Ovelha como nome secundário.


Um topónimo que dá para ver é o da freguesia de Aiaço sob o concelho de Frades.
Ducange recolhe aiacius como palavra do latim medieval com o significado de prédio com casa, horto, terras e vinha, também aiacius como vicariato.

Desde o francês poderia desenguedelhar-se o fio começando pola palavra haie que é sebe, valo; derivada de uma hipotética forma frâncica *haggju, com parentes nas línguas germânicas como no inglês hedge.
Compilado por Ducange: haia / haja / haya/ haga: paliçada, sebe...
Aiaço, nesta hipótese, poderia ser uma adjetivação desta palavra do latim medieval, de uma hipotética forma *haiatium "que tem sebe, que tem valo, tendo valado", ou mesmo um aumentativo.
Há um epitáfio da época de dominação romana com o nome de Aiatius em Mérida, outro no País Basco Aiati em genitivo, outro em Toledo:

Festiva · Luci / Aioseci · ser(va) / an(norum) · XX · h(ic) · s(ita) · e(st) · / s(it) · t(ibi) · t(erra) · l(evis) · .

Aioseci?
Aioseci poderia ser dividido em Aio-seci Aios-eci, de onde -seci seria conjunção ou partícula de pertença.
Confronte-se com o gaélico irlandês acus, antigo ocus, pronunciado /ˈoɡus/, que vem do proto-céltico suposto *onkus, "próximo, perto, vizinho a".  No gaulês a conjunção é sufixada com a partícula -cue, que é derivada de um indo-europeu *kwe.  No inglês antigo a conjunção foi eac.
Assim seria uma das possibilidades que Aioseci fosse Aios-ecus em genitivo, sendo Aios-ecus, "vizinho, próximo aos Aios, dos Aios", confronte-se com a sufixação galega -ego, navego, galego, chairego, (também asturiana).

O nome próprio Aiacius está recolhido na Gália, em territórios da atual Bulgária, também derivados de Aia e Aio: Aiato, Aio, Aiuca, Aius...

Apelido Ayaso na Galiza uma espanholização de Aiaço

Então a hipótese germanocêntrica abala e poderia ser ampliada?
O Aiatius e variantes da altura do império Romano ligariam-se com os nomes gregos dos Aiantes que aparecem na Ilíada, Αἴας, (αἶα-ας) da época do no Bronze,
Sendo αἶα "país, território, região", como variante de γαῖα (gaia). E o sufixo -ας pode ser visto como uma forma semelhante ao -ax latino, mas como Aiatius poderia ser um nome autóctone pré-romano, ou uma "tradução" de Αἴας?
Sendo nome próprío Aiatius mais parece parelho do que derivado de Αἴας, polo seu lexema final.
Aiatius abre a ideia que haia "sebe" /  αἶα "eido" poderia ter sido um conceito já espalhado antes da hegemonia germana, então possivelmente uma expressão céltica do indo-europeu.
Por exemplo no corso aghjacciu dá nome a uma cidade, mas nas freguesias vizinhas a tal localidade aghjacciu dá nome ao "curral do gado".
Indo-europeu que costuma fazer nomes "heroicos" sobre nomes de "conceitos concretos" importantes do "neolítico pastoral", tipo a mesma palavra herói que provém hipoteticamente de um proto-indo-europeu "proteger, guardar, vigiar",
Nesta linha da sebe do latim medieval haia, haja, estaria no sânscrito अज (aja) líder, guia, condutor?
Mas também अज (aja) "tropa, grupo" e "carneiro, cabra". É visto que houvo um possível deslocamento da vedação "haia"  para o rebanho que é guardado na vedação, e daí a grupo, e também de rebanho para cabra ou carneiro?

Se o olhamos desde a toponímia centrada nos possuidores: Aiaço pegaria o nome de uma pessoa tal Aiatius / Aiacius. Mas também trocando a direção Aiatius / Aiacius poderia ser gentilício, o morador do *aius.

