O caso dos Carvoeiros e outros

 Neste blogue já saírom topónimos do grupo Corveira, Corvoeira, Curveira, Curvoeira ou Carvoeira e similares, associados a estruturas de caça, ou já na sua evolução a supostas grandes tapadas neolíticas.
O mais evidente e divulgado é relacionarem estes lugares com corvos, com curvas ou com carvão.
Mas foi lançada a hipótese de talvez alguns terem a ver com o céltico *karwos "cervo", em gaulês: caruu, carvos, no galês carws (com plural ceirw) em córnico karown (plural kerwys).
É para destacar o plural com vogal temática em -e-, ceirw e kerwys, o que ligaria diretamente o céltico *karwos com o proto-itálico *kerwos.

Corveiro:
A palavra corveiro, falada no Alentejo e Algarve, serve para dar nome ao curral onde ficam os cabritos, enquanto as mães cabras vão ao monte, um chiviteiro, um redil, este corveiro poderia estar sediado nesta etimologia *karvos.
Para este corveiro, chiviteiro, é lançada a hipótese de derivar do fenício kr, "cordeiro".
Ora, a partícula -v- de kr-v-eiro, é mais facilmente explicável desde o proto-céltico *karw(os)-eiro ou já desde o protoindo-europeu *ḱr̥h₂w(ós)-eiro.
Outra hipótese seria que corveiro (ô) derivasse de coveiro (ò), mas a variação do o, fechado ou aberto, não ajuda.
Para a etimologia latinista os topónimos de base corb-/ corv- derivariam da palavra corbis "cesta", com palavras como corbe "antiga medida por cestos", corbeiro "cesteiro", corbelha "espécie de cesto", corbelhão "cesta".
Já o qualificativo de corvês para o bezerro de quadril estreito, leva mais a pensar em *karw(os) +-ês / *ḱr̥h₂w(ós) + -ês,  "cervês, ao modo do cervo", do que em outra base etimológica.

Outras palavras que dizem do cervo:

Corvães / corváns (Mentha cervina).
De corv(o) + -ão? Ou de *karw(o) / *ḱr̥h₂w(ós) + ão?
Entenda-se que é a menta do cervo.

Datura stramonium, dos muitos nomes que a planta tem, estão o de corno-de-cervo, erva-do-corno, e o de erva-do-corvo.
Será esta uma erva do corvo, da ave, ou será a erva do *karwo / *ḱr̥h₂wós "do cervo"?

Rumex acetosella, carbei.
As Rumex spp. são plantas pouco palatáveis para a maioria de herbívoros, não assim para os cervos (Cavers & Harper, 1965) com suspeitas que o seu consumo seja em parte devido a auto-medicação, para desparasitação, polos taninos.
As plantas de este gênero Rumex levam nomes com base carv-: carvenha, carvei, carveia, carvês, carvesa, também em asturiano carbeza, ou em castelhano carbaza.
A etimologia mais divulgada relaciona os nomes das labaças de base carv- com a alcaraveia, do grego clássico καρώ (karṓ), κάρον (káron); por sua vez derivado de κάρη (kárē), "cabeça". A alcaraveia é uma umbelífera, pouco ou nada similar às labaças, aos carvens.
O que aqui se propõe é que talvez provenham de um étimo *karwo, pondo-as em relacionamento como próprias do cervo.


Vão ser apresentados lugares toponímicos que poderiam ter a raiz protoindo-europeia *ḱr̥h₂wós ou céltica *karwo, noutro escrito já foram apresentadas estas tapadas sediadas no nome de cervo e veado, neste caso Cerveiro e Carvoeiro:
Este é o caso da estrutura de Cerveiro de Abaixo, nas freguesias de São Jurjo de Goá e São Jião de Santa Cristina (Cospeito) com forma de cousso ou granja neolítica.
No seu beco leste há uma forma circular em curral que leva o nome de Carvoeiro que poderia ser o ancestral *karw(os)-eiro / *karwon-eiro, latinizado como cerveiro. Com também o microtopónimo corvo, que dados os outros topónimos poderia ser *karwo / *ḱr̥h₂wós.
Que leva isto a pensar? Arqueologicamente tem aparecido explorações pecuárias de cervos, teria havido granjas neolíticas com esta espécie, que seriam grandes tapadas onde os cervos estariam em semi-liberdade, acurrados para o seu maneio ou cuidado nas noites, nos becos, com mangas e currais. A posterior chegada da cabra e da ovelha, teria parado a domesticação do cervo, e os seus espaços teriam sido utilizados para estas "novas" espécies em domesticação, ou mesmo para o auroque, uro, e posterior vaca.

