Há uma hipótese velha, e de tão velha aceitada como certa, é que uma língua vai derivando de outra, que uma palavra de um idioma vai derivando de outra palavra de outro idioma raiz, que os idiomas são evoluções de proto idiomas.
O paradigma da continuidade paleolítica desenvolto polos autores anteriormente citados sai desta hipótese e cria outra:
Assumes the existence of modern languages and dialects at least since prehistory, and explains the illusory evolution
Assume a existência de línguas e dialetos modernos pelo menos desde a pré-história, e explica a evolução ilusória.
Então abre-se uma possibilidade diferente de trabalhar as etimologias desde um aspecto que sai do dependentismo.
Por exemplo no caso de augha:
Desde a hipótese antiga: acua é palavra no latim que mudou em água, que por um processo de metátese deu auga, e que por um processo de influência da fonética espanhola virou em augha.
Desde a hipótese da continuidade: augha pode ser percebida como uma forma "plena" como uma fonação já velha de um conceito-matéria definido no início da palavra.
Então augha antes do que derivada do latim, pode ser considerada uma forma "irmã" do latim, ou se não irmã, uma forma "indígena influenciada polo latim" acua, e assim outra palavra referidas à augha podem ser estudadas fora da ideia de "dependência", francês eau,catalão aigua, sânscrito उदन् (udan), cocani उद्दाक (uddaaka), उद्धा (uddhaa), albanês ujë, bretão dour, irlandes antigo uisce pronunciado /ˈusʲkʲe/ protogermânico augô.....
A hipótese da continuidade, fala da existência de uma palavra paleolítica, ou neolítica inicial, neste caso a hipotética *ur que dependendo dos lugares tinha diferentes realizações
Por exemplo as palavras da auga de raiz semelhante a ur-, das gírias galegas que foi falado aqui estes dias tem todas estas realizações:
anrieta
aureta
boreta
bureta
buxa
buxám
buxandia
creta
oreta
oureta
ulha
ura
uria
urta
voreta
Desde o velho paradigma toda esta reste de palavras são formas vindas de fora, conceito invasionista, e forma "vulgares" pejoradas, pronunciadas por "incultas" pessoas bárbaras ou balbuciantes.
Mas é possível a sua análise desde outro ângulo. Desde o paradigma da continuidade, o seu estudo tira-lhes mais proveito.
Bom, indo à pergunta de como é que Íria, Dubra e Douro podem vir da mesma palavra:
Por exemplo no gaélico para augha há as formas uisce e dobur. Analisadas uisce tem uma pronuncia /ˈusʲkʲe/ onde há uma palatalização que desde as nossas possibilidades aproximaríamos a algo semelhante a um "uxghe" suavizado, o que evidencia a proximidade à raiz ur / ura proposta desde a etimologia para o protoindo-europeu.
Isto sai da ortodoxia etimológica do céltico que propõe como raiz das palavras célticas do uisce (uisque): *udenskyos, que também, porque se atendemos às diferentes realizações de ur /ura, está no sânscrito sânscrito उदन् (udan), e no grego ύδωρ (ýdo̱r)....
Aqui compre fazer uma paragem, e pôr as palavras galegas údremo e ídremo e mais variantes, com o significado entre outros de viçoso.
Entre as formas parentes de ídremo a estudar está ídribo e ídribio.
Para seguir ou abrir a qui um possibilidade ao também variado Iríbio, Eiríbio, Eríbio, Airíbio como a serra que faz beira ou faixa, ou a algo a ver com ur e as suas variações em significados... Sem desbotar a forma Eríbio como "dos corços"
Antes de prosseguir: A fonação para o conceito-mateira inicial além de diversificar-se na sua forma de som, também muda em dar nomes a conceitos-matérias semelhantes ao inicial, assim o conceito-matéria augha está nas báguas, está nos rios, está no mar, está na urina, na chuva, no sexo....
Sobre o mar, a dizer que nas forma célticas é dito muir no antigo gaélico, môr no galês, mor no córnico e bretão, a sua raiz dizem de um proto-céltico, protoindo-europeu *mori.
A proximidade a m-ur é moita.
Agora: é conhecido ao que foi chamado Íria no antigo á população assentada no que hoje é Padrão. Como variação da palavra conceito-matéria "augha" ur / ura é possivel explicar que seja íria algo semelhante a rio, é hipótese, desconheço as fontes ou trabalhos que relacionem Íria Flavia com origem no conceito-matéria augha.
Por exemplo o conceito de beira tem no galego estas forma da família ur: ourela, orilha, courela, aurela, orela, ourelo, irela, ouril, ourelho, ourelheiro...
Então é visto como o radical ur para auga, aqui modificado, sufixado, para o significado de "borda d'água" e alargado a borda ou faixa, tem diferentes realizações entre elas ir-, or-, our-, aur-.
Sim a etimologia latinista remete ourela, orilha à ora latina.
Mas acho que podemos ver que ora antes do que nai de todas estas formas é irmã?Neste grupo de ourela podemos aplicar a análise desde o novo paradigma, e ser mais agradecida, produtiva do que a antiga derivação linear.
Outro grupo de palavras em ur, tem a ver com a urina, que no galego tem as fomas de ourina, ourinha, ouris, urina, ourinhos...
Ouris dá para reparar nele:
Ouris é um plural que supomos de uma forma ourim, e também ouril.
Ourim e ouril dão nome ao óxido, à ferrugem, a etimologia linear, latinista dá a sua origem em aerūgō, aerūginis.Pode ser vista a sua relação com urina, antes do que com aerugo?
Poderia ser vista a relação de aerugo com ur?
