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O Moneco

 Já neste blogue foi alargadamente apresentada esta estrutura que se repete por muita parte da antiga Gallaecia e não só nesta zona:
Isto é polo Moneco, da freguesia de Santaia de Provãos (Oça-Cessuras):



Esta estrutura corresponderia a um cousso de caça evolucionado a granja neolítica.
Pontos relevantes, a meu ver da identificação de esta estruturação do terreno:
- A sua ancestralidade
- A sua coerência toponímica, que indicaria uma continuidade, ainda que os idiomas ou as camadas linguísticas mudassem, os nomes, de raiz céltica ou mesmo protoindo-europeia, ou traduzidos à nova língua, permaneceram desde o Neolítico, ou desde antes, se temos em pensamento que algumas granjas neolíticas são coussos do paleolítico final transformados em tapadas.


A microtoponímia limitante: 
Serreiras, topónimo que marca a sua pronúncia não thetacista em território que sim o é /se.'rei.ɾɐ/ versus /θe.'rei.ɾɐ/
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Barreira, possivelmente sobre o lexema barra e não barro.

A microtoponímia dos limites, menos evidente ou duvidosa:
Neste caso dá para reparar no par em simetria Os Lagos -Regueiral
Lago foi já em diversos escritos de este blogue analisado como rego, mesmo é fóssil vivo, pois lago significa também "rego que conduz a auga de rega".
Regueiral com o seu significado evidente.
Então a grande tapada teria estado delimitada por valo e por um fosso, um rego ou regueiro, um lago.
A sul: Barbeito, que poderia estar a dar nome a terras agrárias em pousio, ou a ter em conta os tantos topónimos com base barb-, onde barbeito poderia estar a expressar o seu significado de "vala, cômoro ou muro que divide propriedades rurais".
E também a Zurreira, que poderia ter a ver com o zurro ou enxurro, ou ser uma variação do comum zarra "tapume", zarreira.

Outra toponímia explicável pola sua relação com a anterga estrutura de caça ou tapada neolítica de animais semi-domesticados em catividade:
Garga: como variante de galga, entalhe na sola do soco que forma o salto. Poderia estar a dar nome a um cômaro ou talude.
Varaio, no século X como Uaraiu, talvez um derivado de vara? Em Ducange um dos significados de vara é o de "guarda, custódia", que poderia ter a mesma origem que o proto-germânico *wardāną.
Onde, polo protoindo-europeu, vara e guardar e barda teriam a mesma raiz.
Então Varaio, Uaraiu, hipoteticamente *wara-eno, poderia ter sido o lugar desde onde o gado, o rebanho em semidomesticação, seria guardado, vigiado.

Outra toponímia a destacar pola sua simetria:
A simetria de Carva e Carvalho.
As simétricas Chousas posteriores aos becos de captura: Chousa do Rio e Chousa da Aldeia.
A estrutura de caça passiva funciona o mesmo que a nassa de pesca, obrigando ao grupo que entra nela a acabar nos becos larerais onde a sua captura em foxo ou à espera seria mais fácil.

Quanto ao nome do Moneco, faz pensar na dupla boneca / moneca.
Se o relacionarmos com o leonês e castelhano "muñacu/muñeco", iriamos a um étimo *monneko.
Que aparentaria com o latim tardio monnula "nome dado à amada, carinho", um diminutivo do que a palavra raiz *monna / *monnus é perdida.

Confrontando com La Moñeca, na freguesia de Hevia (Sieru, nas Astúrias):
(L'Azorera pode ser comparada com os topónimos do grupo açor, já analisados neste blogue, 1 e 2, que também identificam coussos de caça ancestrais).

Então tendo em conta estes dous topónimos epeciais Moneco e La Moñeca, poderia ser lançada a hipótese de uma raiz comum *monn-ecus.
Esta toponímia de base muñ- castelhana e asturiana é explicada como derivada de : *munno-, *munnio- "colo, pescoço, colina"; com o basco muino "colina, montículo", e o occitano bearnês mounhoc "vulto, bossa"; derivados do  proto-céltico. *moniio- "montanha".


Neste caso Muñera, na freguesia de Llorio (Llaviana das Astúrias).

Esta raiz hipotética de esta toponímia *munn- talvez tenha a ver com o nome Munnius / Monnius / Munius?

