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Alguns coussos e cousas da Cornualha

 Vão aqui unas poucas estruturas em forma de cousso da Cornualha com um intento de explicação da sua toponímia.
Estas estruturas de caça foram facilmente identificadas em voos sobre os desertos da Ásia occidental. Mas também são identificadas nas partições cadastrais da faixa atlântica (talvez em mais zonas do planeta).


Penberth é uma aldeia de Pluwveryan (da freguesia de nome inglês de Saint Buryan).
Na estrutura do cousso, Penberth está situada e dá nome a um dos bicos de caça.
Penberth etimologicamente poderia ser "a ponta, cabeça, estremo do berth / perth, "da sebe, do arbusto espinhoso, do campo".
Pen-, sob diferentes grafias é um lexema toponímico muito frequente na Cornualha "By Tre, Pol and Pen shall ye know Cornishmen".
Berth / perth aparece na toponimia como fito-topónimo, com o gaélico ceirth, de uma raiz proto-céltica *kʷerxtā, protoindo-europeu *pérkus "carvalho". 
Neste caso um fitotopónimo, como tantos outros que levam em si uma ideia de limite?
Virta e berth?
Virta é um terreno que está cercado, murado, vedado, com valo, nalgumas zonas: um terreno de culturas, noutras zonas um monte murado.
Virta é também o comareiro limitador de um terreno de lavoura; aquela faixa entre propriedades que não é arada.
Abirta é o rego de rega.
Polo lado céltico interpretaria-se birta / virta como relacionado com o galês perth "cerca, sebe, arbusto espinhoso, matagal, bosque cerrado, touça (terreno onde há lenha arbustiva), selva, zona rural"; com a forma parelha córnica berth / perth, nesta raiz é pensado estar o irlandês medieval ceirt "maceira?

Spernen: Espinho.
Proto-céltico *skwer "pico espinha".
O topónimo de espinho na Galiza foi analisado na nespra e o bispo. Neste caso Sprenen, singulativo "o espinho", está a fazer limite entre dous coussos (o do leste será analisado mais abaixo).


Aqui vai outro exemplo de toponímia espinho / spernen



Neste caso Spernentrog "espinho cortado", em Pluwseles (anglizado como Launcells). a destacar o nome de Buttsbear Cross, com uma tradução literal "cu de urso", butt em toponímia topográfica rural poderia significar "topo; aterro".
Summer leaze  "pasteiro comunal do verão".


Voltando ao primeiro cousso a Penberth:



Selena / Silena, a confrontar com o córnico e galês sil "conjunto de ovos de insetos, de peixes; salmão novo". Confronte-se com o comentado no escrito sobre "Sil/Gil", na ideia de juntança, esse beco seria onde se ameijoavam os animais.

Baranhual ou Burnewall, pronunciado /banewl/

Pen-an-Dre: estremo da Vila.
Aqui dre, lenição de tre / trev, teria a ideia anterga de território da tribo ou treva?
Como vilar "sebe que cerca", mais alargadamente  tratada no escrito "Guilheto", com relação com bille "pau".
Trev teria a ver com trave, latim trabs "estaca", protoindo-europeu *treb "casa".



A lenda desta zona The Fairy Dwelling on Selena Moor (interpretada sob a escola de Pinkola Estés) fala de um acontecimento que lhe ocorreu a um homem chamado Noy (Noé) e que nos tais tempos da família de Noy, apenas havia três trev, aldeias:  Pen-an-Dre, Selena, e Tresidder,  , que tudo era comunal, baldio, commons land nesta zona, nesta comarca.
Isto estaria a falar de que nos tempos anteriores ao Dilúvio, nos tempos anteriores à subida do nível do mar só havia três assentamentos:

Noutra lenda da zona: The Story of Madame Noy , relata-se como esta senhora dos Noy, da família dos Noé, residente em Pen-an-Dre ....
She was fond of going to law, and had always suits on hand concerning the bounds and common rights of her lands. She is said also to have kept the best hunter and hounds in the West Country, and that she coursed with them daily as she rode over her farms, across hedges and ditches, to inspect her work-people and stock. We suppose she was a widow then, or if she had a husband he made too little noise in his time to be remembered.

Ela frequentava recorrer à justiça e sempre tinha processos em mãos relativos aos limites e direitos comuns de suas terras. Diz-se também que ela mantinha os melhores caçadores e cães de caça do oeste do País e que percorria com eles diariamente enquanto cavalgava polas suas fazendas, através de sebes e valas, para inspecionar os seus trabalhadores e o seu gado. Supomos que ela era viúva na época ou, se tinha marido, ele fazia muito pouco barulho em sua época para ser lembrado.

