Tem-se interpretado como um antigo latim vitis ferre, mas não acho documentação nenhuma que o confirme.
O topónimo com base em vide, e vide, mesmo aparece nas hipotéticas estruturas de caça, coussos, e nas também hipotéticas grandes tapadas neolíticas.
Vide, videira e similares são interpretados como fitotopónimos da vitis latina, mas nalguns casos de toponímia de base vid-, como vidueiros e semelhantes, (também fitotopónimos de vido) já se têm mostrado como possíveis evoluções de toponímia baseada em vitulus / vitellus "vitelo".
Morfologicamente, vitulus / vitellus são diminutivos criados sobre uma palavra latina que poderia ser vita "vida", ou uma palavra ancestral latina vit- não documentada, que seria cognada das germânicas:
no gótico: vithrus,
no norueguês antigo: veðr,
no sueco antigo: withar,
no anglo-saxom: vether.
no antigo alto alemão: vidar.
no novo alto alemão: widder.
Com o significado geral de carneiro, ou carneiro castrado. Esta raiz germânica *weþruz a etimologia mais divulgada tem relacionado com o tempo, do protoindo-europeu *wet- "ano, de um ano de idade", anelhos, anelos, anolhos, anacos, anejos.
Para confrontar com o sânscrito भेड (bheḍa) e भेडी (bheḍī) "carneiro e ovelha" / भेड्र (bheḍra) "nome comum para a ovelha e o carneiro".
A este grupo etimológico do protoindo-europeu *wet- pertenceria vidente, palavra hoje de pouco uso com o significado de "carneiro ou ovelha".
O fedelho "o irrequieto, o inquieto" tem um significado pouco usado de "animal inteiro, macho não castrado", que condiz com a ideia de que o adjetivo nasce sobre um substantivo. Mas também fedelho significa incensário.
Nesta linha do *wet- protoindo-europeu, aparentemente próximo a fedelho (bedelho "criança jovem") estaria o gaélico escocês beadagan "impertinente, insolente, petulante, frívolo; farroupilha; carneiro de um ano; contador de estórias, poema malicioso; adolescente com alto apetite sexual". Com beadrag /pɛdɾak/ "animal de estimação, cordeiro, anho".
Esta palavra fedelho liga, aparentemente sem muita razão, três ideias: o animal inteiro não castrado, a inquietação e o cheiro.
O que levaria a pensar no bode e no seu costume de urinar sobre si, na face mesmo, para ter cheiro.

Este elo ajudaria a perceber a origem do latim foedus "imundo, repugnante; infame, vergonhoso; destrutivo"; com uma origem que ficaria desligada do fumo como diz a etimologia mais divulgada, e sediaria-se foedus no bode fedelho.
É por isso que no latim fedus é nome para o cabrito, considerada palavra do sabino.
Fedus, hedus, haedus, hoedus, aedus, ēdus, seriam realizações do protoindo-europeu *wetus "anelho, de um ano" na zona central da península Itálica na idade do Ferro.
Esta hipótese de ligar foedus "imundo" com fedus "cabrito, bode", também contradiz a etimologia mais divulgada de haedus, que é quase considerada órfã, ligando-a com o proto-semítico.
Então esta paisagem neolítica reconstruída seguindo os caminhos antigos e limites cadastrais:
Mostraria uma grande tapada que teria dous lugares de refúgio, de guarda, nos vértices, a leste Lama Redonda e a oeste Videferre.
O segundo lexema de Videferre, -ferre, faria pensar no ferro; casos similares já se têm analisado na toponímia associada a coussos e tapadas neste blogue, onde lugares de nome com raiz ferr- poderiam estar a ocultar a ideia de encerro, cerre, cerro, na frequente variação dos fonemas /f/ ⇆ /θ/ (cerralheiro ⇆ ferralheiro).
Então este vide-ferre seria o lugar de encerramento dos *witus, dos animais semi-domesticados, o local onde acurrar o rebanho semi-selvagem.
A confrontar com Vedilhe de Muras:
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Fedepedro em São Miguel de Orga (Celanova), a fazer parte de uma hipotética grande tapada, estrutura similar à anterior de Videferre.
Neste caso de Fedepedro, o nome parece formado por dous lexemas: fede-pedro.
O primeiro, fede-, poderia ter a mesma origem que o vide- de Videferre, de um hipotético protoindo-europeu *witus "anojo", que o fedus latino "cabrito", o fedelho acima explicado.
Também este local ajuda a perceber a duplicidade no latim de foedus "imundo" com o foedus "liga, união; pato, aliança; matrimónio".