Aira / eira na Córsega, com os nomes de arghja, aghja, arghia, achja...., diferentes grafias para variadas pronúncias:
/'aca/, /'aɟa/, /'arɟà/, /arja/, /'aʀdʒa/
(foto tirada de: bdlc)
Desde a teoria da continuidade, *haja:
Começaria tendo relação com vedações territoriais, as tais palavras compiladas por Ducange: haia, haja, haga, sebes, valos que encerrariam uma área, "aghia" corsa, um território aiacius "vicariato".
Fariam um curral aghjacciu (em corso) e que envolveriam um eido próprio, αἶα "país, territótio, região".
Que guardaria dentro um grupo humano, ou animal, uma tropa अज (aja), inicialmente de caçadores, coletores, para depois serem pastores cuidadores ou guiadores de rebanhos semi domesticados.
Grupo animal que daria nome indiretamente ao animal do rebanho अज (aja) "cabra, carneiro". Talvez o animal guia ou cabeça do grupo.
Na sequência da domesticação, há registos neolíticos que alicerçam um intento de exploração doméstica do cervo, do veado, no galego antigo aial foi nome para o cervo, talvez com todas as conotações mágicas ou religiosas que na altura o envolvérom.
Cervo da Laje dos Carvalhos em Paredes de Santa Maria de Moimenta (Campo Lameiro).

Que acabaria dando nome ao guia, líder, अज (aja).
Confronte-se com anha.
Governado por uma aia ou um aio, ancião sábio, ou por um Aiatius,  Αἴας, ou अज (aja).
Aia / aio que seriam cognados de ária / ário.

Assim no sardo a ovelha tem o nome de airvèghe (?).


Isto coincide com a ordenação do território galaico, onde os primários ários, pastorais, assentaram na aira e daí a aireja, lugar principal da ordenação territorial, tanto que o castro assenta dependente do aro da atual igreja, lugar de poder primigénio. Castros que na sua volta conservam o topónimo aira ou eira, indicando o tal lugar do ário /aro primário.


A palavra gótica 𐌷𐌰𐌲𐌾𐌰 (hagja), “protetor” está diretamente ligada com a linha germânica da raiz buscada aqui, do frâncico *haggju.
Aia, aio é pensado derivarem de avus, avia em latim avós, ou do gótico 𐌷𐌰𐌲𐌾𐌰 (hagja) “protetor”.
Segundo esta hipótese seriam cognados, pola sua presença em idiomas da Índia com o mesmo significado que no português.
Na língua guzerate da Índia e Paquistão આયા (āyā) é o que aqui é uma aia.
E no sânscrito अज (aja) "condutor, guia, instigador, líder"
Na língua marata आजा (āj̈ā) “avô” आजी (ājī) "avoa".
No galego da parte do Alto-Tambre é usada a palavra aieu como tratamento de respeito, para a gente anciã, como pronome para dizer você, senhora ou senhor.
Nesta linha aberta está também aujò do occitano, ou o francês aïeul "ancestre, avó, ancião".
Foi visto que a aira corsa aghja /'aɟa/ tem a forma aria /'arja/.
Então pode ser pensado que aia / aio e ária / ário, na ideia de elite neolítica, anciães ou chefes, evolucionam parelhamente.
Se o ário é o chefe do aro, da área, da aira e do arado:
O aio é o chefe do terreo com haia
"valo", da aghja /'aɟa/ "aira" do aiacius "vicariato", o que ligaria a territorialidade do catolicismo medieval com a territorialidade antiga neolítica.
O ário começa caçando o aries para depois cuidar dele como sustento, sem o esgotar, e acaba no pastoreio do aries o "carneiro". O aio segue esse caminho com o aial "cervo", também pastoreia videntes (cabras e ovelhas) polos significados de
अज (aja) "carneiro, cabra": de onde aio seria uma forma de dizer aĩos que seria mais difundida como anho? Não tendo o latim fonema  /ɲ/ nem vogais nasais, a sua forma desta raiz indo-europeia seria agnus?


Imagem de Anhobres

Estrutura de Anhobres como cousso, o lado leste ainda conserva o beco de caça


Funcionamento do cousso de caça , como armada passiva, que acaba acurrando os animais em zonas, becos, onde polo empilhamento acabam caindo em foxos



Sistema de granja neolítica onde os animais estão em catividade no recinto que foi cousso de caça, a boca de entrada é fechada, geralmente em forma redondeada e não em linha reta, e os becos que foram de caça, fazem um serviço de corte, ou para guarda do gado e o seu maneio. Neste caso Anhobres sofreria maior transformação. 

Anhobres de São Julião de Moraime (Mugia), com a sua toponímia condizente com a sua funcionalidade, toponímia muita dela analisada neste blogue.


São Pedro de Anhovre (Vila de Cruzes).
Pormenor de São Pedro de Anhobre; destaca o peqneo tamanho da chousa, em comparança com outras chousas onde a igreja está associada.


