© Copyright. Direitos autoriais.

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Cortiças e ....



Nos escritos destes últimos tempos, tem sido descrita a possível génese neolítica do gando e do desenho pecuário e habitacional geral e comum:
Escritos como "Roma?", "Taibó, a casa do boi", "Baltar, o pastoralismo", e muitos outros dão base ao que vai ir a continuação:

Os locais habitacionais temporários do inicial pastoralismo, que foi seguir o movimento do rebanho selvagem de uros e cavalos, recebem nomes derivados da cova:
Pala: palatium.
Cave: cabana.
Zulo: celeiro.
𒆢 (hurru): hôrreo, horrea.
Loio: loja.

Aqui sai a palavra cortiço:
- coberto, pequeno alpendre simples que serve de corte para animais
- casa pequena e habitada por muitas pessoas.

Então desde uma visão paleolítica o primário cortiço teria sido uma cabana de cortiças.
Cabana de cortiças que foi falada no escrito de Taibó:

Casa telhada, teitada de casca de vidoeiro (foto de: http://www.avoinmuseo.fi/kivikaudenkyla/engrusaennallistus.shtml)

Mas seria pois de esperar que em zonas de clima mais temperado, a cortiça da sobreira fosse utilizada pola sua versatilidade e durabilidade para fazer corticeiras?

Nas últimas postagens foi descrita a existência neolítica de grandes chousas, curros de gando: cuja estrutura mais simples é o curro afunilado dos topónimos tipo -mnd-, descritos em "Mundo". Estes curros por vezes isolados, e doutras fazendo parte de formas mais complexas e maiores que podem ser vistas por exemplo no escrito "Baltar".

Ao estudar a toponímia do grupo Algária e semelhantes, em Compostela foi descrita a existência prévia à construção da muralha perimetral da cidade, de um curro pecuário que ainda é possível observar:



No escrito já referenciado de "Baltar" ao estudar o topónimo Abadim:

Santa Maria de Abadim. Na imagem podem ser vistas duas grandes chousas, a do leste leva o nome de os Cardos. A igreja parroquial ocupa o lateral sul no meio, com um caminho que une coa Torre, a chousa do leste tem o lugar de Fernandanho dentro dele, e exteriormente no seu lado leste o Vilar dos Sinais. Só lembrar que a toponímia de vila, *willa, não tem que ser obrigatoriamente na ideia de vila de estrutura romana (mais alargadamente explicado isto neste enlaço).


Em esquema:




Onde há dous grandes curros unidos pola sua base que deixam a um lado: o local religioso, às mais das vezes a atual igreja paroquial, ou uma ermida. E a outro: o lugar da elite agrária, um castro, um paço, uma torre, uma casa grande.

Foi feita toda esta introdução para explicar o topónimo Corticela em Compostela:


Compostela medrou sobre duas grandes chousas, uma a norte, já descrita na postagem sobre as Algárias, e outra a sul da que falta o seu bico mas que pode ser percebido que foi cortado pola dupla muralha que existiu na rua de nome Entre Muralhas. A chousa sul deixou toponimicamente o nome do Toural;esta chousa sul o seu pico bem poderia acabar na praça da Estrela e talvez numa funda corredoira na altura, a atual Carreira do Conde.

Neste mapa que explica a defesa da Compostela do começao do primeiro milênio, podemos ver na sua íntegra o chousão sul, que no bico receberia o nome de Toural
A ambos os lados na parte de união, base das chousas, estaria o castro (Rua do Castro)  e está a Corticela.
Corticela que é uma igrejinha anterior à catedral.
Isto também explicaria o nome da Quintana (vide o escrito: Roma) com a sua função funerária já neolítica, pois os enterramentos ou cremações em culturas do gando eram feitos dentro dos recintos, com as mesmas vacas (vide Busto em Arqueotoponímia, parcialmente também em "os Bustos").

Plano de Compostela medieval
Imagem tirada do blogue Navegando en la História.

