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Sobre São Pedro da Redonda (1)

 Chama a atenção no visor do mapa sombreado de Información Xeográfica de Galicia, a forma típica de cousso ou granja neolítica, que aparece na freguesia de São Pedro da Redonda (sob municipalidade de Corcubião) que de tão frequente dificilmente pode ser uma pareidolia:



Se a estrutura foi funcional como cousso de caça, isto teria acontecido antes da subida do mar.
Com frequência os coussos de caça apresentam-se em relação uns com outros aproveitando as paredes laterais como comuns:


Este seria o funcionamento dos hipotéticos coussos:


Que levaria a pensar numa funcionalidade muito antiga quando o nível do mar estava muito baixo, aqui uma representação do nível do mar, que poderia ser avaliada cronologicamente:
Modificado de Carta del seno de Corcubión que comprende desde punta Caldebarcos hasta punta Castelo H. 129 A [Material cartográfico] : Océano Atlántico : Costa N.W. de España.





Segundo este gráfico com 20 m o mar mais baixo que o nível atual, 7.000 aC., a funcionalidade de um dos coussos seria nula para o que tem a sua boca a sudoeste, pois a faixa de terra é estreita e não abrangeria uma zona de pastagem e passagem relevante para a fauna selvagem:
Nível do mar na ria de Corcubião Fisterra na altura do 7.000 aC.

Já a funcionalidade como cousso de caça teria acontecido então com o nível do mar em 40 metros sob o atual ou mais baixo, o que dataria o cousso funcional com anterioridade ao 8.000 aC, no nono milénio:
Nível do mar na altura do 8.000 aC.

De como esta estrutura de caça hipoteticamente ancestral determina a toponímia:

O nome da freguesia como Redonda, poderia ter a ver com a funcionalidade do cousso, e se calhar como noutros casos apresentados neste blogue, a posterior granja neolítica, por feche da sua boca e transformação numa grande tapada onde manter animais semi-selvagens em catividade.
Na estrutura de caça que abre a sua boca para sudoeste, no seu beco, bico ou funil de caça, há umas terras com nome cadastral de Redondo, fazendo o frequente curro posterior ao beco:




Uma análise toponímica que revelaria a funcionalidade:
Leira da Casa, aparentemente é um nome que não apresentaria complexidade. Neste blogue já foram apresentados bem muitos topónimos casa, tipo Casa Nova, Casa Velha, Casal, que mais das vezes que poderia ser considerado aleatório, sediam nos becos do cousso, na triplicidade de caça, capsa, casa. Assim, também Junto da Casa e Horta da Casa estão a dar nome ao vértice do funil de captura, de caça.
Lindante com a Horta da Casa está já a Horta do Curro, no mesmo limite, então é a mesma horta, que parte o lugar da caça / casa, do lugar do curro. Onde também aparecem os nomes significativos de Leira da Cancela e Leira da Cabeceira. a primeira a dar a sua funcionalidade pois seria onde teria estado a cancela que fecharia o curro, e a segunda está a dar a sua localização, na cabeça do curro. Nessa entrada do curro o nome de Fonte Grande, podendo fazer referência à existência de uma fonte, mas neste caso, levando ao significado protoindoeuropeu de fonte *dʰenh₂- "fluir", como lugar de frequente passagem do rebanho ou manada.
Leira Junqueira faria pensar num lugar de juncos, mas como se tem apresentado neste blogue: em alguns casos onde não há juncos evidentes, onde o terreno não é húmido, poderia ter a ver com juntar, junguir, de feito teria sido o que aconteceria no lugar em tempos ancestrais.
A norte mas já a entrar na parte estreita estão os Campos Tobelos, um tobo é um buraco, poderia estar a indicar que seria um lugar onde haveria foxos para a captura dos animais.
Cardosas: é comumente interpretado como fitotopónimo, mas também pode ser interpretado desde o carduus latino e o finês karsina *karthina  ou os sámi kä ́rdd, kaarre gaertiegárdi, "curral de renas"   do proto-saami *kārtē, aparentados com os topónimos pecuários  indo-europeus de lexema card-, cadr-, cart- (desenvolto no escrito os cárceres e demais).
Já o nome de Redondo não apresenta complexidade nenhuma, ao descrever o antergo curro redondo, que acabaria dando nome à aldeia e à freguesia da Redonda. E com tanta frequência na análises de estas estruturas em nassa para captura, sedia no lugar do vértice o local religioso.
O nome de Arrocheira / Rocheira, na ideia de arrochar, na dúvida se teria a ver com apertar, arrochar, fechar, ou de muro de rochas ou.... Deixo o que o Padre Sarmiento escreveu, que a meu ver ajuda a perceber a ancestralidade: 
Sin pensar, he venido a parar con la combinación, en no tener por despreciable la etimología de una voz pura gallega, que jamás me había ocurrido. Es trivialísimo llamar en Galicia arrocheyros a los que en Castilla llaman arrieros. La misma voz se usa en Portugal. Pero no sé si se usa en Galicia como en Portugal, la voz que es origen de arrocheyro ; viene de la antigua voz arrocho, que en Bluteau significa aquel palo o garrote con que los arrieros atormentan y agarrotan las sogas para asegurar las cargas. El mismo Bluteau pone el verbo arrochar para significar la acción, pero ni palabra dice del origen de la voz arrocho.

