-Ergue o bico, maçarico,
Quem che deu tão longo bico?
- Deu-mo Deus pròs meus trabalhos,
pra picar nos carvalhos...
E isto apenas uma cantarela infantil?
Os anacos da lengalengado maçarico que fum dando com eles na rede, podem ser pedaços dum relato único e comum que a jeito de ensalmo poderia ter sido algo mais que um cantar dos nenos e nenas.
Na cantarela conta-se a estória de um maçarico que vai pela vida com aventuras diversas, diferentes segundo as versões, ou talvez apenas lembradas umas, esquecidas outras, ou re-elaboradas.
Neste lugar fum copiando e colando as diferentes variantes, se quiserem ver.
As variantes do relato pertencem ao mundo galaico, das Astúrias, de Portugal e da Galiza.
Pois algo se sabe: na cultura infantil permanecem pedaços dos anteriores costumes, do passado.
Vou amodo peneirando os retalhos do verso:
Exorta-se ao maçarico a que erga o bico, pede-se a sua atenção, vai-lhe ser feita uma pergunta.
Pico, pico, Maçarico ou Ergue o bico, Maçarico.
Quem che deu tão longo bico?
O Maçarico resposta, e nessa réplica indica quem foi a autoridade:
Uma entidade outorgou-lhe essa propriedade penetrante.
Aparecem diferentes nomes para o ser:
As femininas: a Velha chocalheira, a Vaca chocalheira, a Gata borralheira, a Filha da Rainha, com variantes como a Filha do Juiz, a Filha de Dom Luís.
O Trasno, Deus, Deus com diferentes santos: Sam Santiago, Sam Francisco, tamém Nosso Senhorito, o Padre da Vedelha, o Padre da Botelha.Quem che deu tão longo bico?
- Deu-mo Deus pròs meus trabalhos,
pra picar nos carvalhos...
E isto apenas uma cantarela infantil?
Os anacos da lengalengado maçarico que fum dando com eles na rede, podem ser pedaços dum relato único e comum que a jeito de ensalmo poderia ter sido algo mais que um cantar dos nenos e nenas.
Na cantarela conta-se a estória de um maçarico que vai pela vida com aventuras diversas, diferentes segundo as versões, ou talvez apenas lembradas umas, esquecidas outras, ou re-elaboradas.
Neste lugar fum copiando e colando as diferentes variantes, se quiserem ver.
As variantes do relato pertencem ao mundo galaico, das Astúrias, de Portugal e da Galiza.
Pois algo se sabe: na cultura infantil permanecem pedaços dos anteriores costumes, do passado.
Vou amodo peneirando os retalhos do verso:
Exorta-se ao maçarico a que erga o bico, pede-se a sua atenção, vai-lhe ser feita uma pergunta.
Pico, pico, Maçarico ou Ergue o bico, Maçarico.
Quem che deu tão longo bico?
O Maçarico resposta, e nessa réplica indica quem foi a autoridade:
Uma entidade outorgou-lhe essa propriedade penetrante.
Aparecem diferentes nomes para o ser:
As femininas: a Velha chocalheira, a Vaca chocalheira, a Gata borralheira, a Filha da Rainha, com variantes como a Filha do Juiz, a Filha de Dom Luís.
É para mim de destaque que todos estes seres que lhe dão ao maçarico a sua qualidade, o bico, o peterio; todos são divinos, começando polo evidente Deus (Dios), e mais também as distintas denominações, que fam referência a uma qualidade que os ensinamentos católicos não evidenciam na doutrina do catecismo.
E vemos como a pesar do tempo, sem muita poeira encima, assomam.
Ao massarico(1) dão-lhe uma ferramenta, um maço, um punção, para lavrar, penetrar, conhecer, aprofundar, trabalhar.
O Ser, dá-lhe uma qualidade, o peteiro para penetrar na massa, e dá-lhe também uma ocupação:
Deu-mo Deus e Sam Santiago
pra picar nos carvalhos
entre ponlas e ramalhos
Diéumelu Dieus ya mieu trabayo
Deu-mo Deus para o meu trabalho
O maçarico tem de picar nos carvalhos como trabalho, este trabalho está perto do pecado, pois é chamativo que apareça:
Deu-mo o Trasno dos pecados
Dou-mo Dios e os meus pecados
O pecado tão perto do pico, do bico. Pois pecado tem a mesma raiz, pek, marca do bico na matéria, é peca a mácula, a marca, a melha.
