Váscua, a vasca, e o vasco

Basca é palavra do corunho, para falar de quantidade de pessoas, de grupo de gente.
Bascada e mascada na gíria da cidade da Crunha são palavras para o vómito.
Também a palavra debarcar significa vomitar, pondo em relação o lexema vasc- com barc-.

No galego vasca tem os significados de mareio, náusea, também vômito; e dá nome a uma pequena cachoeira ou salto num rio, também é nome do vento inicial que no mar anuncia temporal. Vasca é o estertor antes da morte.
Na mesma família de vasca, como mareio, está vasco e váscua que significam náusea, enjoo.
Pôr aqui a palavra vasqueiro/ basqueiro, também o trasmontanismo bascal, ambas as palavras com o significado de barulho, barulheira.
Vasqueira qualifica aquilo que causa náuseas, também a que é escassa, rara, rasqueira.


Estas palavras estão também na toponímia e dão ideia de lugares onde os rios fazem pequenos saltos, lugares com pendentes fortes, ou nos que um rio salta umas pedras.
A destacar o que diz Juan Sobreira Salgado (1792-1797):
Basca / vasca: Nogueyra de Remoin. El coiñal o suelo pedragoso y pendiente del río, donde su agua hace pendiente, se mueve como hormigueando, se distingue de la raña
.

Por vezes o topónimo fica oculto trás a ideia de bascos, de vasconços, e do antropónimo Vasco, e bem pode ser que alguns tenham essa origem.
Por exemplo no regato do Mosteiror, em Meaus / as Maus de Salas,  (Tosende, Baltar), existe o lugar dos Muinhos de Bascós, talvez Vascós, do que as imagens topográficas são estas:





Um moinho de gentes vasconas?, ou um moinho numa vasca?

Outro exemplo:
Na aba que cai a prumo entre Queiris/Queiriz e Colantres cara o Mandeu, na própria freguesia de Colantres, (Coirós), na vaguada ou valgada, que as curvas de nível marcam, valgada que sai de Colantres cara o rio, há a fonte Bascoi, está o regato de Bascoi, que viria sendo um genitivo: do basco, do vasco, ou do Vasco.






Bascoy em ortografia castelhanizada, Vascoi ou Bascoi em São Cibrão de Bribes (Cambre), na união do Rio da Breja com o rio Mero.

Como é a raiz disto?


No galego este radical bask- / vask-, está nestas palavras anteriores apresentadas, vasca, vasco, váscua, também no vasculho / bazculho, que é uma vassoira, um brús vegetal que serve para lavar, para esfregar pipas, barris, toneis, ou o forno; no vascalho que é um trapo velho, sujo e úmido.
Transmitem uma ideia de agitação das águas, de oscilação, de convulsão, de lavagem.
Aqui, na oscilação, ondulação, está a palavra báscula? e o verbo bascular?, na ideia galega de inclinar, que dizem provir do francês bascule, mas a etimologia francesa não dá uma origem clara de tal palavra.Neste mesmo grupo esta vasquejar que é sofrer náuseas, ou agonizar, assim vasque é também um mareio com perda de consciência, uma volta, como é popular falar.
Para ressaltar também as palavras asturianas bazcuyu e bazcuyar que transmitem a ideia da oscilação rítmica dos líquidos ou augas.
Estas duas palavras asturianas abrem a porta a dar uma origem à báscula e ao bascular com as ideias de oscilar, atenda-se ao significado de bascular / bazcuyar no asturiano.
Também alicerçam bazcuyu e bazcuyar a basculho e bascalho e derivados como vassoiras de limpeza de toneis nos que o bazuque de líquidos ocorre.
Bascalho e basculho e vasculhar estão pois aparentados com o asturiano bazcuyar / bascular.
Mas por outra parte bascalho e basculho também semelham relacionados  com o latim fasciculus polas formas galegas fascalho e fasculho que dão nome a pequenos feixes.

Se metemos o radical na mutação (lenição e fortição): bask-, mask-, vask-, fask-, hask-, gask-, ask-. Daqui poderia sair asco, (o nojo, mareio).
Se assim for: mascar, seria cognato do latim masticare, e não descendente.
A lembrar que mascar, além de mastigar também é trouçar, vomitar, frequente na gíria do corunho, gíria que tem muita relação com a fala gremial de marinheiros. Com palavras do mar como mascato, (Morus bassanus), ou o arajo-da-mascada (Alca torda); aves que quando pescam muito não dão voado e têm que vomitar.

No latim achamos o radical vasc-, no vasculum, é um contentor, um vaso, com uma raiz vas. Nesta linha do vaso vasco pertencem as palavras galegas basca e bascote?, nomes das antigas embarcações para a pesca da sardinha.

Polo lado germânico a raiz vask- está nas palavras do danês vaske , do sueco vaska e do islandês vaska, que significam lavar, no mesmo tronco que o inglês to wash, (lembre-se vasculhar).

Então, onde ficam as gentes vasconças?
Serão as do cachão do rio?, do nojo?, do lavado?, do barquinho / basquinho?, do mar?
Atenda-se que o lugar originário do povo basco foram os vales fluviais pirenaicos.


Como seria o Barco de Val-d'Eorras, antes?
Seria um vasco? Um *barsko?, um pequeno salto do Sil que vai em meandro de coídos? Salto, vasca, que ainda existe:



Ainda que a hipótese melhor alicerçada, ou certa, poderia ser dito, é que historicamente alí houvo um barco para a passagem do Sil.

