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Cnoc na Teamhrach

Neste escrito vai ser analisada a toponímia que envolve a famosa Colina de Tara, Teamhair Na Rì, também conhecida como Cnoc na Teamhrach, ou Teamhair,  em inglês Hill of Tara.

A partição das terras revelaria uma estrutura ancestral, interpretada desde a paisagem galaica como um cousso, da transição do paleolítico para o neolítico:







O cousso com uma funcionalidade multimilenar, daí que seja possível observarmos transformações, acabaria transformado em uma grande tapada, que poderia servir como "couto ou parque de caça" de animais silvestres em catividade, ou como local onde manter e cuidar animais em semidomesticação.



De norte a sul toponímia da estrutura que abrange a Colina dos Reis, Teamhair Na Rì:

Baile Caisleáin na Teamhrach Vila do Castelo da Colina dos Reis.

Baile Shiurdain, com nome no século XV de Jurdanestoñ iuxte Tauragh.
Entende-se que é a vila de uma pessoa apelidada de Jordan, ou Jurdanes.
O nome de Tauragh, referido à Teamhair,  é relevante pois podeira ser algo assim como "do touro"?
Também escrita antigamente como Taueragh.
De um proto-céltico *tarwaikos?
Confronte-se com a pronunciação de tarbh "touro" em gaélico escocês e em irlandês.

An Chabrach, pode ser partido em dous lexemas cabra-ach.
-ach deriva do proto-céltico -aikos.
Cabr-, pode ter diversos significados entre eles cabra "sepulcro".
Mas também cabrach significa bosque e charneca, terra pobre, também musgo da madeira.
Estes significado de charneca ou terreno pobre, fazem lembrar a carva galega: deserto, chaira de monte sem habitar; carvalho que cresceu pouco e retorto; mata arbustiva de carvalho; carvalho-negral, (Quercus pyrenaica), carvalho-alvar, (Quercus petraea).
carba asturo-leonesa: mato, monte pedregoso, encosta de vegetação baixa, brenha; monte comunal para pasto, baldio onde abunda o mato baixo; mato de tojos, fetos e urzes.
Outro significado de cabrach é o de veado, cervo.
Já no proto-céltico como *karwo "cervo".
Poderia então ser aberta a hipótese de que o cervo gaélico teria sido algo assim como o *kabraikos "o da carva", o animal que anda no terreo de mato arbustivo. Ainda que a sua proximidade com a cabra e o proto-céltico *karwo, tiram-lhe força a esta suposição.
Seja como for o recinto que desenha ainda hoje a divisão das terras na volta da Colina dos Reis, Teamhair Na Rì, levaria a pensar que a origem de an Chabrach poderia ter sido um proto-céltico *karw(o)aikos "do cervo, *cervego, cerveiro".
Ou *karb(a)aikos "o da carba, o do mato arbustivo", sendo o nome do cervo um epíteto, na tradição indo-europeia de ter o animal um nome tabuado, quase nunca pronunciado.
Confronte-se com o escrito "a voltas com o Zebreiro" onde é postulada a proximidade entre cervo e zebro, e xebrar, sebe, sendo o cervo "o separado".
A meu ver, e podo estar errado, estas hipótese interpretativa de An Chabrach como "o da carva / o do cervo" é congruente com os coussos e tapadas que na Galiza foram interpretados sob a toponímia de  "carvoeiros", desenvolto no escrito que vai o enlace.
A continuação vai uma imagem de um cerveiro/carvoeiro galego e a de Teamhair Na Rì:

Estrutura de Carvoeiro e Cerveiro de Abaixo, entre as freguesias de São Jurjo de Goá e São Jião de Santa Cristina (Cospeito) com forma de cousso ou granja neolítica.


Estrutura que envolve Teamhair Na Rì.

Então, a hipótese até aqui: haveria um lugar sacro sacrificial no alto de um outeiro com uma ara, pedra, sacrificial, no outeiro do touro, na ideia de macho ruminante, não apenas vacum, *tarwaikos dentro de um recinto ancestral de caça, que no neolítico teria sido transformado em granja de cervídeos *kabraikos.


Continuando:


Riverstown, conserva o nome anglizado, no século XIV foi Ryverestoun. Ryvere é uma palavra do inglês antigo que significa rio.

Baile Bháinín, báinín pode significar tecido de lã, mas também ser um derivado de báin que complica dar um significado seguro, entre os possíveis báin é uma forma de bán "pardo, pastagem" com o sufixo -ín diminutivo, "vila do pradinho" poderia ser.
Bàn em gaélico escocês é o lado esquerdo do rego do arado, Baile Bháinín estaria a ser nomeada pola sua situação nas proximidades do beco esquerdo?

An Fóidín, da turfinha (turfa) do terrãozinho, ao ser um talho, um pequeno terreno.

An Castelean Buí, o Castelo amarelo.

