Pormenor da Freguesia de São Pedro de Feãs. (Faça click na imagem para ver maior) |
O sistema agrícola e as palavras, a arqueologia da etimologia:
Trato aqui das unidades agrárias básicas, que desenham ou desenhárom a paisagem galega, os lugares, ou antigamente herdades ou herdadas, eidos, marcados por caminhos que perduraram até a época atual apesar da colonização romana...
A ideia que nasceu depois de estudar como os caminhos velhos no Alto-Tambre desenham um sistema de "locus" mais ou menos circulares ou elípticos que tenhem um perímetro de média légua aproximado, (2'5Km, 3Km), e na sua parte central um caminho perimetral menor que semelhou envolver o primitivo núcleo de vivendas, vivendas que talvez posteriormente à ocupação, invasão romana, estão no caminho perimetral.
O estudo este vai da origem das múltiplas palavras que dão nome a estas unidades agrárias:
Lugo semelha pois o primeiro locus, lucus, ou buraco no continuum do bosque.
(Nessa ideia de quando uma cultura está desenvolta em si mesma, os pequenos nomes dão nome ao evidente, a mesma palavra dá nome ao concreto e particular e mais ao abstrato e geral, tribos que se autodenominam "pessoas" na sua língua, capitais urbanas que são chamadas de "capital" na língua isolada ...). Dá para pensar que o primeiro Lugo, foi um locus, um lugo, apenas uma clareira no bosque primigênio da grande carvalheira atlântica?
Herdade, ou herdada, tenhem a ver com herança, mas também com o antigo inglês eard, que é o lugar de residência, a pátria, a terra de cultura, o chão.
Nas línguas célticas para estas unidades agrárias:
Há no gaélico da Escócia buaile /buələ/, (que faz pensar no topónimo de Bual / Boal) e faz referência às chousas, a curros para guardar o gando, também significa aro ou anel, e dá nome às terras não cultivadas mas sim pascidas, geridas de jeito comunal.
Os Buiale contrapõem-se aos crofts (anglização ou par britano?), ou croit, unidades agrárias intensivas de terras de cultura.
Em gaélico escocês este sistema de terras agrícolas é chamado croitearachd.
Croit significa chepa, outeiro, e dá nome à unidade agrícola arável.
Esta palavra gaélica croit, está na fala da ilha de Man para dar nome ao sistema agrário de terras particulares agrícolas intensivas e de terras comunais de pastos, semelhante ao escocês.
Esta palavra croit considera-se derivada de um proto-céltico *krottos.
Croto no galego é coruto da cabeça, com a variante cruto, mas cruto já tem em si o alargado significado de curuto /coroto /corota /curota...
Normalmente são consideradas raízes as palavras com mais fonemas, as plenas?, ou ao revês?
*korotto ou *krottos qual a originária?
Todas estas palavras fazem referência ao mesmo sistema agrícola de croas, croa que dizem de origem latina corona, mas que também poderia compartir uma origem comum pré-latina nas falas europeias, dando nome ao sistema agrário de croas, lugares, ou herdos, e terras de monte pascidas mais ou menos em comum.
Pois este sistema de lugar habitacional em círculo central, croa, e terras de cultura em redor puido ter sido o jeito de cultivo da terra pola Europa adiante durante milênios.
No latim corona nomeia uma reste de flores, uma guirnalda, uma coroa de flores, e uma coroa da cabeça.
As rodas dos castros, ou mesmo qualquer forma circular de vegetação é dita de croa, que tem toda a evidência de ser derivada do latim corona, com caída do ene intervocálico e síncopa do o: c'ro(n)a.
No gaélico há esta série de palavras:
Cró, chrao, crai, crū, crui, cruu, cruib, crú, craoithe, chraí, craí(the), que dão nome a um fechamento para gado, e entre outras cousas nomeiam também à propriedade hereditária, [herdo, erd inglês], e nomeiam o casco das bestas.
No inglês também está a palavra crop para a cultura, a terra cultivada, a colheita, que na etimologia é ligado com um proto-germânico, mas, seja como for, é do mesmo tronco:
Cortado e colado do wikcionário:
Old English crop, cropp, croppa (“the head or top of a plant, a sprout or herb, a bunch or cluster of flowers, an ear of corn, the craw of a bird, a kidney”), from Proto-Germanic *kruppaz (“body, trunk, crop”), from Proto-Indo-European *grewb- (“to warp, bend, crawl”). Cognate with Dutch krop (“crop”), Low German Krop (“a swelling on the neck, the craw, maw”), German Kropf (“the craw, ear of grain, head of lettuce or cabbage”), Swedish kropp (“body, trunk”), Icelandic kroppur (“a hunch on the body”). Related to crap and group.Estes lugares, estas unidades agrárias, têm entre outros nomes, o de: eido.
