Orraca

Orraca


Na cousa do totem das aves na continuidade Neolítico Ferro...
A orraca / urraca acabou dando nome posteriormente às rainhas?
Ou foi ao revês?
Higinio Martins descobriu-nos a linha céltica da etimologia de orraca como  derivada de um proto-céltico *warrak, no gaélico antigo fracc / frac / farc / frag "mulher, esposa", no gaulês gwrach, "velha feia, bruxa "; córnico: gwragh  / gwarach / wrag /  "bruxa"; bretão: groac'h "fada, bruxa, velha, fada da auga, espécie de jana/jã".
(Se calhar haveria que pôr nesta série o asturiano guaxa ? "Coruja, ser maléfico feminino, personificação da morte").

Aqui é apresentado algo que intenta ir a camadas mais profundas e que trata de explicar as funções anteriores à esposa jurídica e à bruxa, no que a génese cultural derivou em qualificar à mãe tribal Orraca:

Orraca poderia ser percebida como orra / orro + -aca: Sendo -aca o sufixo genitivo, de origem, de pertença.
Este sufixo -aca, tem o seu parente no protindo-europeu -*ka (-*akus), no latim -ca / -cus, e no grego -κός, e no proto-céltico -*kos.

Orra?
Orra / horra poderia ter a ver com o hôrreo, também poderia ser liberta.
Orra é a égua que não está prenhada, que está baleira.
Esta palavra orra no galego é tida por castelanismo, com uma forma parelha forra, mas como se há ver, pode ser uma variante, pola antiguidade do lexema *hwarr-  / *warrak.

No gaélico irlandês urra pode ajudar a percebermos do que estamos a falar:
- Pessoa que não é escrava, nem serva.
- Homem de reputação.
- Proprietário de terras.
- Garantia.
- Autoriade.
- Força.

Urra deriva do antigo gaélico aurrae que significa pessoa nascida dentro da tribo, ou toudo.
Aurrae que tem por semelhantes airrad, aurrad, urrad todos nomes para a pessoa livre possuidora de terras que estava qualificada para garantir que os termos de um contrato fossem cumpridos.
Vemos que estas palavras ajudam a perceber a proximidade entre o ário, como rei do aro e possuidor do arado, o mesmo rei, o ruano / ruão, o vermelho, e a rua, todos ficam muito próximos.

Como é que no árabe حُرّ‎ (ḥurr) também tem este significado de pessoa livre?

Sendo forro, também pessoa livre, com orro /orra , o horro espanhol, o حُرّ‎ (ḥurr) árabe e ... o gaélico urra?
Poderia ser que a palavra tida por árabe fosse uma palavra moçárabe que passou para a língua padrão arábiga?
Ou a sua origem é muito antiga e comum ao tronco semita e indo-europeu?

De como o hôrreo aparenta com o forro, adjetivo para quem é livre, soberano:
A língua acádia pode dar uma explicação:
No acádico 𒆢 (ḫurru) significa cova, caverna.
Outras palavras ajudam á compreensão da dimensão do lexema raiz, assim: ḫurratu (transliterado) é o burato de um mangusto, também murratum; ḫurruṣu(m) adjetiva o terreo arado, também algo com regos, algo incidido; ḫurrušu é limite.

A língua acádia no grupo de palavras do 𒆢 (ḫurru), reflete o esquema de primeiro reinado com arado, que marca o limite, rego, cova, sendo a cova inicial a caverna paleolítica, e a cova secundária a valeta de limite neolítico.
Quem isso demarca é o ário / aurrae / urra na parte atlântica, como mais abaixo será explicado.
As palavras acádias ḫurratu / murratum poderiam esclarecer a variação da consoante inicial de buraco / burato, furado.
O ḫurruṣu(m) como limite e rego, com o furrow inglês. ajuda a entendermos a cova na terra, o sulco perimetral traçado polo arado na sua primária função delimitadora, como é contado na lenda de Rómulo e Remo.

No "De verborum significatu", escreve Sextus Pompeius Festus da palavra horreum: antiqui dicebant farreum a farre, "os antigos chamavam-lhe farreum de far (escanda, espelta)". Confronte-se com farraco "saco, sacola".

