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Balley Keeill Vartyn na ilha de Man

No blogue foram descritos muitos lugares com estrutura de cousso ou granja neolítica com toponímia de base em Martinho, o que levou a pensar numa relação etimológica e toponímica subjacente entre Marte / Martinho e o gáltata: μάρκαν (márkan) ou o gaulês markos "cavalo".

São Martinho poderia ser interpretado, desde a continuidade como uma cristianização da divindade Marte?
A etimologia do latim Mars (Martis) antigo latim Mavors vai dar a um proto-itálico *Māwortis.

Haveria pois uma raiz anterior para cavalo-marte com par *mar-pos / *mar-kwos?
Também no proto-germánico *marhaz.
A ideia seria que a égua, o cavalo, teriam um nome tabuado, como é frequente no protoindo-europeu, um epíteto *mar-kos, "da *mare, do *maro, da *mara".
Para pôr a série:
Sânscrito मर्य (márya) "cavalo de padreação, semental"
Etrusco Maris "divindade Marte"
Latim mar maris "homem, masculino".
Galego marão "que não está capado; masculino, macho".

Por exemplo no sânscrito estas palavras significam égua ou cavalo:
मयी (mayI): égua
माया (maya), “aparição, irrealidade, fantasma, fraude, malabarismo".
माया (māyā́) tem diversos significados, aqui vão os védicos, (pois os posteriores levam maior carga negativa, ou só estão focados na parte negativa) माया (māyā́) "arte, sabedoria, poder sobrenatural ou poder não-humano / ilusão, engano, malandragem, magia demoníaca".

O que nos leva  ao Dianho Bulreiro:
Cando ibam ver as mozas a esoutra parroquia, a Damil, chegando ó Porto apareceu-lhes uma égua moi bonita, acarinhárona... E ibam a cavalo duma égua..., e no medio do rio desapareceu a égua..., desfixo-se. Nom sei, nunca chegarom molhados... Nesse Porto viam umas luzes, sentiam éguas rinchando...
(Tirado de Barcas do Minho).

Numa ideia de que a égua (cavalo) teria sido inicialmente considerada uma divindade, uma manifestação da divindade, que com o tempo e a caída da Divina Feminina apenas foi ficando com o negativo.
Assim a divindade masculina Marte entre outros aspetos tem o cavalo de batalha consagrado a ele, e carreiras de cavalos eram celebradas na sua honra nos seus dias festivos.
A égua, o cavalo teriam um nome tabuado, um epíteto como pode ser mais ou menos observado no sânscrito.
A partícula mar-, dos nomes antigos europeus para égua ou cavalo, leva-nos ao proto-germânico desde o inglês mare, mere, antigo inglês mīere, proto-germânico occidental *marhijā, proto-germânico *marhijō / *marhaz "égua / cavalo", proto-céltico e protoindo-europeu *markos.

Bom todo este fio foi para mostrar na ideia de continuidade que São Martinho, o Marte pequeno, monta um cavalo. Cavalo, égua que podemos intuir a sua relação com o divino, posteriormente com transformação em dianho, apenas ficando com funções pejoradas.
O que leva a pensar que nos tempos passados uma mudança da cosmovisão levou a que as divindades ficaram partidas, umas conservando os aspetos percebidos como bons, e outras ficando demonizadas.
Seria para pensar que a divindade arcaica era mais completa e livre do julgamento de bem ou mal dos seus atributos. Os significados védicos da palavra माया (māyā́) datariam essa mudança com posterioridade ao 1.500 aC na zona da Índia.

Esta longa introdução é para pôr aqui um exemplo toponímico-topográfico de Martinho e os cavalos, que foi esboçado no escrito sobre o Corral de São Marinho:


Este lugar é Balley Keeill Vartyn, anglizado como Ballakilmartin, em gaélico de ortografia comum Baile Cil Mhártain "vila da igreja de (São) Matinho", lugar onde se encontra a igreja, capela de São Martinho.
Pode ser observada a estrutura de cousso.
Balley Keeill Vartyn está na freguesia de Kirk Conchan conhecida também como Connaghyn, anglizada como Onchan, na Ilha de Man.

Os nomes dos lugares vão ser analisados no sentido anti-horário com a sua possível tradução:

Balley ligg, anglizado como Ballig, em gaélico Baile luig (luig é genitivo de lag) com tradução de Vila do lag "buraco, cavidade; caverna; depressão entre dous montes de terra".
Então Balley ligg está a dar nome ao foxo de caça que por força está no fundo do beco:



Hipotética estrutura de caça ainda grafada topográfica e cadastralmente, ainda que o beco leste está desaparecido, mas com toponímia esclarecedora da sua funcionalidade.