A Corva (ô) em Santo Estevo do Vicedo, se for corvídea seria com o aberto. É um lugar em curva ou tem a ver com o *karwos / *kerwos?
A destacar no beco sul a Casa Nova, que indicaria uma reforma do cousso de caça a cousso de captura, casa na triplicidade de casa, caça e capsa.
Pomarinho que já foi explicado neste blogue como da família de pomoerium:
Pomerium / pomoerium  (*pómbʰos) o que o ligaria com o muro galaico atual, o cômaro, cômbaro, cômoro (*kómbʰos), na variação celta-p / celta-q: confronte-se no asturiano pumariega / cumariega "lombo do telhado".
Assim no grego antigo ποιμήν (poimḗn) "pastor de ovelhas, pastor em geral, gadeiro; chefe local", e também com a sua raiz no grego micênico  𐀡𐀕 (po-me) "pastor", estariam apoiando esta hipótese.
Hipótese na que o pomoerium / pomerium latino, e os pomarinhos galaicos nada teriam a ver com post-murium, mas sim com o 𐀡𐀕 (po-me) "pastor" micénico, de um hipotético proto-latino *pome-arium "pastoreiro", nome dado ao grande cômaro e foxo circundante da chousa pecuária e dentro do qual estariam os animais guardados e as iniciais cabanas pastorais, que no devir, do Neolítico ao Bronze e Ferro, acabaram gerando a elite diferenciada na pólis ou castro, desligadas do gando (daí que na Roma fosse inferiorizado o povo germano por não ter feito esta modificação "urbana" de separar um local habitacional da elite, já não gadeira,  do povoado gadeiro inicial neolítico.
Daí que os topónimos da família pombal que aparecem nestas estruturas de cômoros, taludes, além de poder estar a fazer referência a um pombal que ali está ou estivo, poderiam estar a dar ideia de cômaro, talude.
Rua do Pombal (Santiago de Compostela)









Neste caso o Carvoeiro de São Tiago da Capela (concelho do mesmo nome), também fazendo uma estrutura de granja neolítica, talvez sobre um cousso prévio; com toponímia condizente, como é Barbeitos (barbeito tem o significado de valo, além do de pousio) fechando a boca de entrada, ou Bilhão, numa multiplicidade de significados entre bilhão e bulhão, lugar da bulha ou bulheiro de lama e bilhão por ser do céltico bilia, uma paliçada. Também Campo da Trulha como lugar de armazém ou trulho "prisão", ou na mesma ideia que bulheiro, trulheiro "lugar lamacento" por ser lugar onde se junta a manada em semidomesticação a capturar. O nome leste da Chiva é significativo ao ser parelho ao oeste Carvoeiro.

Carvoeiro, com o nome de Chouso da Curveira, *karw(os)-eiro "Carvoeiro" e *karv(os)-eira "Curveira"?
Em Santa Baia de Aguada (Carvalhedo)

Carvoeiro em Santo Estevo de Vila Mor (Toques).


Carvoeiros em São Tiago de São Caetano ( Santiago de Compostela)
A destacar a toponímia limitante no seu lado oeste: Linharinhos, Cavada, Regueira, Telheiro. Sobre Telheiro já se tem tratado neste blogue, havendo a possibilidade de ser um lugar onde se fabrica ou fabricou telha, mas também da raiz tilha, a árvore limitante.



