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*Equaranda?

Com base no escrito anterior do topónimo Ego, é desenvolvido isto: 

Na toponímia da atual França são consideradas formas hipotéticas gaulesas: *Icoranda (para Savignac) e *Equorande (para Delamarre) como base de um grupo de topónimos como Aigurande, (E)guérande, Iguerande, Ingrande...
*Equoranda / *Icoranda têm sido interpretadas como formadas por eco- / ico- mais -rande.
-Rande  é pensado sair do proto-germânico 
*randaz, *randō, no seu valor abstrato "fronteira", como topónimos que indicam um lugar de fronteira.
Já o primeiro elemento ico- ou equo-, semelha mais controverso, entre água e égua.
Aqui vão ser apresentadas imagens de este grupo de topónimos franceses que são tidos por manifestações do hipotético *Icoranda/*Equorande:


Primeiro vou desenvolver o lexema -rande:
No escrito dos Coussos foram mostrados distintos lugares de base toponímica Rand-, Rande, Randim, Randulfe, em relacionamento com Trand-, Trandeiras ..., ou Ranhas. Todos dando nome a estruturas de caça ou para captura de animais selvagens em domesticação, evolucionadas a grandes tapadas.
De esse escrito, dos Coussos, são cortadas e coladas algumas partes para explicação do tema das *Equorandas da antiga Gália.

Vão aqui exemplos de lugares galegos de toponímia rand-:


São João de Randim (Calvos de Randim).





Rande de São Salvador de Couçadoiro (Ortigueira)

Randulfe em Santalha de Árbol (Antas de Ulha).


Randolfe de Santa Maria de Bermum (Sárria).



Os Rand-ulfes
Os tantos lugares de nome Randulfe, respondem a este esquema, que deixando à parte a interpretação germanista, e focando-se na topografia e tomponímia condizente, levam a pensar que o topónimo expressa a ideia de "vedação da besta" (1)


Continuando com o segundo elemento -randa:

No occitano há um substantivo concreto (ausente nas línguas germânicas, nas que rand é um substantivo mais abstrato) rande, randal, randalme, rènde, rèndre e rondre significam "sebe, sebe de arbustos e estacas; borda da floresta".
Confronte-se a variação da vogal inicial no occitano, onde os galaicos Rendal poderiam ter a ver com esta estrutura de caça, ou grande tapada para animais em semi-domesticação, por exemplo Santa Maria de Rendal (Arçua):





No Ducange randallus "espécie de báculo", randea / randi "espécie de rapa ou rebola do ferrado, do alqueire", com o verbo randare que é usar da rapa ou rebola.
Este rand- estaria relacionado com prann- / brand- /trand- / tarand-, que levaria a uma aproximação com
a raiz do proto-céltico *ɸranna "partição": 
rann(br)rann(kw)rhan(cy)rann(sga)rann(ga)rheynn(gv)rann(gd).


Talvez a zona galaica como lugar de relativa ancestralidade, conserve a raiz da "partição" céltica da hipotética forma *ɸranna em branha ou paranha, ou nos topónimos do grupo: Tarandeira, Trandeira e Trondeira, com uma raiz trond-/ trand-, tarand- onde estão palavras como tronda, trôndia, tranda , tarandeira: palavras e a sua família onde aparece o conceito de varal horizontal, e o de giro.


Reindeer fence, Muonio, Finland (photo by Ilmari Manninen, 1929, Finnish Heritage Agency, Kansatieteen Kuvakokoelma)

Tarandeira: Pau longo que se põe atravessado na entrada dum eido. Vedação formada por paus verticais cruzados por um horizontal (Estraviz).


 


A proto-céltica"partição", nas ilhas *ɸrannā, poderia ter então uma proto-forma *prannā /*parannā prévia, posterior par de branha e branda e mais também com a atestada por Ducange warenna.
Assim paranho "lugar amparado, protegido, alacena".
Então estaríamos na partição inicial do terreno (de caça) como privativo.

O Paranho de Santa Maria do Pácio (Friol).

A destacar então os tantos lugares toponímicos como Branha e Branda nascidos da raiz do proto-céltico *ɸrannā antes da caída do pê inicial: *prannā / *parannā:

Branha de Santa Maria da Veiga de Logares (A Fonsagrada).

Bom isto tudo anterior para intentar sediar que o lexema -rand- teria ver com a partição primária por sebe, por paus, ou estacas, do território, para caça ou captura de animais.


Aqui vão os topónimos franceses que são considerados derivarem de Equaranda:


Iguerande em Saône-et-Loire.




Aiguarande (Centro-Vale do Loire)



Ingrande de Couziers (Centro-Vale do Loire).
A destacar Le Recharderie, rechard é uma adjetivação para a pessoa ágil, que deriva do germânico, por exemplo no alto-alemão médio rēch "corço". Poderia ser traduzido como "o corceiro".