Assim na epigrafia hispânica há abundantes inscrições do nome Aiius, com duplo i, o que poderia revelar um intento de grafar uma pronuncia diferente do i latino clássico: Por exemplo a ara de Aiius aparecida em Baños de Montemayor (Cáceres):
 [Vi]viu(s) / [R]ufu[s] / Aiio Ad/[e]cino • v(otum) / s(olvit) • l(ibens) • m(erito) 


Téssera de hospitalidade de Carvedo, (Agradecido a Conchita Fernández López):

Appio Iunio Silano P(ublio) Silio / Nerva co(n)s(ulibus) / Tillegus Ambati f(ilius) Susarrus / Ͻ Aiobrigiaeco* hospitium / fecit cum Lougeis castellanis / Toletensibus sibi uxori libe/ris posterisque suis eumq/ue uxorem liberosque eius / in fidem clientelamque sua/m suorumque in perpetuo cas/tellanei Toletensis receperunt / egit Tillegus Ambati ipse / mag(istris) Latino Ari et Aio Temari

(*) Outra leitura de
Aiobrigiaeco* é Aio baigiaeco*

Depois de apresentado isto, o caso de Anhobres de Moraime, poderia ser decodificado como as brigas de Aio?



Assim o radical -bre na toponímia galega associada com o bre céltico "outeiro", pode ser interpretado do mesmo jeito mas doutro modo, atendendo a que brí no irlandês significa "força, vigor" e que o proto-céltico associado a este bre "outeiro" e brí "vigor"(latim vir) seria brix (Vrixaria, vergeu, vergel) por sua vez da raiz indo-europeia *bʰerǵʰ-.
Onde o vigor, louçania, e elevação dos ramos novos pode estar (xato e pulguido). Confronte-se Pokorny bhereĝh- : “altura; montanha” derivado da raiz bherǝĝ - , bhrēĝ - : "brilhar, reluzir"
"freixo, vidoeiro, ulmo

O caso da palavra bragasta:
Tem bragasta os significados de vergôntea, renovo de árvore; verdasca, vara fina e flexível; ramo, pola; pau
Com os sinónimos ou variantes: bardasca, bardasco, bodrasca, bodrasco, bodresca, bordasca, bragasca, vedrasca, vedrasco, vergasta, vírgula, virgunto, vregasca, vregasta, vregunta, vregunto

Percebendo-se um lexema brag- com muita variação entre elas  vreg-/virg-.
E uma sufixação -asca / -asta que indicaria a sua inferior qualidade: neste caso um pau fino, afrente o lexema pleno *vrega / *vrego / verga.
No caso de Anhobres a sul está o nome de Bergantinhos, que pola hipótese aqui desenvolta, bergantinhos seriam os que moram ou pertencem à *berganta, que neste caso seria percebida como a paliçada.
Os hipotéticos paus fortes: barda, borda (bordão), bargo, verga, hipoteticamente *briga estariam a dar uma ideia de defensa já for com paus ou pedras, atenda-se à duplicidade de bargo "estaca e chanta de pedra".
Isto levaria a que braga e briga estariam na mesma raiz, estariam a dizer o mesmo originariamente.
Anhobres, teria ver então com as paliçadas do anho / aĩo.



Parentes do sânscrito
अज (aja) poderiam ser o tocariano-B ā(ᵤ)w, lituano avìs, o par letão aita e avs, todos eles com o significado de ovelha; como também o hitita 𒇻𒅖 /ḫāwis/, a língua luvita 𒄩𒀀𒌑𒄿𒅖 /ḫāwīs/ e a língua lícia 𐊜𐊀𐊇𐊙 /χawã/ ou o sânscrito novamente: अवि (ávi).
Poderia estar muito próxima anha anho a esta linha? Pensemos que anho no âmbito fonético galego oriental poderia ser aĩo, do mesmo jeito que minhoca é mĩoca / mioca, ou ninho é nĩo / nio.

Aião / Aiom (oficializado no nomenclator como Allón) de Centronha (Pontedeume). Allón seria uma ultra-correção por lheísmo de Aiom, pois os documentos medievais escrevem Ayon:
Et iacet ipsa villa in valle Centronia, nomen Ayon, iuxta monte Breemo ripa mare de Eume.
....cartula donationis de hereditate mea propria quam habeo in villa Aion , territorio Prucios, subtus monte Breami, concurrente ad....

Ayon Aion seria então uma haya grande (na ideia de haya compilada por Ducange: paliçada, sebe) mas também podemos perceber que a génese etimológica proposta aqui, de vedação a nome próprio, nome do gando, poderia ter uma ancoragem territorial.
Podemos observar como a grande chousa de Aiom / Aião foi partida.
Também podemos observar que a ipsa villa nomem Ayon tem um lugar achaiado no perímetro norte do chousão, onde a *willa, villa já não seria de feitura medieval, mas sim um *willar uma paliçada neolítica.
Também no nomenclator como Allón, mas com a mesma configuração que o Aiom / Aião de Centronha? Mas este Alhom / Alhão foi grafado como Alion. Em de São Pedro de Grandal (Vilar Maior).


