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Pãozinhos


Erva-seca, feno feo, се́но (séno) em russo, com palavras similares nas línguas eslavas.

Feo / feno / foenum é pensado, desde a escola etimológica mais divulgada, derivar de um proto-indo-europeu *dʰeh₁(y)-no- na ideia de "fecundidade".
Neste escrito de muitas palavras e relações, é questionada a etimologia do feno, e são abertas linhas evolutivas que teriam em conta a gênese da palavra-conceito no passo do paleolítico ao neolítico, na neolitização, onde feno, cereal, grão e pão teriam uma origem comum que iria dando nas divergências atuais.

Feo / feno, tivérom a forma medieval fẽo.
Feo abunda em topónimos: Feal, Feans, Feãs ....

Feno tem parelho fano em Trás-os-Montes, que ligaria com o verbo fanar "secar, murchar" e  também poderia ligar com fanar "cortar ao rente".

Assim o par feno/fano é raiz de  fenasco e do asturiano fanascu, com mais palavras da família como fananco e fanauco, também com p- (mutação p/f) panasco /penasco, palavras todas elas que fazem referência a ervas secas, ervas duras, pastagem.

Este grupo fano/feno/pan- quebraria a etimologia mais divulgada no indo-europeu *dʰeh₁(y)-no- para o grupo das ervas-secas: foenum / faenum / fenum latino e o се́но (seno) "erva-seca" eslavo?
As formas com pê: panasco / penasco, panoia, panada, o mesmo latim panus "espiga" e a sua relação direta com as formas com efe: fenasco, fanascu, fananco, fanauco, fanenco, fanchuco "bolo de pão", fanchão "bica": Levariam a pensar que fan-/pan- partilhariam a mesma origem, com significados iniciais de "cereal, palha, feno".

As formas gaélicas para o feno:
Faer, fér, feuir, feúir, ḟeóir, féiuir, féor, féra, fergoirt, ḟéarghloin
Levam a pensar que a caída do ene intervocálico foi muto antiga?, ou a uma transformação do *fæn em *fær?
Confrontem-se as formas gaélica, o gaélico antigo fér "erva" com ferranha, ferrã, forragem, ou as asturianas: ferraña, ferraina, forraina, que poderiam sair da na mesma raiz etimológica.
Forragem é tida por palavra gerada desde o francês fourrage; mas isto aqui exposto leva a sua adopção padrão, não como um empréstimo francês pleno, mas sim como palavra de elite que apaga as variantes lexicais do povo chão: ferraia, ferroia, ferrã, ferrasna(ast), ferrén(ast)berrén(ast) .... todas elas como alcacém, cereal em verde, erva verde usada para alimentar o gando. Uma carga de preconceito, que desde a inferiorização da colonialidade não se repara nela. Pois forragem é dada a etimologia em um suposto frâncico *foda, havendo como raiz no francês antigo fuerre. E a todas luzes, a pouco que seja mirado em detalhe o aqui exposto, isso cai.
Este grupo lexical do fer-/far-, da ferrã e do feo e erva gaélico grupo teria uma origem num período como mínimo pré-romano, e não germânico do começo da era, nem derivado do proto-germânico *fōdrą.

Também a série gaélica das palavras para o feno teriam relação com o farro, que dá nome à farinha de cevada e ao Triticum turgidum (um trigo primitivo); com o latim far, e o latim medieval farrum.
A palavra farinha descodificaria-se como "a do far-", do mesmo jeito que marinha é "a do mar".
Farinha tem o sinónimo de farula.
Farelos seria outra palavra deste grupo.
Farneiro é a arca onde cai a farinha do moinho, daí a farna e a esfarna, o pólen e o tempo da polinização terem uma origem neste lexema da farinha, far-, e todo o simbolismo que tem em si as fareladas e farinhadas festivas, sobretudo no Antroido,
Farna dá nome ao pendão ou cenceno do milho,a palavra velha e o milho uma planta nova: que seria a primária farna? a espiga do painço, do milho miúdo?

Outras formas célticas do feno são:
No bretão foen.
No galês ffwyn "feno, erva-seca".
Este ffwyn é pensado derivar do latim foenum.
Como no caso de fano, par de feno em Trás-os-Montes, e o verbo fanar na sua polivalência que semelha desconexa, "secar" e "cortar"; o galês ffwyn também significa "cortadura, lança, espada".