No lugar de fede-pedro ocorreria a união, o ajuntamento dos animais que pasceriam na grande tapada e seriam acurralados nos vértices da mesma.
Ora, também este local de Fedepedro ajuda a perceber a génese da palavra feudo que a etimologia clássica deriva do hipotético frâncico *fehu "gado, propriedade, propriedade, taxa".
Par a Fedepedro está o Tourinho do Campo. Tourinho pode ser percebido como touro pequeno ou como "do touro", com a mesma ideia subjazente da palavra toural.
Como a raiz germánica *fehu teria desenvolto um -d- no latim medieval foedus feudus?
Seja como for (tanto o suposto frâncico *fehu "gado", como a suposta raiz do latino fedus / foedus "cabrito") estaríamos diante de uma abstração do significado de gado para o significado de propriedade, que é frequente nas línguas indo-europeias. Gado é sinónimo de fazenda, e fazenda é sinónimo de propriedade e mesmo de economia.
A hipótese aqui proposta é que o conceito *wetus (*weþruz, fedus, *fehu) "gado" deslocou o seu significado a foedus feudus "propriedade".
Confronte-se com o sânscrito वेद (veda) "propriedade, conhecimento..." e भेड (bheḍa) e भेडी (bheḍī) "carneiro e ovelha" / भेड्र (bheḍra) "nome comum para a ovelha e o carneiro".
Isto seria uma transformação paralela ao já apresentado neste blogue (Ovelha como nome secundário):
Aedes, aedis em latim (eido galego, eiddo galês) teria relação com aedus, edus, haedus, hoedus "cabrito" no mesmo latim. Então o eido primário latino aedis seria uma forma dativa ou ablativa, talvez locativa de aedus, com o significado de "para o cabrito, do cabrito".
Isto poderia ser corroborado polo sânscrito onde ovelha tem os nomes de एडी (eḍī), एडका (eḍaka) e ऐडक (aiḍaka).
Por exemplo no sámi uma palavra para a barreira, para o valo é áidi. Que estaria em relação com o eido galaico e o eiddo galês; explicado do seguinte modo: o muro áidi encerra um lugar privativo, um eido; dentro de esse lugar privativo está um animal aedus / haedus que é propriedade de alguém e portanto não pode ser caçado, matado, por outros.
Estaríamos em uma estrutura primária ancestral (pola possível relação nostrática entre eido indo-europeu e áidi urálico) que encerra um animal que poderá ser sacrificado.
Intentando ressumir:
O animal *wetus desloca o seu significado dando nome ao lugar de reunião do rebanho, e daí à união, juntança, liga.
O animal *wetus desloca o seu significado para dar nome ao fedor.
O animal *wetus desloca o seu significado para dar nome ao irrequieto e impertinente.
O rebanho de *weti desloca o seu significado para o de propriedade.
Quanto ao segundo lexema de Fedepedro, -pedro, poderia a estar a dar o nome do possuidor do rebanho, ou mesmo a significar que o valo de encerramento do curro para rebanho é de pedra, em contraposição ao valo de terra que normalmente envolveria a grande tapada.
Aedes, aedis em latim (eido galego, eiddo galês) teria relação com aedus, edus, haedus, hoedus "cabrito" no mesmo latim. Então o eido primário latino aedis seria uma forma dativa ou ablativa, talvez locativa de aedus, com o significado de "para o cabrito, do cabrito".
Isto poderia ser corroborado polo sânscrito onde ovelha tem os nomes de एडी (eḍī), एडका (eḍaka) e ऐडक (aiḍaka).
Por exemplo no sámi uma palavra para a barreira, para o valo é áidi. Que estaria em relação com o eido galaico e o eiddo galês; explicado do seguinte modo: o muro áidi encerra um lugar privativo, um eido; dentro de esse lugar privativo está um animal aedus / haedus que é propriedade de alguém e portanto não pode ser caçado, matado, por outros.
Estaríamos em uma estrutura primária ancestral (pola possível relação nostrática entre eido indo-europeu e áidi urálico) que encerra um animal que poderá ser sacrificado.
Intentando ressumir:
O animal *wetus desloca o seu significado dando nome ao lugar de reunião do rebanho, e daí à união, juntança, liga.
O animal *wetus desloca o seu significado para dar nome ao fedor.
O animal *wetus desloca o seu significado para dar nome ao irrequieto e impertinente.
O rebanho de *weti desloca o seu significado para o de propriedade.
Quanto ao segundo lexema de Fedepedro, -pedro, poderia a estar a dar o nome do possuidor do rebanho, ou mesmo a significar que o valo de encerramento do curro para rebanho é de pedra, em contraposição ao valo de terra que normalmente envolveria a grande tapada.
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