Eido pode ser entendido graças ao galês:
Eiddo, com o significado de hedra (Hedera helix), também com o significado de possessão, propriedades, bens; e de pronome, adjetivo possessivo, partícula de reforço equivalente a sua, seu, ou de seu.
Este eiddo galês tem os cognatos: edenn, eidheann no gaélico, idhio no córnico, ilio no bretão. Com uma hipótese de um proto-céltico *ede-nno.
Ressaltar o éden que dizem hebraico.
E ressaltar também que a eido, é-lhe dada uma etimologia latina: aedes / aedis.
Aedes latino que está na mesma gênese que o resto das palavras clave aqui esmiuçadas, na ideia que o reparto da terra no neolítico foi semelhante em toda a Europa.
Aedes latino para o que se dá uma etimologia protoindo-europeia *h₂eydʰ-.
Na "cousa" que se repete, há quem obriga a ir dar a Roma para chegar a Braga ou a Compostela, mas ao nosso eido também se chega sem ter que ir dar a Roma.
?
Isto é: eido é o fóssil vivo do protoindo-europeu *heydʰ- , como lugar hedrado, herdado.
From Middle English herde, heerde, heorde, from Old English hierd, heord (“herd, flock; keeping, care, custody”), from Proto-Germanic *herdō (“herd”), from Proto-Indo-European *kerdʰ- (“file, row, herd”). Cognate with German Herde, Swedish hjord. Non-Germanic cognates include Albanian herdhe ‘nest’.
Esta raiz protoindo-europeia do eido: *heydʰ, está também na origem de palavras que dão nome ao lume:
No gaélico antigo áed /aːi̯ð/ "lume"
No latim aestus "calor, lume, paixão, maré, vaga do mar"
No grego αἶθος (aîthos) /âi̯.tʰos/ → /ˈɛ.θos/ → /ˈe.θos/ "lume"
No persa هیزم • (hêzom) "lenha".
Isto dá a entender que a primeira terra herdada, ou de propriedade particular, já for familiar ou grupal, foi no sistema de roça.
Então a hedra e o herdo no galês também estão relacionados?
Para fazer ver que no gaélico a palavra gort dá nome à leira, ao campo de cultura, e à vez à hedra. A origem de gort, tem a ver com o protoindo-europeu ǵʰórtos, com os cognatos latino hortus e grego χόρτος (khórtos).
No falar trasmontano (h)aradeira é nome da hera, da hedra.
Podemos considerar isto um "vulgarismo" nascido de heradeira, mas também pode ser percebido que relaciona esta ideia de eido com a de arar e com a de aro, ara e hera, que teriam pois uma raiz comum, diversificando ara, na ideia de aro de território, também o seu nome para a pedra, o fito, o marco limitador da zona da agrária.
Já noutros casos é explicado como um mesmo nome nestas unidades agrícolas pode definir à contorna da unidade de território, a um vegetal que medra nesse limite, ou ao limite mesmo da área, como é visto coa hedra no caso galês, e evidenciado no caso galego.
Limite que é conservado na palavra hédramo, que além de topónimo, dá nome ao valado velho de terra na zona do Alto-Tambre. Onde hedra-mo, com mo como sufixo superlativo ou aumentativo, "muita hedra, hedrona, hedríssima" ou como sufixo locativo ou de estado, confronte-se com o sufixo galês -ma, também com o grego -μᾰ.
Sobre o aro:
Aro, recolhido por Elixio Rivas: «Campo, valle pequeño (ant.) en Marín. Aro "agra, polígono de cultivos" vive todavía en Negradas, Lu. (FrampasII), cultivos entorno al lugar, campo».
Aral: arcaísmo para pequeno labradio.
Erio: leiro no Franco (Astúrias).
No asturiano ería: conjunto de terras.
Já agora a analisar o topónimo Arosa, que é determinado a uma evolução do medieval Heerosa:
Aqui vão uma série de imagens dos lugares chamados Arosa, que cumprem a ideia de aro, de unidade agrária pré-romana de 50 Hectares.Algumas Arosas populacionais estão no centro da área, como a de Xanceda (Mesia), a de Arceu Boimorto, e a de Meis.
Já as outras Arosas estão na periferia da "célula agrária", na rua, expulsadas, pois nos mapas de relevo é observado o possível primário núcleo central: a de Malhão de Santa Comba, a de Arcos da Condessa de Caldas de Reis.
