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A Ulfe

 No escrito "os Coussos" foi lançada a hipótese de que os tantos topónimos com lexema -ulfe galaicos teriam relação com estruturas de caça passiva do paleolítico-neolítico que perdurárom dada a monumentalidade dos seus valos até hoje nas divisões cadastrais.

Vai ser analisado o lugar de Ulfe em Santa Marinha de Silhobre (Fene) para indicar como a identificação do cousso dá congruência ao conjunto da toponímia do lugar, mostrando uma relação muito próxima entre o toponímia e topografia em relação à grande vedação de caça que no devir do tempo poderia ter mudado em vedação pecuária ou granja neolítica.

A estrutura abraça o nascimento e percurso do pequeno ribeiro de Sa, que já noutros escritos foi associado a sua origem com as *salas pecuárias.










Começando polo beco / bico norte
Buio: poderia ser interpretado como bulho bulheiro lugar lamacento, como beco de caça onde se acumulam os animais intentando fugir, relaciona-se isto com nomes como terreiro, terreo, que aparecem associados a estas esquinas de caça captura, lugar onde ocorre a bulha o ruído e a confusão. No lado leste de Buio está o microtopónimo de Enxugadoiro, se quadra em contraposição com o bulheiro.




Funcionamento de um cousso de caça, em um modelo dos coussos do planalto de Ustyurt do Uzbequistão e Cazaquistão.




É nos becos que se produz o maior desgaste, pisoteio, atropelo, pois é onde o rebanho capturado, amoreado, busca uma saída ao que poderia ser chamado de nassa.


A Oeste de Buio e perto da boca de entrada está Sob o Valado, fazendo referência ao valo limitador:



A boca faz referência à entrada no grande cousso, nesse lugar aparece o nome de a Uz, que poderia ser considerado fito-topónimo, mas nomes de base uz, uzeira e similares aparecem com maior frequência da esperável aleatória nas entradas dos coussos, isto já foi tratado noutros escritos como "Ucha"


A Uceira de São Vicenço de Burres (Arçua), na boca de uma estrutura em cousso, como o topónimo uch- antes visto, talvez como usseira, e por thetacismo como uceira. Se quadra Uzeira, de uze /urzes?
Outro topónimo relevante: Taberna Velha, acostumando estar no beco dos coussos, ou no seu perímetro imediato.
No cantar do Mio Cid, escrito em romance:
Vio puertas abiertas e uços sin cañados...
Onde a palavra uço seria derivada do latim ustium "poxigo, porta menor" no atual castelhano grafada uzo.

A Finca da Casa, a Cortinha de sob a Casa, o Casal Grande, Riba da casa ou Encima da Casa estão também neste lado leste; podemos observar, como em tantos outros escritos que analisam a estrutura do cousso, que o topónimo casa, ou de base casa, aparece, na triplicidade de casa, capsa e caça, só explicável desde uma função antiga onde os três conceitos, hoje diferenciados, eram um só (algo mais explicado no escrito "o caso das casas e das casilhas").



A parte final do cousso leva o nome de Reboredo, topónimo que costuma estar em lindes, *roburetum?
Onde ocorre o frequente fitotopónimo que marca limite neste caso de *robur / *rebur.


A Gândara interpretada como um genitivo plural, "a dos gandos", e o transparente Branhal, lugar onde nasce o rio Sa.


Ranhoa é um topónimo que já foi analisado no escrito dos Coussos, aparece em estas estruturas.
Ranho e os topónimos do grupo Ranhedo poderiam ser explicados desde a fitotoponímia, como arbusto espinhoso, então levaria a pensar em uma espécie de sebe, no mesmo grupo de topónimos da família do espinho.
Mas no galego o radical ranh-, dá ideia de armadilha: Ranha: armadilha ou enredo, canles no rio para facilitar a pesca. Ranhão / ranhoso: trapaceiro, embusteiro.
Haveria então uma ranha de caça com parentes no sânscrito: हारम् (haram) "captura, destruição".
E no latim arānea: aranha, grego ἀράχνη (arákhnē).
Atual italiano ragna "aranheira, teia de aranha; rede de caça; fojo de caça".
Então topónimos de radical ranh-, além de pensar no fitotopónimo e na vedação, podemos pensar em antigas armadas, armadilhas, para caça de mamíferos maiores.

