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Brufe e similares.

 Vão ir sendo apresentados mapas de lugares com o nome de Brufe e os da sua família, e será lançada uma hipótese da sua etimologia.

Brufe da freguesia de São Pedro de Borrifães (Oça-Cessuras):




Possíveis evoluções da estrutura de caça a granja neolítica.


Toponímia do cousso, granja da que formaria parte Brufe.

Outros Brufe e similares:
Brufe na União das Freguesias de Barreiros e Cepões (Viseu).
Brufe dá nome também a uma freguesia extinta nas Terras de Bouro.
No século XII no tombo de Tojos Outos:
...et in villa Curuido ubi dicunt Berufi ...
...Sancti Johannis de Lausame inter duos riuulos Ceidom et Traua in loco certo in villa de Berufi...
Também Brufe é uma freguesia de Vila Nova de Famalicão:


Pode ser observado (São Martinho de) Brufe (Vila Nova de Famalicão) como envolve o nascimento de um ribeiro, Vinhais, desenhando a forma frequente de um cousso de caça.


Berulfe de São Vicenzo dos Vilares (Guitiriz)

Viḷḷagrufe, antigamente Villabrufe (Allande):



Na toponímia está ortograficamente transcrito o som do ḷḷ como ch, assim é Ḷḷamas ou Vaḷḷe.
Carbayeu é Carbaeu.
San Martín de Viḷḷagrufe tem a forma típica de um cousso de caça, com evolução a granja neolítica.
A toponimia etimológica mais divulgada associa esta vila a um possuidor de nome Berulfus.
Viḷḷa, estaria a ter o seu significado primário como paliçada, cerca:
Recolhido polo dicionarista Alvarellos (modificado):
En algunas comarcas llaman vilar a los campos de centeno que, después de sembrado, se cierran con un valado que no se derruba hasta que se siega, y queda el terreno a restreva o palharega.





Gorolfe de Santalha de Pascais (Samos), a sua forma não é a costumada simétrica que tem um cousso. Com toponímia condizente já neste blogue analisada: Pertegal, Pumareda, Cao, Gontão, Val de Ameijo / Val de lameijo.
No trabalho intitulado "A toponimia e historia do Camiño de Santiago ao seu paso polo concello de Samos (Lugo). A información do Tombo do mosteiro de Samos" de José Carlos Sánchez Pardo e Marcos Fernández Ferreiro, descobrem-nos que sancti Xristofori de Berulfi e o atual Gorulfe / Gorolfe.


Borulfe de São Tiago de Vila Marim.


A explicação mais divulgada de este grupo toponímico dá a sua origem em Villa Berulfi, "a quinta de Berulfo", com uma etimologia germana, na que é descodifico Berulfus como:  Ber- "urso" -ulfus "lobo" [para outros estudiosos Ber- significaria homem(?)].

Neste blogue, em diferentes escritos, onde se analisa toponímia do grupo -ulfe, foi lançada a hipótese de ser esta partícula -ulfe, não exclusiva germana e talvez pertencer a uma camada linguística já do proto-indoeuropeu:
A raiz das palavras para lobo, e não só, também para fera em geral, no proto-indo-europeu partiriam de
 *wĺ̥kʷos. No germânico *wulfaz onde há uma transformação da consoante k em f, talvez um prévio ph ou um anterior p?
Assim para o lobo haveria uma linha mais antiga: *wĺ̥kʷos.
Com dous descendentes:
Uma linha Q: *wĺ̥-kos (confronte-se com urco ou o proto-eslavo *vьlkъ (vulku) "lobo", sânscrito वृक (vṛ́ka)  "lobo", e वृष (vṛṣa) "touro, entre outros significados".
E uma linha P *wĺ̥-pos (confronte-se com volpe/golpe e lupus). É nesta linha P que *wĺ̥pos acabaria em dar *wĺ̥-phos e daí  *wĺ̥-fos (confronte-se com golfo e golfinho) e a linha germânica *wulfaz.
Estaríamos então diante de uma palavra com dous lexemas?
*wĺ̥kʷos: *wĺ̥ e -kʷos.
Para Pokorny a raiz *ol- [ol-(e)-] teria o significado de "destruir", e mas também ol- [el-1, ol-, el-] teriam o significado de "vermelho, pardo, castanho":
Confronte-se com elk no inglês, alce, ou com o proto-céltico *el- "ruivo, castanho" na palavra proto-céltica *elani; antigo irlandês: elit "corça / cerva"com variantes elit, ailit ailite, elt, eillti, eillte, eilit, eillti, elte, ellt, eillteadh. Galês: elain, eilon, alan "cervo".
Este lexema el- para o cervo aparece em outros idiomas:
Arménio antigo: եղն (ełn) "cerva".
Grego antigo:  ἔλαφος (élaphos)
Línguas eslavas: *eleňь 
Lituano: élnias...
Todos eles, se quadra, nomes tabuados, condizente co protoindo-europeu "o pardo, o vermelho, o castanho, o ruivo".
Segundo isto *wĺ̥  -kʷos seria "o destruidor" ou "o apardado", dando-lhe à raiz -kʷos uma função derivativa adjetival, latim -cus, proto-céltico -kos.
Daí que 
*wĺ̥kʷos poderia estar na raiz do nome de animais diversos ou mesmo fantásticos hoje, como o urco (cão sobrenatural na Galiza, cavalo grande no Brasil), urca (égua em Trás.os-Montes), a orca, o urso, o volpe, o golfinhoo  lobo. Confronte-se com o proto-iraniano  *(w)ŕ̥šā "animal masculino", ou com o proto-germánico *hrussą "cavalo".
Do mesmo modo que a égua é chamada de besta, também pudo ser chamada de *ulfa/*ulka.
Então oĺ̥kʷos, oĺ̥ekʷos, eĺ̥kʷos elkʷos / estariam na base do epos gaulês, do hippos grego, do equus latino, no celtibérico ekua-, e da iccona (Cabeço das Fráguas).
Topónimos galegos de nome Ulfe costumam levar o artigo em feminino "a Ulfe", o que poderia lavar a pensar que os topónimos em -ulfe seriam ago assim como "da besta", sendo besta nome para qualquer animal a caçar, um genérico, seria uma forma para nomear talvez um tabu, expressado com a palavra na altura: a *ulfe.
Ulfe poderia ser então genitivo, "da ulfa / do ulfo".
Seria pois a considerar que os topónimos da família de ulfe poderiam estar a se referir genericamente a um animal destrutor, uma besta, ou a um animal pardo, acastanhado, em nome tabuado.
Desta palavra, a *ulfe, pode ser que olfear seja um fóssil vivo; dicionariado por Aníbal Otero Álvarez no 1977, olfeargritar y alborotar de alegría, los mozos en las fiestas.
Mas também olfear é espreitar, o que o faria um verbo da caça.

Se há um lexema hipoteticamente protoindo-europeu, -ulfe, o outro lexema poderia ser da mesma altura linguística?, nesse caso br-, ber-, bor- derivariam do já comentado protoindo-europeu *bʰerH- "pardo, gris", que nas linguas germânicas acabou dando nome ao urso como "pardo".
Confronte-se com brondo.
Estaríamos diante de uma tautologia tipo pardo-acastanhado?
A besta parda?  Besta parda é um par usado na fala para se referir a alguém muito besta, ignorante, selvagem, animal.
Outra hipótese para br- ber-, poderia estar no protoindo-europeu também *bʰerH- "cortar, despedaçar": como lugares onde a caça seria processada.



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