Vilarensal

 

Esta é a imagem aérea do voo americano do 56-57 de Vilarensal, em São Martinho de Cabrui (Messia).
Nela pode ser observada a estrutura de cousso evolucionada a granja, que neste blogue é repetidamente mostrada:





Vai aqui uma explicação do seu funcionamento inicial, como cousso de caça:


A estrutura funcionaria como uma nassa, os animais, veados, corços, cavalos, zebros, auroques..., entrariam, e intentando buscar uma saída acabariam nos becos laterais, nos que a caça seria à espreita ou com foxos:



Para comparar com os chamados desert kites, por exemplo este plano de um do planalto de Ustyurt:
 
Modificado de Examples of Desert Kites por Olivier Barge.


Posteriormente, acabada a sua utilidade como caça, ou curro de animais semi-selvagens, a sua boca de entrada teria sido fechada e mantidos dentro animais em catividade em domesticação, para o maneio dos quais ainda seriam úteis os becos como mangas.



Então uma hipótese do que subjaz no topónimo Vilarensal poderia ser o evidente vilar e *ansal:

Sobre vilar neste blogue já foi apresentada a possibilidade da sua antiguidade, que pode ser lida no escrito Guilheto
O inicial vilar teria a ver com bilha "estaca". Então os vilares do paleolítico final e neolítico teriam sido estacadas, paliçadas.
Esta imagem levaria a pensar estacadas de caça, e posteriormente estacas que cercariam uma tapada para manter animais em catividade.
Se o palatio, paço, nasce de uma paliçada primitiva para resguardo das primárias habitações, ou de animais, talvez de uma pala, "refúgio", feita pelo ser humano.
Uma sebe de *will, de paus aguçados ou espinhosos, também pudo ter servido para defensa dos primárias *willas, vilas, ou talvez antes do que vilas *will-ares vilares ou *guilhares.
Assim um vilar entre outras cousas é:
En algunas comarcas llaman vilar a los campos de centeno que, después de sembrado, se cierran con un balado que no se derruba hasta que se siega, y queda el terreno a restreva o pallarega.
Leandro Carré Alvarellos (1979): Diccionario galego-castelán e Vocabulario castelán-galego, A Coruña, Moret


Sobre *ansal, neste blogue já foi tratado esse lexema ans- que costuma aparecer na toponímia galaica, Ansede, Ansemonde, Ansemil ...
Ansa é palavra em interjeição para levantarem o pé as cavalgaduras e mirarmos o casco. Palavra que apreendim de neno quando andava coa burra. Dá-se-lhe na perna na zona do carpo uma palmada suave e firme, à vez que em interjeição é ordenado: "Ansa!"
Sob paradigmas inferiorizadores e dependentistas usados para conhecer a origem da interjeição e voz de mando ansa: ansa seria um "vulgarismo" de asno ou asna, e asno seria derivado do latim asinus.
Cortando as amarras a estas ancoradas ideias, a palavra asno monstra raízes muito antigas:

Grafia suméria da palavra transcrita como ance ou anše, letra š que é usada na transcrição da escrita cuneiforme para representação dos fonemas /ʃ/ ou /t͡ʃ/.
"Ance, anse, anche ou anxe".








Sumério 𒀲 (anše) com o significado de asno, cavalo, equídeo qualquer.
Também no hitita anšu.
No sânscrito हंस (haṃsá), tem o significado particular de búfalo, cavalo, e o mais geral de cisne, ganso, ou ave migratória, mas também o de "movimento, caminhada" (segundo algum estudo a primeira sílaba ham- significaria "ir")(1) o que podeira estar a indicar que os animais que levam o nome de *ansa, estão a levar um epíteto "o do movimento, o que caminha, o que viaja", que supre pronunciar o nome verdadeiro do animal que é caçado e alimenta, que seria tabuado, como é frequente no indo-europeu e em tantas culturas humanas da caça.
O que levaria a poder lançar a hipótese de que a palavra *ansa, estaria a nomear aquele animal que se desloca, que viaja, que migra, pertencendo ao nostrático ou ao protoindo-europeu, por essa presença no sumério, hitita e na  toponímia galaica, datando-a no mínimo no paleolítico final (nostrático) ou no neolítico (protoindo-europeu).

Assim Vilarensal, suposto anterior *Vilar Ansal, seria a "paliçada para o (animal) que anda".

Tudo isto poderia alicerçar a Teoria da Continuidade Paleolítica.


(1) Isto abriria a porta a uma etimologia do verbo andar nesta raiz, confronte-se com andorinha.

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