No escrito anterior foi analisado um lugar de nome baseado em Martinho na ilha de Man, Balley Keeill Vartyn.
Neste caso serão analisadas as toponímias de duas freguesias nas ilhas do Canal da Mancha: da freguesia de Saint-Martin-de-la-Bellouse, da ilha de Guernesey, e de Saint-Martin-le-Vieux na ilha de Jersey. Sempre em relação com as estruturas hipotéticas de coussos de caça, posteriores granjas neolíticas:
Saint-Martin-de-la-Bellouse:
Les Hubits, é pensado ser uma variante um hipocorístico de Hubert, cuja etimologia mais divulgada é derivada da união de hug "mente" e beraht "brilhante". Outras etimologias pensam derivado de hugu "coração" e berth "brilhante, ilustre"
O Santo Huberto é padroeiro da caça, dos caçadores:
A coincidência é que o beco de caça norte leva o hipocorístico do padroeiro dos caçadores, mas esta estrutura de caça teria sido funcional em épocas pré-históricas. Quer dizer, a meu ver, que a hagiografia deste santo tem de estar baseada em uma história paleolítica, e que o topónimo do lugar tem uma ancestralidade que o remete a esse período, final do paleolítico.
Então o nome Huberto, estaria formado por dous lexemas Hu-berto.
Sobre o lexema bert- toponímico, neste blogue já se tem reparado: Com base no galês e córnico perth / berth, de um proto-céltico *ku̯erku̯-t-, (indo-europeu *perkwus "carvalho") com o gaélico antigo ceirt; que teriam a ver com o latim quercus, e um protoindo-europeu *perku̯u.
Pokorny da a raiz protoindo-europeia u̯erĝ-1, u̯reĝ- "fechar, encerrar; curral".
Perth galês tem os significados de arbusto, espinheiro, sebe, mato, moita, bosque, matagal, campo rural.
Esta raiz pode estar na origem de topónimos de raiz bert- galegos, como Bertim, Bertomil, Bertamirans...
Quanto ao lexema hu-, seguindo pola linha céltica, no galês hu é uma cobertura um capuz, hug é uma capa ou capuz, tem o latim medieval huca com o mesmo significado, veu que usavam as mulheres.
Então este lugar Hubits / Hubertos teria no fundo algo assim como "sebe coberta", uma ideia de posto de caça.
Hu-, no protoindo-europeu poderia levar à partícula interrogativa kʷos, confronte-se com o arcaico u, onde. Também estaria o sânscrito हू (hu) "invocado, chamado"?
Les Traudes?
Poderia ter a ver com o nórdico trauðr "passivo, relutante, dificultoso".
Com o proto-germânico *tradō talvez cognado do latim tractus, ambas as palavras com o significado de "caminho".
La Mere, a mãe.
Blanches Pierres: Pedras Brancas. Nos coussos galegos é frequente que apareça este topónimo de poedra branca, por vezes poderia estar associado com um grande seixo, quartzo, ou ser um lugar tumular desfeito, onde frequentemente a mámoa levava uma coiraça de croios brancos.
La Bellouse / La Belleuse / Beilleuse é o lugar onde assenta a sede da paróquia, na rede a etimologia é adscrita ao bretão belorsa nome para o abrunheiro ou arbustos espinhosos, mas é dificilmente confirmável.
O nome lembra os tantos topónimos do tipo Bulheiro que aparecem nos coussos e tapadas neolíticas, ali onde o gado pisa e faz muita lama. O lugar é húmido pois como é descrito:
St Martin’s Church is in a natural dip at the head of the former valley.
St Martin de la Bellouse which occupies a site of earlier pagan worship of which La Gran’ Mere du Chimquiere, a statue menhir, is a relic. This is an important neolithic site which has strong associations with water, two springs issuing from beneath the church. (Designating Conservation Areas).
La Vechesse poderia ser uma forma com raiz no normando vache "vaca" algo semelhante à *vaquesa, a vaqueira, lugar das vacas, geralmente em toponímia galega como Vacariça.
Les Maindonneaux / Les Maindonaux ???