Estas localidades do Moneco e Muñeca e Muñera ajudariam a perceber os significados de munire latino "fortificar, guardar, defender, prover".
E do gaélico muín. Com ideia de proceder do proto-céltico *monis  "colo, pescoço" (talvez, a meu ver, *monnis, confronte-se moñeca no asturiano e muñeca no espanhol como nome do pulso, se calhar na ideia de "pescoço da mão").
Com a forma proto-céltica *moniklo- "colar, e neste caso torques".
De entre os significados proto-célticos de *moni- / *monni- está o de "proteção, mecenato".
Escreve Matasović:

.....muin ‘protection’ as the same word as muin ‘upper part of the back, top, surface’. It would have been abstracted from phrases such as ar muin ‘on top of, do muin ‘under the protection of, etc. OIr. muinter [af] ‘community or group of persons connected by a bond, family, household’ could be from  *moni-tera and preserve the same root, but it has also been derived from Lat. monasterium (< Gr, monastḗrion) ‘monastery, community of monks’ (GOI: 570). MW mynawc is a derived adjective (with the suffix *-ako-) from the underlying noun *moni- ‘protection’ (it is also attested as a substantive with the meaning ‘nobleman’). These words have been related to Lat. manus ‘hand’ (de Vaan 2008: 363), which is convincing from the semantic point of view. However, since I prefer to derive Lat. manus and Gr. mare ‘hand’ from PIE *meh 2 r / *mh 2 nos, this etymology is unlikely to be correct (we would expect *mani or *mani- in Celtic).

Segundo este fio, mosteiro, monasterium, monacato, monge, poderiam deixar de estar sediados no lexema grego μόνος, mono-, partícula de individualização; e sim estar fincados nesta raiz que aponta a linha céltica de *munni- e que a realidade física que a estrutura do Moneco manifesta alicerçaria.
Assim o sânscrito मुनि (muni) estaria no mesmo conjunto etimológico que monacato, observem-se os seus significados de: "asceta, lugar sacro, pessoa santa, vidente, pessoa extática, enlevada, entusiasta, devoto, bramã da mais elevada ordem, pensador, eremita, qualquer pessoa movida por um insight ou impulso de compreensão".
O que nos leva a uma derivação, especialização do pastoralismo neolítico inicial, onde na sociedade dos guardadores de rebanhos teria havido umas comunidades "específicas" para o ensinamento ou práticas espirituais, xamánicas, posteriormente religiosas, um proto-mosteiro. Aqui então é que está o Shiva Pashupati, se calhar irmão ou outra manifestação do mesmo que assoma no Cernuno :



Mas voltando a muin, um dos significados em gaélico escocês é o de estripo, espinho, silveira. (Neste blogue já foi alargadamente explicada a relação entre o espinho e a vedação, baseado na topografia dos cercados para gado e na toponímia)
Podemos confrontar o ancestral *munn- "espinho, silveira" com os currais, boma, dos povos gadeiros da África do Sul e Central:
Boma do povo massai, uma paliçada viva, uma sebe de espinheiros ou gaélicos muin, que guarda o rebanho e a aldeia.
Foto tirada do trabalho: Lichtenfeld, L.L., Trout, C. & Kisimir, E.L. Evidence-based conservation: predator-proof bomas protect livestock and lions. Biodivers Conserv 24, 483–491 (2015). https://doi.org/10.1007/s10531-014-0828-x

A linha etimológica que é aberta aqui teria a ver com a funcionalidade do briugu, e com as instituições de hospitalidade e de reciprocidade, com a proto-moeda.
Como já foi apresentado no blogue, as vias de comunicação antigas teriam ido de cousso a cousso, antes da domesticação, logo no neolítico estas vias seguírom sendo as mesmas e os coussos teriam virado pousadas pastorais, ameijoeiras, para finalmente serem mesões, e mānsiōnēs.
Com uma territorialidade ultramarcada, saiba-se que um viajante no mundo céltico, não podia sair do caminho, de sair dele podia-se-lhe dada morte sem ter custo judicial nenhum para quem o matar.
Cada território tinha um *con-munno.
Os significados do munus latino como: um presente que obriga ao intercâmbio, uma prestação de serviço, uma obriga tributária, um edifício público, levam a considerar um sistema económico prévio ao monetário:
Isto explicaria o significado de camuñu no asturiano como "avarento", como também a palavra asturiana ermunu que dá nome à árvore própria ou ao gado próprio, para fazer diferença com aquilo que é a comuña ou comuñero. Isto tudo dá uma ideia da sua relevância, e de como a propriedade particular teria sido relativamente recente, e a economia dcomuña teria tido muito peso.

A territorialidade anterga, ajudaria a perceber a palavra imunidade como aquilo que fica fora do *munn-, que pode transitar e atravessar os territórios ....

Então o lugar do Moneco situa-se no limite territorial entre as terras da Marinha, e as terras da Montanha, entre os arciprestados de Xanrozo e Barbeiros.

Estaria o Moneco no pescoço de uma estrutura de caça, ou na manga de uma granja neolítica posterior, onde uma comunidade trabalharia no cuidado do gado sob uma autoridade, que a pesquisa etimológica, trajaria de xamã ou religioso, usando torques, com um sistema de relações económicas e de serviço mútuo, de intercâmbios económicos por troco, entendidos como presentes com obriga de reciprocidade (o rajo do porco na matança)  e um sistema de governo (hoje dito como caciquil) de apadrinhamento e proteção em troca de fidelidade e serviço.