Mas este curro da Algália pode ser percebido como uma evolução neolítica de um antigo cousso de caça e posteriormente de captura de bovídeos ou equídeos:

Aqui apresenta-se a conformaç¡ao em cousso de caça da parte norte da hoje cidade de Compostela.
Topónimos como Algália neste blogue já fôrom identificados como próprios de coussos.
Este cousso perderia a sua funcionalidade coa domesticação e parte das suas estruturas, na continuidade, servírom para vedações posteriores.



Sobre este esquema neolítico pecuário também Roma está feita:





E Jerusalém:



Corticela seria então isto: Cort(e) -iti(a)- -ella: "da pequena corte".
Jerusalém, a chousa pecuária envolve o val, cárcova, de Tyropoiōn, Tiropeon "dos queijeiros". Chousa que tem a um lado o lugar religioso, o templo, primária taberna do chefe pastor, chamada por Roma tabernáculo, lugar da arca; e ao outro lado o local de poder, a Torre de Herodes, do mesmo jeito que tantos chousões neste blogue descritos.

Casa do boi do povo, Padornelos (Montalegre).
https://padornelos.blogspot.com/2010/09/em-padornelos-sempre-ouve-o-boi-do-povo.html


Também noutras postagens tem-se referido que praias e cantis ajeitados teriam sido usados como curros para gando por serem lugares facilmente guardados:
Assim, duas Cortiç- dão essa ideia; considere-se que no neolítico o nível do mar foi inferior ao atual:

O Porto das Cortiças em São Crimenço do Pindo (Carnota).

As Cortiças em Santa Eulália de Meira (Moanha).

Já outros nomes como Corticeira podem fazer referência a uma sobreira destacada, como ocorre na freguesia de Santa Cruz de Mondoi, onde as sobreiras são chamadas de corticeiras, como noutros lugares do país:




Então Corticela e corte teriam uma raiz comum, que seria o protoindo-europeu *ǵʰortós?

E como foi apresentado no escrito "Filseira, os limites", a árvore associada a esta palavra limitadora seria a corticeira, a Quercus suber?


Distribuição (mais ou menos atinada, faltam localizações)  da corticeira, do Quercus suber, que fai ver a sua clara origem pós-glaciar na faixa atlântica peninsular. 

Então. Que foi primeiro o corte, (buraco, cova) paleolítico ou a corticeira "árvore" em receber o nome?
A sobreira, a cortiça, recebe um nome "importado" ou "autóctone"?

Entre as línguas europeias de similar raiz a cortiça, cortex latino (cort-):

Proto-finês *kori:
Estoniano: koor "casca, pela"
Finês: kuori "casca, crosta..."
Carélio: kuori "casca"
Livoniano: kūor
Vepes: kor' "casca, crosta, pela"
Võro: kuur' "casca, crosta, pela ..."
Vótico: koori "casca, crosta, pela ..."

Gaélico antigo: coirt
Gaélico irlandês: coirt "casca, pele de animal ...."
Gaélico escocês: cairt "casca, cartão de identidade ..."

Proto-eslavo: *kora
Russo: кора́ (korá) "casca, crosta terrestre"
Búlgaro: кора́ (korá) "casca, crost, côdea ..."
Checo: kůra "casca, pela, côdea ..."

Georgiano: ქოხი (koxi / k’okhi) "cabana, cafua"
Persa: کوشک (kôšk) "pavilhão, palácio, mansão"
Croata: kuća "casa"
Finês: koti "casa".
Norueguês antigo: kot "cabana"

Estes três conceitos: coiro, cortiça e casa, em diferentes línguas distantes semelham aparentados, ajudam a perceber que na raiz poderia ter havido uma mesma palavra, porque a primária casa usava coiros e cortiças. Este parentesco de línguas tão distanciadas iria dar como mínimo às línguas nostráticas, ao 10.000 aC.

A descodificação do latim cortex leva a observá-lo como um genitivo feminino antigo já no latim: cort-ex (como foi tratado em escritos sobre o filix, pulex, sorex) na ideia de "da corta" ou "da corte".
Então a casca das árvores poderia ter sido usada para realizar a primária corte, corte habitacional de animais e corte lugar do poder do pastor-rei.