Surpreendentemente, ou não, na língua lakota wóȟa tem o significado de silo para conservar alimentos, esconderijo para armazenar provisões, as mesmas provisões, comida armazenada ou reservada.
(Apontar que o lakota tivo o seu berço na faixa leste atlântica de América do Norte, que é um idioma sem erres, apontar a hipótese da cultura solutrense espalhada na última glaciação a través da banquisa atlântica que ligava ambos os continentes, também dizer que o povo lakota tem altas taxas do marcador genético é R1b).
A palavra wóȟa está formada por duas sílabas com significado: wo- "comida" e  ȟa "enterrar alguma cousa ou alguém".

Ducange compila Orrata: Forte ortatos, pro hortos. "Ortatos? lousa ou pedra de peche?"

Na fala de Trás-os-Montes e zonas próximas do âmbito linguístico ástur-leonês, por Aliste também, orra, orreta / urreta / eurreta é um vale estreito, profundo, uma chã entre montanhas.
Então por exemplo orreiro (Trás-os-Montes) "trave que entra num buraco, numa cavidade, das lajes que forram o poço dos moinhos·. está a dizer orreiro = buraqueiro?

Nas cabanas de pastores das Astúrias l'horru é um buraco na parede, uma espécie de lacena simples onde madura o queijo.

Já no latim medieval: horrearius "guardião de armazém".
Mas hôrreo semelha que não era apenas para guarda de cereais, mas também objetos de valor:
"Ante majoris Ecclesiæ fores magnum ædificavit Horreum, in quo cubiculum aptavit : erat autem Horreum locus destinatus ad custodiam pretiosarum rerum ad quotidianum usum deservientium".

Orreta / urreta "vale profundo" tem diversas linhas etimológicas.
A linha que passa polo latim vai dar ara "fronteira, borde, limite, beira", no grego ὅρος (hóros) "fronteira, marca de limite", palavra grega que tem parente no verbo latino urvo "marcar, traçar, sobretudo relacionado com o arar em redor, demarcar o território com um arado".
No hitita 𒅈𒄩 (arḫa) "limite, aro, linha" (o que liga este conceito de limite com a arca).
A etimologia de orreta que passa polo basco relaciona urreta / ourreta / orreta com ur "auga", de feito urrieta, urrita, urreta, ourrieta, ourrita, ourreta, reta, rita, ruta é nome de nascentes no âmbito mirandês.

Juntando todas estas palavras podemos perceber que a primária *hurra / *furra tivo a ver com o rego e talvez com uma caverna armazém, casa da família extensa paleolítica?
E que essa caverna familiar, local de armazém, era matrilinear?

Assim na esculca da palavra tumba/ *dumb- para estudo da origem e gênese das palavras como entomba, tumbiadoiro, Dumbria, os célticos dun e don....., aparece o armênio տուն (tun) que dá uma dica com toda a sua reste de significados: casa, vivenda, edificação, quarto, câmara, mulher, habitantes de uma casa, bens, fortuna, família, raça, nação, país, chão, piso, região.
Isto, a meu ver, liga a tumba neolítica, a mámoa, com a linhagem feminina.
A arca marca a família, onde vão ir depois da morte os filhos da mulher que pariu essa linhagem, geração trás geração (daí uma das razões da peculiaridade genética galaica?).

Segundo isto cada mámoa seria a arca de cada Eva fundadora de uma linhagem, de cada "ária" ou "urra", pessoa livre, proprietária, dona.
Lendas como a da Orca Velha podem ser percebidas noutra totalidade (Orraca, arraca), e os nomes das mámoas como orcas ou forcas poderiam ser percebidos como variações de orraca ou *forraca, nascidas do mesmo étimo-conceito de *hwarr-aka, (Confronte-se com barraca), assim o orco, talvez cova funerária, reconsiderou-se como "inferno" ao dominar uma nova camada cultural, que abandonou o enterramento nas mámoas.
De todos jeitos inferno, inferus, pegou o aspeto negativo com o "recente" catolicismo.
No âmbito asturiano, deste grupo de palavras está o güercu.

Orca dos Juncais

Percebe-se com esta linha etimológica aberta de *hwarr-aka / *warr-aka, que os animais, a verraca ou o verraco, apanham o nome do túmulo?
Daí guarra, e as tantas variações varrasco, verrasco, berrão, varrão, como produto desta raiz *hwarr-ako.
Já no latim o par do verrasco é o verres *hwarr-es.
Sobretudo no âmbito Vetão os verracos e verracas estão fazendo parte principal da paisagem tumular. Inclusive já em época romana há cistas lavradas em pedra que tenhem uma tampa com um verrasco. Cistas que contenhem as borras, as cinzas.


