pois explicam ao Deus, são palestrantes difusores de uma espiritualidade única, homogênea e que não admite modificações, por vezes censuradores ou polícias das espiritualidades que fogem às suas ordens.
Xamã e sacerdote atuam no mesmo lugar mas com intenções e direções diferentes.
Está operação de re-conexão, de re-ligação no xamanismo é individual, apenas algumas vezes coletiva. Bem ao contrário de como as religiões oficializadas atuam.
Num exemplo parelho:
Uma certa medicina não vê apenas enfermidades, e sim enfermos, centra-se na curação da pessoa particular, no seu jeito de sofrimento; enquanto a medicina ortodoxa atual ocupa o seu campo na generalização de tratamentos comuns, categorizando os padeceres em conjuntos de uma só doença, quando aos olhos do velho sistema curativo não existem enfermidades e sim existem enfermos, manifestando um desajuste interno individual.
Daí que em tempos passados, e não tão distantes, mesmo presentes, a função curativa seja entendida desde uma postura integral: corpo, mente e espírito.

Quando esta atividade religadora deixa de ser exercida desde a integridade, com certa frequência deriva no controlo.
Controlo que hoje em dia é parcialmente visto nas tais religiões institucionalizadas, visto e aceitado, controlo que é mais evidenciado nas qualificadas seitas.
Este controlo religioso, talvez tenha deixado de atuar de jeito direto desde os púlpitos e misas, mas formata, está incrustado no sistema operativo que a educação, as famílias, o entorno implementa nas crianças. Depois é só deixá-lo rolar...
Controlo semelhante que também é executado pola outra rama esgalhada do xamanismo: a medicina.
A medicina ocidental, com as suas hipertróficas farmacêuticas e os seu sistema piramidal, institucionaliza o sacerdócio da saúde. Atividade controladora que segue o mesmo esquema que o das religiões monoteístas do pai.

Estávamos no café para todos:
As tais religiões instituídas oferecem um pacote de medidas iguais para indivíduos e condições diversas.
Como isto é de inoperante!, quer dizer o mesmo medicamento não pode curar diferentes pacientes, nem sequer diferentes enfermidades....
Por vezes sim, quando orientadas à curação duma doença global, conseguem algo.
Mas a curação do indivíduo, tanto espiritual como física,  (que vem sendo o mesmo), por vezes requer da individualização do tratamento.


O passo desde as sociedades mais ligadas à natureza, caçadores-recolectores, às rurais neolíticas e posteriormente urbanas, levou às pessoas a uma certa homogeneização dos seus padeceres espirituais, o que derivou em práticas, ritos comuns para algumas questões.
Chegando pois à criação do culto e posteriormente à encarnação das forças curativas em divindades. Criam-se programas ritualísticos já pré-fixados, dependendo do problema há uma escolha do exercício espiritual, trajado com um ritual. Deixa então de haver necessidade de indagação, ajuda, xamânica personalizada.

Esta antiga religiosidade nascente permite a convivência de diferentes cultos: há um politeísmo tolerante.
Dependendo do distinto assunto espiritual, ou físico que se trate de curar, o indivíduo faz uma escolha do seu panteão, talvez guiado ou não por alguém a caminho entre a ação xamanística e a sacerdotal. (Dalgum jeito as Santas e os Santos seguem sendo isto).

Dando-lhe a volta:
Então nestas religiões monoteístas e patriarcais, essa teimosia que tem de ir ao pai....., para quem?, e para o quê estão orientadas?
Para quem espiritualmente necessita curar o pai?
Uma sociedade inteira que tem que curar a sua relação com o pai?
Ou uma sociedade enferma pola programação mental de que deve curar o pai?

E aqui nomeio a Freud, que também dá café para todos, mas o seu contributo é de salientar: acorda-nos, dando alarme de que não só a curação do pai é necessária, também sarar à nai é preciso.

Estas religiões patriarcais no seu intento de curação, enxergam e ajudam num ângulo mui pequeno do crescimento espiritual humano. Na sua fixação polo masculino pai, consideram à mulher apenas desde esse ponto de vista particular que é o da maternidade, no cuidando para que o neno cresça e chegue a homem....