Ora, com isto visto, o topônimo (a)o Pé de Arosa de Moucide (o Valadouro) é transparente por estar também ao pé de um aro.
Não negando a tal evolução de Heerosa a Arosa, também sai a dúvida de serem cognados ou mesmo arosa gerar herosa; chama a atenção o dito anteriormente sobre aro como «campo, valle pequeño (ant.) en Marín. Aro "agra, polígono de cultivos" vive todavía en Negradas, Lu. (FrampasII), cultivos entorno al lugar, campo»A confluência entre hedra, herda, hera, eira aira, área, ara, e aro semelha certa, como também abre a possibilidade a uma interpretação da Heerosa medieval como um intento de "culturalização" do topônimo popular por parte do escrevente medieval, de levar a Erosa / Arosa a uma relação com heredosa / heerosa, pois como tais seriam, estas peças de terreno, herdades indivisíveis na herança.
Pôr aqui a palavra cântabra araá que é a hedra.
Este assunto da ara e da hera foi tratado na revista Lusitana, neste enlaço pode ser lida:
O autor põe em relação Arosa com Erosa, pois assim era chamada a Arosa de Lobão (Feira), e daí Herosa e Hedrosa, também na ideia de herdades. Outra linha relacionada com isto que analisa o autor é o topónimo Arada, como vaiante de Herada, pois em documentos medievais também aparece com Erada. Faz derivar este conjunto do latim hedera, por exemplo hederata, "coberta de hedras".
A ressaltar a informação aqui fornecida dos diferentes nomes da hedra, hera, heira, hereira, (h)aradeira, heradeira.
No mundo latino este conceito está na palavra heredium.
Arosa, Xanceda (Mesia) |
Arosa de Xanceda com marca da rua, ou crica perimetral |
O Pé de Arosa, Moucide (o Valadouro) |
A Arosa, Malhão (Santa Comba) |
A Arosa, Arcos da Condessa (Caldas de Reis) |
Arosa, Arceu (Boimorto) |
Arosa, Meis |
Senra:
Senra também é uma herdade, faz-se parente de seara, deixar aqui a forma tida por metátese serna.
Serna além da herdade, é uma agra, no sentido galego de agra, conjunto de terras de cultivo, delimitadas por marcos e rodeadas de um muro "antigo". E senra também é marca, com o sinónimo de serra.
Serrar, seccionar tem a ver logo com a senra, seara, a partição, com a zarra, e o cerrado, zarrado?
O que está chousado, a chousa.
Sendo pois o suco, valeta, anteparo do muro perimetral da unidade agrária pré-romana, o que é serrado, cerrado.
Que podem transmitir toda esta reste de palavras?
O sistema agrário descrito baseava-se na herança lineal, onde havia uma pessoa da croa, com croa, "corono", que herdava o herdo, herdada ou herdade, eido, zarrado, senra, chouso.
Isto estava por toda a Europa, daí o nome de croata(1).
Ardeleiro é um arcaísmo e significa defensor, tal vez estes titulares das unidades agrárias defendiam ou prestavam serviço de armas a unidades maiores.
Na génese de animal totem e função na pirámide social, estava o corvo e o urso, arto, ou erto, erdo, o corvo era o agrário, e o urso / porco-bravo era o do mato ou gandeiro.
Assim ardelhar é o mesmo que herdar, também dito ardar, considerada está forma errada, mas que etimologicamente une com o inglês antigo eard, também transmitindo a ideia de unidade agrária indivisível que é herdada.
Teriam uma raiz próxima a erd, a eira, a aira, a área. Quer dizer que o heres latino,o herdeiro, teria um parente comum com area.
Aqui também estaria a palavra inglesa herd, tratada anteriormente.
Eirel é arcaísmo galego para dar nome ao herdeiro, tendo eira como provável raiz.
Hereo, heree, heréu são formas também arcaicas, com a possibilidade de herói como herdeiro inicial.
Assim no catalão hereu além de significar herdeiro, também é o nome do azevinho, arbusto da sebe separadora.
Estas palavras estão todas falando de um lugar concreto onde se mora, que é berço ou ninho, que é circular, que tem gando, que tem terra, que é herdado. Da croa ou parte nuclear habitacional da unidade de assentamento agrária, da unidade agrária no seu conjunto.
Haveria que pensar nos topónimos como Eirins, ou mesmo Eire / Eirim.
Adro?