Outra linha desta *hwarra-ka *forraca (forraqueira), é a da forca, que dá também nome aos túmulos no âmbito lusitano.
Túmulos que estariam coroados por uma forca?
O espaço tumular como foi estudado no "a tumbos por Dombodám", aparece associado etimologicamente com a administração de justiça, e a mámoa, o túmulo de terra, não é mais que o seguinte passo cultural ao primitivo enterramento com ramalhas. Assim um livro dos mais antigos do mundo, o I Ching, dita isto:
....Nos tempos primitivos sepultavam os mortos cobrindo-os com uma espessa camada de galhos, de ponlas secas e deixando-os ao ar livre sobre a terra, sem túmulo e sem plantações de árvores....
Como lembrança a esse primeiro enterramento com ramalhas, talvez sobre a mámoa era chantado um pau forcado?
Sobre o túmulo do poder, a justiça enforcava?
Em Moraime (Mugia) há uma mámoa no chamado Campo da Forca.
Mysselhøj, perto de Roskilde (Dinamarca), mámoa do bronze.
Esta ideia descrita polo I Ching, liga com a árvore da morte e da vida que medra sobre tumbas, nas diversas culturas do mundo. Assim não seria raro que os túmulos tivessem árvores.
No sânscrito há uma palavra específica para a árvore sagrada que medra sobre um montículo: चैत्य (caitya), palavra que também significa monumento funerário.
 E também não é raro que nas variações culturais a árvore ficasse simbolicamente representada sobre os túmulos.
Símbolo que podia ser uma forca em Y ou em algiz, o Yggdrasil, a árvore da justiça, por vezes o teixo.
Esta forma, em pequeno galho vegetal natural, ainda é usada a dia de hoje como amuleto protetor das cortes dos animais na Galiza, cravada sobretudo em portas ou elementos de madeira.

Explicando o ário para perceber a forra / orra, a "livre ou vazia":
Desde o sânscrito आर्य (arya) ao amo de um aro, de uma célula agrária?
Para ressaltar o arado a ara .... ou por exemplo a palavra asturiana: arizal
- terreno agrícola sem cultivar, baldio
- sebe de espinhos
- sanja de alicerce

A palavra raiz de ário já aparece numa inscrição dita tartéssia (séculos VII e V a.C) na de Tassionos o nério, onde a palavra transcrita "aŕaiui" é traduzida por nobre.

(http://www.wales.ac.uk/resources/documents/research/odonnell.pdf)














 Isto é: inicialmente o araiui, o ário, apenas seria uma pessoa qualquer soberana, quem "possuía, governava" uma terra, que no neolítico inicial era um aro de terreno, de culturas, de pastos em volta de um assentamento humano.
Nesta ideia: a ária ou ário inicial apenas seriam "do aro ou da ara", ou "dos aros, das aras" (um genitivo plural ou singular: ara-iui).
Início da agricultura onde ara, pedra fita, e aro, zona arredor das moradias, que era cavada fazendo um rego, do pequeno regno/ reino, e onde a arada e o arado se confundem.
Confronte-se que heroína e herói e hera/hedra e herdade estão também muito perto, quer dizer que no início do neolítico, a génese das palavras semelha doada, quando a hera / hedra também limita e dá nome à herdade, à primeira propriedade agro-pastoral, como neste enlaço é explicado.

Depois de tantas palavras em rebúmbio, a rodopiar em volta à orra, a ideia que lanço é:
Do mesmo jeito que rei, rego e a demarcação com arado do primário terreno de cultura, a rainha, a Orraca, tem a ver com o mesmo ato fundacional, havendo marcas mais evidentes de uma relação mais anterga que a aparente génese neolítica.
A esculca etimológica da orraca leva a ideias paleolíticas: a um local habitacional, ou de enterramento, à caverna, a um armazém primário, e ao governo dos bens guardados, acumulados, daí que no entorno de todo este rebúmbio estivesse a palavra e o conceito de aforro.

Acho que esta acumulação de bens foi a que levou a dar nome de orraca à pega ave "Pica pica", característica que está em muitos contos europeus sobre esta ave, que é um feito do seu comportamento acumular no seu ninho objetos brilhantes ou cousinhas raras das que gosta.