O Carvoeiro na freguesia de Santa Maria de Mántaras (Irijoa), Pode ser observada a mesma estrutura e como em alguma altura teria sido agrandada:






As Carvoeiras, Monte das Carvoeiras, na freguesia de Santa Maria de Fonte Coberta (Palas de Rei), uma grande tapada com o frequente lugar religioso num dos seus ângulos ou becos.
A estrutura com a proeminência frequente no que ancestralmente teria sido a sua boca:
Pode ser intuída uma forma de uma grande tapada que pudo ter sido ampliada de outra menor (ponteada).
Com toponímia já analisada como Ermida (*h₂er- + *-mn̥  + -*-ih₁ + *-to/-ta "que serve para lugar da reunião, *reunideiro"). Ou Tiúlfe do grupos -ulfe que estariam sediados num estrado anterior ao suevo como foi mostrado em "A Ulfe".


As Carvoeiras de São Tiago do Freixo (Sarreãos). Para destacar que os becos levam o  nome de Salgueiró a oeste e Salgueirão (-om) ao leste, talvez a mesma palavra recolhida no cadastro de dous modos? Ou Salgueiró ser uma evolução de Salgueiroa, havendo um par inicial feminino , masculino? Também para reparar na Ranhada, explicada no escrito dos Coussos e identificativa destes lugares.



Carvueira na freguesia de Santa Maria de Conforto (na Ponte Nova).
A destacar o nome dos Vedrinhos, Vedranhas e Vedranhão (-om), todos eles da raiz vedro "valo de terra".


Carvueiro, Carvoeiro, em Santa Maria de Reascos (no Pâramo), tembém numa estrutura de caça, cousso, evolucionada a granja neolítica. A salientar o nome de Costa de Ardiz


Carvoeiro de Santa Marinha de Moimenta (Cospeito), para reparar na duplicidade de Curro a sul e Currela a norte em ambos os ângulos.


O Carvoeiro de São Pedro de Aldige (Abadim), igual que nos casos anteriores no beco de uma estrutura de granja neolítica, que mostra diversos níveis de transformação.
De entre a toponímia relevante: 
O par Múdia a leste e oeste, fazendo referência a uma módia ou mámoa, que como foi apresentado neste blogue mais vezes, costumam estar associadas com os vértices das tapadas.
Também outro nome è o de Corveiro podendo ser uma transformação de Carvoeiro, por um passo hipotético de *carveiro.
Outro nome é o das Granjas, tema que já foi tratado em diversos escritos de este blogue onde se lançou a hipótese de que granja dá nome a estruturas anteriores ao tempo medieval:
Granja é derivada do francês grange. Como é que granja aparece dando nome a uma estrutura neolítica, ou já paleolítica?
Hipóteses explicativas de isto seriam:
Que a palavra neolítica como significado de granha / granja "reunião de animais domésticos" foi traduzida a uma nova palavra medieval.
Ou que a palavra neolítica cognata de granja fosse muito similar a esta, polo seguinte: granja e granha costumam associar-se ao grão, mas é relevante que a etimologia da palavra ganja em galês: grefan, explique que está formada por gre "greia, rebanho" e -man "posição, lugar, ponto particular, espaço determinado".
Já no córnico, língua irmã do galês granja é dito: greunji com o significado de  "granja e celeiro", onde a palavra gre córnica significa "rebano, grupo de animais".
Então as granhas / granjas comumente associadas com a raiz de grão, teriam antes a ver com a greia ou rebanho.
Uma hipótese então seria que a raiz protoindo-europeia de granja / granha estaria formada por *gre-n(os)-yós, *grenyos; 
Duplamente adjetivado, duplamente em genitivoo:
*grenos "o da greia, *greiano"
*grenyos /*grenya "os dos da greia, *greianeiros"
Assim no Du Cange estão recolhidas: grenariumgrenchiagrengia; palavras do latim medieval para dizer granja.
Então sendo isto, as primárias granjas não teriam sido agrícolas, e sim: pecuárias.