Baile an Ringéalaigh,  um dos nomes recolhidos no XIX foi Baile An Rin-Géil.
Considera-se um antropónimo, um nome de família.

Odder é pensado ser uma palavra inglesa "muito raro, muito ímpar", no século XIV escrito como Othir, o que indicaria uma origem diferente ao inglês.
Leva a pensar em oitir "barra de areia, baixo, promontório"  pola sua posição no final de um hipotético beco poderia ser.



Ross, também é pensado ser nome inglês, foi interpretado como Ros "madeira".
Ros gaélico tem diversos significados entre eles  "promontório, istmo, península".
É para salientar que os dous becos levariam um nome com o significado de promontório, a oeste Odder hipoteticamente oitir, e a leste Ros.

Belpere, tivo também o nome de Rath Meádhbha.
Belpere
soa a pedra bela, fazendo referência a Lia Fáil ao padrão?
Rath Meádhbha, rath é um vilarejo rodeado de valo alto de terra, ou muro, Meádhbha é genitivo de Meádhbh, nome pessoal feminino, que é derivado do proto-céltico *medwos "bêbedo, drogado". Este rath é o que encerra a hipotética grande tapada, numa posição de alfândega, de passagem, de entrada:




Então a seguir criando a hipótese funcional, a grande tapada, onde seriam mantidos veados para talvez uma caçaria selvagem, e o sacrifício ritual, teria um espaço de entrada que habitaria uma ordem feminina religiosa, uma meiga, uma sacerdotisa, uma ancestral xamã.





Vijoi

 São Fiz de Vijoi (Bergondo). 

Em documentos do Mosteiro de Sobrado, ano 1020, como Boioi.
usque in ueredam Sancti Felicis et inde ad illum castrum de per uereda de Boioi et inde ad linares et inde ad illam lamellam de illa condominia de Ilioure

No 1094, como Sancto Felice d Boio.
de Sancto Felice d[e] Boio cum sua criatione et cunctis adiunctionibus suis ab integro

Os Boios foram um povo da Gália Cisalpina, grafados em letra grega como Βόιοι.

No "Dictionary of Continental Celtic Place-Names..." por Falileyev e outros, Βόιοι é pensado ter o significado do lugar das vacas, proto-céltico *bouio.
No seu Callaica Nomina, o professor Moralejo explica o lexema final -oi, entre outras hipóteses como dativo de singular da flexão temática, indoeuropeu *-ōi, céltico comum -ūi, mas lusitano -oi, -oe,
O que levaria a ser interpretado (boi-oi) como "para o boi, para a vaca, para o gado". A dizer que o caso dativo no proto-céltico tem funcionado como locativo (boi-oi) "a do gado, a da vaca, a do boi".

São Fiz de Vijoi, com a forma de cousso hipotético, transformado em tapada neolítica.
Relevante é que a igreja de São Fiz de Vijoi está no beco leste, mas o topónimo Igreja e o Cemitério estão no beco oeste.
Ora, o Boioi do 1020 fora um século antes: Sancto Felice de Boigoi no 922.


Vijoi em Santa Maria de Marroços (Santiago de Compostela). Com similar conformação a São Fiz de Vijoi, e com toponímia condizente.


Vijou de Arriba e Vijou de Abaixo em São Cristovo de Xavestre (Traço).


Sobre os Boios cisalpinos.
Há duas hipóteses sobre a etimologia do seu nome, como sediados na raiz de boi "os boieiros".
E a de Pokorny (212. bhei(ə)-, bhī-) que os relaciona com "bater, espancar, golpear".

Os Vijois / Vijou galegos, o Boioi galaico, mais semelham ter a ver com o gado. Coussos da mudança do paleolítico para o neolítico, utilizados como tapadas para o inicial pastoralismo, ou já como grandes vedações para manter captivos animais semidomesticados.

No atual País Basco, onde a camáda céltica ficou na toponímia, nas áreas que se "basconizaram" há os topónimos antigos documentados hoje desaparecidos Boiaran, Boiaieta, Boioaldea que são considerados híbridos latino-éuscaros, a olhos do aqui mostrado acho que celto-éuscaros:





Alda (Álava, País Basco), antigamente Boioaldea, ou Boyoaldea com a típica forma tantas vezes mostrada para caça passiva, cousso, transformada em grande tapada.
No híbrido Boio-aldea, aldea nada tem a ver com aldeia, em basco significa "ao lado", neste caso ao lado do boio, do local para o gado.
O estrato céltico teria assim permanecido sob a basconização.



Neste caso Gámiz (Álava) antigamente Boiaieta, onde Boia-ieta, um local em céltico sufixado por -eta / -ieta em eusquera, marcador de plural., marcador de plural em casos locativos.
Então se no céltico boioi era já locativo, *boioi-eta Boiaieta seria duplamente locativo.
Neste caso duas grandes tapadas que partilham beco, onde estava sediada Boiaieta "lugar dos boiois", mais tarde e hoje Gámiz.