Orraca, urraca, pega, é também chamada  charra:
Charra, como foi contado sobre o charro e a charrua, (charrua é nome do arado) e o charlo, tem a ver com esse reinado dos caminhos e regos.

A cova das ladroas:
Hipótese: Quando a neolitização a propriedade privada aparece, a gente que ainda vivia de jeito paleolítico começou a ter problemas com a gente que considerava a terra como propriedade.
Então tudo o que era apanhado, pecoreado, por gentes da caverna seria em certo modo considerado "roubo", pois o privado, já for comunal ou individual, ocupou o espaço.
Daí o fur e o furax latinos, palavras para falar de roubões, e a ideia de furtivo.

A pejoração da mãe da cova como ave pega ladra, não afetou a todas as mães paleolíticas, à Orraca (worr-aka) sim; as altero-formas espanholas burraca furraca. hurraca, urraca e orraca dão nome a uma ave carregada de aspectos culturais negativos, "o roubo, a carronha, o mau agoiro"; burraca, além disto, nas gírias espanholas é "prostituta", e as já vistas das ilhas como velha feia.
Do gaélico antigo frac: mulher, acabou no gaélico escocês atual: "lixo; lugar inóspito".

A Gaia (gaiola, caveola) é nome da Garrulus glandarius, ave também que rouba, mas que tem uma certa licença pola sua ledice.
Gaia, Garrulus glandarius.

Mas à Maria (mworr-a / Moura): não. Não recebeu pejoração, agás uma das suas três formas, a Magdalena, e apenas parcialmente. Talvez pura, sobreviveu na ilha da Irlanda, para na refundação da antiga religiosidade céltica como alicerce do catolicismo, voltar a aparecer, mas ainda assim com os poderes divinos minorizados.
Lembrar que um hipocorístico da Maria, marica, dá nome à pega também.

Então sobre estes nomes de mães originárias Orraca, Maria e Gaia, [estaria aqui também Charra / Carra, com o totem do tordo ou tordeia, tordo-charlo (Cibeles /Freia?)] saídas da caverna, e córvidas, ocorreu que na neolitização a sua força divina pudo, nalguns casos, ficar pejorada passando a dar nome ao lado obscuro, e noutros casos a divindades secundárias.

Assim a divindade irlandesa Macha (/ˈma.xə/ confronte-se com maja no espanhol), comparte o seu nome gaélico com a pega e com a gralha-cincenta.
Gaélica macha, gralha-cincenta, Corvus cornix.
Gaélica macha, orraca ou pega, Pica pica.

Morrígan, Morrigu, tem diferentes etimologias que talvez partam da camada da pejoração com ideias como "rainha do terror ou rainha fantasma", na escrita atual gaélica é Mór-Rioghain, significa "grande rainha" , ainda que poderia ser esta escrita um intento de reelaboração, pois Morrígan assim escrita no gaélico antigo é par da Morgana galesa.
Uma outra ideia seria partindo do lexema raiz *mworr-: *mworr-ikan / *mworr-ik-ana.
E não por casualidades, a divindade Morrígan tem também uma corvídea associada.
Morgana nas lendas artúricas é um resto da antiga religiosidade, onde a maga, a maja, e macha, são três evoluções da mesma palavra epíteto da deusa, que o sânscrito completa com o adjetivo महत् (mahát) "grande".

Assim em Moledo de Castro Daire a religiosidade da altura fala da Maga, como epíteto da deusa a quem lhe é oferecido um sacrifício:

Rufinus · et / Tiro scrip/serunt veaminicori / doenti / angom / lamatigom / Crougeai Maga/reaicoi petravioi t/adom porgom Iovea / Caielobricoi.









A lenga lenga espanhola explica algo mais:
Que llueva que llueva la virgen de la cueva, los pajaritos cantan las nubes se levantan...
Tem o seu par americano, argentino, talvez mais arcaico: Que llueva que llueva la vieja de la cueva...
Onde a virgem católica é a velha.

Desde esta perspectiva da continuidade aqui apresentada, não é de estranhar o grande santuário de Cuadonga / Covadonga.

Velha que é um epíteto da divindade, pois o nome divino por vezes é tabuado, interdito, por isso é adjetivada.
Mas no fundo, a divindade Velha, é a da Cova, a paleolítica, que aparece em tantos contos da literatura popular europeia, as mais das vezes transformada, na exageração do seu lado obscuro e negativo, pola nova camada cultural que formou um estrato novo de crenças sobre o antigo, nas mais das vezes para reafirmar-se como novo e melhor, denegrindo o anterior (lula/calamar, pexego/melocotão).

