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Nandulfe e Nandufe

 

Nandufe de Santa Maria de Noicela (Carvalho), com microtoponímia congruente e identificativa de cousso.
Por exemplo o beco leste com o nome de Vespilheira/ Vispilheira, da raiz vesp-, analisada no escrito "a vespa e o bispo" de este blogue.
Cerqueira, numa ideia de fitotopónimo, querqus, carvalho cerqueiro ou cerquinho, mas também a indicar o cerrado, a cerca.







Nandulfe de São Vicenço dos Vilares (Guitiriz)




Nandulfe de Santa Vaia de Pedra Fita (Chantada). Neste caso é um cousso pequeno, com toponímia identificativa como é Bulheiro no seu beco oeste, que já foi visto neste blogue; e no leste Cachuride, de lexema base cachar, que também costuma aparecer neste ponto.


Aqui abaixo Nandulfe de São Salvador de Asma (Chantada), como exemplo das diferentes evoluções, modificações que o cousso hipoteticamente mais que milenar tivo na sua estrutura:






Estrutura básica do hipotético cousso de Nandulfe, com os nomes dos Becos menores como Pinetinhas e Eixido.
Exido pode estar a dar nome ao que um exido significa (https://estraviz.org/eixido) ou pode estar a manter o que exitus latino significa "morte, saída, resolução", feitos que acontecem no beco de caça.

O lado leste conservaria variações do beco:
Este beco transversal leva o nome de Salgueiral e Salgueiro, frequentemente associado com um fitotopónimo, mas a sua frequência em dar nome ao bico da estrutura de caça, poderia estar a indicar a raiz de salix, sendo salix genitivo feminino arcaico latino "da sala", e sala ser a ancestral estrutura de captura, já depois no neolítico-bronze espaço vedado para gado, e posteriormente assentamento de poder, sala toponinimicamente Saa, Sá, um paço ou casa forte.



Neste caso, outra variação do beco leste com o nome de Silveiral, que faz pensar também em fitotopónimo, mas que neste blogue já foi identificado como derivado da raiz sil, gil.


Esta outra variação leva de nome as Córneas, fazendo referência à sua forma e mesmo à sua dureza por ser um lugar fortemente valado.



A hipótese etimológica mais divulgada para Nandufe e Nandulfes é terem sido vilas de uma pessoa de nome germánico *(villam) *Nandulfi:  vila de Nandulfus.
Nandulfus existe como nome de pessoa recolhido já no ano 745. O nome germánico explica-se por Nanth + wulf "Lobo Valeroso".
Mas qual é a razão pela que as quatro hipotéticas *villae Nandulfi têm a mesma estrutura de coussos?
Os coussos teriam virado granjas neolíticas, e no correr do tempo, unidades territoriais gadeiras sob um único gestor, possuidor de terra e gado, que na época sueva e começo da época medieval seguiriam como tais, baixo um dono de nome Nandulfus.

Na França Nottonville, na Região Administrativa do Centro, levou os nomes medievais de Villa Nantulfi e Nantulfi Villa, mas já em 1080 como Villa Nantonensis ou Nantona villa. Estas últimas formas toponímicas Nantonensis ou Nantona em certa maneira invalidam que o possuidor, fundador, fosse uma pessoa de nome Nanthwulf; e focam a origem em *Nanton, com uma proximidade toponímica-topográfica no proto-céltico *nantus "rio, córrego / vale, ravina", pois é em Nottonville o lugar onde dous ribeiros temporais se unem.
A forma de grande cousso, abraçando o Bois de l'Abbadye, um cavorco, liga-o com os Nandulfes galegos.

A salientar no beco leste o nome de Saulaie "salgueiral", que do mesmo modo que no caso de Nandulfe de Nandulfe de São Salvador de Asma, teria uma ideia fitotoponímica, mas na suspeita que em baixo tenha sido "sala". Também o significativo la Pierre Pichotte, talvez na ideia de pedra sacrificial. Este suposto espaço de caça tem monumentos megalíticos, a mais dos marcados: Palet de Gargantua e Le Puits aus Ladres.

Voltando à controvérsia de se os Nandulfes toponímicos teriam sido lugares que recebérom o nome de uma pessoa chamada Nanth-wulf. Este antigo Villa Nantulfi ao ser chamado Nantona villa, há quem diga que a sua origem teria sido galo-romana como um *Nantul fundum, de também um possuidor gaulês de nome Nanto.
A etimologia de possuidores iria de um primeiro possuidor de nome gaulês de nome Nanto ou um posterior possuidor de nome germânico de nome Nandulfus / Nantulfus.

Outra vez, a hipótese alicerçada na análise topográfica indicaria que *nantu-ulfus seria o vale da besta, nome que posteriormente ficou apenas em vale *nanto.

A hipótese aqui proposta é que a origem é topográfica, que o nome Nantos "vale / ribeiro" teria sido o primário, e identificativamente Nant(os)-ulfe "vale / ribeiro da besta" ou como mais abaixo será explicado o "erval da besta" ou "onde come a besta"
Como foi explicado no escrito "a Ulfe":

A raiz das palavras para lobo, e não só, também para fera em geral, no proto-indo-europeu partiriam de *wĺ̥kʷos. No germânico *wulfaz onde há uma transformação da consoante k em f, talvez um prévio ph ou um anterior p?