Na boca de entrada estava Uz e do outro lado do rio Covelo. Um topónimo relacionado diretamente com Covelo é Trás-Cuvela. Neste caso Covelo e Cuvela estariam a dar nome ao "recipeiente" de captura e à cova de caça, à totalidade da armada.




Outro topónimo que indicaria a funcionalidade é o do Revolto, ¡dando nome ao lugar onde o rebanho capturado dá a volta ou se revolta.
Este beco oeste pode ser observada a sua variação, modificação:



Com nomes já analisados, na ponta oeste Casa Velha, em simetria aos topónimos derivados de casa que estão na outra banda (o Casal Grande, a Finca da Casa, a Cortinha de sob a Casa, Riba da casa ou Encima da Casa). Aqui como outras Casas Velhas analisadas neste blogue dando nome à ponta de caça.
a Arriba pode ser pola sua localização em lugar alto com respeito a outro baixo, mas também poderia ter a ver com arribar "chegar".
Então seria possível que o grande cousso inicial forre o que tem o beco na Casa Velha, e as modificações posteriores levárom a ter o bico em Orra:


Orra já foi analisado noutros escritos, sobretudo no escrito "Orraca", onde lhe é dada uma origem protoindo-europeia.
Outros lugares com nome da mesma raiz apresentam a mesma conformação, por exemplo Orros de Anda-vau (Boimorto):

Orros de Anda Vau (Boimorto), com topónimos chamativos como Fornes, Arroś, Cudisal (deturpação de Codessal).



E já por último: a Ulfe



Ulfe faz pensar em ter uma origem germânica, e para a etimologia germanista, ou germanófila os topónimos galaicos em -ulfe teriam a ver com um possuidor germânico que teria de um nome composto tipo Randolfo, seria o lugar de possessão de Randolfo. Sendo Randolfo, Randulfus "corvo-lobo" ou "borde de escudo-lobo", dependendo do significado que lhe seja atribuído a rand- desde o germânico. Ulfe está etimologicamente aceitado como germânico puro. Mas:

A raiz das palavras para lobo, e não só, também para fera em geral, no proto-indo-europeu partiriam de *wĺ̥kʷos. No germânico *wulfaz onde há uma transformação da consoante k em f, talvez um prévio ph ou um anterior p?

Assim para o lobo haveria uma linha mais antiga: *wĺ̥kʷos.
Com dous descendentes:
Uma linha Q: *wĺ̥-kos (confronte-se com urco ou o proto-eslavo*vьlkъ (vulku), sânscrito वृक (vṛ́ka) e वृष (vṛṣa)
E uma linha P *wĺ̥-pos (confronte-se com volpe/golpe e lupus). É nesta linha P que *wĺ̥pos acabaria em dar *wĺ̥-phos e daí  *wĺ̥-fos (confronte-se com golfo e golfinho) e a linha germânica *wulfaz.
Estaríamos então diante de uma palavra com dous lexemas?
*wĺ̥kʷos: *wĺ̥ e -kʷos.

Para Pokorny a raiz *ol- [ol-(e)-] teria o significado de "destruir", e mas também ol- [el-1, ol-, el-] teriam o significado de "vermelho, pardo, castanho".
O lobo ainda a dia de hoje tem nomes tabuados.
Segundo isto *wĺ̥  -kʷos seria "o destruidor" ou "o apardado", dando-lhe à raiz -kʷos uma função derivativa adjetival, latim -cus, proto-céltico -kos.
Daí que 
*wĺ̥kʷos poderia estar na raiz do nome de animais diversos ou mesmo fantásticos hoje, como o urco, a orca, o urso, o volpe, o golfinhoo lobo ..., confronte-se com o proto-iraniano  *(w)ŕ̥šā "animal masculino", ou com o proto-germánico *hrussą "cavalo".
Neste tipo de coussos da família -ulfe e alguns outros, chama a atenção o tamanho e os becos tão longos o que faria pensar em animais de muita carreira, em bestas (cavalos, zebros, cervos).
Do mesmo modo que a besta é chamada de besta, também pudo ser chamada de *ulfa/*ulka.