Orraca é esclarecedor. Em territórios vizinhos e interconectados milenarmente dão-se duas zonas sobre a consideração da palavra orraca:
Uma occidental atlântica no que de ser mãe paleolítica passa a ser rainha ou consorte, e daí a desaparecer.
E noutros âmbitos vizinhos, oriental continental, e nortenho, que vão dar à ave ladra, à prostituta, ou à bruxa, (acho não fazer falta explicar os pormenores culturais inferiorizadores do feminino, mas na evidente continuidade)..
Esta diferenciação da territorialidade poderia ser consultada no Atlas Linguístico de la Península Ibérica no mapa número 440 (ainda não está on line) onde pode ser vista a geografia diferençada de pega e orraca.
O âmbito da pega corresponde à antiga Galaecia (as Astúrias, Leão, norte de Portugal e Galiza) e a partes da Extremadura espanhola.







As orracas toponímicas:

As Urracas em São Martinho de Figueiroa (Cotobade). Talvez na linha de orreta / urreta "vale profundo", mais perto da sua hipotética raiz.


Urraca em Santa Maria de Leronho (Rois). Neste caso Urraca semelha dar nome ao seu primário significado de suco, rego, mas também pode ser um pequeno cousso de caça. A destacar o topónimo Murada como vedação sul.



Vale de Orraca (Valdorraca / Valdurraca) em São Julião de Vilacaiz (no Savinhão). Este grande cousso tem no seu interior o castro de Vilacaiz.
(Para mais explicações sobre os coussos paleolíticos-neolíticos: vide o texto "Os coussos").
Também à par de Vale de Oraca o topónimo de Dona, havendo se calhar uma equiparação sinónima entre Dona e Orraca.
A destacar também que no beco oeste onde está o nome de Dona e o de Val e de há três mámoas, aqui indicar que nestes vértices como foi visto noutros exemplos assenta a igreja.
A presença do Castro dentro do antergo recinto dá a ideia já repetida de que estas grandes vedações seriam obsoletas no Ferro e no Bronze, remetendo ao Paleolítico e Neolítico inicial onde ainda haveria grandes rebanhos de herbívoros, que fariam estas estruturas rendíveis.
No beco assenta o foxo de caça e possivelmente nas suas proximidades o assentamento humano. Assim a dona, a proprietária do "foxo" do 𒆢 (ḫurru) / horro dá nome a uma parte do cousso de caça. Entendendo que a propriedade do cousso seria tipo matrilinear, onde ocorreria uma caça passiva as mais das vezes e onde o mantenimento das grandes vedações seria um labor frequente.


Cas d'Urraca (também Cardunaca) em São Pedro de Alais (Castro Caldelas).
Toponímia como Cubelos, Tapada da Barreira, Valado Velho, Poço..., dão ideia da sua estrutura.

Vilar de Orraca, grafado também como Vilar de Urraca e vilar de Urrada, em Santa Maria de Carvalhido (Vilalva).






As "orracas" toponímicas córnicas

Neste caso Krowswragh na freguesia de Aghevran / St Keverne, na Cornualha. Krows-gwaragh "Cruz da bruxa (orraca)".




Rys an Gwraghes "forte das meigas (orracas)"  na fregusia de Lannaled / St Germans.
Bake, tivo o nome de Bate, e outro lugar com aparente raiz, Bakyston, levou o nome de Baggeston, Bageston,....
Segundo "A glossary of Cornish names", Bake seira bico en córnico. Protoindo-europeu *bak-, *baḱ- "pau apontado". Em certa forma condiz com o pequeno bico que tem o cousso redondo no seu fundo, no lugar principal do nome, onde está Manor Bake.
Bonealva, Bonyalva, o seu primário nome Pennadeluuan, que seria um evidente e descritivo "extremo, ponta", pois essa e a sua situação no cousso.
Penn -adel-wan.? Pen gadel-wan
Adel poderia ser uma forma do verbo galês gadel  com ideia de "sair"
Wan / gwan "esfaquear, matar ". Uma ponta de saída onde há a morte por picada profunda?
Chasfrank, chas "couto de caça" frank "livre", que condiz com o lugar de vértice.