O desequilíbrio:
Mas como é que foi isto tão marcado o do neno caminho do pai?
Como foi que algo tão pouco abrangente, como um livro com apenas um capítulo, ou um médico com só um medicamento, imperou religiosamente?
Vou à religião mitraica, que na altura da conformação do cristianismo estava com força entre a tropa romana, e que dizem ter influenciado muito no catolicismo.
Era sim o mitraísmo uma religião específica, focada nos homens militares; com certos rituais e provas iniciáticas a superar, que no fundo não eram mais que formas teatralizadas com grande carga simbólica dos chanços do processo de consciencização do guerreiro, chanços utilizados e habilmente manipulados para atrapar ao guerreiro e mudá-lo em militar. Uma seita em palavras de hoje.
A estrutura social romana foi fortemente "machista".
Os generais romanos vão à guerra das Gálias porque lhes rebenta que haja mulheres guerreiras na cultura céltica. Além de ser um imperialismo econômico, também detrás há uma forte componente supremacista cultural.

Componente supremacista que ciclicamente se vai repetindo pola história.....

Do mesmo jeito que o poder médico-farmacêutico atual por vezes não oferece uma curação plena, e sim uma saída cronificada da doença, com uma medicação contínua, que leva e obriga à dependência:
A religião cristã oferece uma salvação, curação, futura, não atende a superar o presente; é depois da morte, logo de sofrimentos neste plano, que se chega à resolução do conflituoso pai.
Estas estruturas de poder e controlo dão o peixe mas não ensinam o jeito de pescar, e ainda menos tratam de atalhar a causa, raiz, da aflição.
Quando a xamã ou o xamã ocultam o seu saber, não por precaução para evitar o seu mal emprego, e sim como aranheira de controlo, aparece a associação do poder coa medicina-espiritualidade.
Associação que atualmente, depois de uns poucos milênios, prossegue.
Inclusive as ferramentas espirituais do povo, foram e estão sendo tiradas das nossas mãos, (no passado as bruxas queimadas), agora por exemplo interditam-se as plantas curativas, nos dous níveis, são proibidas, legisladas restritivamente as plantas medicinais, roubam-no-las com patentes, há perseguições, mas permitem-se sob-lei e com lei substâncias aditivas, e em toda a sua força conceitual substâncias que criam dependência.
Esta armadilha caça também doutra forma, não apenas movida pola cobiça do poder: a pessoa por imaturidade ou falta de vontade de agir por si, ou predisposta por forças sociais a permanecer infantilizada, prefere delegar a responsabilidade da sua saúde, mental, espiritual, corporal, nestas entidades controladoras, religião e medicina.
Neste enguedelho e trangalhada de religiosidade temos as ferramentas libertadoras monopolizadas pola camada do poder que propagandisticamente conforma a  mentalidade da sociedade sob o seu governo.
Um dogma incompletíssimo, não só no lado destacado aqui, é tal que, desenvolto, evita a liberação, e cria dependência.
Que outro sistema médico-religioso seria de desejar para quem assentado no poder tem como um dos seus votos principais perpetuar-se nele?

Agora bem, necessitamos a cura do pai?
A sociedade na que nascim apresenta uma certa homogeneidade, as estruturas familiares mostram umas características comuns...





















Este vaise i aquel vaise,
e todos, todos se van,
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar...











Estas duas manifestações da alma destes preclaros artistas podem ajudar algo a entender o que a ausência do pai gera na sociedade?
Mergulhados no outro plano, como lavancos ou canilongas, trazem-nos retalhos do inconsciente coletivo ao tonal.
E é esta falta do pai que exemplifico com o quadro que um rapaz raiano me comunicou, falta do pai que se manifesta de diferentes formas em nós: Conta-me, o raiano, que sendo neno escrevia às noites cartas ao ditado das mulheres iletradas da sua aldeia e freguesia para os homens que fora andavam , nas que relatavam quanto centeio se tinha colhido esse ano...