A fouce foi primeiro de sega para depois virar em falcata?
Fouce antiga que é uma fauce.

Depois disto, a hipótese indo-europeia para o feno, seria uma linha hipotética tal que assim:

Um *pæno (pão, panasco, painço, panem, panus) inicial, com o direto: *fæn- (com toda a família do faenum e feno, das línguas romances)  e daí com o finlandês heinä que faria ligação entre as principais línguas da Europa.
No finlandês heinä é pensado estar relacionado com o proto-balto-eslavo  *śaina-, mas também poderia ligar com as formas do tronco germano *hæ(n-) hay inglês.

Confronte-se também com o asturiano ḥenu.

Neste grupo da famíla do proto-balto-eslavo  *śaina- / sæn-, há as linhas:
- No eslavo: се́но (séno) no russo com formas similares nas restantes línguas eslavas.
- No báltico: suejnie e formas similares na família saami, šiẽnas no lituano.


Haveria então uma série de evolução fonética:
*pæna → *fæna → *hæna → *sæna.
para falarmos das ervas secas, palhas e cereais?
Ou seria outra, a série das mutações?

Aqui na busca de um lexema primário paleolítico há no asturiano do grupo da ferranha a palavra ferrén com a parelha berrén "pão, alcacém de centeio".
Então no grupo do gaélico fér , do far e farrum latino e da ferrã, poderia ser suposto um étimo primário *bær-.
Os cereais para serem conservados no antigo eram fermentados e guardados como alimento, como cervejas. Esta fonte da ferranha e do fér, e de berrén/ferrén pode explicar a família germana da cerveja, beer, cultura que conservou o cereal de este jeito.
Assim o asturiano ajuda a perceber mais fundos do lexema ferrén / berrén com palavras como:
Berróndigu: não maduro, verde.
Berrona: uma espécie determinada de planta de lugares húmidos.
Berríu, berría berrío: muito verde e amargo a falar de uma fruita.
Berriu /'be.rju/: agrião (Nasturtium officinale). Aipo (Apium nodiflorum). Angélica-silvestre (Angelica sylvestris). Casca verde da noz. Prado húmido.

Então poderia ser observada uma ligação entre a família do cereal de lexema fer- e o verde ou verdura?
Se consideramos que na génese do idioma o substantivo é anterior ao adjetivo, no galego verde é um dos tantos nomes do alcacém, da ferrã. Também é no asturiano verde nome do alcacém e da erva segada qualquer para o gando.
Segundo isto teria havido um lexema verd-/fer- com um primário significado de erva comestível, ou pastagem.





Implicações:

A seara e formas parelhas como senra, serna e outras faladas nas Astúrias: sienra, xenra, sierna, sénera, ou a senara castelhana, tenhem a ver com lugares de plantação de cereal, por vezes polo sistema de reparto do comunal. Estas plantações-palavras com o lexema *sena, teriam a ver com a cultura neolítica do cereal, e estariam ligadas foneticamente com as palavras eslavas para a erva-seca ou feno: се́но (séno) ou com o gaélico escocês saoidhe /sɤjə/.


Quando na Galiza é dito pão para dizer centeio, a mente por costume ou por colonialidade, tende a pensar que o corrimento de significado foi desde o pão, como produto culinário, até o pão como cereal.
E se fosse ao revés?
Que o pão primário fosse um panasco?, uma gramínea silvestre?

Palavras que tenhem a ver com erva-seca e cereal que ajudariam a mudar a linha de pensamento:

Panasco: uma espécie de gramínea, erva dura que medra em lugares de pouca auga, erva de outono viçosa.
Com fanaco: erva seca que ficou sem cortar ou pascer, que serve para alimento ou cama do gado.

Panascu (asturiano): erva dura e de má qualidade que medra em lugares pouco adubados.

Panada: Molho de feno ou palha, antes de formar feixe, montículo de mato roçado.

Panoia: espécie de aveia (Avena fatua e Avena sterilis).

Painço, latim panicium: Setaria italica e outras espécies de milho miúdo.