Cortos de São Vicente de Marantes (Santiago de Compostela).
Uma pequena estrutura em forma de cousso.
Chama a atenção o nome dos becos leste e oeste como Fonte, Fonte Grande e Fonte Pulha, já analisados noutros escritos. Também o de Vila Fernandes, que faria pensar num possuidor de tal apelido, mas que como noutros casos o aparente possuidor poderia ocultar uma razão topográfica ou já de razão funcional na estrutura do cousso, neste casso Fernandes poderia ser uma forma de *cernandes, de cernada.
Este Cortos poria em relação a corte, com o *ghortos proto-céltico, com uma étimo comum ancestral.
Dando assim uma mesma origem à cortinha e à hortinha.










A Cortiçada na freguesia de Santa Maria de Sabrexo (Vila de Cruzes), com capela a São Miguel



Que idiomas unem a sede governativa corte,com o estábulo, corte, na mesma palavra como acontece no galego?
No sânscrito शाला (śālā) é estábulo e corte governativa.
शाल (śāla / śālá) um recinto, um lugar vedado, cerca, muralha, parede.
Sāla (साल) "muro, sebe ou cerca perimetral".

Topónimos da raiz Sala, Saa, Sa, também na Gallaecia.

Estas árvores em sânscrito tenhem o nome de शाला (śālā) (Shorea robusta).
Do mesmo jeito que a corticeira e a corte, semelha o seu nome associado como o assentamento pastoral do neolítico inicial.
https://www.quanjing.com/category/111336/4.html



Zao dá nome ao, Salix atrocinerea (no desenho) e também ao Salix cinerea.

Zao

Arbusto perteneciente á la familia de las plantas salicíneas de Le Mout; especie de Sauce, con hojas pecioladas, aovado-oblongas, agudas, casi afestonadas, ó enteras, y envés borroso. Crece á orillas del Miño, en TuyAsturiasAragon y varios otros puntos. Tiene un consumo considerable en la costa cantábrica, porque de su corteza se extrae un hermoso tinte negro que usan los pescadores para teñir las redes y aparejos: en otras partes hacen capachos y cestos con sus ramas. Acompaña, á veces, al Salix caprea y al Salix aurita (V. SALGUEIRO) pero nunca adquiere las dimensiones que logra el primero; se parece en la forma al segundo y, respecto á productibilidad, constituye un término medio entre los dos.Marcial Valladares Núñez (1884): Diccionario gallego-castellano, Santiago, Imp. Seminario Conciliar


Distribuição de Salix cinerea, zao (as suas duas subespécies).


Jeito de fazer um tapume, uma entomba, deitando abaixo, esgalhando, sem cortar totalmente, as ponlas de zao (salgueiro) entre cada pé da árvore da linde. A ponla não morre e mantém uma vedação viva que não é necessário renovar cada três anos, como assim é nas sebes de varais mortos tradicionais .


Zaim em São Simão de Rodieiros, (Boimorto) condizente interpretação como "do zao".




 Então no sânscrito temos शाला (śālā) para o estábulo, para a corte governativa e para a árvore.
Também साल (sAla),  शाल (zAla), शल्य (zalya), स (sa) "valo".
Esta palavra tem consigo सल्ला  (sallā) "advertência, conselho, opinião".
Até há pouco havia árvores onde o conselho vizinhal se reunia. Velhos teixos costumárom guardar baixo si esta função de conselho. Na cultura nepali o teixo Taxus wallichiana recebe o nome de लोठ सल्ला (loth salla)
(Foto tirada de: 
http://nehhpa.org.np/herbs_directory/himalayan_yew)

Aqui, nos topónimos analisados da Gallaecia, Sa / Saa / Sala semelham dar nome a isso mesmo, ao primário estábulo, e assentamento pecuário que posteriormente ficou toponimicamente em Sa, Sala, lugar de poder, que polo comum é associado com o latim e a sua existência com o período histórico na Galiza de domínio suevo e visigótico, mas como será visto paisagisticamente, no urbanismo territorial estes topónimos são anteriores a Roma e ao Ferro na Gallaecia. Sala, Sa, corte de animais e corte de poder, também tem zao ao lado, uma árvore boa para fazer sebes, o salgueiro.