Também:
He sospechado, por lo dicho, que arrocho, viene de la raíz carrus, y con más inmediación de la voz garrote. (57) Saben los gallegos que mudamos la T en C, v. g.: no te quiero: non che quero, y que en algunas voces perdemos la G del principio, como de glande: lande. Así, de la voz carrete, carrote y garrote vendría la voz arroche y arrocho, significando lo mismo, esto es, el palo o garrote, que los arrieros llevan sobre la carga. Acabo de saber que en Galicia se usa también el verbo arrochar por apretar, y es natural se use la voz arrocho o arroche, siendo tan universal la voz arrocheyro.

Noutro escrito:
....significa en Galicia arriero. Esa voz no viene de arre sino de arrocho, que en el padre Pereyra y aun en el padre Bluteau significa aquel palo que sirve para apretar más las cargas, arrollada a él la soga, y dando con él tres o cuatro vueltas. Pero ni uno ni otro autor pusieron el origen de arrocho; tampoco a mí se me ofrece, pero porque el padre Pereyra le pone por latín pertica, me vino a la memoria si aquellos palos a que se arrollan los mapas, telas, sogas, que propiamente se llaman rollos, de rota y rotula o rotulo (aquí el verdadero origen de rótulo) se podrán llamar rochos y con la A arrochos checheando la T.

Escreve esta copla:
Unha verdasquiña,
viorto ou vencello,
levaban nas maus
como os arrocheiros!
Vara de justicia
chaman, eu a creo
vara de arreare
os facos galegos.(*)

 O primário pastoralismo teria sido um seguimento antes do que um guiar, os proto-arrocheiros andam com arrocho, com pau, aguilhada, verdasca ou cacete e apenas seguem o rebanho e tratam-no de meter no embude do cousso.
O que me abre a ideia de Arrocheira ser o lugar dos primários pastores porque ao outro lado está Duques de Fora, que poderia ser interpretado como um lugar de um duque, mas compre lembrar que o duque nobiliário deriva do dux ancestral, que é apenas o condutor, o guiador. A meu ver tanto Arrocheira como Duques de Fora estariam a definir o mesmo, um intramuros e outro extramuros, desde camadas linguísticas diferentes estariam a falar do local pastoral, dos seguidores / guiadores primários de animais ainda selvagens (os seguidos) e semi-selvagens (os guiados).
Isto abriria a possibilidade de arrocheiro e o gaélico àireach estarem relacionados?
Isto entra em relação com o pastoralismo como ofício religião, ou como alguns lugares pastorais neolíticos acabárom em locaias religiosos, apresentado ou esboçado em distintos escritos do blogue (por exemplo no Moneco) e com o nome a leste do mesmo lugar Pei Mogo, talvez *Pai Mogo, se quadra *Paio Mogo, ou um padre monge (moogo palavra para dizer monge no galego-português medieval, latim medieval: monacus, latim clássico: monachus. Mogueira / mogueyra "freira, monja").