Coin Colin, coin e canto, esquina, cunha, latim cuneus. Colin é um nome proprio o que lhe são dadas duas origens:
A gaélica derivada dos nomes Cuilen e Cailean "cadelo de caça, cachorro"
Ou hipocorístico de Nicolas.
Neste caso Coin Colin, a esquina, poderia ter a ver com cão, como foi apresentado no post anterior.
O topónimo de base em cão costuma aparecer nestas estruturas como foi apresentado no escrito "Casa Nova de Cas".
Croix-des-Blanches: Cruzamento, cruze, cruz das brancas.
Le Hurel tem um significado de dicionário, cômaro ou talude de um fosso; monte de arbustos cortados para ocultar os cães e caçadores da vista e do olfato dos veados.
Desconheço a sua etimologia, hure em francês é a cabeça de animal feroz.
Le Hurel "fosso ou entomba, monte de arbustos" teria o seu par no beco norte, com o nome de Les Hubits / Hubertos "sebe coberta".
Courtes Fallaizes, cortes das falésias.
Le Courtillet ou le Court Tillet:
Courtille é uma tapada, uma corte um terreno pechado, no caso de Courtillet é o diminutivo tipo cortinha.
Court "espaço pechado" e tillet "tília. Como frequentemente nos coussos galegos é encontrado o nome de telheira nestes lugares finais de beco, onde não há nem houvo telhas.
O relevante deste caso analisado é o curro redondo posterior ao beco que indicaria o começo da domesticação, o animal capturado não é morto e fica encerrado num espaço circular posterior ao funil de caça. Esta armazenagem teria acontecido antes da subida do mar? Pois talvez sim, o que marcaria o início do mantenimento em catividade de animais selvagens num período anterior ao 9.000 aC, que foi a altura na que Guernesey ficou como uma ilha?
Isto data os coussos de caça como anteriores ao 9000 aC.
Saint-Martin-le-Vieux
No fundo do saco, ao igual que no caso anterior está a sede da paróquia, Saint Martin, os outros dous vértices da estrutura também com espaços religiosos ou de enterramento:
A leste o dólmen La Pouquelaye de Faldouet:
A oeste La Hougue Bie "o montículo do rego", uma grande mámoa com capela enriba:
O vértice de caça leste tem nome transparente Le Chasse Mallet,Chasse entra dentro da triplicidade casa, caça, capsa: case, chasse, caisse.
Le Chasse Mallet: a caça de uma pessoa de apelido Mallet, mas aqui Mallet, não negando uma razão antroponímica, pode significar martelo, maça.
No lado oeste: Chamim Colin, outra vez na ambiguidade de Nicolas ou culain "cadelo", como em Guernesey.
Para reparar o nome dos lugares de nascimento dos ribeiros que unidos fazem a forma de Y.
A leste: Bouillon, talvez muito próximo ao já escrito bulheiro.
A oeste: Maufant, "mau-fango" que poderia ter um equivalente em Lama-má.
Na boca do cousso: Clos du Pressoir "feche do lagar". O que leva a pensar nos topónimos de base lagar associados a esta estrutura na Galiza. Em Jersey, a estrutura completa de caça, poderíamos pensar que em alguma altura recebeu o nome de Pressoir, ou qualquer outra palavra que depois da passagem de britônicos, normandos, franceses, ingleses, ficou "traduzida" com o atual Pressoir.
Então poderia ser inferido que alguns topónimos de base lagar na Galiza não fazem referência ao fabrico de sidra ou vinho e poderiam dar nome ao cousso, ou à posterior granja neolítica, com base na raiz de lago"regato ou canal artificial para regar campos", lag gaélico "buraco", protoindo-europeu Pokorny: lā̆gh "cortar".
Lagar em Santa Maria de Berredo (Agolada), ao igual que no caso de Clos du Pressoir, fechando a boca da estrutura de captura ou catividade. Confronte-se neste mapa Lagar e Lagoa, na ideia protoindo-europeia do gaélico lag "buraco", lago "rego" e lā̆gh "cortar".
Sem comentários:
Enviar um comentário