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Sálvora e a sua toponímia-topografia de cousso.

 


Este escrito para ser percebido tem como base um outro anterior chamado "Os Coussos"

Pola estrutura que os caminhos desenham na parte norte da ilha de Sálvora, poderia ser identificado um antigo cousso. A toponímia é condizente coa estrutura e semelhante a de outros coussos neste blogue analisados

















Modificado de https://mapcarta.com/







Começando de norte para sul:
Lagos: já foi tratado neste blogue, lago além da ideia de lagoa, de poça de água, tem o significado de rego, dicionariado polo professor Estraviz:  (5) Quenlha que leva a água do rio até ao lameiro.
Este Lagos, plural ,poderia fazer referência a que há estancamentos de água, a que há poças, ou poços como costuma ser nos becos de caça do cousso:

Ou lagos como regos, os caminhos laterais, antigamente hipotéticos fossos longitudinais exteriores a um valo que formariam o beco da caça




Assim o beco norte de caça estaria conformado por dous topónimos que o identificariam um Lagos e outro Caminho Velho.
Como neste blogue foi visto o qualificativo de velho muitas vezes leva a uma grande ancestralidade.

Nesta zona também o Eiteiro das Bestas, eiteiro tem o significado de pedra ou penedo grande em equilíbrio, uma pedra cavaleira. Mas que o eiteiro seja das bestas poderia estar a indicar a sua relaç¡ao com o cousso, onde a toponímia de besta, costuma aparecer como foi apresentado no talvez tautológico Nandulfe e Prado das Bestas.

Nas proximidades da hipotética boca do cousso está a Praia dos Bois, com lenda local que explica que no areal eram amansados os bois, ao enterrarem-se na areia, para outros autores bois estaria a dar nome aos penedos, rochas, bolos graníticos, que na Galiza costumam ter o nome de boi. Seja como for bois aqui também poderia estar dando nome ao animal caçado que entra no cousso.

Safra, grafado ao modo zetacista como Zafra na maioria dos mapas e estudos toponímicos, poderia ter a raiz no significado da mesma palavra: conjunto dos produtos colhidos num determinado período; colheita; faina, azáfama. Se quadra por ser o lugar onde estavam até o século passado os terrenos agrícolas.

O Milreu dá nome a uma pequena elevação, montículo maior da metade norte da ilha.
O topónimo Milreu está em diferentes lugares do espaço galego-português, e tem diversas hipóteses etimológicas, na época medieval foi grafado como Mirleu.
Outra hipótese que aqui se apresenta é que Mirleu / Milreu tenha a ver com a raiz pilro / bilro, que neste blogue foi apresentada, numa ideia de pico, bico, proeminência.

Pirlo, perlão, merlão entre outros nomes do Chelidonichthys lucerna.
A variação p-/m-, inicial,  junto com os nomes de berete, perete que também recebe, faz lembrar a palavra cética do irlandês antigo bél "lábio, boca", proto-céltico *wewlos, talvez *kwewlos.
Assim segundo isto a aparente órfã etimológica merlão estaria à par do mirleu medieval numa raiz saliência, bico, pico, lábio, boca.
Haveria então um celta-p "pirlão" e um celta-q "quirlão":

Sterna hirundo, quirlão (-ám).
Segundo isto, a ave merlo ou melro seria assim chamado por ter sido a palavra merlo ancestralmente "bico".

Aqui é apresentado outro Milreu, neste caso da Freguesia das Fervenças (Aranga):



Milreu tem forma típica de cousso e toponímia identificativa que aparece frequentemente: Ermida, que como foi analisado teria relação armida, armentio, a Granja tão frequente e também analisada:

Surpreende que muitos topónimos granja / granha apareçam associados a estruturas paleolíticas-neolíticas, quando o topónimo granha /granja é tido pola maioria da etimologia do país como uma palavra medieval que dá nome a uma exploração agro-pecuária de essa altura, derivada do francês grange.
Hipótese explicativa de isto seria ou que a palavra neolítica como significado de granha / granja "reunião de animais domésticos" foi traduzida a uma nova palavra medieval, ou que a palavra perdurou na estrutura de caça, mais tarde transformada em lugar de catividade para depois virar em uma unidade agro-pecuária..