Esta ausência do pai relativamente comum, passa desapercebida por termos nascido já dentro dela e não achar diferença para a evidência?
A falta do pai é, pois ele está no trabalho, longe, na taberna, no mar, nas tropas do imperialismo português ou espanhol, (como o sistema das levas que deixava as costas, as rias, sem homens)......
E não só nesta última parte da nossa história; pensemos que desde que ela, a história, é escrita, a utilização como canteira de homens, a sangria, desta esquina atlântica, foi quase constante, e continua na atualidade, (ainda que agora não só de homens).
Este pai ausente determina a estrutura da família. As nais desenvolvem, ou tratam de desenvolver ambos os roles, nai e pai. Nenos e nenas crescidos nesta estrutura reproduzem-na.
O neno sem modelo de yang pai, sem poder chegar ao pai, somente através da morte, permanece no papel de eterno filho; na vez de buscar uma companheira, entancado nesse rol de criança, busca uma nai. Quando este "neno-pai" tem filhos, desconhecedor de qual é o seu papel, pois não tivo o modelo, não ocupa o lugar correspondente, e assim as suas filhas e os seus filhos seguem em certa forma órfãos...
A nena moldada polo mesmo, na vez de um companheiro, acaba buscando uma criança a quem cuidar.
Tudo isto está à sua vez fortemente alicerçado exteriormente polos preconceitos "religiosos", que ajudam e reforçam o esquema na sua perduração e replicação.
Também dizer que isto pode acontecer em espelho, a falta de nai, de energia yin maternal, desenvolve um novelo que se auto-replica, mas é menos frequente e não é tão reforçado exteriormente. Chegando à curação em poucas gerações.

Diante desta ideia manifestada por Jung: A psicologia do indivíduo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o indivíduo age, a nação também agirá (1), junto com as visões da Rosalia e do Castelao, podemos dar com o motivo de que a sanidade da Galiza não esteja o bem que devera?

É-che o que hai.

A nação sofre processos desarmonizadores e de desequilíbrio, processos que desde uma visão infantil são responsabilidade de outros, de outras; da malignidade alheia.
Por vezes também reconhecida a malignidade dentro da própria nação nas "outras" gentes, nos desleigados e desleigadas.
Este jeito de pensamento, dar a responsabilidade do acontecer sempre a outrem, tem muito para espenicar.
Paradigma adolescente no que a responsabilidade não é assumida, nos casos que compriria que sim fosse.

Na idade coletiva da Galiza, um fito marcou a entrada na adolescência: O Prestige.
Os berros de "PP culpável" eram os de papá culpável?

Influenciar sobre as condições externas que nos algemam, sobre o nacionalismo espanhol, sobre a propaganda mediática e a engenharia social que trata de nos manter homens-cativos, escravas e escravos, requere muita energia. Muita mais ainda se não somos conscientes das prisões internas.
Doenças interiores em revoltalho, doenças que creio comuns à nação que me deu, dores que tratei de peneirar e fazer ver.
Animo à cura, para o bem individual e para o bem de todas e todos.
E não por tudo isso abandono a atividade exterior transformadora, ambas vão juntas.

.

Assim nos deixou a luta,
Trouxemos o cadáver no carro
Trouxemos o cadáver no barco
para a arca nai,
peregrinagem de dor cinza
de volta à casa,
que nunca mais foi nossa.
A desfeita!
Tudo esborranchado,
nas esquinas ânimas
que não achamos caminhos.
Morrigan no pranto da manhã
lembra aquilo com o croar espiral!
Depois cada espada foi arado,
refazendo o pouco que ficou,
esparegemo-nos por montes e mares,
confundimo-nos co'a paisagem,
Apenas meio-homens.
Mortos em vida.
Mulheres, cativos e defuntos
a tratarem dos mundos,
pois eles, nós...
não podiamos com a derrota!
ilhados de nós,
cada um ao seu,
esquecemos...
Mesmo trocamos a nossa bandeira
pola bandeira de quem nos venceu.
Pois foi a derrota!
Derrota.
Derrota.
Fomos derrotados irmãos.
Assumirmos isto!
Séculos de cabeça baixa
E é daí, que na mais alta nobreza
integridade e impecabilidade,
compre sairmos.
Avonda o choro!
já o cadáver do pai foi guardado,
honrado e limpo,
na mámoa da montanha.
Já ele saiu do Walhala!
E montando o cavalo branco
cruzou o rio da lembrança.
Mas ainda tudo está revolto,
o porco-bravo deita o milho
armamos-lhe um laço,
enquanto seguimos
enterrando, desenterrando cadáveres
sem atender, sandar o nosso luto.
Luta e luto.
Ânimo!
companheiros!
Ânima!
companheiras!



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1. Jung, Psicologia do Inconsciente, prefácio à primeira edição.

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As categorizações nai, pai, masculino e feminina, estão fora do conceito estanco mulher-homem , e vão mais em detalhar as expressões personificadas das polaridades yin yang.

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