Ballacain, Ballacayne, Cain ou MacCane's farm "a granja dos MacCane". Neste caso estaríamos diante de um antropónimo. Mas como em tantos casos apresentados neste blogue, o antropónimo oculta uma outra razão do porquê do nome.
MacCane tem as variações McCann Mac Cana, "filho de Cana". Interpreta-se Cana como "guerreiro jovem" derivado do seu significado raiz "lobato, lobo novo".
Neste blogue já foram analisados os topónimos galegos e gaélicos de base cão, que também se associam com estruturas de caça similares a esta.
Um exemplo co cão gaélico:


Sistema de duas granjas neolíticas com talvez um único cousso inicial no condado de Cill Mhantáin / Wicklow na Irlanda.
(Mais alargadamente explicado aqui).
De sul a norte:
Gráinseach Choinn: Granja do cão, dos do cão.
Cnoc Mhic Conchúir: Outeiro onde o cão anseia, deseja, babeia.
Baile Uí Chuanáin: Vila dos de Cuanáin, dos descendentes Cuanán, dos de Cuan pequeno. Com a mesma base que o divulgado anglizado Conan, Conán gaélico, já no oaghan  ᚉᚑᚅᚐᚅᚅ (conann) derivado de cú "cão". Então Baile Uí Chuanáin, sim pode ser um antropónimo, mas também pode ser "Vila dos descendentes do pequeno dos do cão ou vila dos descendentes do pequeno cão", indicando isto último que o primário cão, a primeira estrutura de caça teria sido a pequena a leste para depois ser construída a maior, a do leste.
Dún Luáin: fortaleza, castro, refúgio do anho (cevado).

Um exemplo do cão galego

Cas na freguesia de São Tiago de Ribas de Minho (no Páramo) com toponímia esclarecedora da sua funcionalidade, também o presente Martinho.

Então Ballacain, Ballacayne, Cain ou MacCane's farm "a granja dos MacCane, ou a granja dos descendentes de Lobato", estariam-nos a indicar igualmente que no gaso gaélico e galego um cão, neste caso semi-domesticado, um cachorro de lobo, onde os vocábulos cão / cuna / cane, semelham enraizar.


Seguindo com a análise toponímica:
Begoade, neste caso também Begoade Treen. Um treen na Ilha de Man é uma unidade territorial inferior à freguesia, geralmente formada por quatro lugares ou granjas, quatro baljyn.
Begoade é considerado formado por duas palavras uma gaélica e outra nórdica By-goõi, "a do crego ou By-goddi "a de Goddi", de todos jeitos o apelido Goddi é uma variação do anglo-saxão Godwine "amigo de deus". Begoade Treen colhe em si a Balley Keeill Vartyn, quer dizer "a do Crego" é um território ao que pertence o lugar da igreja de Martinho.
Ballakaighen, também chamada no passado como Kaighen's (1515, Mac Caghen) farm.
Estes nomes derivariam do gaélico MacEachaiten ou MacEachan "o filho de Eachan", sendo Eachan "cavalinho", onde outra vez o antropónimo tem a sua talvez razão toponímica ao ser o lugar um cousso para caçar bestas ou uma posterior granja neolítica para equídeos.

Bibaloe como no caso de Begoade é um treen.
Etimologicamente Bibaloe teria duas partes: o prefixo by- preposicional "de, pertencente à" e -baloe, que é considerado de origem nórdica derivado de balavað com o significado similar a valado.





Toda esta explicação para pôr em relação a toponímia neste caso de Martinho e o cavalo, Ballakilmartin / Balley Keeill Vartyn e Ballakaighen, o lugar da Igreja de (São) Martinho e o lugar do cavalinho / Besteiro.
Ao igual que tantos coussos galegos os becos, as pontas onde teria sido realizada a caça, na beira de rios, talvez o ancestral cousso inicial com final no próprio rio para melhor caça d animal, mas no caso leste Balling, Balley ligg, como o lugar do Foxo, como tantos foxos galegos dando nome a esse ponto.
Já também o nome de Begoade "a do Crego" assinalando a continuidade que também foi mostrada noutros coussos galaicos analisados onde o o cousso ele inteiro ou os becos seguem pertencendo à igreja, nessa sacralidade da caça, como um lugar inicialmente talvez em mão do xamã, para passar polos druidas e finalmente acabar nas mãos da igreja, do padre, cura, ou crego.
Destacar também como os supostos antropónimos guardam uma relação com a funcionalidade do espaço, quer dizer o lugar tem um nome primário que identifica a família que o ocupa secundariamente, e não ao revés.
Finalmente o beco do leste com o nome de Bibaloe, no já tantas vezes insistido que os pontos de caça seriam especialmente monumentais mais que o cercado em bolsa, pois seriam os lugares de maior desgaste, neste caso talvez pola toponímia grandes valos de terra que cercariam essa ponta.

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