Por exemplo no gaélico escocês grainnse /graiNʲʃə/ tem essa mesma ideia, no gaélico antigo gráinnsech.
A ideia mais difundida é que granja / granha / grange derivariam de granum latino.
Aqui abre-se a hipótese que granja / granha estariam no grupo de ranha, rande, trand-, branha....

Relevantes também o nome no beco oeste: Poço e Saída ou no beco leste: Chousa da entrada e Casadoiro, ness triplicidade de capsa, casa, caça.
Conchueiro exlicado mais alagadamente no escrito sobre Goiriz.



Voltando a Sálvora


De norte a sul:
Espinho pode ser percebido como fitotopónimo. Neste blogue foram analisados diferentes topónimos do grupo do espinho que aparecem em coussos e chousas afuniladas, nas vedações de curros, mais alargadamente tratado no escrito da Nespra e o Vispo.

Lajas dá nome a pedras planas que poderiam estar a fazer de vedação do cousso.

Menado
no lado leste da ilha e no hipotético beco sul, semelha ser particípio do verbo menar "conduzir, guiar", em castelhano como arcaísmo para conduzir gado.
Menar tem um étimo latino minare, minor, com o mesmo significado, guiar. Que fazem derivar de minae "pináculos, ameias, parapeitos; prenúncio, perigo".
Como já noutros escritos foi apresentado, ao recuar no tempo, as divergências atuais em significados que um étimo gerou, acham a sua raiz e a sua polissemia posterior na estrutura física que o étimo primário determinou.
Neste caso Menado, estaria a fazer o parapeito do beco sul, e estaria a conduzir o rebanho selvagem cara o beco para a sua captura.

Cova de Dentro e Cova de Fora, são referenciais pois o topónimo pleno é as Leiras da Cova de dentro e as Leiras de Cova de Fora. Esta cova estaria a dar nome ao fosso perimetral do antigo cousso.

A Volta estaria a indicar o que o caminho perimetral, ou o valo e suco perimetral da estrutura de caça, faz nesse ponto.

Cachada, também com o nome das Leiras da Cachada. Este Cachada poderia estar em relação com cachar "sachar"; mas como em tantas outras estruturas de cousso analisadas, o topónimo de base cachar aparece associado ao beco, numa ideia de cachar "capturar, caçar, pegar em, agarrar em corrida, armar ciladas".
Cachadas em São Pedro de Corcoesto (Cabana de Bergantinhos) fazendo parte de uma estrutura em cousso

Bandil (erradamente grafado nos mapas deste escrito como Brandil) lembra à raiz banda.
Bandil, talvez  *wandil, lugar do bando e do gando, das primárias hostes caçadoras e pastoras do rebanho selvagem:

Um nome do matachim do gando, que ajudaria a percebermos uma possível origem de Bandil, é o de gandalheiro, onde o lexema gando leva modificadores, assim gandalheiro virou em vadio ou pessoa relés, rateiro, com formas como gandalhão (-ám), gandalho.
Que nos leva a um gandalheiro primário "amo" geridor do conjunto de pastores, o gandalheiro que ordena sobre os gandalhos que caçam em bando ou cuidam em bando o grande rebanho.
Reparando em gandalho, vemos que por uma parte tem relação com gandada "camada baixa da sociedade" e é sinónimo de bandalho "pessoa desfarrapada".
Então aqui, neste conjunto de palavras do gandalho e do bandalho, ficaria o aspeto pejorado da antiga função do caçador em bando, posteriormente pastor em bando de animais semi-domesticados, mas com os elementos claros da sua estrutura administrativa do gando.
De onde se poderia inferir que gando e bando poderiam vir de uma mesma raiz tal que *kwando.
Onde há uma alternância b / g, que poderia estar indicando uma origem no celta-p e no celta-q.
Da raiz *pand- teriamos: banda, no espanhol panda e pandilla, manda (cardume de sardinhas, volume, conjunto, feixe).
Da raiz *kanda: gando.

Lituano bandà "rebanho de vacas".
Sânscrito बन्दी (bandí) "captivo, prisioneiro".
Sânscrito बन्ध (bandha) "feixe de cousas unidas; encerrar".



Em amarelo situação do hipotético cousso de Sálvora com o nível marinho na altura do 8.000 aC.
Modificado de "Estructura de la pesca y la comercialización en Galicia, de Lino Lema Bouzas
Consellería de Pesca e Asuntos Marítimos, Xunta de Galicia".



A submerged Stone Age hunting architecture from the Western Baltic Sea
https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2312008121


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