Pan (asturiano): centeio, trigo, escanda.
Pão: centeio.

Por exemplo no caso da broa, o espanhol borona tem a série completa:
Borona: milho miúdo, milho americano, pão de milho.

Panasco, chamado panasco-das-areias (Dactylis glomerata).

Nesta série de palavras, e desde o pensamento do paleolítico-neolítico, poderia ser que, no inicial, houvesse uma gramínea silvestre da que eram aproveitadas as suas sementes, chamada de *pæna / *kæna, de talos duros que perduravam no inverno, degradada na atualidade com o sufixo -asco: panasco.
Se usamos da hipótese do celta-p e celta-q, neste caso indo-europeu-p e indo-europeu-q o étimo comum prévio a *pæna / *kæna: *kwæna
Mas depois uma gramínea selecionada no neolítico agrário que conservou o nome sem alterações: pão (centeio), pan asturiano (centeio, escanda, trigo) kant- hitita "trigo".
Confronte-se com o grego antigo πόα (póa) "erva-seca".

É chamativa a relação de messe e pão com os frutos das árvores:
Assim messe, o cereal, teria na proximidade o nome da landra céltico mes em galês; mais genérico no gaélico: maes "fruito do bosque, landras, nozes, avelãs..."

O "nosso" pão (centeio, trigo, escanda) teria um par semelhante com o sânscrito पनस  (panasa) nome da árvore jaqueira, árvore que dá um fruto que é a base alimentícia de povos do sudoeste asiático?

पनस  (panasa) jaqueira (Artocarpus heterophyllus).

No hitita kant- é uma palavra que é pensado significar escanda, uma variedade de trigo antiga (Triticum monococcum e Triticum spelta) própria da revolução neolítica agrária.
Estas primeiras espécies de trigos cultivares têm como parente o trigo silvestre Triticum boeoticum, que comummente é pensado ser originário da Europa do sudeste e do Oriente próximo asiático até a Pérsia, mas este Triticum boeoticum também medra da Península (Coslada, Madri).

Então teríamos o famoso par celta-p / celta-q, que não seria outro que o par indo-europeu-p/indo-europeu-q?
*pæna/*kæna.
Desta linha do indo-europeu-q, *kæna / kant- hitita e a escanda (mais alargadamente tratada neste outro escrito desta ligação) poderiam estar as seguintes palavras:
No árabe: قَمْح‎ (qamḥ) "trigo, grãos de trigo".
No aramaico קַמְחָא (qamḥā) “farinha”.
No curdo genim "trigo".
No pachto  غنم  (ǧanëm) "trigo".
No persa گنم‎ (ganom, genom) "trigo".
No tajique: гандум (gandum) "trigo".
No avéstico 𐬔𐬀𐬧𐬙𐬎𐬨𐬀‎ (gaṇtuma), 𐬔𐬀𐬥𐬙𐬎𐬨𐬀‎ (gantuma) "trigo"
Nas línguas célticas britônicas: galês: gwenith, côrnico: gwaneth, bretão: gwinizh.

No tocariano B: kanti "pão (cozinhado)".

Então poderia ser visto um elo entre grão, granum latino, grano italiano "trigo", o kant- hitita e estas palavras anteriores, que mesmo estariam polo Nilo com o com o suaíli ngano "trigo".

O sânscrito com a palavra तृण (tṛ́ṇa) "palha", como entraria nesta linha?
A confrontar com o antigo brem "farelo, relão", do grupo do inglês bran "grão de cereal quebrado, moído grosseiramente" (*)

Deste grupo do kant- "trigo" hitita:
Nas línguas britônicas can (galês) tem um significado de branco, branco brilhante, mas semelharia um corrimento de *kan "farinha de cereal" a cor, confronte-se como no bretão cant é "acinzado, grisalho" cor de farinhas de milho miúdo ou centeio. Do mesmo modo que a escanda "cereal" e o escandecer "brilhar".
O centeio dizem provir da raiz latina centenum, e daí de: centum. Mas esta hipótese aqui aberta ligaria o centeio com a raiz hitita kant- : com uma possível forma tipo *kantenum, um adjetival "trigueno / trigueiro".
Um dos nomes do carvalho cerquinho, do Quercus pyrenaica, é centieiro, pondo-o em relação aparente com o centeio, com centeeiro. Se consideramos a relação antedita entre a messe cerealística e a mes landra céltica, que o cerquinho seja chamado de centierio, pode ter uma explicação na utilização das suas landras como alimento, *kant-i-ariu