Krows an Wrarh "cruz a meiga (orraca)", na freguesia de Pluwveryan / St Buryan.
Penty Glen Garth "casa da ponta da chousa do vale", o nome é totalmente esclarecedor e transparente a respeito do cousso de caça antergo que desenha ainda hoje a divisão das terras.
Penty: Penn-chi / Pen-ty "casa da ponta".
Glen "vale polo que corre um ribeiro, valigote, valga, ravina, barranco"
Garth "chousa, zarra, tapada".
Karn bre "milhadoiro do monte"
Bre "monte, outeiro"
Bolanken / Bolankan grafado em época medieval como Bollancan, Bo- não tem muita hipótese "casa", llan poderia ser "igreja/zarra"
Bo-lank "casa do ribaço, do borde do ribeiro, ravina", confronte-se com o galês (g)lan ‘bank (of a stream)’.
Mas faltaria o segundo elemento -ken -kan -can. Poderia ser "brilhante, branco" no atual galês. 
as ideia de ribaço de rio ou barranco de ravina não semelha própria pois não há rio, sim poderia ser "zarra, vala, tapada
Chikarn "casa do milhadorio"
Kerow "valado"
Chycandra, Chi "casa" -candra poderia ser "branca".
Treave, de trev "lugar", talvez plural trevow / trefoedd no galês.




Outros lugares de reinado feminino:



Hipotético cousso de caça em Val de Farinha (São João de Louçarela)  com a Casa da Reina no mesmo lugar que outros coussos levam o nome de orraca. A reparar que está a palavra Reina em castelhano e não rainha. A lenda popular do lugar diz que a casa recebe esse nome por ter-se nela hospedado a Isabel a Católica caminho de Compostela, mas também como é explicado, estes locais de caça acabariam sendo postas ou casilhas, pois os caminhos paleolíticos que ligavam um cousso com outro acabárom sendo os caminhos do país.



Casal d' Aia de arriba e Casal d'Aia de Abaixo, o primeiro na freguesia de São Martinho de Cerdido e o segundo na de Santo António da Barqueira (concelho de Cerdido), dando nome ao beco de um hipotético grande cousso que abraçaria o rego das Felgosas / Folgosas.
Aqui Aia está na mesma ideia que Orraca, rainha, freira .... Remarcando essa ideia de poder feminino sediado no cousso.
Por outra parte Casal faz referência evidente a casa, moradia; mas casal, casa e derivados, como em tantos outros exemplos neste blogue que se repetem, aparecem nos becos de caça, na plurivalência de casa, caixa, capsa, caça; criando a ideia de que a primária casa teria sido no mesmo lugar do foxo da caça. Observe-se que parelho a Casal d'Aia está Casas Velhas, com o nome da Cova tão "evidente" como fosso de caça.


Foto tirada do jornal Arab News, do artigo "Desert kites: Another ancient geological mystery in Saudi Arabia"
https://www.arabnews.com/node/1760796/saudi-arabia





São Salvador de Casdenodres (na Veiga) tem a configuração comum dos chousões neolíticos, com a igreja que na continuidade ficou associada a ele.
Casdenodres poderia ser suposta uma origem em Cas(a) de Nodres; tendo *nodres raiz em nudrir/nutrir, nos significados de "nutrir, criar, ensinar, instruir".
Confronte-se com o espanhol nodriza "ama de leite", e com o latim medieval nodrigamentum e nodriminal "provisão, comida, coisas necessárias para a comida".
Nutrir, que para a maior parte da etimologia viria de uma raiz proto-indo-europeia *(s)neh₂-  "fluir" por uma ideia de leite fluente.
Outra ideia seria que derivasse da raiz comum a noz, nux lanut encnú sga, como primário alimento. Assim nutrix, seria um adjetivo feminino formado sobre nutr- , onde a nux, alimento e o conhecimento, as nutrições do corpo e mente.
Nudra é a londra, com o cognado espanhol nútria.
Poderia ser percebido como outro lugar de poder feminino.



aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Hipotético grande cousso, de caça à espreita na freguesia de São Vreijo de Queiroãs (Alhariz).
No extremo oeste Catoveira, e no estremo leste Orraca, Outeiro de Orraca e Barraca.
Esta paisagem humana corresponderia ao paleolítico-neolítico.
(Podem ser vistos mais exemplos de estes coussos de caça com topónimos da família Orraca no escrito "Os coussos".
















































































