Carvoeira de Santalha de Romão (-ám) (Vilalva), com local religioso no lado sul, a capela de São Caetano.
A norte Fonte Velha, a sul Fonte Marim nos seus ângulos, fonte não só na ideia de nascente de água, mas na ideia protoindo-europeia de fons fontins *dʰenh₂- "fluir, correr".
Cas Devasa "casa devassa" conservando o nome da casa a funcionalidade do lugar onde sedia a moradia, ser devassa, dividir.



As Carvoeiras em São Lourenço de Árbol (Vilalva), um cousso de pequeno tamanho evolucionado a granja, com o seu curro físico e toponímico no beco oeste.



Carvoeiro de São Cibrão de Aspai, também grafado cadastralmente como Corboeiro. Estrutura de cousso com local religioso no beco oeste, a sede da paróquia.

Carvoeiro na freguesia de São Lourenço de Pastor (no Pino).
Cadastralmente podem ser observadas três grandes chousas, em estrutura de granja neolítica: Chouça Pega, também dita Chousa Pega, Chousa do Médio, também dita Chouça do Médio e Carvalho Longo.
Isto está entre as freguesias de São Lourenço de Pastor (no Pino) e Santo Estevo do Campo (Arçua).
O nome de Carvoeiro tem as variações (cadastrais) de Carvoeiras e surpreendentemente Zarvoeiro, um fóssil?, um híbrido entre Cervo e *Karwos?, um castrapo de latim e galaico?

O Carvoeiro de Santo Estevo de Folgosa (no Corgo). Pode ser observada talvez uma primária tapada que foi depois agrandada.

Carvoeiro em São Pedro de Maceda (Melide)

Carvoeiro de Santa Maria de Carvalhido (Vilalava). Carvoeiro pode estar na hipótese de *karwo-eiro. E Carvalhido? Tem a ver com o carvalho ou com *karw(o)-alh(o)-ído?

Carvoeiro de São Mamede de Oleiros (Vilalva), também com o nome do Carvalho no beco norte. A destacar o nome de Lugar do Cervo.

Carvoeiro de São Fins de Freixeiro (Santa Comba).
Entre os nomes a destacar, os dos seus becos: Paços, onde não há paço nenhum, mas remetendo ao palatio primordial, à paliçada. E Cachupos, do grupo dos topónimos com ideia de cachar, o comum "a Cachada", em relacionamento com os de casa, caça, capsa, na tripla expressão da talvez única origem, confronte-se com cachopa "cabana".
Já o de Vila Maior, ali onde não há vila de assentamento humano, mas na ideia já explicada de vilar "terreno cercado".

O Carvoeiro de São Pedro de Vales (São Cristovo de Ceia)








As Carvoeiras de São Pedro de Espinheira (no Irijo).

Carvoeiras em São Pedro de Vilajuste (Porto Marim), a destacar que a carão das Carvoeiras está a Lama Cabreira.

Carvoeiras em São Mamede de Belaz. A destacar no beco oeste a igreja na volta do curro, e no lado leste o nome de Costa de Airege.







Carvoeira de Santa Cruz de Castrelo (Cambados). A destacar que em ambos os becos tem locais religiosos, as igrejas das paróquias da Santa Cruz de Castrelo e a de São Martinho de Padrenda.





Carvosende em São Tiago de Esperante (Tabuada).
Carvosende seria do grupo de topónimos -sende, como Bosende, Gosende, já analisados neste blogue, que a etimologia mais divulgada considera antropónimos germânicos (*Carvosindi: de um hipotetico nome *Carvosindus, das hipotéticas raízes *karb "x?" + sinth "força") e que neste blogue foi mostrada a possibilidade de serem de um estrato linguístico ancestral:  protoindo-europeu *ḱr̥h₂wós+sent-, proto-céltico *karwo+sentus "caminho, senda do cervo".
Carvosende mostra varições do cousso, ou granja neolítica, que indicariam uma já mansedume dos animais em domesticação, que permitiriam o seu pastoreio livre e serem guardados em curros: Chousa, Quinto-Chãos e Curros-Montecelos:



Santo Estevo de Carvoentes (Rodeiro) com duas tapadas, uma grande tapada tipo Columbrianos com o bico caraterístico que nessa tapada berziana leva o nome de Hospital , semelhante ao Hospital de Anda-Vau (Boimorto) ou à Leixoada da freguesia de Cambre (Malpica).
Carvoentes semelha um derivado de um verbo *carvoar + -ente.