Os elementos a destacar na senhora Maria Noy, são funções da matriarca (paleolítica) neolítica:
A propriedade privada e a lei.
Caçadora com os melhores cães para perseguição e para caça, já está o lobo a ser usado para ajuda.
Mas também caçadora que tem ao seu serviço caçadores.
Vigia as sebes e valas, entenda-se que o território está delimitado por um foxo e um valado.
Vigia os seus trabalhadores e o seu gado.
Pressupõe-se que era viúva ou o seu homem era pouco significante, desde o entendimento do passado recente.

Treverven, Trev-Erven, talvez  do santo chamado Ervan / Erbin que podria estar aparentado com o nome Ermin (Hermes), ou com ervim "planta da menta".

Na toponimia comparada do cousso poderia haver  uma relação com topónimo achado nestes espaços com a raiz de ermida, protoindo-europoeu *h₂er- + *-mn̥ , talvez *h₂er- + *-bn̥
Neste blogue já foram apresentados bastantes exemplos de toponímia de base ermida, que têm uma estrutura de cousso.
Na Cornualha achamos o exemplo de Pluwerm  anglizado como St. Erme
freguesia a norte de Truru / Truro:


E o relevante para a esculca: ... Again, St.Ervan, eleven miles north by west of Bodmin was called [Ecclesia] Sti Ermetis (1257,1309, 1361), Sti Hermetis (1288). in A WELSH CLASSICAL DICTIONARY - National Library of Wales




Sen Ervan, Pluwervan. Forma de cousso e toponímia condizente. Um hagiotopónimo que oculta trás de si uma razão de utilização topográfica, h₂ermn̥ /*h₂erbn̥. "lugar da reunião".
Então a divindade Hermes é decodificada como o h₂ermn̥-ez, o do lugar da reunião, o reunidor, neste caso do gado, daí a lenda do roubo de gado e posterior condição de pastor.
Este lugar levou os nomes de:
Ermete 1208
Sanctus Hermes 1210, 1258, 1291
Sanctus Ermetis 1275, 1333, 1348, 1349, 1366
de Ermet' 1327
Seint Erven 1397
Seynt Ervyn 1474
Erven 1535
St Eruan 1584
St Tervan 1727.


Tredhespan, anglizado como Trispen, tivo as seguintes grafias:
Tredespan 1325, Trethespan 1382, Trevisprin 1461, Trethespren 1483, Trethispen 1513, Trevispen meor, Trevispen vean [sem datar], Tredispan Vean alias Trevispan Vean 1591, Trispan 1695.
Onde o primeiro elemento tre- é a já explicada "aldeia, lugar" e onde o segundo elemento é confuso:
Poderia ser observada a proximidade com o elemento já analisado spren "espinho"?
Talvez aparentado com o galês ysbi sbi "espionagem".
Mas também está o elemento visp-  que lembra ao vispo ... a Trevispan por exemplo é-lhe dada a origem em Tre-guesheuin, "o lugar do primado (cargo religioso católico: arcebispo ou bispo)".
Guesheuin acham ser corrupção de quesevin.
Todos estes elementos já analisados no escrito da nespra e o bispo, indicariam um local de observação e mando.

Tregassow, poderia ser *Tregosow; tre-kosow "lugar dos bosques", mas se imos à raiz céltica de koos /coos (singular) kosow (plural) há o galês coed com o mesmo significado mas também com o significado de madeira, trave, viga, estaca, que daria o evidente "lugar da paliçada" condicente com o seu lugar no hipotético cousso.

Laniley: lan- dá nome a cercados, tapadas, por vezes dando nome a igrejas, -iley poderia vir do nome Hylei. Confronte-se com o galês lleyn "suco longo; faixa ou língua de terreno".

Voltando ao cousso com o que foi aberto o escrito, o de Penberth:




Tervedran, Trev-edran ou Trev-(e)-dran, grafado também antigamente Trevyddren ou Trevydrene.
Edran é traduzido como "silvoso, espinhoso" do proto-britônico *draɣen "Prunus spinosa".
Seria isto para ter em conta a relação entre édramo ("valado de terra com vegetação no seu alto" que é suspeito de derivar de hedra) e o protoindo-europeu  *dʰergʰ- "abrunheiro, Prunus spinosa".

Bosliven, medieval  Bosseleven, Bos-(e)-leven "Lugar chão, sem problemas, folgado, aprazível", confronte-se com os topónimos do grupo de Folgoso.

Santry: San Terry, para uns investigadores; para outros Santuário.

