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O cervo e o veado na toponímia

 

Gravura rupestre no Nabal de Marinho em Santa Maria de Tourão (-om) (na Ponte Caldelas).

O veado é um nome para as cérvidas.
O latim venatus é particípio do verbo venor "caçar, perseguir a caça".
Palavras aparentemente próximas a venatus, veado:
Sânscrito: व्यध् (viadh) "caçar, perfurar, ferir, esfaquear, matar, atinar".
Gaélico antigo fiad  /fʲiːa̯ð/ "veado, em geral animal selvagem, caça; terreno inculto; terra território"
Saami de Lule ou lapão luliano: viejddit "caçar".
Lituano: vajóti "guiar, caçar, perseguir".
Com uma etimologia que vai ao protoindo-europeu *wei(h) "separar, dividir".
Assim a raiz etimológica estaria a explicar o jeito de caça na que se persegue a manada, guia-se, divide-se, fere-se, mata-se".
Veado seria uma palavra que supriria uma outra tabuada, como em tantos casos do indo-europeu o animal tem un nome tabuado oculto e um outro nome de uso que é epíteto.
Neste caso *wei(h)- + *(Ø)-nós, um adjetivo criado sobre o verbo da caça *weinos "caçadeiro",  duplamente derivado com particípio *wei(h)-n(ós)-eh₂tos. *weinehtos "*caçadeirado".
Nesta linha estaria o galês gwynaf:gwyno, verbo que significa "pilhar, saquear, roubar", com hipótetica raiz comum com o gaélico fian e com o latim venari. Assim gwiblu "banda de vagabundos"; gwylliad /gwilliad "bandido, pirata, ladrão, vagabundo". (Confronte-se com Guiliade de Betanços).



Veado aparentemente sofreu um deslocamento desde ser um nome para a caça, o animal caçável ou caçado, a dar nome a cervos, corços e semelhantes.
Confronte-se com a proximidade entre gamo e o inglês e línguas germânicas to game (mais desenvolto no escrito "Pastoralismo inicial?").

A continuação vão ir sendo apresentadas estruturas em forma de cousso de caça com toponímia baseada nos cervos.
Dá para pensar que estas vedações de caça, começando por ser coussos abertos, pudérom ter acabado como vedações herméticas onde um grupo de animais era criado.
Estas vedações além de uros, cavalos, zebros, servírom para caçar cervos.

A palavra do gaélico escocês fiadh significa lugar selvagem, bravura, cervo, carne, viandas e senhor. Derivada do proto-céltico: *wēdus.
*wedus com a ideia de selvagem, separado.
Esta palavra *wedus  poderia estar na base de feudo, ainda que é pensado que feudo derivaria de uma palavra frâncica *fehu com o significado de "fazenda, grupo de animais propriedade de uma pessoa".
*wei(h)-eh₂tos. *weiehtos "caçado".
Fiach no gaélico atual é "perseguição, o ato de caçar"  (fiach / fitheach significa também corvo para o que é dada outra etimologia, mas poderia ser a mesma) no gaélico antigo foi fíadach, onde poderiam ser achadas as raízes protoindo-europeias anteriormente analisadas.

Exemplos de locais na Irlanda com toponímia Fiach e similares:


Fiach da paróquia civil de Dún Doighre do condado de Gaillimh/​Galway
Fiach como foi indicado seria o local da caça com forma semelhante a outros lugares de estrutura de cousso já mostrados neste blogue.
Baile Dhonncha / onde baile é aldeia, vila de Donagh, um posuidor, da família Donagh. Mas tambéḿ o apelido é Donnchadh.
Páirc na bhFia "parque, campo do cervo" a leste de Fiach.
An Seanbhaile Ard "a Vila Velha alta/eminente/nobre/grande"
An Phailísa "a Paliçada" no mesmo local que habitualmente na Galiza aparece o nome de Paço.
Réachán antigamente também escrito Réidheachán: Réidh- "chaira" -achán pode ser diminutivo: "chairinha". Ou também  Réidh-eacha-án, "chaira dos cavalinhos".
Tíne poderia estar a receber o nome do metal zinco, a norte da aldeia está a mina chamada em inglês Tynagh mine que produz tal metal.
Dún Doighre "castro *queimado(?)"
An Leaca Bhán "o outeiro bán: branco / ermo / defendido".
An Pháirc Dhearg "o campo vermelho / o campo roçado".