Aios em Santo Estevo de Noalha (São Genjo).

Aiaz de Ousende (no Savinhão), também grafado no nomenclator oficializado como "A Az".
Relação entre o nome do território primordial e o nome dos pequenos ruminantes:

1. Já no escrito "Cafrune na cafua" foi estabelecida uma relação entre a palavra cabra e o nome das aldeias:
«Cafua, cafurna e as palavras dessa família, dizem derivadas do árabe كَافِر (kāfir) com diferentes significados, "granjeiro" e "infiel, não crente na religião islâmica, nem pertencente às religiões do livro".
Para esta ideia do granjeiro كَافِر (kāfir) a etimologia mais comum liga com a palavra كَفْر (kafr), plural كُفُور‎ (kufūr) com o significado de "cidade, vila, aldeia, subúrbio", uma palavra do século VIII que ficou nos textos.
Esta raiz de kafr- como aldeia está muito espalhada polas línguas semitas:
Arameio: כַּפְרָא‎ /‏ ܟܰܦܪܳܐ‎ (kap̄rā) "cidade não fortificada".
Acádio: 𒅗𒀊𒊒 (kapru) "granja, aldeia"
Hebreu: כְּפָר‎ (kp̄ār), “aldeia”.
Fenício: ResPeKaph (kpr / kopor) "aldeia.
Onde poderia ser vista uma ligação entre o acádio: 𒅗𒀊𒊒 (kapru) "granja, aldeia" e a palavra cabra.
Por outra parte nas línguas eslavas, o nome da vaca é крава (krava) / коро́ва (koróva) de um suposto proto-eslavo *korva, cuja origem é discutida, desde um protoindo-europeu *ḱerh₂weh₂, (cornudo de *ker- "corno", *weh "adjetivação") a confrontar com o proto-céltico *karwos "cervo" (córnico medieval: caruu, bretão medieval: caru, galês: carw) e com o lituano kárvė "vaca e o prussiano antigo curwis.

Por exemplo a Cervela de (Oíncio)
A Cervela e a parróquia de São Cristovo do mesmo nome, São Cristovo da Cervela em Oíncio. Um sistema de chousos pequenos em comparança com outros lugares. Chousos pequenos para videntes, cabras, ovelhas?
Na mesma aldeia da Cervela, uma capelinha no lugar da Casa Senhorial de Pereira de Arriba.
Cermuço de São Pedro de Vilar (Pontedeume), também um chouso pequeno.











2. Nas línguas célticas pode acontecer algo semelhante, onde *kagyom significa curral, vedação para animais, com as formas variadas nas diferentes línguas célticas, por exemplo no gaulês cagiíum “cercado”.
No galês desta linha de *kagyom, há as palavras: cae com o sigificado de "sebe, recinto, barreira, curral", cail "aprisco, rebanho de ovelhas", mas também caer "castelo, forte, lugar fortemente valado" com os cognados ker no cornualhês e kaer no bretão com o significado de cidade.
Por sua vez no gaélico a ovelha tem o nome de caora / caíra para a que é atribuída uma raiz no proto-céltico *kaɸrāxs.
Esta hipótese de ir dar o nome de cercado a ovelha não fica muito clara polo nome do corço em galês de caeriwrch
literalmente caer-iwrch para uma linha etimologica como *caer "ovelha" e iwrch "corço".
Seja como for a palavra gaulesa cagiíum do protocéltico *kagyom, abre a possibilidade a que a toponímia da família de cajião e cajigueira tenha relação com isto. Como será visto mais abaixo.

3. Aedes, aedis em latim (eido galego, eiddo galês) teria, da mesma forma que o anterior, relação com aedus, edus, haedus, hoedus  "cabrito" no mesmo latim. Então o eido primário latino aedis seria uma forma dativa ou ablativa de aedus, com o significado de  "para o cabrito, do cabrito".
Isto poderia ser corroborado polo sânscrito onde ovelha tem os nomes de एडी (eḍī),  एडका (eḍaka) e ऐडक (aiḍaka).
Por exemplo no saami uma palavra para a barreira, para o valo é áidi. Que estaria em relação com o eido galaico e o eiddo galês; explicado do seguinte modo: o muro áidi encerra um lugar privativo, um eido; dentro de esse lugar privativo está um animal aedus / haedus que tem dono, que não pode ser caçado por outros.
Estaríamos em uma estrutura primária (paleolítico superior, pola possível relação nostrática entre eido e áidi) que encerra um animal que vai ser sacrificado de um jeito religioso, o que nos leva aos coussos de caça paleolíticos.