Dons Men "pedras dançantes" é um círculo lítico, conhecido em inglês como Merry Maidens.

Bosskawen: Casa do Sabugueiro. Skawen está na mesma raiz que o galês ysgaw, com o bretão medieval scau, atual bretão skav.
Com uma hipotética forma proto-céltica aparentada *skātom “sombra”, a confrontar com o galês medieval ysgawd "sombra".
Mas neste grupo estariam as palavras: ergo do galego, yezgu do asturiano, e yezgo do castelhano, com estoutras palavras no castelhano yesca, no asturiano yesgayezga ou esca,  no galego isqueiro, esqueiro, que no antigo era um canudo de corno, de osso ou vegetal, de sabugo, de ergo, dentro do qual estava guardada a isca de prender o lume. Segundo este fio etimológico o radical *sk do skawen mais teria a ver com lume do que com sombra. O latim ēsca dá a ideia de alimento, alimento do lume e alimento nutricional.
Então o beco de caça leste aparentemente está a levar o nome de Bos-skawen por fitotoponímia, mas no fundo estaria a transmitir uma ideia de fogo e alimentação. Mais abaixo, no caso de Tewyn-Trevysek, é possível observarmos essa dupla funcionalidade de comida e lume.

A capital da freguesia Pluwveryan: Buryan Beryan.
Buriana foi uma eremita que chegou da Irlanda e morou neste lugar.
Em Buriana poderia ser identificado o sufixo -ana das mães primigénias ou fundadoras: Buri-ana
A Ana enterrada, a Ana coberta.
A forma com -e- Beryana poderia ter a ver com o córnico-galês bery "ave de rapina", gaélico antigo berg "pilhagem, depredação".

Esta a lenda a transmitir um acontecimento, sob o verniz posterior cristão, de muita maior ancestralidade?
Observe-se que o cousso está aberto ao mar, o que lhe dá uma funcionalidade de caça anterior ao quinto, sexto milênio.
Buriana filha de um rei de Munster (oeste da Irlanda) viaja para a Cornualha onde mora como eremita no lugar da freguesia do seu nome.
"Ana a predadora" mora e estabelece o cousso de caça (governança feminina).
A lenda transmitiria uma das primigênias chegadas humanas post-glaciação.

Atual topónimo anglizado como Repery, antigo Respery, em cornualhês Resberi: Res- "cruzamento de caminhos" -beri "ave rapaz": "cruze da rapina (ave)".


Resberi em Pluwneves (Lanivet) como lugar onde acontece a caça, captura, morte, onde são pilhados os animais no cousso.
Lanneves, lann "cercado, claustro, chouso" de Neves (nome de santo). Aqui cercado estaria dar nome a toda a estrutura de caça? Tlavez só ao recinto da igreja de Saint Neves.
Trelygan, tre- "lugar" e lygan poderia ter a ver com o verbo galês ligyaf: lygio, ligyan com significados como "capturar, caçar e segurar, atrapar, arrastar com dificuldade...."
Observe-se que este lugar tem a forma de curro posterior ao beco de caça.
Confronte-se com ligar, juntar, pois nesse lugar produz-se o ajuntamento mas também o ligyaf, a captura. Confronte-se com liga (visgo) para a caça de paxaros.

Esta linha de berycybergsga de depredação tem o seu equivalente no perry / pery, hoje grafado beri, no atual córnico, que poderia ser associado com o perro espanhol também na caça e depredação.


Perros de São Cristovo da Portela (Rodeiro) com a sua forma de cousso e toponímia condizente, congruente.






Bottoms topónimo anglizado do córnico Beryan tnow "vale fundo, cavorco de Beryan", entendendo que Beryan está na duplicidade do nome da santa e do significado de predação, caça, Barranco da Caçadora.

Tresidder, poderia ser trev- "lugar" sidercy  "faixa, borda". Ou sidder "arqueiro".

Sparnen "espinho", já analisado ao começo do escrito.

Chyvarton, poderia ser de chy- "casa" de uma tal pessoa de nome Varton. Poderia ser um híbrido córnico e inglês barton inicialmente "as terras da cevada", posteriormente "as terras do senhor", "o enxido: os terrenos que ocupam as dependências de uma granja".

Tredhin, tre + din "castelo", lugar do Castelo.

Tredhewi. tre + Dewi "David", lugar de David. Poderia ter a ver com o verbo galês tawaf: tewi "ser silencioso, não falar, estar quedo".