Cnoc an Fhia, "Outeiro do Cervo" na freguesia de  Cathair Chinn Lis ​Caherconlish   no condado de Luimneach Limerick.
An Ghráinseach Thiar "A granja do oeste"
An Ghráinseach Thoir "A granja do leste".
Cnoc Fhinn "Outeiro branco / abençoado"
Goirtín na Sceach "pequeno terreno / hotins do espinho". Neste caso é muito coincidente porque nas tantas estruturas de cousso neste blogue analisadas, o beco costuma levar o nome de espinho e derivados, assim como o de horto, goirtín é plural de gortín, diminutivo de gort, proto-céltico *gortos na mesma raiz que hortus latino.
Quanto a sceach "espinho" vem do gaélico antigo scé. De um proto-céltico *skweit:
Celta-p: Córnico medieval spethas "silveira"; bretão medieval spezat / spizat "tojo"; galês sbaddad "arbusto espinhoso, estripo".
Celta-q: gaélico sceach, literalmente "da espinha".
Nesta mesma linha do celta-p / celta-q: confronte-se espinha com esquina, francês antigo eschine "espinha".
Cill an Iúir "Igreja do Teixo".
An Briotáis "A Paliçada", no local que seria um beco de caça, como em outros casos já observados neste blogue acabando num rio, ou lugar pantanoso, que facilitaria a captura do animal. Briotás ou briotáis aparentada com o francês antigo bretesche "posto de vigilância".
An Bóthar . "o caminho, a estrada, a senda das vacas". Já neste blogue foram analisados nome galegos tipo Bosende e Gosende como associados a coussos, na ideia de sendas, vias, caminhos de bovídeos. Bóthar no gaélico atual é nome para estrada, mas vem do gaélico antigo bóthar, do proto-céltico *bow-itros "senda das vacas".
An Bóthar Gearr "o pequeno caminho do boi".
Bóthar Sceiche Gainimh "caminho areoso do espinho / caminho do espinho de areia". Podemos observar como o Goirtín na Sceach é simétrico ao Bóthar Sceiche Gainimh, Onde outra vez o topónimo espinho sceach está na mesma localização do cousso que na Galiza.
(mais sobre os topónimo espinho e os coussos de caça em territórios célticos aqui).

Lugares de toponímia em base a cervo na Galiza:
Cerveira de São Martinho de Pinheiro (Germade).
Neste hipotético cousso a destacar desde o beco norte:
Cubilote ou Cuvilote, com ideia de covil e de cubo, como foxo de caça.
Leirão da Casa de Baixo e Fraga da Casa de Baixo, no que casa poderia estar na sua triplicidade, tão frequente nos coussos, como capsa, caça e casa.
O Cal, um caminho profundo que pudo ter sido o foxo delimitador do cousso
A Chousa da Besta, onde besta pode ser o equídeo mas qualquer outro animal de caça como é explicado no escrito d' a Ulfe.
Concharelo: foi tratado este tipo de toponínimia no escrito "Goiriz. E algo das Costas".
Toutelo: do proto-céltico *toutā "tribo, povo", do protoindo-europeu *tewtéh₂ "montão, empilhamento; gente tribo".
Toutelo(1 explicado no final do escrito este) entre outros significados é montículo a jeito de mámoa.
Então esta localização do Toutelo no beco do cousso de caça ajuda a percebermos o já apontado noutras esculcas, a ponta do beco, o local do foxo, reúne os significados primários de tout- "montículo (tumba), reunião de gentes da tribo, cabeça",  território da comunidade; a topografia-toponímia do beco do cousso com nome de Toutelo é congruente, condizente com a etimologia mais antiga da raiz. Percebendo que as toutas posteriores da Idade do Ferro (Crougin Toudadigo /túath), e talvez já no Bronze, teriam sido o desenvolvimento no tempo das primeiras propriedades privativas do terreno, dos coussos de caça.



Santalha de Cervo (Cedeira) com o beco norte levando o nome de Cervetelo.





São Pedro de Cervás (Ares) com a forma de cousso típica, também frequente o seu envolver de um nascimento de um ribeiro, a igreja situada em um dos seus becos com é habitual, e toponímia condizente, congruente.
A destacar o nome do regueiro Guilhe, com terrenos que mostram variação sobre a mesma raiz Grilhe e Güilhe, mais alargadamente analisado no escrito "Guilheto".