Então oĺ̥kʷos, oĺ̥ekʷos, eĺ̥kʷos elkʷos  / estariam na base do epos gaulês, do hippos grego, do equus latino, no celtibérico ekua-, e da iccona (Cabeço das Fráguas).
Confronte-se com elk no inglês, alce, ou com o proto-céltico *el- "ruivo, castanho" na palavra proto-céltica *elani; antigo irlandês: elit "corça / cerva"com variantes 
elit, ailit ailite, elt, eillti, eillte, eilit, eillti, elte, ellt, eillteadh. Galês: elain, eilon, alan "cervo".
Este lexema el- para o cervo aparece em outros idiomas:
Arménio antigo: եղն (ełn) "cerva".
Grego antigo:  ἔλαφος (élaphos)
Línguas eslavas: *eleňь 
Lituano: élnias...

Todos eles, se quadra, nomes tabuados, condizente co protoindo-europeu "o pardo, o vermelho, o castanho, o ruivo"

Topónimos galegos de nome Ulfe costumam levar o artigo em feminino "a Ulfe", o que me leva mais a pensar que "a da besta" nome para qualquer equídeo, genérico, seria uma "tradução" de um conceito galaico arcaico expressado com a palavra na altura: a *ulfe.
Ulfe poderia ser genitivo, "da ulfa / do ulfo".
Seria pois a considerar que os topónimos da família de ulfe poderiam estar a se referir genericamente a um animal destrutor, uma besta, ou a um animal pardo, acastanhado, em nome tabuado.

Desta palavra, a *ulfe, pode ser que olfear seja um fóssil vivo; dicionariado por Aníbal Otero Álvarez no 1977, olfeargritar y alborotar de alegría, los mozos en las fiestas.
Mas também olfear é espreitar, o que o faz um verbo da caça.




Aqui outro exemplo, a Ulfe de São Salvador de Vila-Uje (Chantada):


Neste caso é um cousso menor, do que a metade sul está bem desenhada, acompanhado do topónimo Forno Velho. Forno costuma aparecer associado a estas estruturas normalmente nos bicos, supostamente porque o fosso de captura, seria um buraco de paredes empedradas, talvez com coberta. No exemplo anterior do hipotético cousso de Anda-vau (Boi Morto) um dos becos leva o nome de Orros e o outro leva o nome de Fornes.
Aqui um exemplo de Santa Rosa de Viterbo da Granha (Ferrol) que apresenta também forma de cousso com o bico norte com o nome de Fornos:

Assim os topónimos de base forno em relação com os coussos de caça podem ter variados significados: furna "buraco" mas também buraco onde é feito o lume, numa ideia de assadura da carne em um foxo, talvez o que pouparia lenha e facilitaria uma cozedura uniforme.
Por outra parte estes fornos, ligados com estruturas de caça ou captura, costumam estar associados com mámoas, que têm forma de forno ou são fornos toponímicos, por exemplo o Forno dos Mouros no Bocelo ou Fornelha, o dólmen de Dombate.


Outro exemplo mais de Ulfe, neste caso a Ulfe do Chão e a Ulfe de Malados, fna freguesia de Santo António da Barqueira (Cerdido):


Como no caso da Ulfe de Silhobre, este cousso da Barqueira abraça o nascimento de um rego, o das Felgosas ou das Folgosas.
Pode ser observada a coerência toponímica.
Por exemplo aparece o topónimo Casão em lugar desabitado, na possibilidade de caça, capsa, casa.
As Pedreiras em lugar espelho à Ulfe do Chão. Os topónimos de raiz pedra, pera ou aspera / esp- ocorrem nos bicos de caça passiva. O lado leste do hipotético cousso está mais modificado. Ao igual que nos desert kites as modificações dos coussos ficárom na paisagem.
Um topónimo a

O cousso de este lugar pode ser percebido como se estende a sul abraçando toda a bacia do rego das Felgosas:





Casal d' Aia de arriba e Casal d'Aia de Abaixo, o primeiro na freguesia de São Martinho de Cerdido e o segundo na de Santo António da Barqueira (concelho de Cerdido), dando nome a um dos becos de um hipotético grande cousso.
Aqui Aia está na mesma ideia que orraca, rainha, freira .... Remarcando essa ideia de poder feminino sediado no cousso.
Por outra parte Casal faz referência evidente a casa, moradia; mas casal, casa e derivados, como em tantos outros exemplos neste blogue que se repetem, aparecem nos becos de caça, na plurivalência de casa, caixa, capsa, caça; criando a ideia de que a primária casa teria sido no mesmo lugar do foxo da caça. Observe-se que parelho a Casal d'Aia está Casas Velhas, com o nome da Cova tão "evidente" como fosso de caça.
Uma grande armada de caça que lembra estas estruturas "irmãs":


Foto tirada do jornal Arab News, do artigo "Desert kites: Another ancient geological mystery in Saudi Arabia"
https://www.arabnews.com/node/1760796/saudi-arabia



Que estruturas pequenas levem o nome de Ulfe poderia corroborar que ulfe tivo nesse lugar e no passado um significado de lobo. Que estas grandes armadas levem o nome de ulfe, abre a possibilidade que a palavra em questão tinha tido uma origem mais genérica, a dar nome a diversos animais de caça, que polo tamanho da armada seria caça maior.


Atendendo á hipótese ulf- caberia dar com lugares gulf- ou golf- de similar origem.
Assim Golfares:





Golfares em Santa Maria de Oleiros (Toques).
Aqui como no exemplo da Ulfe de Silhobre, Buio/bulho, há o topónimo par Bulheiros a sul e os Bulheiros nos becos do cousso. Outros topónimos a salientar:
Prado de junto a Casa, onde casa volta a estar na triplicidade de casa, capsa, caça.
Para atender aos derivados de vila, de sul a norte: Fundo de Vila, Vilarinhos e o Vilar, onde vila como noutros casos foi aqui apontado, está a dar o seu significado primário de paliçada:

En algunas comarcas llaman vilar a los campos de centeno que, después de sembrado, se cierran con un balado que no se derruba hasta que se siega, y queda el terreno a restreva o pallarega.


Para voltar a reparar como a identificação da estrutura de cousso dá congruência à toponímia, que pode ser percebida de um jeito mais congruente completo e não de modo isolado ou sem razão topográfica nem relacional.



Neste caso Gulfar de Santaia (Santa Aia) da Vinha (Irijoa)
Para reparar no beco sul com o frequentíssimo topónimo Casas Velhas que acontece nesta forma.
Ou o nome de Cal da Poceira no fundo da estrutura.



Gulfar de Santa Maria de Jião (Taboada), um cousso alongado que abraça o rego da Rodela.
Com toponímia congruente e já analisada neste bolgue: Ranhoa, Cerrado, a Costa.



Gulfim / Golfim da freguesia de São Cristovo de  Goimil / Gueimil (Vilar Maior). Para destacar a possível evolução do cousso, de um tamanho grande com beco em Goimil, outro intermédio "Cuvela" e outro pequeno "Armental". destacar o nome de Casal no lugar da caça, e o de Casa do Monte, que também ocupa um dos vértices.


Gulfiões / Gulfions de São Pedro de Corcoesto (Cabana de Bergantinhos), em uma forma que lembra os coussos anteriores, mas neste caso transformada em agra, ainda assim conservando os antigos caminhos. As Agras aproveitárom os valados antigos. A destacar no lado leste o nome dos Pasos, talvez os Paços e não os passos?, a não ser que em alguma altura tivesse um lugar de passagem o rio Anlhões.
O nome de Corcions / Corções faria referência a corços?
Já foi indicado que nos coussos nas suas bocas de entrada aparece o nome de porta, o de horta e neste caso poderia ser sob a hipótese celta-q / celta-p, o nome de *kortos, daí a corte.
Isto abriria uma hipótese ao nome do Capreolus capreolus como corço não por "curtus" hipótese que aparentemente pouco se sustenta, pois curto não é, mais bem dominam as formas longas nele.
E assim o corço poderia ser assim chamado por *kortio, numa ideia de caçável, confronte-se com  gamo-game.
Esta suposta forma dos Gulfions de Corcoesto seria uma evolução do cousso de caça a cousso de captura, onde os animais ficariam nos curros posteriores aos vértices.