Cárvia de Santa Cristina de Veia (na Estrada)



Deste grupo com lexema carv-, há bastante toponímia para lugares íngremes, escarpados, sobretudo em serras e montanhas. No exemplo Carvedo/Carvoedo na freguesia de Nulhão (-ám) (nas Nogais):






Neste caso Carveira de São Vicente de Vila Boa (Valdovinho). Com a igreja do São Vicente num dos seus becos.
Relevante é a modificação no seu couce norte, com o nome de Pinar Velho, talvez Pinhar (topónimo explicado no escrito da Nespra e o Bispo) e a parte "nova" como Maria de Afora.
Outro nome a destacar é o de Romeus, no beco leste, topónimo tratado no escrito "Roma".
Há uma Carveira hipotética *karw(on)-eira, e há também um Coto dos Cabros.
O a Carveira será uma cabreira com metátese?
O que poria em relacionamento o céltico *karwos com o protoindo-europeu *kápros?
Confronte-se com o gaélico escocês cabar "chifre, corno, esgalho, galhada ou hastes".
Haveria que reformular o étimo *kapros não como um conceito isolado?
E sim numa relação direta entre as duas raízes protoindo-europeias *ḱr̥h₂w(ós) e *kapros ?


Carvosa em Santo Estevo de Morás (Arteijo).
Está na aldeia de Uxes, topónimo que neste blogue foi analisado como formando parte do grupo de Ucheira, Uzeira com ideia de "boca".
Carvosa abre uma porta a uma possível indiferenciação entre toponímia de base *karwos e toponimia de base carvalho ou mesmo carvão como é o caso a seguir:
Carvão em São Miguel de Quindimil (Palas de Rei).
Estaria na dúvida se o étimo seria *karvos ou carbō carbōnis.
Assim as fontes e penas, sobretudo em diversos montes, com nomes tipo Pena do Carvão (-om) ou Fonte dos Carbões (-ós/-ons/-ões) estariam na hipótese de não terem a ver com o carvão carbō carbōnis, e sim com o *karvos "veado, cervo", abrindo uma possível relação entre o cabrão toponímico e *karwos, já acima indicada.



Carvão (-om) de São Pedro de Valença (Coristanco). Este hipoteticamente pareceria o primeiro cousso, para ter posteriores evoluções:

Ao igual que nos Desert Kites, por diante do cousso antigo, seria construído outro "novo". O nome que tantas vezes aparece nas análises dos coussos e tapadas neolíticas: Casa Velha indicaria a antiga armada com nome Carvão, e a nova caça / capsa / casa estaria a norte dela, com Covelo / Cubelo que permitiria capturar sem morte animais, mantendo-os com vida, não obrigando a um massacre de todo um rebanho.

É feita uma grande tapada que aproveita os coussos antigos para a sua forma.



A grande tapada é obsoleta porque os animais já mansos, é possível guardá-los sem acurrá-los nos becos, nas esquinas e são guardados, ameijoados à noite, em chousas redondas mais úteis para animais não bravos.


Carvão em São Tiago de Lestedo (Palas de Rei),






Carbuiz em Santa Maria de Junqueira de Espadanedo, fazendo parte de uma estrutura hipotética de granja neolítica, com topónimo Granha, e com variações na sua forma.
Junqueira foi tratado neste blogue, fazendo ver que é fitotopónimo, mas também que em alguns casos onde não há juncos evidentes, teria a ver com juntar, junguir, confronte-se com junqueira no carro de vacas é o queiro, uma cavilha inferior na cheda que serve para passar o adival.