Cervela (São Miguel) com a forma típica de cousso, e toponímia condizente, observe-se Barreiras.
Paço no lugar que costuma estar, no beco de caça, de um primário *palatio na duplicidade ou raiz etimológica de pala e paliçada, antes da sua divergência.
Observe-se o topónimo Tojal como limitante. (Vilatuje).

Bertosende: Vedação do caminho (?), caminho do vedado.
A posição, no caminho de entrada ao recinto de caça, de Bertosende, ajudaria a decodificar o seu nome como *kwert- talvez *ɸert / *wertus?  com relação com hortus *ǵʰortós?
(Já -sende, *sendi "do caminho")
Bertosende: Vedação do caminho (?), caminho do vedado.
No tocariano B wertsiya "assembleia, conselho, encontro, comitiva, companhia" e kerccī "palácio"
Confronte-se com perth, galês, "sebe" / cert, gaélico, "maceira-brava".
Atenda-se ao cornualhês  ker-/ kar- em toponímia "valado, fortaleça".



Dous Cerveiros juntos, Cerveiro de Baixo e Cerveiro de Arriba:

Vai primeiro o Cerveiro de Abaixo com as suas modificações e com a toponímia identificativa nas freguesias de São Jurjo de Goá e São Jião de Santa Cristina (Cospeito):












Neste caso de Cerveiro de abaixo, as quatro imagens anteriores mostram as hipotéticas distintas evoluções, modificações do cousso.




Este é o pormenor da estrutura interior de cousso com a sua toponímia, onde destaca Touredo: como local do touro (ou com ideia de dureza). Cousso de Arriba, grafado no cadastro como Couzo, aqui para marcar o zetacismo Couço, na duplicidade toponímica com Curro, mas também couço como extremo.


Uma das estruturas de cousso das diferentes que hipoteticamente tivo Cerveira de Abaixo. 
Com toponímia relevante já analisada neste blogue:
Curro das Ameijas, onde ameija poderia ter a ver com ameijoar.
Casa Velha, tão frequente nos coussos, na triplicidade capsa, casa, e caça.
Cantão como antigo canto ou esquina.
Adialha (erradamente escrita como Adailha) como parte engadida acrescentada.
Furada Cavada; como local de foxos
A Costa no beco oeste, já analisada no escrito "Goiriz. E algo das Costas".
Ponte do Gil, onde gil já foi analisado no escrito "Sil, Gil ou Xil".

A estrutura de cousso com maior tamanho, permitiria inferir que a parte norte foi primária "Casa Velha" e a parte sul, foi a máxima extensão "Casas Novas".
Para reparar no lado sul-oeste: Carvoiero ao lado de Corvo, também Olho de Corvo que estão num cerco final de captura:
Podria ser intuído que Corvo ou Olho do Corvo, teriam a ver com curvo, com o chousso circular de caça sem morte, que aparece na evolução do cousso de caça, e o topónimo Carvoeiro uma transformação de talvez um inicial corvoeiro / corveiro.

Este anterior foi o Cerveiro de Abaixo, agora será apresentado o Cerveiro de Arriba:








Cerveiro de Arriba, a destacar como Casa Velha como no Cerveiro de Abaixo, ou Golpilheira, já analisado no escrito "a Ulfe".
Os já habituais derivados de casa: Casinhas e Casa Velha.


Cerval de São Pedro de Begonte







Cervo de São Boulo (Sambolho) São João da Vila Nova (Minho).




Fonte dos Cervos em São Jurjo de Augas Santas (Palas de Rei).






Villar de Ciervos (Zamora).



Villar de Ciervo (Salamanca), no seu leste Humilladero com ermida, no seu beco oeste Convento.






Estas estruturas de caça, coussos aparecem em petróglifos da Escandinâvia:

Petróglifo em Kåfjord (Noruega) representando um corral para caça de renas, mas também ursos.
Tirado de:
Reindeer corrals 4700–4200 BC: Myth or reality
Knut Helskog
The University of Tromso, Tromso University Museum, Lars Thoringsvei 10, 9037 Tromso, Norway


Deixando arriba os topónimos com base em cervo, agora serão apresentados os de base em veado:


Viadoiro na boca de entrada de uma estrutura em cousso na freguesia de São João do Campo (Lugo).


Viador em São Mamede dos Anjos, antigamente São Mamede de Cucos (Lugo).