Um nome do salgueiro para a parte do oriente da Galiza é paleiro, de influência ástur-leoness, polo comum dando nome ao Salix alba, na zona de fala ásturo-leonesa é paleru ou palera. Nas Astúrias palera dá nome também a outra árvore, ou arbusto das sebes, o Ligustrum vulgare, (mais alargadamente falado dele aqui).
Estes nomes derivados da raiz de pau, palu, são transparentes na função principal do uso do paleiro, servir para fazer paus, e poderiam ligar a pala, cova, com a pola/ponla, com a polis e com o palatio.

Seguindo a ideia anterior de cortex e corte, o salgueiro, salix, descodificaria-se como "da sala". Sendo pois, o salgueiro, árvore com nome também derivado da sua função de sebe limitadora, ou de uso para construção. Assim, se na Índia शाला (śālā) tem os três significados (árvore, estábulo e corte de governo) no occidente sala, Saa, e zao /salix também.

O vale do Xálima:
Xálima é das proparoxítonas de sufixo -ma, que descodificada desde o céltico (galês) indica lugar, estado ou ação; também desde o céltico tem sido percebido como superlativo; desde o grego -μᾰ é o resultado de uma ação.
O Monte Xálima ,em  espanhol Jálama, é de supor de raiz em *Salama, por inscrições latinas em aras ao Deo Salamati que apareceram na zona.
*Salama, /'sa.la.ma/ seria pois o "lugar da sala", a montanha da sala, a montanha do lugar governativo e pastoral.

Assim no hitita: salli É-ir dá nome a uma grande casa ou palácio, onde a partícula palavra É significa casa.
salli- é traduzido por grande ao ser confrontado com salli pēdan "trono".
Mas no hitita pedant (versus pēdan) é lugar; assim salli pēdan poderia ser "o lugar na sala do governante", o lugar onde está o trono.
Deste jeito salli É-ir seria "a casa da sala", a casa do pavilhão. Que na ideia neolítica dos pavilhões dos chefes, seria o lugar do banquete (religioso), a proto-igreja, ou a aireja, o lugar da assembleia.
Daí que no hitita sallie/a, sallanu, salie/a, sala signifique "união, fusão".

O romeno sălaș  "abrigo onde alguém está temporariamente alojado, cabana no campo, casa corte, estábulo, acocho, povoado cigano, assentamento humano, os próprios habitantes desse assentamento".
Ou no polaco szalas "cabana de madeira, choupana temporária feita de galhos de ramos."
Fazem-nos derivar do húngaro szállás "alojamento, abrigo, hospedagem".
Por exemplo:
No servo-croata sàlāš / са̀ла̄ш "rancho, herdade".
No checo salaš "cabana".
No russo шала́ш (šaláš) "cabana de madeira", mas já para esta palavra é dada uma etimologia turca na palavra sаlаš "loja simples, barraca de feira; com adjetivo: aquilo feito em madeira, improvisado, feio"
Na língua azeri  šаlаš "cabana, tenda".
No persa سرا • (sarâ) "lar, casa, caravançarai: grande prédio murado para pernoitarem as caravanas, paço".
A palavra hitita  E-halentio "palácio" poderia pertencer a esta série?


Outros paços ou palácios recintos pecuários:
No tocariano-B stānk* é palácio, aparentado com o antigo alto alemão stanga "estaca", atual inglês steng "estaca".
No tocariano também é observado que o pau, a paliçada, a estacada, dá lugar ao palácio ao stānk*.
Também ocorre o mesmo caso neste idioma, o tocariano-B, com a palavra kerccī "palácio" e o quercus de cercus.
No árabe اِسْتَنْقَعَ‎ (istanqaʿa) "ser estancado, estancar”, faz derivar a ideia de tanque nas línguas europeias tanque é empréstimo do português.
Talvez o primário tanque ou estanque e a ação de estancar o gando, já fosse feita no paleolítico-neolítico, e tanque / estanque apenas é um fóssil, que de ser a palavra árabe اِسْتَنْقَعَ‎ (istanqaʿa) uma forma própria desse idioma, ligaria as falas da Península (estanque, estanco, tanque, tanca, estanca tancar..., mesmo tranco ou tranca) com o nostrático paleolítico.