Ingrande de Villedieu-le-Château (Centro-Vale do Loire).

Ingrandes de La Réorthe (Pays de la Loire).



Ingrades (Centro-Vale do Loire).


Ingrandes / Ingrandes-sur-Vienne (Nova-Aquitânia).


Os -randa gauleses tem sido divulgado como lugares de fronteira, desde a ideia de partição do proto-céltico *ɸranna (matasóvico *frasnā) e desde a ideia de margem, borda do germânico. 
Assim a toponímia francesa tem indicado estas *Icoranda como raias entre distintos povos gauleses. Mas como pode ser visto, estes topónimos situam-se em hipotéticas grandes tapadas, criadas em tempos neolíticos ou já pré-neolíticos, coussos do paleolítico final

Poderia ser dito que as *Equaranda / *Icoranda, correspondem com  tapadas para captura, coussos, ou para curro. Então equ- / ico- poderia ter a ver com equídeos.

Quanto ao primeiro lexema ico- / eco- : poderia estar a falar de equídeos. É controverso porque há estudos que o derivam de água.
Talvez as *Equaranda / *Icoranda sejam pares dos Randulfe galegos?
A zona gaulesa tem para o cético *ekʷos o atestado epos (Epona). 
Sim, mas existe, existiu?, toda uma variação dialetal na França, occitano sobretudo, para dizerem égua: ive, ieve, (y)egue, ega, gega, agua, igue, iega, égo, egot, iga, ègue, ègre, ègua, zaigo...
Considerado este conjunto como derivado do latim equa que teria apagado a epona.
Sim, mas também, no proto-gaélico, como foi mostrado no escrito anterior de Ego, existia a palavra *ᚓᚊᚐᚄ (*eqas) /exʷah/.
O que leva a pensar em duas palavras funcionais do proto-céltico *ekʷos: *eka e *epa.
Uma peninsular e goidélica: *eka (iccona,  celtibérico: ekua-, gaélico *eqas).
Outra britônica e gaulesa: *epa ( ebeul(br)ebel(kw)ebol(cy), gaulês: Epona).
Que levaria a questionar se os falares celtibéricos eram línguas de terras só a sul do Pirineus, ou também estavam ao seu norte.
Controverso também porque a lua de janeiro, nono mês do calendário de Coligny, gaulês, leva o nome de Equos, e é no luado de janeiro no que comumente mais parem as éguas. Isto foi interpretado como que o céltico mais antigo *ekʷos é o que dá nome ao mês lunar, a essa lunação. Equos, seria um arcaísmo nessa altura na qual epos era funcionala palavra evolucionada.
Então este grupo de topónimos da Gália com estrutura de cousso, poderiam ser percebidos como arcaicos já na época de esplendor do gaulês. E como ligação dos lexemas *ekʷa e randa "o curro das bestas" numa tradução à fala popular de hoje.






(1)
Quanto a -ulfe, voltando a Randulfe:
A raiz das palavras para lobo, e não só, também para fera em geral, no proto-indo-europeu partiriam de *wĺ̥kʷos. No germânico *wulfaz onde há uma transformação de consoante k em f, talvez um prévio ph e um anterior p?
Assim para o lobo haveria uma linha mais antiga: *wĺ̥kʷos.
Com dous descendentes:
Uma linha Q: *wĺ̥-kos (confronte-se com urco ou o proto-eslavo*vьlkъ (vulku), sânscrito वृक (vṛ́ka).
E uma linha P *wĺ̥-pos (confronte-se com volpe/golpe e lupus). É nesta linha P que *wĺ̥pos acabaria em dar *wĺ̥-phos e daí o tido por germânico  *wĺ̥-fos, mas: confronte-se com golfo e golfinho.
Estaríamos então diante de uma palavra com dous lexemas?
*wĺ̥kʷos: *wĺ̥ e -kʷos.
Para Pokorny a raiz *ol- [ol-(e)-] teria o significado de "destruir", mas também ol- [el-1, ol-, el-] com o significado de "vermelho, pardo, castanho".
O lobo ainda a dia de hoje tem nomes tabuados.
Segundo isto *wĺ̥  -kʷos seria "o destruidor" ou "o apardado", dando-lhe à raiz -kʷos uma função derivativa adjetival, latim -cus, proto-céltico -kos.
Daí que 
*wĺ̥kʷos poderia estar na raiz do nome de animais diversos ou mesmo fantásticos hoje, como o urco, a orca, o urso, o volpe, o golfinhoo lobo ...