Este lexema raiz hipotético *hwar-, poderia explicar a guarida o guarir o guá, ou mesmo a guarra (palavras órfãs de etimologia), como nas explicações seguintes será intuído.




forraqueira
Agujero en una pared. Carballedo. DEL LAT. "FORARE". (HE23)


forra s. f. Cada hoyito hecho en tierra, uno por jugador, en torno al central, en el juego de la porca. Cada jugador tiene su moco. En Cerdedelo, Our.(FrampasIII)


HORRO,-RRAadj. Dícese del esclavo que alcanza libertad.
________ Exento, libre.
________ Aplícase a la yegua, burra, etc., que no pare.



Real Academia Galega (1913-1928): Diccionario gallego-castellano
AO FORRO loc. adv. A lo que más hiere, molesta o mortifica.

X. Filgueira Valverde, L. Tobío Fernandes, A. Magariños Negreira e X. Cordal Carús (1926): Vocabulario popular castelán-galego (publicado por entregas en El Pueblo Gallego)
FORRO adx. Horro, libre.

Leandro Carré Alvarellos (1928-1931): Diccionario galego-castelán, 1ª ed., Lar, A Cruña, 1926-1931
forropart. de Ahorrar. Ahorrado.

Leandro Carré Alvarellos (1933): Diccionario galego-castelán, Segunda Edizón, A Coruña, Roel
forro part. de Ahorrar. Ahorrado.

José Ibáñez Fernández (1950): Diccionario galego da rima e galego-castelán, Madrid
forropart. de Ahorrar. Ahorrado.

Leandro Carré Alvarellos (1951): Diccionario galego-castelán, Terceira Edizón, A Coruña, Roel
forro part. de Ahorrar. Ahorrado.

Eladio Rodríguez González (1958-1961): Diccionario enciclopédico gallego-castellano, Galaxia, Vigo
FORRO s. m. Defensa, cubierta con que se reviste una cosa interior o exteriormente.
________ Tela o piel que se pone por la parte exterior a los vestidos y ropas.
________ Cubierta que se pone a un libro para conservarlo.
________ Chegoulle ó forro, dícese de la reprimenda o represión que se le dió a uno, vituperando lo que dijo o hizo.
FORRO,-RRAadj. Horro, libre, que tiene libertad.
________ Ahorrado, economizado: tèn forro moito diñeiro.

X. L. Franco Grande (1972): Diccionario galego-castelán, 2ª ed., Galaxia, Vigo
forro ,-a adj. Horro, libre.
________ Ahorrado, economizado.

Leandro Carré Alvarellos (1979): Diccionario galego-castelán e Vocabulario castelán -galego, A Coruña, Moret
Forrop art. de Aforrar. Ahorrado.

Constantino García González (1985): Glosario de voces galegas de hoxe, Universidade de Santiago, Verba, anexo 27
forro m. 1. (Com. Cod.) forro;
________ 2. (Car. Are. Sad. Esc.), aforro (Gro.) tablas que cubren el armazón del barco.









































Está aqui o írrio de Castro Caldelas como um dos antigos reis?



Na toponímia está o outeiro de Orraca, e muito perto Urrós

Urriolo?


Outros nomes da orraca ave:

Pica-crega: Picar-crega por ser dos cregos ou por ser clériga ela?
Clérica deriva do grego κλῆρος • (klêros) com o significado de "fazenda, bens, muito, herança, lote, o conjunto de cousas que é atribuído por lote"


Poupa : a ideia de poupa confrontada com outras aves, é que teria poupa, crista; mas neste caso se a pega recebe o nome de poupa é pola poupança, polo aforro.

Pega

Pega-veiga

Picaça

Charra, charrear (cantar a pega).

Charrachenta.

Lagarteira.




kotstse tocariano b, nome de uma ave desconhecida, para fazer ver a proximidade com cocho ou acocho e com a cochosa ou cochorra (merlo, mas nalguns lugares dando nome ao corvo-cereijeiro)



Poderia haver uma relação etimológica entre a guerra e o verrasco, verres em latim é considerado derivar de *wérs- "arrastar pelo chão", confronte-se com vessar, com o arar. O verrasco foça, marca o terreno, e o guerreiro faz o mesmo.
Ambas raízes estão em Pokorny separadas:
*uer (verrasco)
*uers  (antigo alto alemão werran "confusão)



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