Gulfeiro de Santa Maria de Lampaça (Rairiz de Veiga).
Ao lado de Gulfeiro: rande, topónimo já analisado no escrito dos Coussos:

O grupo de coussos de raiz rand- poderiam ter uma origem comum com trand-, *(t)randia, ranha e rand-.
Nas falas occitanas randerandalrandalmerènderèndre e rondre, têm o significado de sebe, sebe de arbustos e estacas; borda da floresta. No alemão Rand com o significado de borda.

Podem ser observados os dous topónimos do grupo casa: Casal e as Casarelas
Simetricamente dispostos: As Cortinhas e Cortinheiro.
O nome do beco norte: Poço, claramente transparente.
No beco sul: o frequente Paço, como inicial palatio, paliçada. Granja:

Surpreende que muitos topónimos granja / granha apareçam associados a estruturas paleolíticas-neolíticas, quando o topónimo granha /granja é tido pola maioria da etimologia do país como uma palavra medieval que dá nome a uma exploração agro-pecuária de essa altura, derivada do francês grange.
Hipótese explicativa de isto seria ou que a palavra neolítica como significado de granha / granja "reunião de animais domésticos" foi traduzida a uma nova palavra medieval, ou que a palavra perdurou na estrutura de caça, mais tarde transformada em lugar de catividade para depois virar em uma unidade agro-pecuária..

Por exemplo no gaélico escocês grainnse /graiNʲʃə/ tem essa mesma ideia, no gaélico antigo gráinnsech.
A ideia mais difundida é que granja / granha / grange derivariam de granum latino.
Aqui abre-se a hipótese que granja / granha estariam no grupo de ranha, rande, trand-.

Quanto a Costa, explicado em Goriz:

Uma hipótese para os topónimos de base em costa, além de que haja claramente uma encosta ou um encontro com o mar, seria:
Tirando do fio do verbo custodiar, etimologicamente órfão, apenas com o latim custos "guardião, protetor, vigia, tutor", estaria diretamente relacionado com esta raiz aqui esculcada *wo-stha / *wo-stho / *wo-(s)teg, "casa da vaca", também na base de busto. Em relação com o hitita westara "pastor", também com a deriva de que o pastor pecuário acaba sendo "tutor", assumindo um mando social ....
Sânscrito गोष्ठा (gostha) "lugar onde é guardado o gado, lugar de reunião"?
Aparentado com o galês godai / gody "estábulo, vacaria, cabana" de go-tŷ "vaca-casa"?

Por um protoindo-europeu *gʷṓws-*tegos.

Estes topónimos Costa, e outros de lexema kost- / kust- são funis dos coussos de captura, onde o gado é ameijoado, juntado, para morte ou já na sua evolução para guardar e melhor defensa.

Outra hipótese  baseia-se em que nas línguas eslavas a palavra para osso derivaria de um proto-eslavo  *kȍstь; russo кость (kostʹ).
Este proto-eslavo *kȍstь "osso" teria a ver com a raiz da palavra costela.
O proto-eslavo *kȍstь é feito derivar do protoindo-europeu *h₃ost- "osso", com apenas esta família linguística com k- inicial.; numa relação suposta kosto- / ósteo.
Costa em latim significa: "costela anatómica" e também "parede, muro, lado".
Seria nestes lugares onde se acumulariam os ossos dos animais caçados, fazendo um montículo, ossário, como ainda existem nas zonas da América do Norte onde os bisontes eram caçados.

कोष्ठ (kostha) em sânscrito entre outros com os significados de: muro que envolve uma propriedade, área ou espaço cercado, casca, concha de qualquer cousa, armazém.

Neste ir à raiz paleolítica-neolítica os significados diversos e aparentemente distantes de palavras parecidas com raízes parecidas mas aparentemente sem relação, confluem num lugar físico do cousso de caça e numa coerência dada pola funcionalidade.



