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Xamanismo paleolítico na esculca etimológica




A palavra meco:
personagem legendária à quem lhe eram dadas as culpas de tudo
ente imaginário para amedrontar as crianças
dianho
remoinho de vento
máscara do entrudo tradicional em forma de cabeça de burro
boneco de entrudo que é queimado no final das celebrações
máscara de entrudo
máscara de procissão religiosa católica
arte de imitar os gestos e falas de outra pessoa
mimo, necessidade de afeto; capricho
afago, carícia
borboleta noturna
pequeno verme
médico

Junto com a palavra asturiana mecu:
nome usado entre marinheiros por tabu ou superstição para evitar nomear o padre ou cura católico
demônio






Também as expressões:
Fazer méquias e mais fazer méquis:
fazer caretas, momices, fazer movimentos, gestos, diante de una persona, por mofa, zombaria ou divertimento, com uma luz ou tição.


Da raiz proto-ondo europeia *megʰ
Siríaco clássico 
ܡܓܘܫܐ (məḡūšā) "sacerdote do zoroastrismo, mago".
Persa antigo 
𐎶𐎦𐏁 (m-gu-š /maguš/) "sacerdote do zoroastrismo".

Havendo meco com toda esta raiz proto-religiosa do xamanismo inicial, com a variação mec-/ mag- , a palavra meiga, tem fácil explicação?



Quanto aos significados de meco adjetivo como "falto de":
que está incompleto, que está falto
torto, que vê apenas por um olho
virolho, que padece estrabismo
que tem pouca visão
que tem os olhos claros
que tem os olhos pequenos
que tem laganhas nos olhos
com uma ou as duas orelhas cortadas

Mais também mecu no asturiano como adjetivo:
a falar da vaca que tem um corno para arriba e outro para abaixo; que tem um corno para abaixo
virolho, que tem estrabismo
de poucas palavas, nada comunicativo, introvertido
pouco resolutivo, incapaz, parado.

Tem no assírio:
mekû  "desleixar, ser negligente"
mēkûtu "falta , carência / necessidade , escassez".

Então é sabido que o xamã é escolhido polas suas incompletudes, polas suas carências ou defeitos físicos.

Na língua asturiana mecu tem a variante megu com os mesmo significados, acrescentando que megu e mega significam bruxo, bruxa ou ajudante de bruxa, e médico, médica.
Também no vale do Xálima de fala galaico-portuguesa arcaíca, mecu significa médico, como no galego meco.
Esta linha mecu / meco  com a ideia de médico era pensada numa crase de mé(di)co, mas a presença no asturiano do par mecu / megu "médico" junto com o feminino mega "meiga", alicerça a palavra como primária e não derivada de médico.
Este par asturiano mega e megu junto com mecu e as palavras galegas meiga e meco completam-se entre si e dão muita profundidade.

Também não é por acaso que na lenda do Meco de Ogrove, o Meco seja crego, e leve o nome de João, Jão da Meca....

Povos originários da América do Norte do leste atlântico, Semínolas, o povo Creek, os Cheroquis, realizam uma dança extática, que consiste em bater com os pés repetidamente e continuamente no chão durante horas. Esta dança está comandada por um chefe cerimonial, de nome Meko, assistido por ajudantes, um segundo no cargo: Heniha, um ajudante curandeiro: Hillis Hiya, e um porta-voz do Meko: Meko Tvlvswv.




Miko (巫女) em japonês dá nome no xintoísmo às mulheres sacerdotisas. A miko anterga era xamã, medium, profeta.

Quanto à relação do meco com o latim moechus e o grego μοιχός  (moikhós) poderia ser percebido que nestas línguas poderia ser um resto da figura xamânica?
A linha etimológica do moechus "adúltero, devasso, depravado" latino é muito curta, vai dar ao grego μοιχός  (moikhós) com o mesmo significado, e daí é feito um salto a ὀμείχω (omeíkhō) “eu mejo, do verbo mejar/mijar”. Aparentemente sem uma conexão lógica.
Dai ὀμείχω (omeíkhō) teria uma raiz proto-indo-europeia *h₃meyǵʰ: confronte-se com *megʰ.
Haveria pois uma ligação entre a micção, o mejar/mijar e o meco?
Nas culturas baseadas na Amanita muscaria, a relação entre a urina e o xamã ou padre religioso está muito presente.
A Amanita muscaria tem além do enteógeno substâncias com toxicidade. Mas a substância enteogénica é eliminada na urina sem presença de tóxicos, é por isso que em ritos xamânicos, e mesmo na Pérsia, a urina de quem comeu A. muscaria é reaproveitada por alguém hierarquicamente superior para livrar-se dos efeitos negativos do tóxico.

Podemos reparar na proximidade de μοιχός  (moikhós), com o par moico / mouco "sem um chifre, sem chifres e outros significados" ....

Rebenta-bois



O mecoro na gíria do cesteiros é o carneiro, a meca é a ovelha:

Assim mengo é nome de uma raça de ovelhas ariscas, mengo também é nome do demo, do mimoso, do queixoso.
Mengo tem por par menjo, e daí menjugo, menjengo, meijengro ....
Um lexema, conceito, antigo que gerou muito vocabulário.



Para pôr aqui a palavra valuro:
Com os significados de:
Usureiro; ambicioso
De corpo desarmónico.
Obeso.
Desleixado.
Feiticeiro, médico, sacerdote, milagreiro e profeta.
Espírito maligno, demo.




















Depois de escrever isto: soubem que o professor Higinio Martins Esteves tratou este tema no seu escrito RELIGIÃO E MITOLOGIA DOS POVOS DE LÍNGUA CÉLTICA.
Obrigado. 🙏

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