Assim para o lobo haveria uma linha mais antiga: *wĺ̥kʷos.
Com dous descendentes:
Uma linha Q: *wĺ̥-kos (confronte-se com urco ou o proto-eslavo*vьlkъ (vulku), sânscrito वृक (vṛ́ka) e वृष (vṛṣa).
E uma linha P *wĺ̥-pos (confronte-se com volpe/golpe e lupus). É nesta linha P que *wĺ̥pos acabaria em dar *wĺ̥-phos e daí  *wĺ̥-fos (confronte-se com golfo e golfinho) e a linha germânica *wulfaz.
Estaríamos então diante de uma palavra com dous lexemas?
*wĺ̥kʷos: *wĺ̥ e -kʷos.

Para Pokorny a raiz *ol- [ol-(e)-] teria o significado de "destruir", e mas também ol- [el-1, ol-, el-] teriam o significado de "vermelho, pardo, castanho".
O lobo ainda a dia de hoje tem nomes tabuados.
Segundo isto *wĺ̥  -kʷos seria "o destruidor" ou "o apardado", dando-lhe à raiz -kʷos uma função derivativa adjetival, latim -cus, proto-céltico -kos.
Daí que 
*wĺ̥kʷos poderia estar na raiz do nome de animais diversos ou mesmo fantásticos hoje, como o urco, a orca, o urso, o volpe, o golfinhoo lobo ....
Neste tipo de coussos da família -ulfe e alguns outros, chama a atenção o tamanho e os becos tão longos o que faria pensar em animais de muita carreira, em bestas (cavalos, zebros, cervos).
Do mesmo modo que a besta é chamada de besta, também pudo ser chamada de *ulfa/*ulka.

Então oĺ̥kʷos, oĺ̥ekʷos, eĺ̥kʷos elkʷos  / estariam na base do epos gaulês, do hippos grego, do equus latino, no celtibérico ekua-, e da iccona (Cabeço das Fráguas).
Confronte-se com elk no inglês, alce, ou com o proto-céltico *el- "ruivo, castanho" na palavra proto-céltica *elani; antigo irlandês: elit "corça / cerva"com variantes 
elit, ailit ailite, elt, eillti, eillte, eilit, eillti, elte, ellt, eillteadh. Galês: elain, eilon, alan "cervo".
Este lexema el- para o cervo aparece em outros idiomas:
Arménio antigo: եղն (ełn) "cerva".
Grego antigo:  ἔλαφος (élaphos)
Línguas eslavas: *eleňь 
Lituano: élnias...

Todos eles, se quadra, nomes tabuados, condizente co protoindo-europeu "o pardo, o vermelho, o castanho, o ruivo"

Topónimos galegos de nome Ulfe costumam levar o artigo em feminino "a Ulfe", o que me leva mais a pensar que "a da besta" nome para qualquer equídeo, genérico, seria uma "tradução" de um conceito galaico arcaico expressado com a palavra na altura: a *ulfe.
Ulfe poderia ser genitivo, "da ulfa / do ulfo".
Seria pois a considerar que os topónimos da família de ulfe poderiam estar a se referir genericamente a um animal destrutor, uma besta, ou a um animal pardo, acastanhado, em nome tabuado.

Desta palavra, a *ulfe, pode ser que olfear seja um fóssil vivo; dicionariado por Aníbal Otero Álvarez no 1977, olfeargritar y alborotar de alegría, los mozos en las fiestas.



A etimologia proposta para o proto-céltico *nantos "vale (estreito) córrego", fundam-na em *nemetom "lugar sagrado"; outra linha etimológica propõe ser derivado *nantos do protoindo-europeu *nem- "curvar".

Como já noutros escritos foi comentado a aparição de coussos na beira do mar, dataria a sua funcionalidade como pouco no 6.000 aC.
A aparição de coussos na beira dos hoje largos rios, dificilmente atravessáveis por uma manada estaria a indicar que a sua construção teria ocorrido em um período de clima muito mais seco do que o atual, o que poderia ser a época tardo-glaciar inicial, o que situaria os cousos em tempos paleolíticos.
Esta hipótese cronológica iria com a etapa linguística nostrática.

Nantos "vale, córrego" poderia estar formado por um lexema *nan e *-tos, adjetival ou substantival verbal.
Como no post anterior foi referido:

O sânscrito अन्न (anna) ou आन्न (ānna) podem ajudar a perceber o que há na origem?
Comida, provisões, vitualhas; comida em sentido místico; auga; cereal; arroz cozido
Diz-se de quem tem comida, do que tem comida, de quem produz comida.
É um epíteto, um nome, da divindade Vishnu.
Atendendo à hipótese nostrática *nan é "erva".


*Nantos situado no período tardo-glaciar, de clima frio e seco, seria *nan-tos o lugar onde há alimento, onde há erva.



Assim Nandulfe desde esta hipótese de ancestralidade seria descodificado como *nan-tos-*wĺ̥kʷos, "o lugar onde se alimentam as bestas" ou "o lugar da erva das bestas". Neste caso de São Vicenço dos Vilares (Guitiriz) o nome aparece duplicado, um na versão linguística paleolítica, ou mesolítica: *nan-tos-*wĺ̥kʷos: Nandulfe; e outro na versão atual "traduzida": o Prado das Bestas.


Nantelha, recebem este nome desde a lentelha até distintas fabáceas silvestres, neste caso a Vicia narbonensis.

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