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Bistulfe, os bois pardos.

 






Bistulfe na freguesia de São Jurjo de Augas-Santas (Palas de Rei).
Podem ser observadas as distintas evoluções.
Bistulfe apresenta a forma de um cousso de caça, modificado a granja neolítica.
Bistulfe é dos topónimos considerados germânicos de um possuidor de nome Vistulfus / Vistulphus / Wistulphus. Com o significado de "lobo do oeste".
Com uma raiz no protoindo-europeu *wek(ʷ)speros, proto-germânico *westraz "oeste".
A estrutura é supostamente anterior à chegada dos Suevos. Talvez nessa altura seguisse a funcionar como unidade territorial, e como é visto na imagem aérea o seu lado leste estivesse já desfeito pola construção de uma cortinha, com a típica forma neste caso de 150-160m de longo (quase um furlong inglês, 201'16m) por 40 e pico de largo (duas correntes de agrimensor, 20'11m), a medida de longitude é o que a parelha de bois semi-domesticados aram de um arresto, tiram do arado de um só golpe, até cansar.
Tem toponímia em volta claramente limitante, no oeste: Ferreiro, na variação f/z, Zarra, e já Barreiro a leste.

Este lugar de Bistulfe poderia ser comparado com Bistijoão de São Vicenzo das Negradas (Guitiriz).



Neste caso Bistijoão tem também a forma de cousso ou granja neolítica.
Entre a toponímia a destacar a leste Bulhos, um topónimo frequente nos becos doas estruturas de captura, e Revoltão, o lugar da revolta. A oeste: Prado dos Santos, na sempre duplicidade anto / santo, lugar tumular onde se juntam mais de meia dúzia de mámoas, entre elas a medorra do Cotarro. Lugares tumulares, mámoas, que são frequentemente vistos nas pontas dos becos de caça.
Este nome Bistijoão, mais semelha uma variação de Besta-joão.

Outro caso:



Visticovo de São Tiago de Parada das Achas (na Caniça). Talvez Bisticovo, de besta e covo?, ou variação de Busticovo:



Busticovo de Mormentelos (vilarinho de Conso).








Besterrexulfe de Santa Maria de Gerdiz (Ourol).

Outra interpretação de Bestulfe, saindo da germanista e indo ao período do seu funcionamento:
O primeiro elemento Bist(i)- / Beste- poderia ser interpretado como besta.
Mas também como busto, na ideia proto-indo-europeia de *gʷṓws-steh₂ "lugar do boi".
Se assim for não seriam lugares de toponímia germana, mas sim protoindo-euroepia ou céltica:
Bistulfe teria uma raiz como *gʷṓws-steh₂-wĺ̥kʷos.
Sobre o significado protoindo-europeu de *wĺ̥kʷos, foi escrito "n'A Ulfe" como mais abrangente que o germânico lobo, com um duplo significado "o pardo" e "o fero, o bravo",
*gʷṓws-steh₂-wĺ̥kʷos seria então "o lugar do boi bravo ou o lugar do boi pardo".
Esta ideia do Boi Pardo (*gʷṓws-wĺ̥kʷos) como o boi caçado ou capturado, foi analisada no escrito "Algumas Granhas (descifrando a Arbosa)".

Neste caso Boi Pardo na freguesia de Fisteus (Cúrtis):
Boi Pardo e Boi Louro, dá para reflexionar sobre pardo, pardinhas, que foi já comentado noutro escrito.
Pardo dando nome à cor e ao animal tabuado.
Pardo tem uma etimologia protoindo-europeia que o relaciona com o nome do leopardo em línguas da Índia e Pérsia, no persa پارس  (pârs) é o nome do guepardo treinado "domesticado" para a caça. Confronte-se com o francês pard "lince" e com o galego pardinho "lobo".
A presença do -b-  em bios-bardos, poderia ser por uma transformação do *bio-pardo inicial, ou poderia esatar a dar uma ligação entre pardo e bardo no seu sentido do grupo de bardo/barda como lugar bardado, sebe, estaca, chanta ... No gaélico escocês bàrd "dique, sebe, cerca, terreno cercado, guarnição, corporação".  No asturiano barda além de ter esta ideia de tapume ou sebe, também é nome para a cor amarela brilhante.
Pardelha "rede de malha estreita".

Então segundo isto, bios-bardos e pio-pardo estariam a significar "ser vivo que pode ser caçado, caça", e no mesmo processo que hoje vivemos com a inferiorização de palavras e o seus significados em galego frente ao castelhano (cheirar versus oler, lura versus calamar, pêssego versus melocotão) a expressão céltica teria ficado "ridiculizada".