Também com candeal é adjetivado um tipo de trigo, o pão feito dele, a sua farinha de cor muito branca.
Candeão é a espiga do trigo.
Assim a farinha dita "farinha de escânia" tem muito significado, pois dá nome à farinha branca, para diferenciar de uma primária farinha talvez mais escura por ser de milho miúdo ou de pão (centeio), farinha centeia.
Uma palavra aqui para pôr (do grupo escanda e farinha de escânia) é escana: aresta de cereal. Se a enxergamos desde o neolítico onde grãos não sempre eram moídos, mas mastigados (Ötzi) a relação seria possível.
Por exemplo no latim semelha haver uma realção entre siliqua "aresta, pragana" e siligo "trigo de inverno", como no alemão o nome da aresta ser Granne.
Também a perceber que a primeira cana pudo ter sido a cana de cereal, a palha, feno, deste grupo da escânia, escanda e kant-.
Assim nas línguas antigas semitas a palavra para cana é a mesma que a palavra para palha ou para talos de plantas:
No siríaco antigo: ܩܢܝܐ (qanyā)
No aramaico קַנְיָא  (qanyā)
Tronco semita que semelha nascer do acádico 𒄀 (QANÛ).

Este túnel do tempo e das palavras ainda nos leva ao Sumério onde 𒃷GANA , com as variantes GAN e KAN, dá nome ao terreo de lavor, a uma terra de lavrança, também à cultura ou cultivo.
A língua georgiana pode esclarecer com a explicação de ser ყანა  (q̇ana) "campo de trigo / de cereal".
O sânscrito ajuda a completar  esta raiz kant- do hitita, completando o quadro com a palavra कण (kaNa) grão, grão de milho, floco de cereal.

Estas palavras levam-nos ao galego-português coanhos: restos miúdos: espigas, grãos e palhas, que ficam na eira, depois de malhar, também chamados canhos....
Se atendemos ao explicado anteriormente sobre a divergência *pæna  *kæna
Talvez *pæna mais occidental, mas não unicamente occidental: pão, panasco, fenasco...
E *kæna mais oriental, mas não unicamente occidental: hitita kant-, sânscrito कण (kaNa), persa گنم‎ (ganom, genom) ....

Usando da hipótese celta-p e celta-q, ou indo-europeu-p e indo-europeu-q, teria havido um étimo prévio a ambas as ramas, tal que *kwæna.

Então é possível entendermos que no passo do paleolítico ao neolítico a recolha de cereais silvestres, ou milho miúdo, por um grupo humano poderia dar num monte de espigas, grãos e palhas, numa aira primitiva que seria um penedo para malha e assolhado.
Quer dizer, que no galego-português, polas causas que fossem, ficou o fóssil vivo originário de toda esta reste de palavras na palavra coanho.
( Escuanyar(ast): tirar a castanha do ouriço).
A hipótese nostrática poderia explicar isto, hipótese que considera que no epipaleolítico (15.000-12.000 aC) poderia ter havido uma língua comum às principais famílias aqui relacionadas, o indo-europeu, as semitas, o sumério, e as urálicas (finlandês), além de outras famílias linguísticas.



A relação entre o feno e o trigo (panasco/pão) estaria por exemplo na palavra finlandesa para a erva-seca heinä e para o trigo vehnä.
No russo се́но (séno) "feno" e пшени́ца (pšeníca) "trigo".
Também o finlandês a palavra para a palha pahna semelha associa com o pão.

O caso das aveias, poderia ser uma prefixação do hipotético *fæna: *afæna: avena?
Por exemplo no hitita ewan "orjo, cevada", onde teríamos a forma *e-wan/*e-kant, uma espécie de "não-trigo". (Confronte-se com o prefixo do tocariano b: e(n)- "não").






