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Boimil?



Sobre a freguesia de Boimil no Concelho de Boimorto.
A Freguesia de Boimil tem associado o seu nome à lenda que conta que havia um rebanho de mil bois. A lenda segue relatando que um boi fugiu e daí saiu o nome para o lugar do Boído, outro boi morreu na gândara e deu nome a Boimorto. Quando era a feira e levavam os bois para Melide, ao passar o rebanho polo alto entre os Condes e as Branhas, desde longe, o único que se via, de tantos bois que se juntavam, era uma carvalheira de cornos, daí que Corneda se chame corneda.

Entre a freguesia de Boimil e a dos Ángeles havia uma antiga corredoira muito funda; agora a "concentração parcelária" desfixo, desfez a paisagem, e ainda que a nova pista segue mais ou menos o antigo traçado, a via perdeu o enigmático...e já não comunica ambas as freguesias entre os lugares de Linheiro e Codessido.
Nesta corredoira, um treito, um trecho, leva o nome de Porta-rodas, quando começa a subir cara Boimil, depois de passar o rego que vem dos prados das Botas, (que dizem ser uma das várias fontes do Isso). Porta-rodas é também o nome dos terreos dessa zona.
Porta-rodas tem sido um micro-topónimo enigmático para mim, já desde neno. Imaginava alguém fazendo rodas de carro, ali mesmo, de algum dos velhos carvalhos que medravam nos valos da encosta.

Mas agora Porta-rodas abre-se como a porta das rodas, e que é uma roda?, pois roda é o muro dum castro ou o muro de algo semelhante a um castro, um grande valado circular.
Não é só a porta de uma roda, é a porta de várias rodas.
Mas essas rodas não tenhem, têm, o jeito de ser castros?, pois não!


Hipótese:
Tratava-se de uma grande exploração pecuária pois é suposto as rodas serem chousas para guardar o gando, e que haja várias rodas juntas isso quer dizer que poderia haver diferentes animais, cavalos e vacas ..., que também poderia haver um diferente maneio das vacas segundo fossem paridas ou não, a recria, ou a cria de bois desde bezerros.
Nos seguintes mapas é tratado de explicar como Boimil, coas evidentes rodas, estava situado entre uma zona de monte relativamente "pobre" e uma zona de veiga e prados de boa produção de erva, comunicada por esta corredoira de Porta-Rodas.

Os mapas dão para observarmos como as camadas posteriores agrícolas se super-pugêrom, se super-puseram, à velha camada neolítico ferro.
Este tipo de exploração pecuária obriga a uma sociedade complexa.
E saem as perguntas: Para onde iria tanta produção?,  como seria a sua distribuição e mercado?, quem trabalharia cuidando tantos animais?, como se organizariam?, como seria a propriedade?
Estamos a falar dum grande espaço, no mínimo 300Ha, no máximo quase 500Ha, com a possibilidade de manter, gerir um rebanho de 300 a quase 500 cabeças.

Mas qual pode ser a origem paleolítica, mesolítica de Boimil:




Boimil tem a estrutura de cousso de caça passiva, mais alargadamente explicada no escrito "Os coussos".
A sua topografia e toponímia teriam uma explicação condizente em tempo e uso do que foi um boimil na altura, que será tratado mais abaixo.

 Quanto outras explicações da origem de Boimil, desligadas da sua topografia, a linha germânica indicada pola teoria de Joseph-Maria Piel e Dieter Kremer, fam/fazem, derivar o nome de Boimil de um possuidor germânico de nome Baudemirus, no seu genitivo: Baudemiri.
Segundo estes autores provém de uma hipotética forma *Baduiz "governante, rei", Baudiz-mirus, sendo mirus "maravilhoso, extraordinário", ou do germânico *meraz "grande, ótimo, excelente, famoso".
Boimil viria sendo algo semelhante a: "(a vila) do rei-famoso".

Não dou coa fonte da que estes autores tiraram *baudiz como rei.
O mais próximo que acho é *balþaz "forte, ousado" que deu no francês antigo baud "audaz, ousado, valente, arrojado", e com mais descendentes nas distintas línguas germânicas, por exemplo no inglês antigo beald.

Em El Nombre de los Antepasados: Toponimia Gallega de Origen Antroponímico (I v2.0), de Cossue (Fror na Areia),  publicado no portal Celtiberia, propõe esta etimologia germânica para Boimil / Boimir:
Boimil; *(villam) *Bonimiri: de Bonimirus (Boni + mir) Boimir; *(villam) *Bonimirus: de Bonimirus (Boni + mir).

