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A Belém e algo das granhas

 A Belém é um lugar com igreja e cemitério, mas não é freguesia, faz parte de Santa Maria de Rodeiro (Oça dos Rios, hoje Oça-Cessuras).
O seu nome é pensado vir da vila palestiniana de Belém.
É para reparar que o nome popular da aldeia de Rodeiro é com artigo feminino a Belém.

Uma foto aérea dos vos do 1956 e 57:


Esclarece isto a sua estrutura, como as tantas neste blogue ultimamente apresentadas como uma evolução de um cousso de caça paleolítico para granja neolítica:



A destacar a simetria da estrutura, e os seus braços, becos, bicos.
Como já em tantos outros casos apresentados neste blogue, em um dos seus becos está situada a igreja e o cemitério, numa ideia de continuidade: um lugar tumular associado a uma estrutura de caça  derivou em sede religiosa.


Nesta grande armadilha de caça apresentam-se com frechas o fluxo do rebanho selvagem no seu correr dentro da armada, que o leva a três vértices ou becos, bicos, onde haveria foxos, ou no lado leste que acaba em um lugar branhento, um tremedal, nas beiras do rio Ponte Lagoa, onde a caça, captura seria muito mais fácil.



Como já em tantos outros casos em um dos seus becos está a igreja e cemitério, numa ideia de continuidade, pois também neste caso estão duas mámoas, representadas por circulinhos.
Então no inicial neolítico poderia ser uma imagem de um grande espaço vedado, cercado, de aproximadamente 40Ha, onde seria mantido em catividade um rebanho de animais selvagens.
Com o devir dos tempos este espaço seria aumentado com vedações secundárias para melhor maneio do animais e para aumento do seu número, e já pola seleção de animais menos assustadiços e mansos poderia ser feito um pastoreio exterior à vedação.




Com o devir do tempo e talvez na época do Bronze o pastoreio ocupa a menos quantidade de população e aparecem outras camadas sociais mais diferenciadas, um grupo de pessoas que podem viver sem estar em contato com os animais ou com a terra, uma elite governativa e pessoas dedicadas a ofícios. Assim é criada uma estrutura "urbana" a briga ou castro:



Pode ser comprovado, como em tantos casos, que ocorre uma ligação direta entre o local religioso, a ermida, capela, igreja da Belém (ancestralmente talvez local de enterramento, anteriormente local de reunião pastoral, e inicial lugar de caça e sacrifício) e o local da elite, o castro de Pereirás. Neste caso talvez um castro da época do Bronze.

A questão toponímica da Belém.
Do proto-céltico as palavras para bico boca nascem de uma raiz *wewlos, com formas como: o gaélico antigo bél, galês gwefl , córnico gwevel, no asturiano gueifes, belfo e gueifas por exemplo no galego.
Gaélico atual béal, "boca, abertura, entrada".
Estas formas galego-asturianas, gueifes gueifas, belfo, fazem-nos pensar no celta-p / celta-q que estariam presentes sobre o mesmo território, na ideia de ancestralidade.
Sobre esta raiz linguística toponímica há um escrito no que está mais desenvolto: As gueifas do arado.
Segundo isto a Belém teria que ver com a sua situação na ancestral vedação no lugar do beco, bico, boca.
Isto ligaria com o escrito velenho, com o lexema protoindo-europeu *bʰel-n-o-, então é no local do beco, neste caso da boca, que ocorre a briga, a luta. a morte.
Assim o galego belém no seu significado de trifulca, briga; e asturiana belén "agitação, confusão, enredo", nasceriam neste lugar.





A congruência toponímica que a identificação da estrutura de caça, captividade dá:


Os topónimos que aparecem muitos deles já foram descifrados, analisados, noutros escritos:
A Granha, surpreende que muitos topónimos a Granha aparecem associados a estruturas neolíticas, quando o topónimo granha é tido pola maioria da etimologia do país como uma palavra medieval que dá nome a uma granja medieval, derivada do francês grange. Hipóteses explicativa de isto seriam ou que a palavra neolítica como significado de granha / granja "reunião de animais domésticos" foi traduzida a uma nova palavra medieval, ou que a estrutura de catividade perdurou desde o neolítico até épocas medievais.
Relevante é a etimologia da palavra ganja em galês grefan, formada por gre "greia, rebanho" e man "posição, lugar, ponto particular, espaço determinado".
Já no córnico: greunji tem o significado de  "granja e celeiro", onde a palavra gre córnica significa "rebano, grupo de animais".
Então as granhas / granjas comumente associadas com a raiz de grão, teriam antes a ver com a greia ou rebanho.
Uma hipótese então seria que a raiz protoindo-europeia de granja / granha estaria formada por *gre-n(os)-yós, *grenyos; 
Duplamente adjetivado,:
*grenos "o da greia, *greiano"
*grenyos /*grenya "os dos da greia, *greianeiros".
Assim no Du Cange: grenarium, grenchiagrengia.





Grenjil em Santa Maria de Gastrar (Boqueixão (-om))



Granja na freguesia de São Pedro de Hermunde (Pol).




São Vicenzo da Granha (Ponte-Cesso).


Por exemplo no gaélico escocês grainnse /graiNʲʃə/ tem essa mesma ideia, no gaélico irlandês gráinnsech.