De como o pão centeio chegou à flauta de pã? E mesmo ao mesmo deus.
Na Galiza é muito frequente falar de que "não está o alcacém para gaitas".
Na cultura rural, canas verdes de aveia, alcacém, ou outra gramínea alta, são usadas para fazerem pequenas linguetas vibratórias ao modo dos palhões da gaita de fole, esta aveia assim trabalhada tem o nome de gaita.
Waita significa trigo no dialeto elfedaliano, falado na Escandinávia, do tronco germano.
No árabe marroquino الغايتة (alghaita) "palheta".




Aqui saíram um grande rebúmbio de palavras que fôrom relacionadas desde uma visão agrária, camponesa, na intenção de compreender as derivas e relações linguísticas do passado.
Observando como nesta esquina do mundo estão muitas das raízes, e chegando à encruzilhada de sempre, quantas das palavras que aqui são faladas neste campo léxico do feo, palha e cereal, são de uma chegada recente, pois de Roma até hoje, e quantas são da revolução neolítica?, e há alguma paleolítica!
E sendo pensado que a revolução neolítica foi longe de aqui: por que aqui são conservadas as séries quase completas?
Ou aqui todo chegou?
Ou o que aqui estava era muito antigo e na evolução ficárom os fósseis com muitos dos passos intermédios?

Seja como for, este é um exercício de como o jeito mental nascido da vida agrária galega poderia estruturar as palavras e dar uma forma mais harmónica e congruente ao barulho das etimologias, neste caso do campo léxico da erva-seca, palha e cereal.











(*) Para reparar no caso do lexema bran-
O farneiro, a arca onde cai a farinha leva o nome de brandeiro, brandal, blandal.
Brandeiro tem a variante grandeiro.
Brandoeiro / brandueiro é o espaço em volta da mó, nos moinhos de mó descoberta, onde vai caindo a farinha, também chamado grandueiro.
Grandeira é a moega, e grandeira é um maço para pisar a palha, para que fique picada e sirva de penso para cavalos.
Já no asturiano: brandal é o farneiro, com múltiplas variantes: barandal [Ay. y Ll. Bab. y PSil. Tor. Pr.]  baranzal [Ay. JH. R.]  bendal [Tb.]  berendal [Sm. An. Cv. Oc.]  blandal [Ar. Cruce.]  blandeal [Os.] blandial [Cl. Os.]  blanzal [Cl.]  blindal [Cn (M).]  branzal [Cb.]  brendal [y Ay. Ri. Qu. Tb. Sm. Cv. Oc. Oneta. Valdedo (Cv).]  brindal [Sm. Pzu. Cn.]  grandal [Sr.]  merendal [Colinas (Cv). Oc.]  murendal [Oc.]  banzal

Este grupo de palavras asturianas ajudam a perceber a relação com o francês antigo e provençal brent, bren, bran com o significado de farelo.

O grupo de palavras talvez mais próximos a este brand- (grand-) seria o galês blawd "farinha de inferior qualidade", com os parentes no córnico blot, bretão bleud; de um proto-céltico *blātus, do protoindo-europeu *bʰleh₃- "flor" ou proto-céltico *mlātos, do porotoindo-europeu *ml̥h₂tós.











Cantelho / cantelo é um pão de voda. Confronte-se com o hitita kant-.
Candelão, candalão, candeão, candial: centeio pascido no inverno e depois deixado para grão.
Quanto a proximidade entre candeia nas suas ideias de "luz, lume" e o cereal da família kant-: confronte-se no grego clássico "piro" πυρο- (puro-), de πῦρ (pûr) "fogo" e πῡρός (pūrós) "trigo, grão de trigo". Entende-se assim que o genitivo de πῦρ (pûr) é πῡρός (pūrós), então no grego clássico inicial o trigo recebe o nome de "fogueiro, do fogo, do lume"; estabelecendo-se uma relação talvez com a palha, esca do lume, da tecnologia paleolítica.
Daí a relação galega entre o escandescer, a candeia e a escanda, e mesmo a esca, como isca do lume e como alimentinho.
Verbo lakota ská "ser branco, ser claro, ser limpo e puro", adjetivo ska "branco".