Quanto à linha céltica: Considera-se que houvo uma proto-forma *baus que derivou no bretão bu, no galês medieval bu e buw e no gaélico .
De uma raiz indo-europeia *gʷṓws.
Confronte-se como ainda lhes afalamos e falamos às vacas na Galiza: "ghuó, guó, uó, uou, guou, ghuou", do mesmo jeito que nas Astúrias.
Atenda-se também ao fóssil do indo-europeu vivo na zona asturiana, em Cabrales: guö "boi".
Dizer também que nas Oumanhas a palavra para afalar às vacas é em ortografia castelhana juo /xu.'o/.


A muita quantidade, mil, nas falas célticas tem a mesma origem que no latim, de onde é crido que deriva este numeral.
(com hipótese de que mil tenha uma raiz comum nas falas célticas e latinas?)
Assim no gaélico é míle, com as variantes: míli, mílte, milib, mílib, córnico: myll e myl, bretão: mil, galês: mil.

Num dicionário etimológico do italiano, a tratar sobre a palavra mille "mil", dá boa lição:
Do latim mille, antigo latino meille, albanês milje, afim ao germânico myrios "inumerável", com referência ao sânscrito मेल  (transcrito mela, pronunciado em hindi, seguindo o link, a algo semelhante a /mil/) मेल dá a ideia de "reunião, assembleia, grande juntança".
Esta linha, aberta polo dizionario etimologico italiano, liga mil com mel, que dizer a juntaça de muitos, a mesma juntança ou elemento que liga, a substância peganhenta, e a quantidade ligada em abundância semelham ter a mesma origem.
Atenda-se a como a etimologia latinista no francês deriva forçadamente mêlée de derivados hipotéticos do verbo misceo.
Por exemplo mêl no gaulês dá a ideia indo-europeia apontada polo dizionario etimologico italiano, no galês, mêl é mutação de bêl, "tumulto e mesmo guerra" (confronte-se com o latim bellum), mêl e também "fardo de palha ou erva", e mêl é também o "mel".

Segundo isto último Boimil poderia estar numa hipotética evolução da forma indo-europeia: *gʷṓws-mela.
"juntança de bois." (Aqui algumas fotos aéreas de lugares com o topónimo Goimil / Güimil e semelhantes).

A linha latina é também muito clara bove e mille,  boves-mille; ainda que polo comum em latim a ordem costuma ser: mille boves.

Quanto a diferenciar uma roda de castro ou de juntaça humana, de uma roda para bois ou cavalos, está no desenho:
Os prados ou curros analisados têm esta forma afunilada na boca, porque permite a saída dos animais do espaço do curro sem aglomerações e ajuda-lhes a identificar claramente por onde é a saída, cousa que se for circular não ocorreria.  Nos territórios que sofreram pouca reestruturação desde o seu contínuo neolítico-ferro é possível observar que muito está estruturado para a condução do gando. O gando não quer ângulos, melhor dito, para trasladar e mover o gando, este caminha melhor por caminhos elípticos.
Uma paisagem que conservou até finais do século vinte este antigo desenho foi a freguesia de Soandres (Laracha).
Por exemplo a aldeia de Vilamir:









A Chousa do Mil em  São Pedro do Val Gestoso (Monfero).



Topónimos referidos ao Mil como Cruz do Mil, Branhas do Mil ou Panda do Mil entre as freguesias de Recemel (nas Somoças) e Espinharedo (nas Pontes de Garcia Rodríguez). Cruz do Mil é para mim um topónimo transparente pois costuma dar nome ao bico da chousa pecuária.







A Amil de Santa Maria de Cambre, tem uma forma de cousso de caça passiva, que está mais explicado no escrito "Os coussos".










Vila Amil, nome de uns terreos agrícolas na freguesia de Doninhos. Pode ser visto que está dentro de um cousso dos apresentados neste blogue.
Talvez a relevância no passado de este lugar quedou refletida no apelido Vilaamil, deturpação ortográfica de Vila Amil, presente no concelho de Ferrol.



Hipotético cousso de caça passiva de Vila Amil em Doninhos, o que levaria a ser datado polo 6.000 aC quando o nível do mar estava muito mais baixo.



Para a subida do nível do mar há diversas gráficas entre elas:

Isto daria-lhe à chousa uma antiguidade superior a seis mil anos.