Estanque em Santaia de Abegondo fazendo parte do que seria um cousso de caça / captura, no seu oeste tem uma tapada que poderia ter servido para manter em catividade os animais que caíram na armada.



A linha etimológica mais divulgada de tanque não liga com estanque, e é pensada vir da Índia pelas navegações portuguesas, mas já no galego medieval estanco como reservatório de água existia.
(Mais do tanque e estanque aqui).

Esta linha mais divulgada da etimologia de tanque, reservatório de água, viria dos idiomas gujarati ટાંકી (tanka), “cisterna, reservatório de água”, do marathi टाकी (ṭākī) “cisterna”.

A palavra mais próxima no sânscrito:
टङ्क (ṭaṅka)
Com os significados de:
Um tipo de cinzel, um machado, uma enxada.
Abismo, fenda.
A árvore da espécie Limonia acidissima, o seu fruto, um licor preparado dela.
A perna humana; o tornozelo.
Aba de montanha.
टङ्क (ṭaṅka), Limonia acidissima.
Uma árvre de frutos muito azedos e medicinais, de madeira dura e resistente.

Como se move este conceito árvore *(s)tank de Leste a Oeste?
Sânscrito: टङ्क (ṭaṅka) “árvore da espécie Feronia elephantum".
Gujarati ટાંકી (tanka), “cisterna"
Marathi टाकी (ṭākī) “cisterna”
Punjabi ਤੰਗੀ (taṅgī) “pereira-brava”
Língua caxemira टंग् (ṭang) “pera”
Língua khovar ٹونگ‎ (ṭoṅg), “pera”
Pastó ټانگو‎ (ṭāngú), “pereira-brava”
Árabe اِسْتَنْقَعَ‎ (istanqaʿa) "ser estancado, estancar”
Siríaco clássico ܬܰܢ̈ܓܳܝܳܬܳܐ‎ f pl (tangāyāṯā) "abrunheiro-bravo ou cerejeira-de-santa-lúcia, artu cutiu em asturiano".
Arménio antigo տանձ (tanj) "pera".
Proto-germânico *stangō "pola, estaca"
Italiano: stanga "barra, ripa, sarrafo"
Catalão tanca "vedação, cerca".
Gaélico escocês stang /sdaŋg/ "estanque, represa; vala, fosso".

Saem pois arbustos espinhosos que servem para a vedação, para atrancar.
Que foi primeiro? o nome da planta, ou o nome da sebe?
No escrito Filseira os limites, observando a quantidade de vezes que isto se repete no indo-europeu, primária semelha a vedação.
Nas línguas indo-europeias o conceito cova, caverna, dá em nomes de valas, fossos, também paus ou elementos construtivos de uma cabana e em nomes de vegetação que serve de sebe.

Poderia ser pensado que o tranco, pau, tivo a ver com esta linha aqui exposta, onde *stang (estaca, esteio) seria anterior, e raiz mais completa que *tang?
Assim o verbo sânscrito टङ्क् (ṭaṅk) com os significados de "raspar, aranhar, furar; ligar, prender, atar; cobrir", também ajuda a perceber a génese do tocariano-B stānk* como palácio, e também a perceber mais redondamente o verbo galego pastoral tanguer, nada a ver com tocar um instrumento, tanguer o gando é reunir o gando, e a interjeição de ordem a cães pastores: tangue!
Esta palavra टङ्क (ṭaṅka) sânscrita  na ideia de "abismo, fenda", ajuda a entender a toponímia de Zanca e Chanca, lugares de águas paradas, mas também lugares limitantes com rego ou vale sem augas permanentes.
Mas também टङ्क (ṭaṅka) significa perna, daí zanco e zanca, não seria pois raro o paralelismo tão frequente de que as extremidades humanas e as ponlas e troncos das árvores compartilhassem a mesma palavra. Daí que ao estarmos no conceito tronco, poste, tranco, estaca, o nome dos socos como chancos, ou chancas poderia ser algo assim como "troncos", pois os primários chancos, seriam isso mesmo, troncos / trancos lavrados.