Boi Pardo poderia estar a dizer boi caçado?
No sânscrito a palavra परिधायक  (paridhaayaka) "cerca", está formada por Parī (परी) que vem sendo da mesma raiz que o prefixo latino peri- "em volta, em derredor, rodear, circunvalar":
Interpretando assim pardo, como par-/bar- + -do/-to "quem anda em derredor, que está rodeando, rondante", que explica o nome dos animais predadores do grupo do leopardo das línguas indo-iranianas, o pard "lince" francês e o pardinho galego.







Confronte-se com o insulto "besta parda", ou com os animais caçáveis imaginários "pio-pardo" ou "biosbardos", que teriam uma etimologia sediada do seu primeiro lexema pio- / bios- no protoindo-europeu ou no proto-céltico; confronte-se com o grego antigo βίος (bíos) e com os célticos:
Bretão: bev, beo
Córnico: byw, bew
Galês: byw
Gaélico antigo: béo
Irlandês: beo
Manquês: bio
Gaélico escocês: beò
Lepôntico: (transliterado) piuonei.


Os Pardos de Santa Maria de Barbeiros (Ordes) fazendo parte de uma estrutura em cousso evolucionado a granja neolítica.



Boi Pardo em São Mamede de Momão (-ám) (Germade) em uma estrutura de grande cousso com alguma toponímia já analisada neste blogue: Ventosa, Lagoa, Cachós (cachões) da Cal da Covela.





Boi Pardo em São Miguel de Quindimil (Palas de Rei).

Na Revista Lucensia, n.27, 2003, no artigo "Toponimia do Concello de Palas de Rei" de Nicandro Ares Vázquez, escreve:
Boi Pardo parece conter o apelativo bos, bovis 'boi' (v. n." 20) cun adxectivo latino pardus; pero seica existiu o antropónimo Bos (RL 303) e tamén o cognomen Pardus.

A existência de uma pessoa de nome Bos Pardus, para a toponímia clássica galega, obriga a que, essa pessoa de esse nome, fosse dar nome ao lugar no que habitou.
O que aqui se expõe: É muito frequente que o antropónimo receba o nome do topónimo.
Um exemplo do pardo na Irlanda, também como antropónimo:


Baile Odhráin no condado de Lú (anglizado como Louth na Irlanda).
Traduziria-se como Vila, lugar de Odhrán, de uma pessoa com esse nome. Odhrán.
Odhrán com etimologia em odur + -án literalmente "pardinho" (alargadamente tratado em Nudra).
O centro do local de caça está a levar o nome tabuado "pardinho" do animal a caçar?
Odhrán é nome pessoal e polo tanto interpretado como antropónimo, mas a meu ver há uma razão anterior: a da funcionalidade e utilidade do cousso obrigou a essa toponímia, neste escrito como raiz que tem a ver com o tabuado do nome do animal caçado.
(Esta tapada de caça está mais alargadamente explicada em An Ghráinseach, no condado de Lú).


Cnoc Odhráin no condado de Gaillimh (anglizado Galway) "Outeiro de Odhrán / Outeiro do Pardo".
Baile an Bhrúnaigh, vila dos brunos/castanhos. Onde volta a sair a mesma ou próxima cor, castanha.
An Cillín "a Igreja Pequena / grijoa", no beco da estrutura como é costume.
Buaile na Sruthán, bualie é um curral para gado, uma chousa, uma pastagem de verão, uma branha. Sruthán é regueiro, ribeirinho, rego de água; Chousa do Rego.
Áit Tí Seonac "lugar da casa de João". Neste blogue aparecem frequentes topónimos referidos a João, neste escrito como Bistijoão. Neste blogue já foi enunciada a hipótese de que alguns jõaes galaicos toponímicos estavam a se referir a ancião, a antergo, a ancestral, como no gaélico a duplicidade Séan /ʃeŋ/ "joão" e sean /ʃaŋ/ "velho".
An Pollach "o abundante em buracos", como era de esperar neste outro beco de caça, o lugar dos foxos.


O caso das Pardas Alvas, ou Pardasalvas de São Simão da Costa (Vilalava):






Diferentes evoluções do cousso a sua transformação em granja neolítica de animais semi-domesticados, observe-se que o alargamento a norte recebe o nome de Casa Nova, nessa triplicidade de capsa, caça e casa.


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