Na foto Hedrada no Concelho de Parada do Sil. |
Hedrada na freguesia de Castro de Rei de Lemos. |
Série de vistas de Aira-Velha de Santo Estevo de Alhariz, e explicação da unidade territorial agrária:
A etimologia faz pensar numa aira como lugar para a malha do cereal, espaço para trabalhos agrícolas, ou mesmo lúdicos, mas como foi dito em hipótese aira pode ser área, ara..., uma célula agrária.
Divisão territorial que puido começar no neolítico e ficar determinada dum jeito estável durante milênios.
Aira-Velha |
Aira-Velha, em unidade territorial |
No lado norte está a aldeia de Portela de Aira-Velha, que indica a entrada, entrada que está limitada por uma série de pequenos outeiros entre os que entra o caminho ascendente.
Este caminho segue, cruza o "território" e sai ente duas valas que marcam o final do território:
O Val-grande a Leste e o Bacelo a oeste, que poderiam ser covas antrópicas limitantes territoriais, o rego.
Já a Leste a corga da Portela e a Oeste a corga da Vila-boa.
Esta forma retangular colhe em si aproximadamente umas 50ha de terreos agrários, mas o território que abraçam estes limites é maior.
Já o caminho segue ascendendo em direção sul saindo pola Lomba, e nas Mouriscas, no "Alto de Alhariz" (765m) , une-se com a que foi via principal: Límia-Ourense.
Eira-vedra, Sedes (Narão):
Casa da Hedra em São Vicente de Covelas, (Ribadeu):
(1) Wikipédia
The first etymological thesis about the name of the Croats stems from Constantine Porphyrogennetos (tenth century), who connected the different names of the Croats, Βελοχρωβάτοι and Χρωβάτοι (Belokhrobatoi and Khrobatoi), with the Greek word χώρα (khṓra, "land"): "Croats in Slavic language means those who have many lands".
Eard no inglês como lugar de cultura, tem um par confuso ear que dá nome à planta individual de cereal, a arar e a medrar o cereal.
Este ear inglês sai do inglês antigo, com o significado de planta individual de cereal, terra e mar.
Com pares nas línguas germânicas de aar no holandês "planta de cereal".
Lugar de Ar, da freguesia de Vilar (Ponte-d'Eume): Area, arável, arada, harda/herda, aro?
O Iríbio foi antigamente o Eribio, menos registado: Eripio, com variantes populares atuais como Airíbio ou Eiríbio.
Eríbio poderia ser descodificado como era + -ibus / -bo + -io.
Era / ere / ero teria o significado aqui dado, a separação, do protoindo-europeu *h₁reh₁- (“separar”).
Confronte-se com ermo, no latim erēmus, herēmus, no grego ἐρῆμος (erêmos).
Separação que deu origem ao aro e os ários, os posuidores neolíticos primários que separárom um terreo.
Daí o herói e heroína que são os separados, na ideia agrária de separar "escolher".
Era em ermo, leva o sufixo -mo / -ma / -μᾰ, que no galês é lugar, estado ou ação, no galego é aumentativo ou relacional, no grego é um sufixo substantival ao atuar sobre um verbo.
Então ermo, ou erēmus ou ἐρῆμος, seria o lugar do separado, a separação.
Assim ermo e hédramo são a mesma palavra-conceito na origem.
Irímia poderia estar por aqui?
Mas aqui o sufixo não é -ma / -mo, é -ibus / confronte-se com -bo, um dativo plural, mas no caso é o mesmo, *éribus, *éribo, seria "para os separados".
Eribo-io, Eríbio onde -io poderia ser um adjetival, o monte "que é para as separações".
É relacionado o Eríbio / Erípio primário, atual Iríbio, com o grego ἔρῐφος (ériphos) "caparrão, cria da corça", como o gaélico escocês earb "corço".
No gaélico irlandês eilit "corça", antigo elit, ailit.
Já no gaélico antigo: erp, eirp, erb com o significado de corça, cabra.
Nas línguas britônicas: galês atual iwrch "corço", córnico antigo yorch "cabra", bretão antigo iorch "caprea", bretão atual yourc’h, dialetal em Gwened iorh, no gaulês crê-se que Iurca nome de pessoa teria que ver com esta raiz.
O nome do corço nesta linha irb-, neste casso do cáparro, tem a mesma raiz da separação que aqui foi tratada *h₁er-.
Assim o cervo, o zebro, o cerval, o Zebreiro o xebro, o xebrar, estão também na separção.
O corço grego simbolicamente também está no símbolo da entidade primária separada:
Qual é a entidade separada inicial?
O ser.
O ser é, e é ser por estar separado da unidade, enquanto forma parte do tudo: não é.
O ser-bo é "para os seres".
O primeiro separado o cervo, o servo.
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