Confronte-se com elk no inglês, alce, ou com o proto-céltico *el- "ruivo, castanho" na palavra proto-céltica *elani; antigo irlandês: elit "corça / cerva"com variantes elit, ailit ailite, elt, eillti, eillte, eilit, eillti, elte, ellt, eillteadh. Galês: elain, eilon, alan "cervo, veado".
Confronte-se com o gaélico escocês
 alla "fereza, selvagem"
Este lexema el- para o cervo aparece em outros idiomas:
Arménio antigo: եղն (ełn) "cerva".
Grego antigo:  ἔλαφος (élaphos)
Línguas eslavas: *eleňь 
Lituano: élnias...
Todos eles, se quadra, nomes tabuados, condizente co protoindo-europeu "o pardo, o vermelho, o castanho, o ruivo".

Assim os Rand-ulfe galaicos seriam as vedações, as sebes para as bestas, para as feras, para os pardos.

Rand-ulfe, então poderia ser parelho ao hipotético galo, ou galo-romano, Equoranda?

Ego

  Ego de Santa Maria de Carvalhido (Vilalva):







Egoeiras de São João de Castro Maior (Abadim):





Ego em São Martinho de Tribás (Pantão):



Os já explicados coussos, evolucionados em grandes tapadas, aparecem associados a esta toponímia, o que poderia ser indício de que Ego poderia derivar do latim equus.
No galego-português medieval ega (à par de egua e egoa) era a atual égua.
Compre pensar também que o a forma proto-céltica tem sido postulada como *ekʷos.
Na interpretação da escrita do SO, da Idade do Bronze, em trabalho de Koch esta raíz aparece na transcrita; ekuuŕine (ebuuŕine, para outros estudiosos), numa estela que foi encontrada ao lado de outra com uma mulher sobre uma cavalgadura, interpretada a palavra ekuu-ŕine como "Rainha dos Cavalos", talvez "Rainha das Éguas".

https://repository.uwtsd.ac.uk/id/eprint/1542/1/JK1.pdf
Confronte-se com o proto-gaélico: *ᚓᚊᚐᚄ (*eqas) /exʷah/.
Na possibilidade, na hipótese, de que a ega medieval tenha sido uma forma do galaico *eka, cognata do latim equa?
Ega é também nome para a égua no provençal antigo, atual occitano èga.
Confronte-se com o sânscrito  एव (eva) "cavalo, caminho, como substantivos; e rápido como adjetivo". O que levaria à Eva bíblica como personalização, divindade arcaica, da égua?
No sânscrito एव (eva) dá uma razão etimológica, talvez clave, como derivado de  (i) "movimento, ir". Assim a  एव (eva), a égua estaria definida como epíteto,  "a que vai, a rápida".
Assim o protoindo-europeu e-kʷós. seria formado pola partícula sufixadora -kʷós "quem": e-kʷós "quem corre, quem vai".
Talvez de *h₁ey + kʷa "a que vai", 
Esta linha etimológica aqui desenvolta ajudaria a perceber o caso da palavra iguada "cabra de primeiro parto, cabra nova" com os cognatos das Astúrias iguada, eguada, iguá, igüeda, iguöda, ibuá, igüera, ougada, engueda.
E as formas masculinas de iguáu "bode novo" também dito; iguadu, igüedu, igüéu, ibuéu, iguödu, iguedo.
Palavras dificilmente entendíveis como derivações da equa equus latinos, polo deslocamento de égua a cabra, ou de iguar "igualar". Mas talvez como formas geradas do protoindo-europeu *heykʷa "a que vai, a da senda, a que corre".
Desde o preconceito poderiam ser metido este grupo de palavras asturianas na gaveta do "falar mal", a meu ver é uma riqueza lexical, um tesouro. Por exemplo as formas ibuá / ibuéu estariam a indicar um dos galhos do proto-céltico, *ekʷos, o par *eka e *epa.
O peninsular e goidélico: *eka (Iccona,  celtibérico: ekua-, gaélico *eqas): ougada, engueda, iguedo.
O britônico e gaulês: *epa ( ebeul(br)ebel(kw)ebol(cy), gaulês: Epona): ibuá, ibuéu.

Rebeços ou camurças, que os latinos do Lácio chamaram de ībicēs (ibex).
Ibex é de esses genitivos femininos, arcaicos já na época do latim clássico, sufixados em -ex / -ix.
Então poderia ser interpretado como *ib(a)-ex, "da *iba"; talvez par das formas asturianas antes apresentadas e sobretudo ibuá, ibuéu. E repito par, ou cognata, e não raiz, nascidas sob a a mesma génese como derivadas de  *heykʷa "a que vai, a da senda, a que corre":
Uma, a latina, como *heykʷex: ibex
E outras, asturianas, como *heykʷata: eguada, iguá, igüeda, iguöda, ibuá, igüera, ougada, engueda.
Ambas as formas, latina e asturiana, dizendo: "da que vai, da da senda, da que corre".


















Tribás é a forma do medieval Tiulanes, *tivrães.