4. No latim também poderia haver uma relação entre ārea e aries.
Aries outro nome  do ovino , do carneiro, teria por parentes o basco ahari "carneiro" ardi "ovelha", o gaélico antigo heirp, o grego antigo  ᾰ̓ρήν (arḗn) e  ἔριφος, o lituano ėriukas, e éras, letão jērs
Também  Άρείων (Árion) nome de um cavalo mitológico grego.
No gaélico airge / airghe "gado, rebanho".
Os nomes nas gírias galegas de areão e areona para o boi e a vaca, semelham aumentativos.

5. Já noutro escrito foi falado do nome मेष (meṣá, na forma védica: maiṣá, pronúnicia hindi /meːʃ/) da ovelha, mas neste outro conceito o deslocamento a mesão ou ameijoar "reunir o gando para a pernoita", foi à inversa, ao ser mes nome onomatopeico do animal.
Aqui poderia ser deixado o nome de meca "ovelha", na gíria dos cesteiros, e o de mecoro para o carneiro.

6. Ovis, ovelha
6.1 A posse antiga e primária cercada por haia "sebe, paliçada" seria das primeiras propriedades privativas de terreo; teria a vem com o haver?
Foi analisado no escrito "Covas 1", a gênese do haver, onde foi visto o lexema do verbo ter ou haver nas falas célticas como *kav:
No galês caffel "ter, haver".
No córnico este haver/ter é kavos (também com o significado de encontrar).
No bretão kaout "haver, ter" e kavout "encontrar, dar com alguém, estar num lugar".
Ou doutro jeito: a cova semelha um haver, um ter primário, para depois no sistema agrário, o cavar, a cavadura, mudar em propriedade, a vala cavada é tirada a sua terra sobre o perímetro interior fazendo valo, a marcar o privativo.
Assim o haver como verbo foi antes substantivo?
Teria que ver na sua génese a haia "sebe, paliçada", compilada por Ducange?
Foi a haia / haja / haga "sebe, paliçada" a primeira propriedade de terreo, do haver?
Os nomes da ovelha em línguas anatólicas: *Hṓwis, do proto-indo-europeu *h₂ówis, no hitita 𒇻𒅖 (ḫāwis), língua luvita 𒄩𒀀𒌑𒄿𒅖 (/ḫāwīs/), língua lícia 𐊜𐊀𐊇𐊙 (χawã), dão uma ideia de que o ter "haver" estivo relacionado com as ovelhas, nessa ponte que permitiria ver o sânscrito अज (aja) ou अजाविक (ajavika) "nome para ovelhas e cabras" como sendo da mesma linha.

No escrito "Pastoralismo inicial, a godalha e o godalho" fôrom analisados os topónimos de tipo Gom- como pastorais de videntes, de gando menor:

Alguns deste topónimos de lexema gom- para curros menores, tenhem variações como gov-, por exemplo Gomélio de São João de Lagostelhe (Guitiriz)



Gomélio, também com o nome "Jovelho", grafia à espanhola da gheada de Govelho. Com toponímia gadeira típica na sua volta: Meijão (lugar onde se ameijoa o gado), Paço, palatium pecuário. Também lemos Gomal no seu leste.
O par de Gomélio: Govelho, tido por deturpação, poderia ser observado de outro modo, daria ideia de um étimo gom- / gov-, que ligaria com o proto-indo-europeu *h₂ówis, raiz de ovis, mas Govelho  remete a uma forma tal que *gʷṓw-elio *gʷṓw-is sendo *-elio *-is um genitivo, diminutivo ou adjetival: "da vaca, vaquinha, vacada", confronte-se com o sânscrito गोविष् (govis) "bosta".