Então à ave mensageira acompanhante, dão-lhe a mágoa e a ferramenta de magoar e desmagoar.
Dá-lhe a divindade o pico e o picado.
Esclarecedor é que o Trasno não é um trebelhante qualquer, é o Trasno especializado no marcamento, o "Trasno dos pecados".
Um Trasno talvez ferreiro?
Um Trasno malhante?
O Numenius arquata é umha ave "pecadora", cheia de pintas pretas, coberto de pecas, e com aparente pequena relação com o pescado, ainda que sim tem muita com esteiros marinhos e terras branhentas.
O maçarico recebe o peteriro, ferramenta de alimentação e nas cantigas explica o seu uso.
Na maior parte das versões o maçarico pica no carvalho.
O carvalho é síntese do divino na terra, a árvore de D(z)eus.
É nesse trabalho na dureza que a massa consciencizada anda.
Também pica o pão do agro ou come o pão dos sãos, relacionado com o comungar cristão, este último em ricaz expressão pois é o pão especialmente dos sãos, o pão que o livra do pecado.
Nalguma das variantes aparece: "Fui ao mar pescar sardinha para a Filha do Juiz", onde o maçarico também é pescador.
Relaciona-se o pecado com o pescado, o pecado pescado é volto para à Filha do Juiz.
Fruto desse trabalho, obtém grãos de milho, nalgumas cantigas são três, noutras sete, cem, ou um único grão.
Um cortar e colar dos retalhos que por aqui ficárom da cantiga da ave mensageira do trabalho, em rebúmbio, fica aqui abaixo, algo remexido, mas que pode dar ideia das aventuras da mensageira:
Quem che deu tam longo bico?
Foi o trasno dos pecados
Deumo Deus para o meu traballo
-Doumo Dios e San Francisco
Deumo Deus e San Santiago
pra picar nos carvalhos
entre ponlas e ramalhos
Deumo Deus e os meus pecados Doumo Dios e os meus pecados
Deumo Deus “pra” repicar;
—Deume Deus este traballo
diéumelu Dieus ya mieu trabayo
Deumo Dios c`ol meu trabayo
Doumo noso señoriño
Sarabico bico bico,
Quem te pôs tamanho bico,
foi a velha chocalheira que
Que come ovos com manteiga.
Foi a velha açucareira
Lá da banda da ribeira
Que andou pela algibeira
Procurando ovos de perdiz
Para a filha do Juiz.
Foi a velha chocadeira,
que anda lá pela ribeira
pondo ovos de pinico...
– Foi a filha da rainha
Que está presa na cozinha.
Foi a filla de Don Luís,
que está presa
pola punta do nariz.
Foi a velha chocalheira
Que andava pela ribeira
Aos ovinhos de perdiz
Prà menina do juiz.
Foi o Padre da Abedelha
Pra cegar a sobrancelha;
Foi o padre da botelha.
Foi a Gata Borralheira
Que come ovos com manteiga.
Foi a vaca chocalheira,
que põe ovos em manteiga
Para a filha do juiz,
Que está presa na cadeira
Pela ponta do nariz
pra picar nos carvalhos
entre ponlas e ramalhos
para picar n`aquel carbayo para picar naquel carballo
pra picar neste carballo.pur picar neste Carballo
pra picar no teu muíño. para picar o pan no agro, “pra” comer o pan dos saos
Eu piquei e repiquei, E piquei e repiquei, Piquei e repiquei,
E piquei e piquei e repiquei.
e comín e recomín
repiquei e repiquei;
ya desque piquéi ya piquei
Xa piquei e repiquei
Repicar e repicar,
cun axóuxere a soar.
Tanto piquéi y repiquei que nin ua foya deixei
grans de millo encontrei, tres milliños atopei,Tres “grauciños” atopei.tres granciños encontrei
cen milliños encontrei cen graíño encontrei,
sete graus de millo encontrei.
un grano de mié saquéi
e un gran de millo atopei!
e graiños encontrei.