Cas Viasco em São Miguel de Pedra Fita (no Corgo) dando nome a uma parte de uma estrutura em forma de cousso. O topónimo Cas, normalmente vezes associado com cans/ cães, aparece em coussos de caça, também por apócope de casa, onde casa como em outros escritos é possível observar a relação capsa, caça, casa e coussa.
Topónimos de base lagar- aparecem associados ao cousso, por vezes poderia ser pensado que deformados sob lagart-, aqui Lagarteira.


Freguesia de Beade (Vigo) talvez Veade, em época medieval Benade.






Beade , talvez Veade, em Santaia de Abegondo.



Chousa Veade na freguesia de Sarandões (-ons) (Abegondo), coa estrutura de granja neolítica, com os becos, bicos, partes pares apontadas e cegas a sul, para captura dos animais semi-domesticados. 
Com toponímia chamativa como são Bordel e Bordelhe, explicados no escrito Rata. Souto Aire, também explicado no referenciado Rata, Covelas como foxo de caça, na ideia de que a granja neolítica teria sido anteriormente cousso de caça paleolítico-neolítico, e na continuidade chegou a ser território íntimo de uma briga.
Relevantes os topónimos nos becos de de Palai com base em palatium , paliçada, e Covelo, como cova, foxo de captura.
Palai de Doronha (Vilar Maior)







Coto Veado em São Fins de Brião (-om) no beco de um grande cousso evolucionado



Cas Veado, grafado como Casbeado, na freguesia de São Pedro de Alais (Castro Caldelas).
Neste caso  cas como apócope de casa nessa triplicidade casa, caça, capsa.
Dá para pôr a atenção sobre os nomes de Tapada Nova e Lameiro Novo, podendo indicar que o cousso maior foi o mais antigo e que com a domesticação no seu interior foi feita uma tapada nova (neolítica).












Veade de São Vicente de Augas Santas (Rois), com toponímia já neste blogue analisada e frequente nas estruturas de cousso.


Veade / Beade de São João de Calo (Teu), e toponímia comum e identificativa das estruturas de caça.
Chamativo é que em ambos os becos haja o nome de estiva, Estivada no norte e Estivadinha no sul.
Há que lembrar que estiva além de ser o terreo de cultivo do pão por sistema de roça no monte é uma sebe de arbustos, um valo de terrões.


Viadeiro em São Salvador de Leiro (Minho)



O Venadal em Santa Maria do Alto-Gestoso (Monfero).






Estruturas em forma de cousso de caça na Cornualha com topónimia com base em karow "cervo"


Pennakarow em Sen Adhwynn (Advent) na Cornualha.
Pennkarow "extremo, cabeça, esquina do veado".

Nanskarow: vale do cervo
Kellivos: Kelli fos, "arvoredo-valado".
Chinowydh: Chi nowydh, "casa nova".
Pennardh: Penn ardh, "ponta, estremo, cabo alto, elevado"
Tretheyrres: tre teyr res "aldeia três cruzamentos"
Eglosalan: eglos Alan "Igreja de Alan"














































(1) Toutelo
Touta no gaulês significa "as gentes, o povo de um determinado lugar, a terra de uma tribo".
No galego toutelo é um dos múltiplos nomes da mámoa, além de um montículo ou um toutiço de vegetação que sobressai, toutelo e touta também é a cabeça.
A palavra touta / toutelo é muito antiga, tivo muitas e diversas variações desde um primeiro nome talvez como mámoa:
No persa توده‎ (tōda) com os significados de “gentes; multidão, montão; pilha, colina, meda, túmulo”; neste idioma é possível ver a sua diversificação em significados desde um primário.
No hitita 𒌅𒍖𒍣𒅖 (tuzziš), “exército; acampamento”.
No albanês tëtanë "todos, toda a gente".
Na língua letã tauta "grupo de pessoas de uma nação, nação..."
No proto-germânico *þeudō "tribo, grupo de gentes", com o desenvolvimento da palavra feudo
No latim é pensado que poderia estar sob a palavra totus "todos".
Já no céltico, como foi acima comentado: no gaulês touta teuta,  no grupo britônico, no bretão e galês tud com o significado de "clã, parentes, grupo de gentes, região, país". No gaélico antigo túath "tribo, gentes, território tribal, o grupo leigo do povo".


Outro exemplo de Toutelo:

Toutelo no beco de uma grande estrutura de cousso na freguesia de Santa Maria madalena de Paradinha (Sarreãos / Sarreaus).

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