Desde o lakota: čhaŋku caminho, carreiro, via


O Estanque de São Tiago de Trás-Monte (Friol). Grande recinto pecuário.
O Estanque de Cambás (Aranga), com toponímia pecuária numa grande chousa.


O Estanco De Santa Maria de Presedo (Abegondo) apresenta-se como inicial e anterior no tempo ao Castro; sendo o Estanco a primária paliçada pastoril de uma grande chousa, delimitada por caminho perimetral.
Podem ser observados aqui os topónimos pecuários da Lama, Brandiám, o Barral (de barreira), o Redondo, que costuma ser um recinto pecuário de forma redonda no bico ou no couce das grandes chousas ou curros afunilados, que pode levar o nome de Cubela e similares.
Samede, que dá nome ao que está ao pé do Estanco, poderia ser derivado de São Mamede. São Mamede é um santo avegoso da lactância infantil, ou dos nenos que tenhem problemas com o leite ou o amamentamento.

Nesta outra imagem outro Samede, em São Julião de Vigo (Paderne), onde no lugar de Samede, na Ermida, há uma capelinha do São Mamede:

A grande chousa de Samede com a distribuição  toponímica frequente a ela associada, o bico de entrada/saída polo leste como a Portela, com o Curro, e como foi apresentado arriba, a ambos os lados dele dous recintos significativos, um deles a Torre podendo fazer referência a uma fortaleza, castro, ou lugar nobiliário e o outro Samede a um primário local pastoral religioso, onde está a Ermida a São Mamede. A chousa do lado oeste está menos definida e pudo ter alguma transformação já na altura neolítica, sendo acurtada.
É de salientar a "oposição" entre os dous lugares de poder, neste caso a Ermida (Samede) e a Torre, e como entre estes dous lugares há um caminho tronçando a chousa.
Este caminho, neste caso e outros, é duplo deixando no meio um espaço a jeito de cortinha, por vezes com o nome de souto, verdadeiro "salto" entre as duas chousas.
No caso da estrutura de Compostela, este caminho duplo interno pode ser observado entre a Rua da Conga e a rua de Gelmirez, com uma estrutura típica de cortinha (20-15m x 150-200m):




Análise da situação geográfica de toponimos Samil:

Samil de Santo Estevo do Campo (Arçua) dando entrada ao Castro da Roda.
Como no escrito sobre vispo foi indicado: a entrada / saída de um castro é através de um lugar também circular, que na continuidade pode ser uma igreja, na ideia de que o assentamento primário é um aro pastoral neolítico que no devir do Bronze e Ferro derivou noutro lugar para a "elite", a briga ou castro.

Samil de Arca (o Pino) também como passo da briga.

Samil de Santa Maria de Oim (Rois), também sendo porta do castro.

Samil de Santo Estevo de Vila Mor (Toques), na mesma situação que os anteriores.
Samil de Santa Maria do Castro (Begonte), a mesma situação que os anteriores.
Samil de São Paio de Návia (Vigo), a norte do Castro do Outeiro.


Saamil de Santa Maria de Carvalhido (Vilalva). Onde Saamil seria Sala-mil.
(A etimologia germanófila e mais divulgada destes topónimos associa-os com um possuidor de nome Salamirus, ainda que Salamirus poderia ser o governante, o chefe do Salamil, ou mesmo sendo posteriormente nome próprio, ter sido nome para descrever um determinado tipo de rei-pastor).
Depois de vistos os anteriores Samil, neste caso de Carvalhido, a briga, aparentemente ausente, daque Samil seria a porta, poderia ser a Moa, pola configuração de caminho perimetral e croa.

Salamir de Samartín de Lluiña (Cuideiro). Pode ser observado o curro afunilado com o bico para sul, e do outro lado com o nome de Bravón um lugar suspeitosamente circular.

