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Para uma interpretação do Brueiro de Rodeiro.

 

Esta é a paisagem que chegou até o 1956 na zona do Brueiro da freguesia de Santa Maria de Rodeiro (sob administração de Oça-Cessuras).
Nesta paisagem podem ser vistas estruturas de coussos, ou já na sua hipotética evolução a granjas neolíticas:




Uma análise levaria a pensar que o Poço das éguas teria perdido a sua funcionalidade de caça ao ser criado o do seu sul, do Brueiro. O nome de Poço das éguas poderia ser por uma nascente na sua boca, ou por ser um local para caçar éguas.


De entre os nomes chamativos está o de Laús. Teria a ver com a pronúncia antiga de lagoa/légua?
Isto foi analisado no escrito "Læũa, Murujosa e Mântaras; regos viários?" onde se apresentou a ideia dos caminhos antigos de lagoa a lagoa ou de leũa a leũa, de légua a légua. Neste caso há os topónimos Calçada, os Carreiros e Fieira a sul de Laús.



Do Brueiro:
O Brueiro apresenta-se como um cousso já fechado com a típica beiçoa ou feche proeminente circular na sua antiga boca de entrada. E com o frequente local religioso num dos seus becos, a Capela de Santo André.
O nome de Brueiro perceberia-se com um lugar onde o rebanho caçado ou já em catividade brua.


A Cortinha de Ramos faz pensar numa cortinha de uma família com o nome de Ramos. E poderia ser. Mas também poderia ser que a família apelidada de Ramos leve o nome do lugar e não à inversa. Este topónimo foi analisado no escrito: "Sil, Gil ou Xil".
Recolhe Ducange ramus como locus custodiæ reorum.
Então: ramus teria funcionado como lugar de custódia, neste caso de animais, além de estar a dar uma ideia de ramo como paliçada, por exemplo no catalão com deslocação do significado, ramat "rebanho, grupo", ou no inglês: ram "carneiro".
No sânscrito राम (rāma) "um tipo de cervo".
Confronte-se com o sânscrito रामा (rama) que entre outros significados tem os de:
Uma mulher bonita, qualquer mulher jovem e charmosa, amada, esposa, amante, qualquer mulher.
Uma dona de casa, uma senhora.
Uma mulher morena, ou seja, uma mulher de baixa origem para a cultura dominante na zona sânscrita.
Uma ἑταῖραι, hetaera.

Então a Cortinha de Ramos estaria a dar nome a um lugar que na transição paleolítica-neolítica:
Serviria para manter os animais cativos (cervídeos, e talvez outros).
Onde seriam reunidos, ameijoados os animais cativos, para custodiá-los, talvez à noite.
Onde haveria uma sede de poder feminino.

Quanto a o nome da Avieira do Campo: poria aqui três hipóteses:
A fitotoponímica, como lugar de aveias.
A de que poderia indicar um caminho, um vieiro, uma vieira.
A do significado desusado do verbo aviar "dar a otro el ganado lanar para que lo cuide", que vem sendo um significado especializado de aviar como "compor, preparar, acomodar".

Podendo ser então esta Avieira do Campo, um curro onde os animais (semi-domesticados) seriam aviados, seriam cuidados com maior atenção.
Nesta mesma zona há outra Avieira, a Avieira de Vilarinho:

Neste caso a Avieira de Vilarinho faria parte do beco norte da estrutura de Casa Nova, ao lado de outro microtopónimo chamativo a Chousa do Leiteiro, que sim poderia ser uma chousa de uma pessoa de profissão leiteiro, mas noutra interpretação:
Casa Nova poderia ser percebida como a mais recente das hipotéticas granjas:

A explicação da sua menor definição: talvez por ter sido uma estrutura que perdurou pouco tempo, pola já domesticação e deixar de ser útil para o maneio de um rebanho que poderia ser pastoreado em aberto. Voltando ao par da Avieira de Vilarinho e da Cousa do Leiteiro, podeira esta toponímia estar a marcar o momento da domesticação com aproveitamento do leite, como lugar onde o rebanho uma vez tivesse pascido o dia inteiro, seria ameijoado, cuidado e mugido, ordenhado, neste beco, onde a Avieira estaria a dar ideia de aviar "cuidar, acomodar o gado", e onde a Chousa do Leiteiro seria um nome transparente, na tradição sânscrita: seria o momento das gopis "mugidoras" e da posterior dualidade do Govinda e do Gopala, o primeiro quem cuida das vacas na pala, na corte; e o segundo quem cuida as vacas no pasto, enquanto pascem, e que as trai de volta para corte.
Quanto a que Avieira leve o nome de Vilarinho, neste blogue já foi tratado que os topónimos do grupo vilar não obrigadamente fariam referência a um assentamento humano a uma villa no conceito latino, mas a um vilar que se conservou como conceito agrário (Alvarellos: En algunas comarcas llaman vilar a los campos de centeno que, después de sembrado, se cierran con un balado que no se derruba hasta que se siega, y queda el terreno a restreva o pallarega) poderia ser então interpretado Vilarinho como uma paliçada ou sebe, uma vedação menor ou secundária, neste caso Casa Nova no seu conjunto é um vilar, uma tapada, uma sebe de *billae, de paus, oque nos leva a um nível maior de domesticação onde o valo de terra não é necessário para conter os animais que já param com uma sebe.

Destaco a Cortinha, talvez como o momento do uso do gado para arar, neste caso a Cortinha tem uma longitude de aproximadamente 140m, mas semelha estar cortada no seu lado oeste, as cortinhas costuma ter uma longitude equiparável ao que os bois tiram do arado de um golpe sem parar sem descansar, a distância que a parelha pode arar sem excessivo cansaço, de uma tirada, equivale à medida antiga ainda usada na Inglaterra de surveyor furlong , que são 201'1m. A sua largura de 60m equivaleria a doze mãos de semeado.
Os topónimos no lado sul:
Espinho, já foi analisado em diferentes escritos de este blogue, Espinho remete a fitotopónimo, mas como em tantos outros lugares analisados acaba dando nome ao beco em ponta ou ao seu limite, isto foi mais alargadamente explicado no escrito "A nespra e o bispo".
O nome de Jardim, faz pensar no que hoje é um lugar de lazer com vegetação cuidada, neste blogue já foram analisados lugares com esta toponímia, pensando que teriam a ver com guardar.

Já o quarto local:
Com toponímia condizente como é Ferreiros, que neste blogue foi apresentado outras vezes como variação na pronúncia de cerreiros.
A do Foxo, como lugar onde estaria o foxo de caça.
Novios como alargamento do inicial cousso ou tapada da sua boca, o mesmo que Cancela.
No seu lado norte Serreria / Serraria, lugar onde houvo uma serra, ou Cerraria, cerrado?
Coitinho, lugar coutado ou coito, ponto do jogo, neste caso da caça percebida como jogo (confronte-se com game em inglês) como principal.
O nome da Revolta faz pensar num aditamento da granja central do Brueiro:

Pode ser percebido o beco oeste como teria ficado transformado numa cortinha, de longitude na foto de 190m, cortinha à que lhe faltariam os seus lados arredondados:

Já o beco leste de esta estrutura com o nome do Curto, levaria a pensar numa hipotética raiz de corte "estábulo"; ainda que a corte "estábulo" é com o aberto no português padrão /ˈkɔɾ.t(ə)/, no galego (maioritário) é com o fechado /ˈkoɾ.te/ /'koɾ.tɪ/ que faria pensar na forma latina cōrtem condizente por exemplo com o italiano corte (com o fechado), o romeno curte, o arromeno curti, o irlandês cúirt.
Neste caso do Curto poderia estar a remeter à raiz  *kom +‎ *hortos "com cercado",  e não ao hipotético genitivo que corte expressaria: *kom-horti "do *kom-hortos"  > *cōrti > côrte / corte.
Neste caso do Curto, estaria a forma plena e não em genitivo, *kom-hortos "com-cerca" > *kōrtos > côrto > o Curto.

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