São Tiago de Gomelhe (Guntim), cousso de caça e toponímia identificativa


O que leva a lançar outra hipótese para este grupo do indo-europeu *h₂ówis:
6.2  Outra visão diferente à de ter apresentada para este grupo do*h₂ówis, relacionaria-o com *gʷṓw 
Já no latim ovis e no lusitano, atendendo à inscrição de Cabeço das Fráguas, oilam.
No latim ovis pode ser percebida como ov-is, podendo ser -is um sufixo adjetival.
Assim *ou-is poderia ser "da *oua, do *ouo, *gwou-is, "vaqueira, da vaca".
A existência do par bos /ovis e hipoteticamente o par do indo-europeu ocidental boi/oila.
Levaria a um pensamento que a raiz *gʷṓw, foi previamente *kʷṓw com o seu par (celta-q e celta-p):
*kṓw / *pṓw?, confronte-se com pucho e bucho.
(Guou, uou, ghuóu são sons usados na Galiza e nas Astúrias para chamar, acalmar as vacas, mas também são usadas as formas puix puix ou cuix cuix, confronte-se com o verbo acuixar, comum na fala do Alto-Tambre, não dicionariado que significa fazer esse som que provoca que a vaca que está em cio pandeie o quadril).
Assim a linha *pṓw gerou o boi e o bos bovis, o grego βοῦς  (boûs) e a família céltica do gaélico e britônico bu (bu bretão e também no galês medieval) e as variações britónicas do grupo do buch córnico (confronte-se com pucho / bucho).
A linha *kṓw, variaria a *hṓw e a *ṓw. raízes tidas para *howis (o grupo asiático para a ovelha) e *ṓw (ovis, oila, ὄϊς (óïs) no grupo ocidental).
Na Galiza até o século passado havia ovelhas ditas "das vacas", numa casa tinham umas poucas ovelhas, duas, três, que saiam pascer coas vacas da casa. Poderia ser entendido que o inicial pastoralismo ovino foi desenvolto, na maior parte do mundo indo-europeu, como introduzido no já estabelecido pastoreio vacum? Tendo o sistema das grandes chousas e curros menores, a ovelha teria entrado nesse espaço quando já estava consolidado para o vacum.

7. No sânscrito ovelha tem também o nome de रोमश (romaza / romasha)  o que a faria derivar de रोम (roma) cavidade buraco, que o completa a ideia de roma inicial ser vedação, leia-se o escrito "Roma", onde podem ser vistos diferentes curros pecuários de este lexema rom-.
Este lexema está presente no galego, onde roma é interjeição, voz, para chamar polas ovelhas.

8. Nas línguas eslavas a raiz *baranъ (barán) dá nome ao carneiro, também no Persa medieval warān, no curdo beran.
Vara desde o hitita warr- dá ideia de ajuda, utilidade, serviço.
Vara desde o latim vai dar ao arqueado, ao cambado, mas não ao pau.
A ideia é que o lexema var- dá nome:
- Ao pau de vedação
- Ao pau cambado
- Ao rebanho, grupo (uma vara de porcos).
Já foi analisada *wara em "Algária, o pastoralismo":
*al-war- / *an-war- seriam a mesma cousa, um pendelho, uma cabana, talvez fixa.
*war-: daria a gar-/guar- na ideia de guardar e mesmo a habitação garagem, garito, algar "cova"; daria barra na ideia de vedação e mesmo habitação barraca; e daria vara "rebanho".
*war-/ *wal- ligaria o valo, o muro, com a barra.
Assim o varão, o varil, o líder masculino estaria aqui como equivalente ao अज (aja) analisado "líder, e cabra, carneiro".
Daí o marão galego "macho inteiro, carneiro" e também a casa grande de uma aldeia, a casa que tem muitos terreos, também no catalão marrà com o significado de "carneiro".
Já no galês maharen "carneiro" e no hindi मेंढ़ा (meṇṛhā) / भेड़ा (bheṛā) também com o significado de "carneiro".

9. O carneiro: o carneiro pode vir da carne, mas também do carn, pedra demarcatória, amilhadorio que é marco. As limitações territoriais do pastoralismo inicial foram feitas, entre outros modos por luitas de carneiros. Também a cabeça do carneiro como animal sacrificial foi usada para molhar o molhão, a perda demarcatória, *karnos proto-céltico.
Confronte-se com o significado de carn em galês: pilha de pedras, túmulo, marco sobre uma tumba, montículo de terra ....
Há uma duplicidade em carneiro, ao dar nome ao ovelho e ao berbericho ou berbigão.
Berberecho, berbigão que poderia estar aparentado com o latim berbex / vervex "macho ovino".
Esta palavra latina berbex tem parentes no curdo بەرخ  (berx) "anho".
No carro de bois trasmontano, barbião, berbião, burbião é o madeiro no que, na parte anterior e posterior do carro, entra o espigão das cancelas que limitam, fecham o tabuleiro,.
Berbião é nome para o estadulho ou fueiro, especificamente para os dous estadulhos dianteiros e os dous estadulhos traseiros, com o cognato asturiano berbión que também dá nome aos fueiros. A confrontar com barbeito no significado de valo.

Carneiro, ou vervex semelhariam secundários a uma ação demarcatória, já for por amilhadoiro, carn, ou por estacas ou paliçada de berbiões.