Topónimos Saa, Sa:

Sas de Velouçás (Paderne) na porta do Castro do Convento.
Sas de São Pedro de Junqueira (Trives),(Sao três Sas, Sas de Junqueira, Sas darriba e Sas dabaixo) com a configuração de dupla chousa, arriba explicada, com um local religioso, Sas de Junqueira (junco ou junção) onde está a igreja, no outro lado, já da freguesia de Bárrio, o Paço de Freiria.
São Tiago de Saa (Doção / Doçom)



Saa de Santa Maria de Lavrada (Guitiriz), na porta, boca de uma estrutura em forma de cousso. E toponímia frequente nesta estrutura.
Relevante é a Coussa Aira, com o nome de Trás-as-Chantas a sul, fazendo referência supostamente às chantas, antas, e por vezes santas, pedras chantadas que fecham o lugar de maior desgaste da estrutura de caça.
No beco norte: Cortinha Casa, assim chamada no cadastro, talvez Cortinha da Casa, onde casa apresenta a ambivalência de casa, caça, capsa. Os Poços, como poços de captura do cousso, e o Topetão, como tope final.
Neste caso, Saa de Lavrada apresenta já não uma estrutura de origem pastoral ou pecuária, mas de caça do paleolítico final ou na continuidade, já no neolítico inicial, como local onde acurralar o rebanho semi-domesticado, ou ter uns animais selvagens em captividade:
Esta interpretação micro-toponímica, relacional com a estrutura micro-topográfica, dá uma coerência à esculca etimológica e à interpretação das funcionalidades que os microtopónimos descrevem:
Assim Azivral no lado norte pode ficar apenas como fitotopónimo, mas também como lugar que xebra, que separa, como foi descrito em "às voltas com o Zevreiro" e na congruência de que muitos dos nomes de árvores e arbustos têm na sua raiz a ideia de separação (Filseira, os limites).
Também Porta Carga ou Coitio fam todo o seu sentido nomeando partes da estrutura do cousso.



Sa de São Pedro Fiz de Baltar (a Pastoriça)









O caso de Sas , para a administração Zas, capital de concelho do mesmo nome e freguesia de Santo André de Sas, entidade que é porta do Pico do Castro, como outras aqui apresentadas.
Deste Sas conserva-se a toponímia antiga como Saz.


 

Salzeda ao pé da "Roda", castro. Salzeda na "crica" do castro e na porta de entrada saída a ele.
(Freguesia de São Vreixo de Ferreiros, no Pino)



Ao meu ver, está-se a repetir um esquema já exposto no começo deste escrito, uma estrutura pecuária neolítica complexa que se repete por todo o território e que ajuda perceber com foi o pastoralismo inicial de animais ainda bravos.

A suspeita que os topónimos Xalhas, poidam ter relação com sala, saa, sa. conservando a noção indo-europeia de cova, rego, vala, valado, vedação, vedação vegetal, assentamento humano, arbusto, árvore:


Xalhas de São Sebastião de Serramo (Vimianço).
Uma grande chousa, de norte a sul com topónimos pecuários evidentes:
Arjomil: "mil da ponta", "ponta do mil", "mil defendido com arjões", sendo arjo partícula de arjão "estaca de empar, archão, lança".
Hortás, e Horta Polônia: PI *ghortos "vedação". Polônia poderia ter a ver com pola, ponla.
Agra do Muro: faz referência a um muro, valado, que envolveria perimetralmente a grande chousa.
Devesinha: tem a ver com divisa, dividida, a divisão do terreno.Estivadinha: é pensado frequentemente que tem a ver com o sistema de estivadas, de queima e roça do terreno, mas neste caso poderia caber a possibilidade de ter a ver com estiva "sebe de arbustos, valo de terrões" (mais alargadamente explicado aqui neste enlaço).
Salgueiros como árvores vedatórias.

Casas Novas é fiel ao dito noutros escritos, são assentamentos toponímicos que cortam a chousa neolítica com um caminho.

Xesteira: polo comum é associado com gesteira, lugar de gestas, mas pecuariamente são sesteiras, lugar onde o gado sesteia, parente de Sisto / Xisto.