Neste caso outra estrutura em cousso:
Treveryan na freguesia de Mawgan-in-Pydar. Tre- "aldeia, lugar" de -veryan, na sua forma de lenição, correspondente a Beryan. Outra vez na sua duplicidade, o lugar de Breyan ou o lugar da rapinha, da caça

Pennfos (Penn-fos) Penn "ponta, cabo, estremo" e fos "muro, parede" (no córnico acontece que essa duplicidade valo-valeta, virta-abirta, o buraco cavado e o empilhamento de terra elevado imediato ao fosso, levou à palavra fossa, polo comum a dar nome ao buraco, a dar nome ao muro: fos/vos).
Na parte leste da estrutura no seu beco houvo uma capelinha, como tão frequentemente é observado nos coussos galegos, um local religioso, atualmente a paisagem mudou pois há nessa parte um aeroporto.

Tregurien: de tre-/ trev- "aledeia, lugar" e Urien "nome pessoal".
Segundo a toponímia clássica apenas seria um antropónimo. Mas, como neste blofgue já se tem postulado, alguns antropónimos são secundários à funcionalidade que o lugar nomeado tem.
Urien, tem o cognado no galês medieval de Urbgen, com possibilidades de ser uma variação do nome britônico registado em tempos de invasão de Roma de Orbogenos.
Onde poderiam ser observadas: a raiz urbe ou orbe, e a raiz protoindo-eurpeia *ǵenh₁- "gerar, nascer".
Estaríamos diante de uma aldeia que que gerou, marcou a aparição de um orbe, um aro, um círculo, mas também uma urbe, um assentamento permanente.
O topónimo está a marcar o fim da utilidade como estrutura de caça do cousso, e a sua transformação em área cercada pastoral.




Esta mudança do cousso de caça em chouso pastoral, para manter em catividade um rebanho em semi-domesticação, permite que a população deixe de ser relativamente nómada, e comece o assentamento sedentário.






Outro caso para ver a duplicidade de cozinha: fogo e alimento:


Pennkarow na freguesia de Baya Sans Austel / St Austell Bay, fazendo parte do bico de uma estrutura de cousso.
Penn-karow literalmente "a cabeça / fim / topo do cervo" poderia ter outra leitura se imos ao tempo protoindo-europeu *ḱr̥wós, "a ponta do corno".

Pollglas "o lago / a poça verde".

Trevysek: Trev- "lugar" -ysek "abundante em grão(cereal)". Se recuamos no tempo -ysek teria um proto-céltico *ɸitu "grão de cereal", do protoindo-eurpeu *péy-tu-s / *pi-téw-s "alimento, nutrição" Confronte-se com pitança e pitéu, com o grego antigo πίτα (pita) "um tipo de pão, com pizza, com o sânscrito पितु (pitú) "nutrição". Trevysek seria então o local da alimentação, condizente com o achado noutros escritos deste blogue, onde no local da caça, no cousso, costuma aparecer um lugar com toponímia de alimento, de lugar onde se come (Fafião).

Tewyn etimologia proposta é dupla:
1.tewyn "duna, montão de terra" com o parente galês twyn com os mesmos significados, além dos de toupeira,  arbusto, sebe. Com o cognato bretão tuhen "locus munitus".
2. tewyn "brasa, torcha, facho" cognado do galês tewyn / atewyn com os mesmo significados.
Confronte-se com tea/teia no galego, já no castelhano tea: "torcha resinosa", ou no asturiano tea "casca de vidoeiro enrolada em si que serve para alumar", no latim taeda.
Como já costuma ser indicado, as etimologias e significados divergentes de uma aparente mesma raiz confluem: no beco de caça há um empilhamento já for de ossos, ou um túmulo funerário, nessa altura crematório, mas também há um local onde está o lume, pode ser que prendido quase continuamente ainda que só sejam as brasas em grande parte do tempo, como assim foi em muitas lareiras até o século passado.

O cousso neste caso de Tewyn e Trevysek teria um local de alimento e um local de fogão.

O Fachal na freguesia de Barbeito (Vila Santar) fazendo parte do beco sul da Coussa Velha, ao mesmo modo Tewyn "facho", dá nome ao beco de uma estrutura similar da caça passiva.













Na toponimia córnica a relação entre  *ǵʰortós e *kwertos estaria na palavra weorthy, worthy em inglês, antigo inglês wordig "cerrado, terrenos com muro", supostamente uma palavra céltica apanhada polo inglês?

Busweorgy grafia anglizada do topónimo córnico talvez Bosworgi, interpretado como Bos-worthy: "vivenda do cerrado" (bos: proto-céltico *buta "cabana") mas também há quem interpreta bull's-worthy "cerrado do boi".





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