Sobre Douro: No galego há as forma doiro, doira, duiro, duira como nomes de correntes pluviais que arrastam pedras e terras, conhecidas também como dioivos noutras partes da Galiza...
No latim Durius.
Se vemos as palavras de augha das gírias podemos comprovar como há uma consoante inicial que aparece sobre a hipotética raíz ur-: bureta, mesmo creta...
Hipótese: nas falas célticas, e noutras, há um fenômeno chamado mutação, no que a consoante inicial dependendo da sua função gramatical ou doutras palavras que a acompanhem sofre mutação, suaviza-se ou faz-se mais forte.
Em exemplo: a palavra bretã para augha dour pode ser pronunciada zour e tour.
Estas cousas "raras" no galego e noutros idiomas são explicadas desde o velho paradigma como um "vulgarismo" balbuciente que diversifica o significado inicial latino tipo talpa (o animal que anda por baixo da terra comendo minhocas) é raiz no galego toupa / zoupa / zoupão / zoupelho / toupelho / foupeiro.
Assim zoupa / toupa e derivados, saindo do paradigma antigo, explicam outra realidade, a realidade é que houve uma primeira fonação para o conceito-matéria identificativo do animalzinho que chamamos toupa / teipa, etc... e que diversificou....
Confronte-se com o tocariano B taupe "mina" que no tocariano A é top, de um hipotético proto-tocariano *teupe de um PIE *dhoubo- (m.) que significaria profundo, derivado de *dheub- "profundidade’". Gótico diups ‘profundidade,’ lituanio dubùs "profundidade", daubà "ravina, rego profundo das águas torrenciais", duobė "trincheira, buraco, cova", dùbti "ser furado" galês dufn (< *dhubni-) "profundidade", ilírico dúbris "mar", albanês dēt (< dhéubetos) "mar".
Já agora voltando à augha e ao rio Douro, palavras como como boira (poça de augha, névoa mijona), zoira (diarreia) foira/esfoira (diarreia), doira (corrente pluvial) são relativamente compreensíveis e explicáveis . Na possibilidade de que a riz ur- / ura tivesse uma realização a *aura, alicerçada por aureta da gíria na ideia de diminutivo apreciativo (aura+-eta, augueta) e que fosse modificada por uma consoante inicial com formas como *daura, *dura que explicam o bretão dour, o galego doiro, e o rio Douro.
As mutações da consoante inicial podem pôr em relação estas correntes terrosas de augas pluviais, doiras, com loira. Atenda-se que um dos rios principais da Gália é o Loira.
E mesmo que a lontra é chamada de loira no ocitano (*l'ura).
Sobre Dubra, é explicado pela raíz céltica dobur que no gaélico antigo significa rio.
A etimologia linear neste caso remete dobur a uma forma proto-céltica *dubros, que antes do que aparentá-la com os conceitos de rio ou auga, associa-a com profundidade, escuridade.
Considera que no galês rio seja dwfr como base para esta etimologia, mas desconsidera que dwfr e dwr sejam um par com o mesmo significado que é água, com bretão dour, córnico dowr. Então desde o novo paradigma dobur e dwfr apenas soa variações de um significado inicial de rio, com uma raiz proto-britônica *duβr, que alargou o seu significado de água correndo a profundidade, escuridade, e não ao revés.
Também poderia ser explicada Dubra pola raiz dour, douro / doura primária na que o u mudou em v e b douro / doura, dovro / dovra, dobra, dubra.
A considerar o orvalho como uma forma de ur.
Então a ideia a transmitir é que a maior parte das palavras saem de uma fonação de um conceito-matéria básico da primeira cultura humana, fonação-conceito que é diversificado pola geografia e que á vez essa "fonação primeira", que apenas dá nome a uma só cousa, é necessário diversificá-la para dar nome a cousas parentes dela.
Para dar-lhe nome ao rio, não sempre é possível chamá-lo de augha pois cria confusão, então pode ficar para ele uma palavra nova, ou uma palavra velha; o rio pode ser chamado "o da augha", (d'augha, d'eau, d'aura...) "o que leva augha", ou metaforicamente "o que corre" criando-se uma nova palavra que por sua vez é diversificada e "invade" novos territórios onde já tinham "inventada" uma outra palavra para rio, e dá nome a um rio maior ou menor determinado....
Tudo isto é uma hipótese.
Em todo este enguedelhado de palavras vai-se vendo que o ouro anda por aqui?
Aurum latino que tem uma etimologia linear que nada tem a ver coa ur auga.
O radical ur / ura declinado à latina, poderia ter forma tal que urorum, uorum, urarum, uarum, com o significado "das augas". Sendo pois aurum uma palavra nascida de um genitivo plural, "o das augas".
Ainda algo mais: No francês auga é eau que derivam do latim aqua, no inglês antigo ēa é rio que retem a um protogermânico *ahwō...Poderia ser que desta raiz *aua nascesse o ouro , como genitivo plural de *au / *auo
Dá para falar das aureanas, como as mulheres dedicadas no Minho a buscar ouro nas suas areias, com aforma silouras as do rio Sil. Aqui aureanas chama a atenção não ser modificada polo tempo e levar o nome de oureãs.
Aureanas tenhem a ver com o ouro ou com a *aura, augha?
Doiras (Vilarelho, Cervantes) |
Rio Ouro
Rio Oirão
Oira
Ourense
A ouricela é o musgo verde que nasce sobre as penas
A oura é o destino, o fado, a sorte
O ouriçó, tiriçó?
Oira: vertigem
Oirar: sentir mareio, marear-se
Idoiro, o mesmo que doiro, doira, duiro, doira, que desde a etimologia do latim teria a ver com iturus, particípio futuro do verbo eo, "ir", com uma ideia de "o que vai ir" "o que irá".
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