Golfas de São Tiago de Soengas (Porto Marim), com toponímia já analisada e frequente: Granja, Poça, Costa, Uzeira.
Nomes transparentes e condizentes coa estrutura Pedregal, Barrosa, Rega, Barreira e Cerrado.
Outros já analisados neste blogue: Leira dos Alambres (vide Cambre).
A destacar a também frequente presença tumular, neste caso a Medorra das Seixas.
Também destacar como o cousso de caça primeiro derivou em captura, com estruturas de curro associadas aos becos, no do oeste com o topónimo Aira. E o do leste com toponímia transparente a olhos do enxergado desde este blogue:
Cachamil, ou o mil da cachada, o mil "local de reunião" onde ficam os animais cachados, capturados.
Carcegoda, ou o cárcere da goda, onde goda estaria longe de uma ideia germânica de possuidora; e poderia ter a ver mais com o sânscrito गोष्ठा (gostha) "lugar onde é guardado o gado, lugar de reunião", ou com o galês godai / gody "estábulo, vacaria, cabana" de go-tŷ "vaca-casa". Mais alargadamente explicado no escrito "a godalha e o godalho".





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Golfariz de São Cristovo de Cancelo (Triacastela)
Neste caso de Golfariz poderiam ser intuídas as evoluções do cousso, desde um pequeno e inicial nomeado por Casa Velha, um maior marcado em preto, e um outro mais acabo e se quadra funcional, marcado com acastanhado.
Estão os frequentes caça/casa/capsa: riba da Casa, Casares, Casaregos, Casa Velha.
A oeste Fompernal, a leste Fonte seca. Os becos dos coussos de caça costumam levar o nome de Fonte, e por vezes há uma fonte, para facilitar a captura em um terreno lamacento, mas fonte poderia estar a dar a sua duplicidade de nascente de auga e lugar de corrida, protoindo-europeu *dʰenh₂- "fluir".
Neste caso Golfariz teria uma raiz tal que *wĺ̥-pho(s)-ara-is.


Golpilheiras / Gulpilheiras / Gulpinheiras no entorno de Santo Adrão, na freguesia de Goriz (Vilalava)



Golpilheira de São Jurjo de Goá (Cospeito), com toponímia frequente: Casa Velha, Casinhas.
A destacar: Vilar da Golpilheira que daria um nome primário à paliçada.
Curro da Granda, que já foi indicado serem os topónimos grand-, associados a esta estrutura, da mesma raiz que rand-.
Cerveiro: numa ideia de cervo. Assim a Golpilheira não seria um cousso para apanhar golpes, volpes, raposas.


Gulpilheira de Santaia de Cúrtis, neste caso fazendo mais o que semelha uma granja neolítica, um cousso que teria sido convertido em grande espaço fechado para manter em catividade animais semisselvagens.
Com toponímia já vista nos coussos anteriores: Costa.
Revolta do Vilar e Revoltinha, dando nome ao que pudo ter sido uma granja anterior.
Boedos: na etimologia mais divulgada galega Boedo é referenciado como topónimo de lugar alagadiço, branhento, mas não há que esquecer a definição do dicionário da Real Academia Galega do 1913-1928:
Establo, majada donde posan bueyes.
Outro significado que pode esclarecer mais a deriva a lugar alagadiço, é dada por Dom Eligio Rivas Quintas (2001):
Comunal de pastos en terreno húmedo, fresco, en sitios pantanoso.
Então estamos observando como os coussos e posteriores granjas têm dentro de si o nascimento de um rego em uma zona branhenta, dalgum modo este lugar de branha seria um engado que causaria a atração de rebanhos de animais que pascem, talvez em uma época de clima menos húmido do que o atual.
Por exemplo Laguceiras também daria ideia de terreno húmido, laguceiro: lugar pantanoso, lacucheira: branheira.