Xalhas seria pois Salas (como variação?, ou talvez como original da posterior Sala / Sa?).

Passadoiro do Erval: caminho que corta transversalmente a grande chousa.

Castanhal: Com frequência o lexema castr- de castro modifica-se a cast- de castanheira (vide em Arqueotoponimia: Castiñeira y Aurela). Pois na contorna de castros evidentes ou castros desaparecidos os seus muros caraterísticos, é excessivamente frequente o topónimo castanh- / castinh-. Assim, neste caso, Castanhal seria um hipotético Castranhal, ou Castralhal (confronte-se com castralhão) sediada a razão disto no seguinte topónimo:

Pedregás, o lugar das pedras, que polo comum faz referência a antigas brigas de onde foi tirada a pedra, apontado isto também polo irregular relevo que tem a zona, na que se intui um possível castro.


Assim Xalhas, está na beira de um rego, roborando a hipótese do professor Moralejo, de ser hidrónimo, mas no fundo do hidrónimo estaria o conceito de vala, de rego, sulco (com auga ou sem ela). Xalhas estaria fazendo a função de Sala, sa, "corte governativa" de um castro, como foi sinalado anteriormente, e como sala, sa "corte pecuária" e conservaria se calhar a primitiva origem de toda a família como valeta, rego.


Xalha(s) abre uma possibilidade etimológica mais acaída a galha "rama" do que o latim galleus "bugalho", se partimos da hipótese indo-europeia de similitude entre vala, valado e estaca (valouco), três cousas diferentes mas que costumam levar o mesmo nome ou o mesmo lexema raiz.
Assim:
Salhar: sachar, introduzir em salhadura.
E salhadura: abertura, greta numa madeira, com os sinónimos: galha e gancha. Também salhadura é uma galhadura, forcadura, Y.
Aqui estaria o latim sarrio "cavar com enxada", o espanhol sajar "sarjar".

Rio Salas ou Sales, um rio que corre desde a Serra do Larouco até Lóvios, desaugando no Lima.
Aqui convém falar dos topónimos ocitanos Sala e franceses Salle. Topónimos abundantíssimos nessas terras.










Os topónimos la Salle dizem estar associados com torres feudais medievais.
Mas semelham estar na mesma génese que os topónimos Sa, Sala. Como exemplo:

La Salle em Oulches (região Centre-Val de Loire). Esta la Salle está num curro afunilado simples, de base larga que teria sido uma ampliação de um cousso de caça, cruzeta norte, neste caso enconstado contra uma pequena altura. Os topónimos que a acompanham aqui, les Bourdons, "as bengalas, os bastões", podendo ter a ver com borda e estacas.
Les Loges podem ser percebidas desde o francês como "as cabanas" e desde o galego como as cortes, de feito, no mapa são duas chousinhas.
Quanto a la Bezarde, grafada também como la Besarde, ou la Brarde, não tenho hipótese, poderia ter a ver com "matar, morrer" com bezerro, com vessura....
Assim teríamos umas cortes pecuárias ou governativas de um lado Les Loges e do outro lado uma fortaleza, La Salle, segundo as interpretações polas quais muitos topónimos de la Salle fazem refetência a torres. Como toponimicamente no caso da Galiza, algumas torres estão associadas com os sistemas de chousas e fai-se evidente que foram evoluções de um assentamento neolítico prévio, um lugar dom boa visibilidade desde onde vigiar o rebanho.
Isto leva ao pensamento de que a génese dos curros foi idéntica para esta parte da Europa no neolítico inicial, assim como a sua evolução no Bronze e Ferro.


 Tor-Sala / Tour Salle dita "D'Asquet", em Lo Hrèisho / Fréchou (Nova Aquitânia)

Então voltando atrás: Xalha(s), salhadura, galhadura, e galha, levam a calha / calhe, que também é um sulco.
Calha põe-se em relação direta com cala (pala da troita em Asturiano).
Aqui estaria a raiz do inglês hall, proto-germânico *hallō.


Assim no proto-indo-europeu poderia ter havido kala, pala, vala, sala?





















No galês, adlam também dá nome ao paço e ao celeiro.






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