Outro Barco que é uma vasca em Porto Marim dicionariada polo Padre Sobreira:
El coiñal o suelo pedragoso y pendiente del río, donde su agua hace pendiente, se mueve como hormigueando, se distingue de la raña.

En Pombeyro, es el cachon donde el agua pasa sobre peñas, y se descuelga de ellas como de una presa.

El Barquillo de Losar del Barco (Ávila), também outro vasco.
O Barco em São Tomé de Ames (Ames) um vasco no rio Tambre.
Barco de São Pedro de Sarandão (Vedra), vasco no rio Ulha.


Está aqui o elo entre vask- e bark-? Baskunes / Barskunes?

As Váscuas:



Váscuas de Rendal em Arçua. Há um canal de água que seguindo a curva de nível chega até o lugar de Váscuas.



Váscuas de Couceiro, no vale do Dubra. Também tem um canal de águas pola curva de nível, talvez responsável da antiga mineração da zona, com o microtopónimo da Presa de Váscuas.


Váscuas de Monte-Cubeiro em Castro-Verde, com os regos de mineração que caem do alto do monte de Campo-Velho.


Váscuas é o outeirinho (32m) que tem uma gola de 20m de caída pola que corre o regueiro que sai ao mar na praia das Váscuas (Noalha, São Genjo).

Váscuas / Báscuas em Sana Maria de Mezonço (Vilasantar), as curvas de nível dão uma boa ideia da caída das águas de um regatinho tributário do Rego das Gândaras.


Váscuas de Dornelas, em Silheda. Talvez seja chamativo o monte no que na aba Váscuas assenta, com o nome de Augacae / Auga-cai

Váscuas, freguesia de Lugo, com o nome suspeitoso do regato que cruza a freguesia: "Auga-levada", que observado na sua cabeceira, no limite entre as freguesias de Báscuas e Lábio, semelha ter sido desviado, sendo uma levada. Váscuas que tivo o nome de Vascones no século XI, para no XIV ser Váscoas.
Quer dizer que as Váscuas sejam hoje váscuas foi porque o étimo era proparoxítono *vásconas e não vascónas.


Vasco em São Julião de Carantonha (Minho), prados onde nasce um pequeno regueiro que desce rápido para o rio Baixoi.



Vascós (Costa, Maceda)

O Muro do Vasco, nas Neves de Ortigueira


Bascois, (Carvalheda de Val d'Eorras) na cabeça e no meio de duas cavorcas
.
Tem a ver o radical bask-/vask- com as ondas, com o mar?
Um tipo de saia tradicional galega é chamada de "basquinha", esta saia tem muitas pregas o que a faz ondular, é do mesmo radical que aqui foi debulhado?
É a ondulação do vincalho do feixe que gera do bask- o fask-?

Segundo isto a famosa rua que entra polo norte na cidade de Compostela, a rua dos basquinhos, tradicionalmente relacionada com bascos, vasconços, poderia ser a rua das gentes do mar, ou a rua pola que entravam os peregrinos marítimos que atracavam na Crunha?

Basc (gaelico medieval): trevoada, trovão, tormenta, chuva intensa e forte.
Basc (gaélico irlandês): esmagar.
Múisc (gaélico irlandês): vômito, náusea, nojo.
Bascada (asturiano): ataque de fúria.
Bascada, bascáu, bascao (asturiano) entre outros significados: oscilante
Basquiada (asturiano de Astorga): náusea, vômito
Bascular (asturiano): verter a auga de um recipiente noutro; verter o conteúdo da vagoneta do carvão.
Basca (ocitano): discussão; ruído.

Vascones, antigo nome de Váscuas (Lugo) poderia considerar-se par dos topónimos Báscones de Grau (Astúrias) ou Báscones de Ebro, Báscones de Ojeda e Báscones de Valdívia (todas elas na província de Palência), Báscones de Zamanzas e Báscones del Agua (ambas elas na província de Burgos), a suposição mais estendida é que são originariamente assentamentos de gentes vasconças, mas a visão zenital das zonas diz bem outra cousa
Assim o medieval Vascones, podia ser uma proparoxítona "váscones", o que explica a proparoxítona Váscua e não uma paroxítona "vascónes", o que geraria "vascúa"

Olhando Báscones de Grau:
Vemos o que até aqui foi tratado de explicar, o tipo de correnteza das águas dando nome ao lugar, o rio Sama:
https://goo.gl/maps/PPPwf9JUEhr





Báscones de Ebro:
https://goo.gl/maps/VPT9XqU3CtB2

Também a confrontar com uma localidade ao sul com o nome de Basconcillos del Tozo:

Báscones de Ojeda:
https://goo.gl/maps/bWgfdrt1LmQ2


Báscones de Valdivia
https://goo.gl/maps/8QLKBuXe4T72

Báscones de Zamanzas:

Báscones del Agua:






Para revisar alguns Vascos podem proceder de Velasco assim Sancto Martino de Velascones corresponde a São Martinho de Vascós, grafado também como Bascós, na comarca de Lemos.
Para revisar Santa Marinha de Veascós, assim grafada mas no falar da gente como Vascós, que poderia ter sim origem em Velasco, mas também ser aparentado com Viascão (-om) ou mesmo de uma raiz *Ueska.































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