Estaria falando a lenda do Val Verde assulagado da inundação de uma vedação de caça ou de reunião de animais semi-selvagens em domesticação, em volta da qual uma comunidade humana estaria assentada.
A explicação:

Verde, poderia ter a ver ou com o galês perth / córnico berth, vedação, de um protocéltico *ku̯erku̯-t- "cercado" que tem a ver com quercus, no celta p e celta q esta palavra de vedação teria um protoindo-europeu *perku̯u e indo mais atrás a um anterior celta-p e celta-q: *ɸert, que ligaria com vert- diretamente ou com *wert-.
Assim o hortus *ǵʰortós seria parente do *wertus
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No tocariano B wertsiya "assembleia, conselho, encontro, comitiva, companhia", teria a ver com os verdes toponímicos?
O latim virdis ou viridis, poderia ser vistos como genitivos adjetivais originariamente derivados de uma hipotética forma *viridus que poderia ser *werēdos, de um proto-celtico *uɸorēdos (cavalo), gaulês ueredos, latim veredus "cavalo de posta".
Onde o cavalo teria (por tradição indo-europeia) um nome tabuado que viria ser "o do curro, o da vedação", confronte-se com a teoria de pomarinho e roma *gʷṓws-*mn̥:
Onde o radical *virt ou *vir estaria no fundo da génese de palavras pecuárias, do mesmo modo que *gʷṓws.
Sendo então *viridus, *viredus a reunião de *vir "caça", confronte-se com; *wiHrós que é derivado de *weyh₁- “caçar, confronte-se com o. sânscrito वेति (véti), lituano výti.
Este *vir *ɸiro/*ɸero, confronte-se com fera e herói.
Quer dizer a vereda inicial seria inicialmente a manada domesticada?, em contraposição à besta selvagem?, o rebanho, acabando por dar nome ao caminho feito polo passo milenar do rebanho.
Confronte-se no galês gorwydd. "cavalo de sela" e "borda de floresta ou floresta, cômaro arborizado".

Então teríamos os paleolíticos-neolíticos Verdes como iniciais locais de caça, "coussos" para depois mudarem com a exploração de animais selvagens em domesticação, em recintos pecuários.
O Val Verde da lenda de Doninhos teria esta origem.




A Amil em Santo André de Meroi (Mondariz).










































































































































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Amil de Mesia, para reparar nos dous tipos de becos que tem o cousso, no lado oeste com um curro circular onde está a igeja sede da paróquia. Este cousso semelha secundário a outro cousso maior, como noutros casos também é observado:


Amil e Asrtrai. Semelha que Astrai foi o inicial, maior.



Amil entre São Martinho de Currás e São João de Amorim (Tominho).





O Amil de Santa Maria de Castelo (Traço).


O Amil de São Paio de Ninho d'Águia (Santisso).



Amiles em são Paulo de Porto (Salvaterra do Minho).


Quanto à linha galega da lenda: Boimil é um claro mil bois, muito boi.
Agora venham com essa: "Não é boi que é vaca!!"

Bertamil, atendendo ao que poderia ter sido bert- (perth) Bertamil, "a sebe do mil"?


Bertamil de Santa Ougea de Lobás (no Carvalhinho)




Bertamil de Giã (Friol).




Bertamil de Entre-Ambas-Augas (Guntim).



São Pedro de Belmil (Santisso). Belmil descodificaria-se como Bel-  "(céltico) boca" e -mil "juntança, curro": o curro da boca.


Bertomil de Brates (Boimorto).


Sobre Bertomil e similares:
Birtar é romper, crebar, britar, também é quebrantar uma lei.
Birtada / britada é a parcela de terreno arroteada, roturada, transformada em lavradio.
Confronte-se com vessar, hipotético versar (*werthar).
À par de birta existe virta.
Virta é um terreno vedado, com muro ou valo, nalgumas zonas um terreno de culturas, noutras um monte murado, também chamado de virto.
Virta é o comareiro limitador de um terreno de lavoura, a parte entre propriedade e propriedade que não é arada.

Polo lado céltico birto / virto teria o seu parente no galês perth "sebe, arbusto espinhoso, matagal, bosque cerrado, touça (zona de lenha), selva, zona rural"; com a forma parelha córnica berth / perth. Esta raiz pode estar na origem de topónimos de raiz bert-, como Bertim, Bertomil, Bertamirans...
Berth também dá uma outra face à palabra aberto, (a-berto) "sem berth, sem sebe, não vedado."
Celta P, celta Q, haveria que esperar uma forma *kerth: quercus?, cerca?, circo?
Para observar que em Bertomil há o topónimo Bertul.




Toimil em Santalha de Pena (Begonte) com a aldeia de Sandulfe.






Françomil de Santa Maria de Sendelhe (Boimorto), um mil, um cousso que tem um caminho que o corta e faz perder a sua função. Pode ser observada a sua evolução em cousso de captura, como num dos seus becos, no do leste tem um curro circular, no seu sul o Castro que é cronologicamente muitíssimo posterior. A destacar que a encosta de território do seu lado leste tem o nome de Esmoriz (mais explicado no escrito "os Coussos")


Fermil de São Tiago de Pantim (Valdovinho)



Fermil de Faro (Viveiro).




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