A etimologia do ferrado como medida de volume de cereais, quantidade de semente que é empregada em um ferrado de terra, recebe uma nova visão, pois o ferrado é o terreno plantado de ferrã, de alcacém, sendo ferrã ligada etimologicamente ao gaélico antigo fér "erva".
Os ferrados de cubicação poderiam levar ferro na sua construção, mas os mais deles estão feitos de madeira ensamblada.
Então o ferrado ou a ferrada é a medida da ferrã, dos grãos de cereal.
Assim o poema de Afonso X "De grado ora querria saber"
....
Encobrir nom vo-lhos vejo fazer,
cõn'as pontas dos mantos trastornadas,
em que semelham os bois das
ferradas
quando as moscas los vêem coitar;

....
A ideia dos bois das ferradas poderia ser não bois que estão sendo ferrados, como comumente é "traduzido", atualizado este poema, mas bois que estão comendo ferrã, sendo ferrada o lugar onde medra a ferrã, o alcacém.
Então na toponímia da Gallaecia, topónimos de base ferr-, ferrad-, além de ser considerado o ferro, ou o ferrado como medida agrária, poderia ser considerada a ferrã, a ferrage, a atual divulgada forragem.

.....



Centeio: 
Secale em latim, 𒋛𒃲 si-gal no sumério do 2500aC dá nome a um tipo de pão.

.....

Em Trás-os-Mones:
Pão de saluga ou pão de saruga, é o pão feito de um só tipo de farinha, não de mistura.




Seruga / saruga / saluga / charuga: tenhem significado ou relação com a aresta, pragana e com o Bromus diandrus, uma gramínea, poácea de fortes arestas bicudas que podem perfurar a pele.
Isto fai pensar numa relação entre o cereal e a saruga, mesmo escrito  como çaruga, derivados do indo-europeu *ker- "nutrir, medrar". Siligo trigo em latim.

Parelho a este significado de cereal está no galego e no asturiano esta raiz como dente de alho nas formas de seruga e saluga. Seruga asturiana que além de dente de alho é nome para a semente.
Alhos da zona galica de esta raiz, versus cereal?
A relação com alho apenas semelha possível com a línguas túrquicas (*sarïmsak, proto-túrquico) e persa سیر  (sir)?
Esta divergência entre alimentos com a mesma base indo-europeia num lugar tão pequeno?
*ker- cera inicial mel para logo passar a ser a cera do favo (favo que é também comer, mas também ficou na cera incomestível).
*ker- cereija, cerola, cirigola
*ker- cereal
*ker- saluga seruga "alho".




A gavela e outras cousas

Gavela é um feixe, talvez era, porque já não se agavela nada com a mudança dos modos agrícolas e a suas máquinas.
No gaélico antigo gabál ajuda a perceber uma gênese possível, com o significado de "ação de colher em possessão, o ato de agarrar, de pegar em, o ato de pôr uma roupa".
O antigo gabál  tem o atual gaélico irlandês:
Gabháil, com os significados de:
Captura, apreensão; assunção (de autoridade); ocupação (do território); aceitação; empresa
Encaixe, ajuste;
Jugo, arnês;
Traje;
Suporte
(música, poesia) renderização, processamento.
Fermento, lêvedo.


Gabão a roupagem, tem as seguintes etimologias possíveis:

A isto haveria que engadir o gaélico antigo gabál "o ato de pôr uma roupa" ou o atual gabháil "traje".
Então poderia haver uma relação entre o gavar-se "louvar-se, jactar-se" e o agasalhar-se com roupas?

No galês desta família de gabál está o verbo gafael com os significados de pegar, segurar, agarrar.
Esta raiz daria uma ligação etimológica com o catalão agafar com significados semelhantes de pegar em, colher... onde a raiz gafa catalã é nome de um gancho.
Assim a ave gavião e as gaivotas teria em si este étimo de pagar, colher, capturar.
Gavejo é nome do ancinho para Trás-os-Montes, é na Galiza ordem, arranjo, cuidado, atenção.

O gaélico irlandês gabháil como jugo tem em si uma ideia de ligação, do mesmo jeito que o jugo iugum e o ioga  योग • (yóga).