E levei-n-os ó muino;
Leveino ao muíño
e boteinos a moer
Y-o muino a moere
o muíño a moer
e boteinos a moer
e os ratiños a comer
e os paxariños a comer."
e os ratos a roer
e os ratos a comer. Y-os ratinos a comer. ya'l mieu ratín a cumer.
e leveinos ó muín,
i o muín a moer
e os ratiños a comer;
llevéilu al mulín a muler
Agarrei un polo rabo / Pillei un polo rabo.e collín un polo rabo/ i agarreirnos polo rabo / Sarréilu pula punta'l rabo
e boteino naquel cabo, e tireino ó outro lado. e tireinos contra aquel cabo.
e tamén agarrei outro
e boteino naquel souto
i agarreirnos polas orellas
e tireinos entre as ovellas;
ya tiréilu al outro lado.
e guindeino para outro lado!
e leveino ao mercado
E leveinos ó mercado (os graos)
pra comprar un cocho cebado;
e vendín cen reás por bocado;
“Canto me dan por este corpo cebado?” --¿ Cánto me dades, señores, Por iste porco cebado?¿Canto me dades, señores,
por este porco cebado?
¿Canto me dades por él?
o cabalo de Manuel
Umha mula corredora
e um galo galinheiro
p'ra que che galee as tuas galinhas...
Déronme cen reás por il
e comprei un cabaliño
e víñame enfermo
e morreume
e saqueille a pel
pa fevillas de botós.
--Cen reás com un cabalo
E un can desorellado.
Cen reás e un ochavo.
déronme dez reás por el
e un carto furado.
Douche unha burra rabela
pra andar dacabalo dela!
Ganéi cien mulas corredoras ya un putricu tusquilado
O cabalo estaba coxo
e deixeino xunto a un toxo.
Déronme cen reás por il
e comprei un cabaliño
e víñame enfermo
e morreume
e saqueille a pel
pa fevillas de botós.
¿Canto quere por ese porquiño cebado?
- Sete “reás” e un chavo.
Con aqueles sete reás e un chavo
merquei unha besta rabela
e montei dacabalo dela.
Cien doblicas y un doblón
Tengo una perra perdiguera
que me pilla las perdices
por la punta las narices
Tengo un buey que sabe arar
Tranquiñar
Os cabalos a correr,
as meniñas a estudar.
¿Quen será
a máis bonita
que lle toca escapar?
Fun a cas d'a mina tia,
Doume unha cunca de leite
Co'a culleriña partida.
Chameille torta e retorta,
Deume co'a tranca n-a porta,
Fun por cas de miña tía
cando o sol amañecía;
doume unha cunca de leite;
a cunca estaba fendida
i a culleriña partida.
Fun cear coa miña tía,
deume unha culler partida.
Chameille torta e reterota,
mandoume lava-la porca.
e vin de moita “prisa”
tocando a miña gaitiña
pero víronme os ladróns
e roubáronme os calzóns
E fun por un caminiño,marchei por unha corredoira torta,
Y-encontrei unha cabra morta,atopei unha craba morta,
aqueille unha corna
e púxenme a tocar nela,
toquei e toquei e volvín a tocar,
e decía así: Sebastianciño e vós, vide aquí,
que sete ladrós me teñen preso aquí,
a craba negra e mais a verdegada
están nunha caldeira
facendo unha guisada.
e viñen de moita prisa
tocando a miña gaitiña
pero víronme os ladróns
e sacaronme os calzóns.
Fun pola corredoiriña,
topei unha cornetiña,
que tocaba que rabiaba,
e salíronme os ladróns
e roubáronme os calzóns.
Acudide acá mulleres,
con gadañas e culleres.
E fun por unha sendiña
e atopei unha ovelliña.
E leveille de beber
e bebeu e dixo bee
Pero víronme os ladróns
e sacáronme os calzóns.
E dinlle un puntapé,
E díxome bee.
Fun por unha carreleira torta e retorta
e atopei unha cabra morta.
Arreeille un puntapé
e aquela cabra morta dixo: meee!
(1) O maçarico é essa ave que anda na massa ou que é massa (dough bird no falar inglês da costa leste de EEUU), coa maça, bico, e que pode chegar a macerar-se ao andar sempre coas patas molhadas no limo e na lama.