Vai seguir sendo analisada a toponímia que envolve o suposto cousso leste:





Prado da Cancela está a dar o nome da função do lugar a respeito do cousso. Podemos observar como o topónimo é duplo e em espelho um do outro, com o caso do Prado da Cancela a norte.
Fonte Seca, como no caso já mostrado, fonte poderia estar no seu significado protoindo-europeu, antes do que na ideia de nascente, manantio, como lugar de corrida, de fluxo.
A Amarela é controverso, pois é pensada uma origem etimológica a ver com amargo. Na amarela há um possível curro circular, uma palavra aparentemente órfã galega é amaro no significado de "intestino ceco", sem uma relação clara com amaro "amargo". Podia ser pensada um relacionamento com o proto-céltico *marwos "morte", numa ideia sim de morte, mas também de final.
Buxanteira, poderia ser um lugar de buxas de foxos?
Pedra do Becho, como pedra sacrificial do becho /bicho, da besta.
Quanto a Parede Nova, quanto de nova?, se como pouco teria sido neolítica, um refeito de uma parede anterior derrubada.
Milheira, já apareceu mais vezes nas análises toponímicas do blogue, num evidente campo de milho, mas, como ocorre tantas vezes quase sempre associado o topónimo com o lugar de encurralamento,pondo-a em relação com os topónimos do grupo mil, neste blogue analisado como protoindo-europeu reunião.



(*)
Manta de retalhos:
O pastor de renas que é pago recebe o nome de ráidi / rájdde / räiđee no saami; no finês raitio é pastor; no carélio raitijoija "pastorear". Para este grupo de palavras é pensado saírem do proto-saami *rājδō "caravana de renas". A meu ver, numa ancestralidade onde o pastoreio inicial apenas teria sido ir atrás de um rebanho selvagem
A controvérsia entre o gaélico escocês àireach "vaqueiro" e o gaélico antigo bo-aire "senhor que possui vacas, que é nobre ao serviço de outro senhor":
Para a etimologia mais difundida aire "senhor, nobre" nada teria a ver com àireach. Aire entroncaria com a etimologia mais difundida de ário. 
Aire no gaélico irlandês tem dous significados que aparentemente não são relacionados, um é o de nobre, ministro e outro é o de atendimento, cuidado.
Como já foi desenvolto em outros escritos um dos principais valores do bom pastor é o da atenção plena e continuada.
Aqui seria proposto que todos estes significados aparentemente diversos, teriam nascido do aro (neste caso da Redonda) onde o gado semi-selvagem era acurrado e cuidado, vigiado.
Assim o ário, aire, como primário nobre, teria sido o pastor principal, aquela pessoa avantajada para o cuidado e guia do rebanho.
Assim o àireach teria sido o *ario-ākos, o do aro pecuário, do curro. 
Arrocho (significados no Dicionário Aberto): Pau curto e torto, para apertar as cordas com que se ata um volume, cargas, etc. Cacete. Bordão, com que se espanca. Para confrontar com o asturiano-leonês ruchu / ruche "rebento, renovo de árvore" e com o trasmontanismo rocha "vara para apanhar fruta", com as variantes roca e rocão.
Isto ligaria com o germânico roca, proto-germânico *rukkô. Mas a primária roca é apenas uma vara que leva o molho de lã, nada ainda tem a ver com rolar, nem com roda, conceitos nos que a etimologia germânica sedia a raiz do seu étimo *rukkô.
Quer dizer a roca galaica é a vara que sustém a meada de lã e a máquina da roda de fiar; enquanto no germânico é apenas a roda.
Isto levaria a um deslocamento de significados, de pau ➜ pau cilíndrico ➜ roda, que seria aplicável ao conjunto de rucha / ruche, arrocheiro e roca de fiar, e ao rodo, rutis, roda e rádio? Confronte-se com o par asturiano rollu e rolla.
Sobre o proposto polo Padre Sarmiento de arrocho ser uma palavra com consoante inicial garrocho: o Padre Sobreira diz que arrocho é um pau do moinho, com a variante garrucho. Não identifico que pau pode ser, e com qual função no moinho.Também arrocho poderia ter a ver com rodo, como outras das realizações fonéticas do pau de mando.