Alguns topónimos com o lexema -ulfe:



Os Godulfes de Santa Maria de Fisteus (Cúrtis). A salientar as possíveis modificações do cousso.
Neste caso a toponímia germanófila derivaria o nome de um possuidor de uma villa *Gudulfis ou villa *Gundulfis; de  Guth e wulf "bom lobo" ou de Gunth e wulf "lobo de guerra". 
A hipótese neste blogue lançada seria que Godulfes / Gondulfes teria saído da mesma raiz de Gondulfes, de gond- e -ulfe.
Onde gond- , que já foi analisado nos escritos sobre Catabois ou  Begonte, teria uma raiz lexema kond-/kont-:
1.Poderia ser do grupo do latim contus e grego κοντός (kontós) "poste, estaca, chuço, aguilhada".
Sânscrito कुन्त (kunta) "lança".
2. Poderia ser do grupo do sânscrito कुण्ड (kunda) :
Vasilha em forma de tigela, grande cunco, escudela; jerra
Buraco na terra, buraco na terra para fazer lume, buraco na terra para um ritual de consagração do lume; buraco para conter água, piscina, açude.
3. Poderia ser da raiz de esconder, latim condo condere "juntar; construir, estabelecer, fundar; esconder; concluir".
4. Poderia ser da raiz de gunda / munda como: rebanho, vedação, (hindi मुण्ड (muṇḍa) "vacas em grupo ou círculo / vacas ou grupo de vacas" / sânscrito sânscrito मुण्ड (mund)).

Estas quatro hipóteses, recuando no tempo, teriam saído do mesmo lugar físico do cousso de caça que evoluciona a granja neolítica e onde é realizado o rito para determinar a primeira construção do espaço não pecuário e não agrário, com a prática do mundus.

Assim Go(n)dulfes: seria o *kond-wĺ̥kʷos "o local da paliçada onde são juntadas as bestas".

Por exemplo no caso de Gondufe de São Miguel de Siador (Silheda):

Esta é a conformação de São Miguel de Siador (Silheda).
Os seus nomes antigos fôrom Senator e Seador.
Senator faz pensar no senator da Roma, derivado de senex "ancião".
Mas este Siador mais parece um seio, relacionado com o latim sinus, protoindo-europeu *sinos;
Pode ser observado como a leste está Gondufe na ponta do beco; e a oeste, o seu par: Condes ou também cadastralmente: Conda.
O *kond- / *kont- teria ficado como o seu nome simples do lado oeste: Conde, Conda; e com o seu nome completo no lado leste: Gondufe, *kond-wĺ̥kʷos.




Gondulfe de São Mamaede de Vilapedre (Vilalava), aproveitando o forte desnível, o valigote do ribeirinho que baixa desde o Coto das Penas e que vai parar ao Eume.





São Lourenço de Gondulfe (Tabuada), com topónima que se repete, vista aqui arriba, Bulheiro, Picha.



Gondufes de São Miguel da Rigueira (Jove), com toponímia identificativa, Casa Velha e Açoreira (o grupo de açor já foi analisado e visto no escrito dos Coussos).


Gondufe de São Jurjo de Cristimil (Lalim).

Gondufe de São Salvador de Pinheiro (Tominho).




Caulfe de Santa Maria do Alto de Gestoso (Monfero). Ca-ulfe: "caça/casa ulfe"?



Recegulfe em Santa Maria de Queixas (Cerceda), a destacar os nomes nos becos Revolta do Seixo a oeste e Revolta a leste.
Também o transparente nome do regueiro que corre por dentro do cousso: Boedo, que foi explicado anteriormente, e aqui tendo em si a duplicidade de significados, de lugar para bois e lugar enchoupado, branhento.
Que significa o lexema rece- de Recegulfe.
Rece- aparece em outros topónimos como Recemil, Recemonde, Recesende ...

 

Xulfe de Santalha de Pena (Begonte), com toponímia como Casa Nova, no que poderia ter sido um alargamento do primário couso, Pena Lodairo, do grupo do lodão, lodeiro .... que costumam estar em vedações. A destacar a Pena do Raposo interiormente no cousso e o Rego do Lobo que corre pela sua frente.

Guilhurfe de Santa Maria de Cavalar (na Capela), com toponímia significativa como é Três-Cornos, num dos seus becos.
Guilh-urfe, *will- "paliçada, cercado" *ulfi "do ulfo".

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