No asturiano já for por pars pro toto ou totum pro parte, no mundo do jugo há um grupo de palavras que poderiam ter relação com a raiz gabál:

Camella: parte encurvada do jugo que apoia na cabeça ou pescoço; jugo para uma só vaca. Vaca ou boi que andam ao jugo; vaca forte para o trabalho. (Confronte-se com camelo, no espanhol gamella parte arqueada do jugo que apoia no animal).
Camellar / acamellar: jungir, pôr ao jugo.
Camellegu / camelleru: vaca ou boi que pode ser junguido em ambos os lados do jugo. (Confronte-se com cambiar). Camelleru: forte para o trabalho.
Camellón: cada uma das proeminências na parte superior do jugo que servem para segurar o loro ou para atrelar os cornos ao jugo com umas correias "corneiras". Arco do jugo que assenta sobre o animal.
Camellu: parte arqueada do jugo. Proeminências do jugo para ser segurado à cabeça do animal ou à cabeçalha do carro. Boi para trabalho, forte, resistente e pequeno.



No galego deste grupo do jugo de lexema camel- há:
Camelo, camelhão e camelha como as proeminências do jugo onde engancha o loro
Camelha: parte recurvada do jugo
Camelho: parte do jugo que assenta sobre a molida.
Camela: entalhadura
Camalhão (-om) é cada uma das proeminências do jugo; camalhão também cambalhão é a parte superior de um rego, ou num caminho rodado, a parte alta entre as rodeiras.

No jugo a parte recurvadas poderia ser pensado que tem a ver com cama por ser assento na cabeça ou pescoço, mas tem também o nome de cambelo, onde cambelo tem o lexema camb- que é frequentemente associado com parte curvada, lexema o de recurvado que parece dominar o conjunto

Sobre a coincidência dos camelos animais terem o mesmo nome que os camelos do jugo:
No asturiano já camellu e camella dá nome a animas fortes para o jugo, como se houvesse um traslado da palavra da parte que pega no animal para o animal. E desde aí para o animal forte.
O jugo tem jugueira, que é a parte curvada que assenta no animal, no pescoço ou caluga, a molídia tem jugueira que é a sua parte que recebe o jugo, e a vaca ou boi tenhem jugueira que o pescoço ou um calo produzido polo jugo: Este pode ser um movimento de significados.

Também camelo é a proeminência, o castelo, do jugo que poderia ter uma relação com as corcovas do animal.

Por outra parte camelo semelha um diminutivo de cama / camo, e como foi desenvolto noutro escrito:
Gama / camurça, a família de camox poderia estar aparentada com persa médio TWRAmyš (gāw-mēš) "búfalo, literalmente: vaca-ovelha”; pois no persa گاو‎ (gâv), “vaca”) e میش‎ (mêš), “anha, borrega”; antigo armênio e atual գոմէշ (gomēš), sírio clássico ܓܡܘܫܐ‎ (gāmōšā), árabe جاموس‎ (jāmūs), georgiano გამეში (gameši), კამეჩი (ḳameči), კამბეჩი (ḳambeči), checheno гомаш (gomaš), ossétio къамбец (k’ambec) todos como nome do búfalo.
Então o camelo que foi chamado de gamelo, estaria neste conjunto de nomes de *gow-mes, neste caso *gwo-m-elo.

Já desde a etimologia mais divulgada camelo seria uma palavra de origem semítico da raiz gamal-
No árabe: جَمَل‎ (jamal)
No hebreu גָּמָל  (gamál),
No acádio 𒀲𒃵𒂷  (ANŠE.gam-mal), onde anse é nome frequente para cavalo ou cavalgadura, sendo gam-mal um modificador?
No sumério 𒃵 (gam) significa curvar, o que liga com o lexema galaico camb- com o mesmo significado, cambar.

Estas ideias do acádio e sumério sobre o camelo animal como cavalo curvado ligam com a parte do jugo chamada cambela / camela, cambelhão (-om) parte curvada, mesa que assenta sobre a jugueira.
Estamos a falar de uma palavra-conceito camb- /  𒃵 (gam) que pertenceria a um tempo anterior à diferenciação do indo-europeu e do proto-semita, levaria a um tempo onde as línguas semitas e o indo-europeu não estavam conformadas, que seria anterior ao 10.000 aC.