Cheiro

Cheiro é uma palavra de etimologia divulgada como derivado regressivo de cheirar.
Cheirar é um verbo de etimologia divulgada como evolução do latim flagrare, forma posterior a latina clássica fragrare.
Cheiro nasceria, segundo esta linha etimológica da sequencia: fragrare, flagrare, *flarare, *charare, cheirar.



Então poderia ser lançada outra hipótese para a etimologia de cheiro e cheirar, que viria de um celto-latino: *flao, raiz do verbo  flō, flāre, flāvī, flātum ", soprar o vento; assoprar, respirar". Confronte-se com o gaélico escocês fàile "ar, atmosfera; cheiro, recendo, odor".
O que ligaria etimologicamente o cheiro com o ar, com o vento.
O gaélico escocês tem uma volta, porque fàile "ar, atmosfera; cheiro, recendo, odor", dizem estar aparentado, ser derivado de àile "ar, atmosfera, cheiro, recendo, odor, vento, brisa, força do vento".
Este par gaélico escocês àile fàile ajuda a perceber a relação entre ar e cheiro, e dá uma ração aos órfãos greco-latinos ᾱ̓ήρ (āḗr) e aer.

Então, possivelmente não tudo venha do latim. E na Europa talvez estivessem sendo faladas palavras de base em *flao / *phlao para dizer odor, cheiro quando Roma começa a sua invasão.
Assim poderia ser suposta uma foma como *fla(o)arius *fla(o)aria (confronte-se com occitano flaira "recendo, cheiro, fragrância") raiz  que daria o substantivo e do substantivo teria nascido o verbo de cheiro + -ar., à inversa de como a etimologia mais divulgada propõe (cheiro como deverbal de cheirar).

Mas então se o cheiro é um adjetival que se substantiva, que significado teria a raiz *flao?
O francês fleurer pode dar uma dica pola sua proximidade a fleur.
Fleurer
significa "exalar um odor;  cheirar, sentir o cheiro; soprar, borrifar" (volta a ser presente a relação entre cheiro e vento).
Isto ajuda a perceber o porquê dos significados em galego de palavras da raiz arcaica chor "flor" como relativamente próximos a cheiro:
Churume, chora, churumar, churuma, charuma, cherúmia, chirima, chirúmia, chirima, chorida, chorima, chourima, churima, chusmigo, churuco.

Por exemplo churume é "cheiro, fragrância".
Mas churumar é "florescerem os tojos e as giestas; perfumar, aromatizar; sazoar a comida com temperos".

Então poderia ser que a flor chor, flos *flao tivesse a ver com a raiz céltica (Matasović) para as flores *blātus (antigo bretão: bloddu, córnico antigo: blodon, galês medieval: blaud, gaélico antigo bláth, gaulês: blātunā).
A meu ver, e podo estar errado, a raiz seria mais aproximada a *blaotus, que nas falas peninsulares teria presença nas palavras como broto, brote, brocho.
Assim atendendo à lei de lenição/fortição *flao e *blao(tus) estariam nascidas da mesma raiz.

O que levaria a pensar que o conceito-palavra de cheiro teria nascido do conceito-palavra de chor.