10. Assim borrego ou borrega, do mesmo jeito que carneiro e carn "molhão de pedras", teria a ver com as borreias, hoje ou ontem: os montões de terrões da roça que são assim dispostos para secos serem queimados. Montão de terra: borreia, que no passado pode ser que estivesse ligado diretamente com os túmulos funerários de queima, as borralhas, onde: as borras são as cinzas, cinzas que ainda hoje dão nome aos ossos dos nossos defuntos nos cemitérios, ossos que não são restos incinerados.
Assim borra, borralha, borreia, teriam a ver com o grego πῠρρός (purrhós), com πῦρ (pûr), com o arménio antigo հուր (hur), com o hitita 𒉺𒀪𒄯 (paḫḫur), com o tocariano A e tocariano B puwar. com o grego micénico 𐀢𐀏𐀺 (pu-ka-wo /pur-kawos/) “acendedor, isqueiro”.
Com o antigo gaélico bréo (“chama, laparada”), no gaélico escocês breò-chual "pira funerária".

11. Almelha, é nome para a ovelha, almelha semelha levar uma desinência afetiva diminutiva, como ovelha, -elha, Uma ideia para a génese de almelha seria que do mesmo modo que animal deriva de animus,  almelha/almalho poderiam derivar de alma.

Almelha semelha estar na mesma origem que almalha "bezerra de recria", almalho "boi novo".
Outra possibilidade para a gênese de almelha seria que almelha fosse lambdacismo de *armelha. em similitude com o para armalha /almalha, o que ligaria almelha com a raíz de armentum. 
*h₂er- + *-mn̥ + *-teh₂ é a raíz consensualizada para o armentum latino.
Segundo isto para alemlha/*armelha poderia haver uma base tipo *h₂er- + *-mn̥ + *(Ø)-lós
Assim *h₂er- "reunião" + *-mn̥  "lugar de" + *(Ø)-lós "adjetival"
O sufixo *-mn̥ tem os descendentes: -ma  no galês é lugar, estado ou ação; no galego -mo átono, é aumentativo ou relacional (édramo); no grego -μᾰ é um sufixo substantival ao atuar sobre um verbo; nas línguas fino-permianas (urálicas) da que procede o sámi *-men dá ideia de lugar; segundo isto *h₂er- + *-mn̥ seriam o lugar da juntança.
E *h₂er- + *-mn̥ + *(Ø)-lós "o do lugar da juntança".

O gaélico escocês dá uma outra dica pois neste idioma alma significa gado, gado bovino.  Seria neste idioma onde se manteria a ligação entre o armentum latino e a almalha "novela/novilha, vaca nova que ainda não pariu" e a almelha "ovelha".
Nesta raiz almus latino com a ideia de nutrição.
Segundo esta raiz gaélica, almelha significaria "gadinha".





Poderia ser concluído que no pastoralismo inicial indo-europeu associado aos ovídeos há uma secundariedade?
Que houvo uma relação linear de conceito-palavra: valo, vala, vedação, curral, rebanho, fazenda, teres, haveres, animal individual do rebanho, chefe pastoral, líder de uma comunidade.
Que frequentemente a ovelha tem nomes nas línguas indo-europeias derivados do nome do recinto pecuário.

















Cajião / Cagião:
Sobre os topónimos de lexema cajig- e a sua relação com vedações pecuárias:
Já foi falada da riaz céltica do gaulês cagiíum “cercado” do protocéltico *kagyom.
Mas também as duplicidade grega de γαῖα (gaîa) e αἶα (aîa) "terra".
Haveria uma hipotética raiz subjacente a esta primária territorialidade "eido" da família extensa *kaia / *kaja / *kasa.

Por exemplo Cajaravilhe / Caxaravilhe:


Cajaravilhe / Caxaravilhe de São Miguel de Sarandão (-om) (Vedra). Onde os chousos são compatíveis com videntes (cabras, ovelhas).




Cajeba / Caxeba de São João de Saídres (Silheda); também um curro pequeno.



Cagião / Cajião de Santo Estevo de Quintas (Paderne).


Cajide de São Facundo de Busto (Lalim), com a igreja da paróquia no lugar frequente da chousa, neste caso também uma chousa pequena em comparança com outras de hipotética origem neolítica.