Cadoalha, uma hipótese para a sua origem etimológica

Cadoalha (São Pedro) é a freguesia pela que ocorre a passagem entre Bezerreã e os vales que correm para Neira de Jusã, Baralha.


Cadha  /ka.a/ em gaélico escocês significa:
barranco
passagem estreita e íngreme entre montanhas
lugar de passagem
enseada, cala
(arcaico) porta interna da palhoça tradicional, que comunica os dous espaços nas que está dividida
entrada, pórtico

Cadha semelha uma palavra órfã, associa-se com o irlandês caoi, gaélico antigo cáe, com as variantes  caí, cue, cua, coí, cuí, cua, cúadh, cæiti, cæthi, e com os significados de caminho, passagem; jeito, maneira.

Poderia ser associada com o latim callis "trilha íngreme, pedregosa".

Esta palavra escocesa cadha explicaria alguns dos significados de cala no galego-português, como são o de enseada, o de cala de navegação, e o de rego de rega.
Ajudaria a perceber o porquê da palavra galega cadal "trincheira, fojo".

Mesmo cadha gaélica ajudaria a perceber o porquê do antigo nome Cale na desembocadura do Douro.
A raiz gaélica explica a dupla asturiana la cai "rua, calhe" e el cai "o cais".
Evidentemente explica o cais. Estes lugares portuários são melhor percebidos desde esta raiz, que desde a etimologia clássica que usa o francês para explicar o seu quai como tendo a ver com o galês cae "sebe, valo, campo cercado".
Seguindo polo asturiano cadu "terreo pouco chão e pedregoso de pastagem, também chamado cadurrial; recanto formado por várias rochas juntas; rocha ou pedra enterrada que sobressai do chão". Então poderia ser aqui posta a família galega do cadulho.

No aragonês cado "esconderijo, guarida, toca, madrigueira, ninho, covil, refúgio, recanto, sítio escondido ou retirado", poderia também estar nesta linha etimológica.
Para o mais divulgado, desde o latim, o cado aragonês derivaria de cavus > *cao > cado, por ultracorreção, mas o cadu asturiano poderia estar a invalidar essa ideia, junto com:
Cadurneira "buraco numa árvore" e cadurniço "carriço" (pola sua forma de construir o ninho) achariam a sua explicação no aragonês cado "ninho, covil, toca, recanto, esconderijo".

Cadurniço (The Wren's Nest - Harrison William Weir - 1881).Troglodytes troglodytes.
O seu nome mais divulgado carriço, carriça, poderia estar nesse proto-céltico *karrak- mais abaixo apresentado?
.

A destacar que cadha gaélica tem a variante catha. O que ajudaria a ver a relação entre calar e catar, entre a cala e a cata, por exemplo a palavra asturiana calicata poderia ser interpretada como tautológica.

Palavras galegas com o significado de barranco como são: carroço, carrioço, carrinco, carricova, carriboço, poderiam ser associadas a esta raiz aqui proposta, com o galês carrog "ravina, torrente". Confronte-se o par carriboço e caliboço, que ligaria o radical proto-céltico de carrog *karraka "barranco, ravina" com o de cale "rego, canal".
Também canicova / canicouva teriam a ver com carricova: o que daria indicação de uma "instabilidade" do lexema *karr(aka) "barranco, ravina" como *kan- / *kal- / kad-. confronte-se com o italiano calanco, o siciliano calancu e o francês calanque.
Esta variação*kal-/*kan- indicaria a possibilidade de um cale, atual cal, anterior à colonização romana (confronte-se com callis latino), afrente um posterior canalis do latim.
Voltando ao galês carrog, com o gaélico escocês cadha e com o galego carroço estariam mesma raiz, no primário barranco-ravina *kal- / *kar-?
O que levaria a associar callis latino,  galês e galego carrog-carroço e o aragonês, asturiano, galego, gaélico cado-cadu-cadal-cadha num suposto proto-céltico e protoindo-europeu.
Confronte-se com cafua paraje hondo; campo rodeado de altas sierras [A.Otero, 1963].
Cafua tem a duplicidade de lugar profundo e cabana simples de terrões. 
Está a cafua num paralelo de significados como a barraca  como o barranco?
Cafua abre a porta aos desprezativos cafualha, cazabalha, cazobalha, cazualha, cazoalha, gafualha (tão próximos a Cadoalha) que inicialmente seriam os moradores da cafua cabana/barranco, talvez grota/gruta inicial troglodita. Confronte-se com cafurna "cova", que volta ligar com cadurneira "buraco numa árvore" e com o morador do buraco o cadurniço "carriço" [A. Otero 1968, Según el sujeto, le llaman así por la forma de su nido].