Carbuízas na freguesia da Nossa Senhora da Encarnação de Castromil (na Mezquita), fazendo parte de uma estrutura de suposta granja neolítica.
Chivas, fazendo referência às cabras, como no caso anteriormente mostrado de Carvoeiro de São Tiago da Capela
.

Um Corveiro:

O Corveiro de Santalha de Cervo (Cedeira), na esquina leste, fazendo parte de uma granja hipoteticamente neolítica ou já de um talvez cousso evolucionado.
Chama a atenção o nome de fonte nos dous becos: Sobre a Fonte e Sobre da Fonte, onde fonte tem o seu primário significado protoindo-europeu *dʰenh₂- "fluir".


Neste caso Corveira de São Boulo de Caaveiro (na Capela). Como local de corvos? Ou como chiviteiro, local onde é guardado o rebanho de cabras / crabas?



Hipotética tapada da Corveira de Santa Maria de Rutis (Culheredo).

Imagem da hipotética tapada de Corveira na freguesia de São Pedro da Esperela (Valeira).



Corveiro em São Tiago de Miraz (Friol) dando uma ideia de granja neolítica, com chousas circulares partidas como nos desert kites:

جبل قرمه

Esta imagem poderia ser um fóssil do momento no que a grande armada de caça começa a ser utilizada como local pastoral e aparecem os cortelhos?
(Outros desert kites do planalto de Ustyurt: 1 2 3 4 5 6 7).
Estes desert kites na Jordânia estão datados no quinto milénio antes da nossa era. O que dataria relacionalmente a estrutura do Corveiro de Miraz nessa mesma altura.




De entre a toponímia do lugar, a destacar Mama Rapada e Mama Velha, fazendo referências a túmulos, mámoas.
Tarapelas, talvez uma forma plena de trapelas.
O nome de Sarinheiras poderia ser uma reelaboração a partir de uma forma *Gardinheiras / Jardineiras; há frequentes topónimos jardins associados a estas estruturas de coussos continuados, ou modificados em granjas neolíticas, com exemplos e mais desenvolto no escrito "Jardim".
O nome de Pena do Pinheiro entraria na hipótese do grupo toponímico espinho / espinheiro, que apareceu no caso de Carveira de São Vicente de Vila Boa.


Corveira de Abaixo e Corveira de Arriba no limite das freguesias de São Miguel de Bucinhos e de Santa Vaia de Aguada (Carvalhedo) junto com Carvoeiro.
Como é frequente, com o lugar de enterramento no seu  ângulo norte: Mámoas.
Espinheira, do grupo de pinheira, já referenciado para o escriro da "Nespra e o Bispo".


Vão alguns Corvelhes:

Este é o caso de Corvelhe de São Jurjo do Cadramão (-om) (no Valadouro). Já analisado neste blogue no escrito "Interpretação da zona da Arca das Forcadas".

São Bartolomeu de Corvelhe (Vilalava).



Corvelhe (Fonte Corvelhe) em São Miguel de Quindimil (Palas de Rei).



Monte de Corvelhe em São Pedro de Vilantime (Arçua).










Cronologia dos caçadeiros ou já das granjas neolíticas de cervos:


Estrutura na paróquia de Deernes, nas ilhas Órcades da Escócia.
Harddbreck: talude forte
Breakan: além dos significados de partir, quebrar, também poderia ter o de feto / fieito, fieital. ambos os significados teriam sentido com o lugar, um lugar onde a vedação foi partida, ou um fieital fitotoponímico, (além de fieito como limite).
Upper Noltland, nolt em nórdico significa gado vacum, seria algo assim como "a terra do gado de cima"
Mirkholes: buracos / foxos escuros, poderia haver foxos na entrada da tapada de captura.
Stonebreck: pedra partida
Creya é um topónimo que pode ter raiz céltica cró "curral" ou nórdica kraki "poste".
Explicado aqui:
O registro de um processo legal datado de 1823 está preservado na Sala de Registros do Sheriff Court de Kirkwall, na qual John Gibson de Broland, Rousay, foi processado por calúnia por Janet McKinley, esposa de John Pearson de Cruehannie. Ele teria chamado ela de “uma ladra ladra”, e isso ele fez “no dia da última tosquia de ovelhas em Craya”. Isso aconteceu na época em que a colina era comum e as ovelhas de todo o distrito. pastava nele. A Sra. Pearson deve ter ficado tão insultada no dia da tosquia pública de ovelhas, quando todas as ovelhas foram reunidas e confinadas em recintos em Creya para serem tosquiadas ou “roo-ing”.
O nome também é encontrado em vários outros distritos de Orkney, por ex. Evie, Deerness, Orphir e Stromness, e a situação de cada uma é tal que poderia muito bem ter sido a dos currais de tosquia locais. A palavra comum em Orkney krue, um recinto ou cerrume, que ocorre frequentemente em nomes de lugares (geralmente na forma kru), por ex. Cruar, Crooannie, Steincroonie (todos em Sourin), o que é um empréstimo para o nórdico do antigo celta cró, um curral para ovelhas,  isto não pode ser a fonte de Creya. Mas há outra palavra em nórdico antigo, krá, canto, que às vezes é confundida com o termo anterior.
A investigação subsequente em línguas nórdicas e faroenses semelhantes revelou a palavra krogv, traduzida com o significando de canto ou recanto, um lugar para armazenar coisas diversas, por exemplo, turfa. Os topónimos das Ilhas Faroé incluem Kú-krogv, "vaca-krogv", e Seyõa-krogv, "ovelha-krogv", o que provaria que o termo tem sido utilizado em recintos para bovinos e ovinos.
Scania: Escandinávia, um assentamento de pessoas escandinavas.
Upper Stove: Forno de Arriba, na zona foram identificados cinco túmulos ou mámoas, do mesmo jeito que na Gallaecia pode ser que tenha sido essa a razão toponímica, dar a mámoa uma imagem de forno.
Millfield: Campo do Moinho.
Kirkhouse: Casa da Igreja, a ter em conta a sua posição quase parelha ao topónimo seguinte
Skaill: Pavilhão, hoje local da igreja da paróquia, e lugar também onde está o túmulo Howan Bro. Como nos coussos evolucionados a granjas neolíticas aqui apresentados, nos becos aparece o lugar religioso na continuidade. Na cultura nórdica anteriormente à cristianização, existia um pavilhão religioso para festividade e comida comunitária.


Situação da hipotética granja neolítica de Deerness.
Deerness tivo o nome nórdico de Dyrnes, dyr significa cervo, mas qualquer outro animal selvagem, e nes é península.
Há que dizer que os estudos genéticos dos restos de cervos da época neolítica nas ilhas Órcades, e nas Hébridas, indicam que os veados foram introduzidos nessa altura provenientes de diferentes lugares do sul da Europa.
Neste caso, teria havido uma população de cervos semi-selvagens ou em domesticação criados em semi-liberdade nestas ilhas, que para o seu maneio teriam sido acurrados, ou mantidos temporariamente em catividade, em estruturas de cousso, posteriormente grandes tapadas ou granjas neolíticas.



Pennkarow, anglizado como Pencarrow, na freguesia de Baya Ti war Dreth (St. Austell Bay) na Cornualha.
Já analisada neste blogue, como exemplo de toponimíma do cervo, neste caso literalmente: ponta, extremo, cabeça do cervo.

Depois de tantos exemplos, acho que não seria descabido, afirmar que:
Na toponímia da Gallaecia as formas de lexema carv-, e variantes, podem entrar a ser consideradas do proto-céltico *karwo (protoindo-europeu *ḱr̥h₂wós).
Que teria havido no neolítico atlântico uma primária pecuária do cervo como animal semi-domesticado, para depois ser substituído por animais de mais doado maneio, como a ovelha e a cabra, ou já de mansidão maior como foi a transformação do auroque em vaca.




Grato.


















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