Caxigal / Cajigal de São Tiago de Goiriz (Vilalva). Esta chousa tem no seu bico o nome de Vilar do Ramalha, talvez Vilar da Ramalha, Ramalha que pode estar indicando uma relação com as ovelhas ou cabras, polo lexema ram-, como foi explicado no escrito "Ramil".
Recolhe Ducange ramus como locus custodiæ reorum.
Então: ramus funcionou como lugar de custódia. Ramalhos *ramaculi "custodiinhas", além de estar a dar uma ideia de ramo como paliçada com deslocação do significado no catalão por exemplo ramat "rebanho. grupo"ou no inglês ram "carneiro".
Então ramo no paleolítico-neolítico teria uma ideia de grupo, grupo de animais, paliçada, defesa.





O Cajigal (no mapa grafado como os Caxigales) em São Miguel de Pinheira (Sárria).
O topónimo Pinheira foi tratado no escrito de "A nespra e o bispo".
Dá para entender que o lexema caj- em nomes vegetais cajigo, cajigueira está na linha do indo-europeu onde a vedação dá nome à planta vedatória, como aparece em outros escritos deste blogue e como é tratado especificamente em "Filseira, os limites".
Assim palavras deste grupo seriam:
cajada "canhada, azinhaga, congostra"
cajado "bengala, bastão"
cajatas "muletas"
cajato "jostra, vara; pau para remexer o caldo"
cajoca "poste, puntal"
cájigas "apeares"
cajigo, cajigueira, carvalho novo, castinheiro novo, azinheira.
Há o grupo de palavras pejorativas para a ociosidade como cajoteiro; ou cajota mulher que brinca o mesmo que jota, xota.
Há também um grupo de palavras caj- cajota "presunto", cajoto "cojote", onde estaria a palabra coxa, mas estamos vendo que a coxa latina "quadril" é secundária à coxa extremidade, onde volta o paralelismo do indo-europeu a associar as extremidades humanas e animais com troncos e paus. Perceba-se que a pronúncia latina /ˈkok.sa/ dificilmente explicaria a pronúncia galega /'ko.ʃa/, mas sim a hipotética pronúncia céltica
/'ko.ʒa/ explicaria estas divergências.
Relevante é cajada como canhada/canada caminho profundo de animais, do mesmo jeito que vala e valo.

























Caixão de xastre:

No galego é usada a interjeição nurinha para chamar polas ovelhas: No sânscrito नार (nāra)  "vitelo"?

No corso o genebreiro Juniperus oxycedrus tem o nome de aghjacciu que também dá nome ao curral.

No galego é usada a palavra matoa / motoa / metoa para as ovelhas, motoo "carneiro" nas gírias dos ofícios, da raiz céltica *moltos, com o francês moutton.
Confronte-se com mota/moita e o latim multus.
Sediados no aqui, o asturiano mata "conjunto de pelos, cabelo denso", poderia ter havido uma ideia de tufo de lã, ou mota "mecha de cabelo".
O que nos levaria a uma inicial mota / moita / mata como tufo de plantas, ou pelo ou cabelo.
Saiba-se que mato e mata são palavras de etimologia órfã, assim como malta, apenas com o gaélico escocês mothar "moita, tufo de plantas, pequena mata de árvores".
Haveria pois um proto-céltico malt- / mult- "moita, mato vegetal, mata, tufo de plantas ou cabelos, conjunto".
E daí o *mat-om / *malt-om, talvez protoindo-europeu *molt-oHom (genitivo plural) "das moitas / das matas pelo, de lã / dos tufos".
Esse *molt- *mult- *malt- "conjunto" com o latim multus etimologicamente "montão" (confronte-se com o italiano mounttone "carneiro capado e morena de glaciar".
Mas o inicial conceito abstrato "coisas juntas unidas, montão, multus" deveria ter um conceito concreto que alargou o seu significado, aqui é proposto que a mata ou mato a moita veu dar isto, confronte-se com o asturiano matu / motu / mota / mouta / mueta, com motudu "com as ponlas muito juntas uma árvore, despetivo para pessoa de um vilarejo, e ovelha com motas, com pintas".
Confronte-se com o galego ancarês morteira "bosque autóctone", com murta, murteira e com murtueira "conjunto de plantas da mesma espécie que destacam do resto como moita ou mata polo seu espessor e altura"

No sânscrito ajāvi "nome para cabras e ovelhas".

No sânscrito अघ्न्या (aghnyā) "vaca" e अघ्न्य (aghnya) "boi".

No galego é usada a interjeição chuca, suca, no asturiano suca, soque para chamar polas ovelhas, no saami está a raiz *sāvcë a dar nome às ovelhas, com as formas nas diferentes variedades: saavhtse, sávttsa, sávvtsa, sávttsa, sávza, savzâ, sauʒʒ


Pulvereiro no Barroso é nome para o pastor de ovelhas.


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