An Ghráinsigh anglizado como Grange no condado de Phort Láirge (Waterford) na Irlanda:


É observável que a forma de cousso de caça está desenhando o lugar de an Ghráinsigh (a granha / granja)?



An Ghráinseach Thiar "A granja do oeste" e An Ghráinseach Thoir "A granja do leste" na freguesia de  Cathair Chinn Lis ​Caherconlish   no condado de Luimneach Limerick.
Gráinseach "granja, celeiro" no gaélico irlandês de hoje.

An Ghráinseach "AGranja" no condado de Ceatharlach /​ Carlow.
An tSeanghráinseach "A Granja Velha".
Gleann Óg "Vala, rego novo".
Ráth na Sionnach "ráth do Raposo", mas é para salientar que sionnach deriva do proto-céltico *senūnākos de *senos "a pessoa velha, o ancião", assim o raposo tem o epíteto gaélico de "o velho, o do velho", Ráth na Sionnach poderia ser o ráth da (pessoa) velha.
Baile Bhúiséir "Vila do Açougue, do Matachim, do Bucheiro" no condado de Ceatharlach 
Búséir é uma palavra no gaélico tida por origem no anglo-normando bucher.
Neste caso a paisagem é neolítica, numa estrutura de cousso de caça, e o topónimo estaria a conservar o nome do lugar da matança, ou o nome onde residia o encarregado da preparação do animal caçado, da desmancha.
Binn an Choire "Bico do Fojo"
Baile Corróg "Vila do Fojo"
Áth Uaitéir; áth é vau, espaço aberto entre dou objetos; como aqui é observado está na parte central do hipotético cousso, na sua boca. Quanto a Uaitéir, é a forma gaélica de Válter. Neste blogue já têm sido analisados os topónimos do grupo Baltar, chegando à mesma conclusão que a toponímia do cousso indica, no que Uaitéir, tido por germânico, a sua origem seria protoindo-europeia, balt- como território privativo. Assim o cousso de caça aparece como uma das primárias apropriações territoriais.




Voltando à Belém:
O seguinte topónimo Cortinha do Corral não tem muita necessidade de ser explicado.

Naveira, também analisado neste blogue, antes de ter a ver com nabos, poderia ser que estivesse relacionado com o frequente topónimo da Hispânia nava, que teria relação com Návia, ávia, gávia, na ideia de rego, fosso.
Pois a granja neolítica costumaria ter além de um muro ou valado perimetral um fosso para evitar a entrada de feras.

Cova teria a mesma explicação.

Corte do Mato, também é transparente, está a dar nome a toda a estrutura, é uma corte, uma grande corte feita num lugar de mato.

O nome de Branha Covada para o beco, bico do lado leste é muito significativo, pois indica o que é uma branha, onde a manada na altura da funcionalidade como cousso de caça perderia mobilidade e seriam alguns animais mais facilmente caçáveis ao ficarem entalados no tremedal, a ideia de covada é que poderia ter havido fossos, poços.

Revolta, o frente tudo leva o nome de Revolta com indicações do lugar, Revolta da Capela no oeste, Revolta do Campo, Revolta de Porto Fundo no leste.
Confronte-se com esta Revolteira numa estrutura aparentemente de caça em Santa Maria de Restande (Traço):







Neste lado leste por último Uzeira, que pode ser percebido como fitotopónimo, lugar de uzes, urzes, mas também poderia ser um zetacismo de Usseira, que neste blogue foi analisado como lugar de porta no escrito Ucheira. Mas também não haveria que desbotar a possibilidade de que osseira estivesse na origem do nome, como lugar onde durante milénios os ossos dos animais caçados no palelolítico-neolítico, fossem ali acumulados, em forma similar como os "recentes" concheiros do bronze-ferro.




Já o Castro de Pereirás, poderia ter a ver com pereira, mas depois de tantos topónimos do grupo pereira aqui analisados, mais teria ver com pedra. Por vezes este nome de castros sobretudo do Bronze, e não só associados com a toponímia de pedra/pera é pensado por haver neles muita pedra e serem em épocas relativamente recentes aproveitados para tirar deles pedras para caminhos e construções.
Mas como foi analisado noutros escritos, aqui o castro está situado numa das variações do beco. Dada a ancestralidade e os milênios de uso, os coussos de caça e posteriores granhas neolíticas sofrem nos becos modificações ao serem os lugares de maior "desgaste", assim podemos observar que Pereirás está num beco de caça captura, este lexema per- com a forma mais plena esper- está algo desenvolto nos escritos dos Coussos e no da nespra e o bispo. Onde a espera, a pedra/pera, o esperão, nasceriam da mesma raiz paleolítica e do mesmo lugar específico, da ponta do beco do cousso de caça.



Microtopónimo o Belém na freguesia dos Vilares (Guitiriz), pode ser observada uma outra situação do local religioso, no vértice, fundo de saco, mas também com a ligação direta do castro com ele.


Beleiral em Santa Maria de Trás-Eireja (Vilar d'avós). Abrindo a hipótese que algumas "Aveleira" tenham sido "a Beleira".






Rio da Abeleira no hipotético cousso da Silva de São Marinho de Rodis (Cerceda), um possível prévio Rio da Beleira.




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